terça-feira, março 08, 2011

É carnaval!

Aqui neste lugarejo, os foliões não deixam escapar sequer um minuto da folia. Entro no ritmo, e na segunda feira sou mais ousada na fantasia. Visto um collant de decote acentuado e fio dental. Bordei a frente com puro brilho, e o visto com uma minissaia de fitilho colorido. Minhas pernas são cobertas somente com purpurinas.


Os blocos de rua já me acham na praça. Todos muito animados, mas mesmo assim as beatas do local se interrogam. Será que aquela devassa ali é a mesma pantera cor de rosa ou a mulher maravilha sem máscara?

Conheço um rapaz que trabalha como barman na praça e começo a contar como é a vida no lugarejo em dia comum.

“E você, por que veio morar aqui, se sua vida neste lugar não tem muito sentido?”

“A gente precisa conhecer outras realidades. Em dias úteis gosto de tranquilidade. Leio, escrevo e uma vez por mês vou receber a pensão que meu falecido, da marinha, deixou para mim. E você, como veio parar aqui?”

“Já estive outras vezes neste local com esse meu negócio. As pessoas daqui bebem muito, por isso venho para cá em época de festas.”

A banda do bloco, barulhenta, não deixa a gente conversar. Aproveito para dar aquele show, na ponta dos pés. Minha sandália alta destaca a marcha da jardineira, e eu canto: “Ô jardineira por que estás tão triste...” O contrário de mim, que estou bastante alegre. É só sair de casa que logo chove na minha horta.

Lico, o barman, deve ser casado, está a serviço e não trouxe a família. Não terá o mesmo sabor ficar com um homem daqui. Mas bem que estas mulheres merecem ser chifradas.

Caminho lentamente com o bloco, mas o capixaba não tira o olho de mim, dos meus cabelos negros e longos. Lico está mesmo é doido para se embalar neles. Se ele topar, depois, no final da noite, eu o levarei para uma barraca armada aqui perto. Pensei em tudo, até no conforto. Aqui não há motel, somente pousada. E sem máscara a fofoca vai pegar fogo.

Me acabo ao som de “Bandeira branca”, “Cabeleira do Zezé” e outras marchinhas.

O dia já está amanhecendo, quase não há mais ninguém na rua. Faço um sinal para o capixaba e ele, mesmo cansado de aturar os foliões, me segue. No caminho, tiro aquele brilho todo com um belo banho de chuveirão. Lico faz o mesmo.

Na barraca, deixei bebida e roupões, próprios para a ocasião. Mas antes disso, já vou nua ao seu lado, além dele apenas as últimas estrelas, que insistem em me acompanhar. Nos deliciamos, os dois, ao som das águas que descem das montanhas.

“Não estou aqui porque você me fez um sinal. Mas porque gostei muito de você. As pessoas precisam deixar de vez em quando a capa em que se escondem durante o ano, e você sabe fazer isso muito bem”

“Nossa, Lico! Dizem que amor de carnaval é passageiro.”

“Comigo, não. Sou solteiro, e hoje, no último dia do carnaval, iremos nos fantasiar de noivos, você topa? E se quiser conhecer minha cidade, será um prazer.”

Nenhum comentário: