Vivo numa cidade pequena onde o carnaval é festa popular. Vem gente de todo lugar para apreciar a folia.
Os jovens preferem as barracas de acampamento. Varal, redes e mochilas são os objetos que acrescentam à natureza ares de convivência humana. Já os de estilo conservador se hospedam nas pousadas.
Observo tudo e penso: como aproveitar e deixar fluir o meu espírito carnavalesco, já que, para todos aqui, sou recatada? Só há um jeito, brincarei neste carnaval, na rua e nos salões, de máscara. Cada dia, uma máscara diferente.
No sábado, opto pela fantasia de "pantera cor de rosa". Às onze da noite, saio. As beatas da cidade nas varandas, o tititi já fazendo parte do cenário. Mas quem vai imaginar que alguém pacata, daqui, aprontará todas por trás de uma fantasia e de uma máscara? Minha roupa rosa com paetês prateados está um luxo, além das meias e da blusa cacharrel. Ao som de marchinhas, danço sobre o chão de pedra e de paralelepípedos. Todos param para me aplaudir. A exceção são as beatas, que perguntam entre si: “De onde saiu tal devassa?” Bares e restaurantes lotados. A conversa é a mesma: “Viram a pantera cor de rosa? Nossa! Com essa pantera eu vou à loucura, o torneado de suas pernas e o bumbum são de tirar o fôlego. E que seios!” “Esses homens daqui parecem que nunca viram mulher, ficam boquiabertos com uma talzinha que ninguém sabe de onde veio”, falam com despeito as beatas.
No domingo, depois de me recompor do cansaço, das bebidas e das insinuações, visto-me de mulher maravilha. Saio mais cedo. Quero ver se pesco o homem mais tesudo e comprometido da cidade. Afinal, sou a mulher maravilha.
“Hei, paixão! Quer ser o meu super-homem nesta noite?”
“Aceito. Nessa ocasião ninguém é de ninguém.”
Saímos, os dois, de braços dados, e vamos pra debaixo de uma gruta. O som da marchinha chega a nós vindo de longe.
“De onde veio essa mulher maravilha?”
“De outras redondezas.”
“Posso provar essa maravilha de mulher?”
“Claro.”
Aos poucos, vou mostrando a mulher maravilhosa que sou. Faço-lhe carícias mil, começo então a apalpar o pênis daquele super-homem. Penso em pedir que o introduza em mim, mas nem preciso dizer palavra alguma, essas coisas se adivinham... A mulher maravilha está quente, jorrando prazer por todos os poros. O homem, impossível de sair da linha durante o resto do ano, naquele momento é meu. Bem feito para a encrenca dele! Enquanto toma conta da vida dos outros, perde o quitute de marido que tem.
Combinamos, na segunda e terça-feira a festa será debaixo de uma velha mangueira. Ficará na história a festa, e também a mangueira.
Bom carnaval pra vocês também!
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