quinta-feira, março 24, 2011

Frêmito de prazer

Acho que essa história aconteceu no final dos anos 80, escutem só, é um arrepio.

Era um domingo ensolarado, decidi ir à praia do Flamengo. Logo ao chegar, reparei que estava lotadíssima. E desde o momento em que pisei na areia, a paquera foi intensa. Naquele verão tínhamos adotado biquínis minúsculos. Em todo lugar em que parávamos, havia homens ou rapazes a nos olhar. Uns iam e vinham, outros estacavam em frente a uma de nós e se demoravam, queriam em troca um sorriso convidativo. Senti naquela manhã um ligeiro frisson. Até as meninas que iam às tendas de sorvetes ou refrigerantes trocavam olhares excitados e não ficavam indiferentes aos rapazes que mediam seus seios e bumbuns.

Eu deitara de costas, olhava uma revista quando percebi um homem junto a mim. Foi além do olhar, perguntou se podia ficar ao meu lado. Nada respondi, mas mesmo assim ele ficou. Continuei a folhear a revista, acho que alguma coisa sobre televisão; em algum momento, lancei de soslaio o olhar na sua direção. Estava me observando. Como também aconteceria uma hora mais tarde, no banho de mar, pude constatar que ele era mestre na arte da captura. Não precisou de amarra alguma para me deixar juntinho dele. Sentou-se ao meu lado e, como se não quisesse nada, pôs-se a olhar em frente, um olhar pleno. Depois lembro que falou alguma coisa.

Conversei com ele, poucas palavras, muitas intenções. Deitou então, também virado de costas, encostando ao meu o seu corpo largo; não demorou a escorregar uma das mãos por baixo do meu ventre e percorrer um caminho que a deixou dois dedos dentro do meu biquíni.

Notou meu arrepio. Continuou pousado ali. Como a praia estava cheia, aquele sarro imprevisto me deixou excitada. Era quase uma transa às escondidas, no meio da multidão. Mexi-me involuntária e, para disfarçar, virei mais uma página da revista.

Evitamos as palavras. Sob o vozerio de domingo, roçamos nossos corpos, tateamos nossos poros...

Após alguns minutos, juntei meus lábios aos seus. Se nossos beijos extravagantes contaminariam outros amantes, não era da nossa conta...

Amoldamo-nos tanto um ao outro que parecíamos namorados de outros tempos.

Sempre quando eu percebia que ele queria me falar, tacava-lhe um beijo e sorria. Eu, que sempre fora exigente nas palavras e nos assuntos, sabia que qualquer investida dele que não fosse ao meu corpo fracassaria. Percebeu que eu não queria vozes nem histórias, apenas seu corpo quente, sua boca plena de volúpia e seus dedos a me descobrir segredos adormecidos.

Quando não mais suportávamos os raios do sol, entramos no mar. Apartamo-nos em mergulhos, a água a escorrer por cabelos e faces. Depois outro beijo e novo mergulho. Ele me abraçava, prendia-me pela cintura e depois soltava. Então suas mãos continuavam o trabalho, submersas nas águas, a me tentar em carinhos caprichados.

Numa das vezes em que dele me soltei, dei impulso como se quisesse nadar de costas. Ele deixou que meu corpo deslizasse por suas mãos, mas quando meus quadris passavam por elas, segurou as pontas dos laçarotes do meu biquíni. Adivinhem o que aconteceu!

Ficamos grudadinhos um ao outro durante muito tempo. Namoramos num extremo êxtase. Acho que nunca senti tanto prazer.

Naquele tempo eu trabalhava à tarde, mesmo no domingo. Quis falar a ele que precisava ir, pois pegava às duas, mas não tive coragem. Estiquei o tempo por mais que pude, sempre pensando em alguma solução que evitasse meu atraso ao serviço.

Quando tive de deixá-lo, dei-lhe o número do meu telefone, disse o que fazia e onde trabalhava. Ele, no entanto, nunca ligou nem me procurou.

Corri para o trabalho direto da praia. Vestia um vestido curto, que usava como saída de praia. Pra disfarçar e não chegar molhada, parei em um local em que havia algumas árvores e onde julgava que as pessoas não dariam por minha presença. Em dois movimentos rápidos tirei o biquíni e o coloquei na bolsa.

Apenas o vestido sobre o corpo vermelho de tanto sol.

Com o corpo ainda salgado e com a pele quente, cheguei ao cinema. Eu era bilheteira. Cumprimentei um ou dois funcionários e corri para o meu lugar. O friozinho do ar-condicionado acalmou o meu ardor.

Trabalhei tranquila, sem que ninguém me incomodasse. Num dos intervalos, fui ao banheiro, ajeite-me, depois voltei.

Quando cheguei em casa tarde da noite, pensei no meu recente namorado. Tudo que vivemos na manhã que ainda ia tão próxima me proporcionou mais um frêmito de prazer.

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