Tenho uma amiga que adora viajar para a cidade do namorado: “é bom porque lá ninguém me conhece, não reparam minhas extravagâncias.”
“Que tipo de extravagâncias?”, eu quis saber.
“Ah, várias, posso usar a roupa que quiser, ou mesmo sair nua?”
“Nua?”, surpreendi-me.
“Ou quase, é a maneira de dizer, você entende. Aqui, nesta cidade pequena, aonde quer que se vá encontra-se um conhecido. Se a roupa é curta, falam, se é comprida também. Uma vez perdi a paciência, disse: vou sair nua só pra essa gente parar de falar, assim é capaz de me deixarem em paz.”
“Você teve coragem?”
“Tive, mas às duas da madrugada. E só dei uma voltinha. Minha roupa ficou dentro do carro.”
“Nunca pensei em fazer tal coisa, mas suas idéias são legais.”
“Ouça mais uma coisa. Na cidade do meu namorado, usei uma saia curtíssima, de uma grife famosa. Se quisesse saía nua, mas seria deselegante. Fui passear à noite com a tal saia, ninguém falou nada. E se falassem, não conheço lá pessoa alguma. Mas aqui... Ainda disse a meu namorado: você quer que eu faça aquela cena que vimos num filme, a cena da mulher que chega carregando uma mala, mas que não traz roupa alguma sobre o corpo? Se você quiser, não tem problema, aqui ninguém me conhece. Caso me vejam nua, não faz mal.”
“Você fez a cena?”
“Fiz. Ele adorou. E ninguém viu. Depois tivemos uma noite quentíssima.”
“Mas e aqui, como você faz?”
“Aqui não faço. Esse monte de gente a espionar a vida alheia, principalmente as mulheres. E em relação aos homens, caso a gente esteja sozinha, logo aparece algum engraçadinho achando que estamos subindo pelas paredes, pensam que vão resolver o nosso problema. São umas bestas.”
Minha amiga foi embora e fiquei a pensar sobre nossa conversa.
Fui à praia no dia seguinte. Como vivo quase sempre sozinha, falei a mim mesma: quer saber de uma coisa, não vou ligar para o que os outros falam. Vesti o meu menor biquíni, arranjei um lugar mais destacado, poucas pessoas em volta, abri o guarda-sol, sentei na cadeira de praia e comecei a ler uma revista. Como foi bom! Apesar de não ser tão jovem, apesar de já não ter o corpinho da maioria dessas meninas adolescentes, senti-me bem com meu biquíni comprado numa loja do Rio Sul, no Rio, um dos menores que vi na vitrine.
Até agora, se falaram mal de mim não sei, já se passaram uns dez dias desde a primeira vez que o usei. Já fui à praia mais duas vezes.
Também gosto de caminhar depois da praia, ao entardecer. Ontem fiz outra investida corajosa. Para não molhar a camiseta regata depois do banho de mar, tirei a parte de cima do biquíni e fui caminhar pela orla. Como as alças da camiseta são compridas, meus seios ficaram aparecendo nas laterais. Percebi que alguns homens me olharam e sorriram. Um deles, que vinha passeando com a namorada, chegou a arregalar os olhos. O problema, porém, não são eles. São as mulheres. Elas são invejosas. Como ardem de desejos mas não têm coragem de realizá-los, sempre falam mal das mais ousadas. Mas não há problema, podem falar o que quiserem.
A partir de agora, caso eu queria andar nua, ando, ninguém tem nada a ver com isso. Sei que existe a lei, que o nudismo total é proibido. Mas não vou sair completamente nua por aí, é lógico. Posso dar umas voltinhas mais à vontade. Caso conheça um homem bonito que goste de extravagâncias, melhor. Vai ser bárbaro. Que se calem as invejosas!
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