segunda-feira, novembro 14, 2011

Agora peça o espumante, por favor

“Meu amor, não seria melhor eu vir totalmente vestida para você tirar minha roupa com calma, com sensualidade?” Estávamos num hotel do Centro, quinta feira, passara a hora do almoço.

“Mas adoro você de roupa curta, morro de tesão.”

“Querido, também gosto de andar nua, já dei bastantes provas a você sobre isso. Num dia de semana, porém, e ainda no centro do Rio, imagine, todos os homens vão me seguir.”

“Deixe que eles te sigam, mas quem te possui sou apenas eu.”

“Eu não teria tanta certeza assim”, lancei-lhe o deboche.

“Não acredito que você me traia.”

“Não se trata de traição, amor, será que aguento tantas cantadas?”

“Cantadas, como assim?

Sentei-me na cama ainda como entrara na suíte; quis acender um cigarro, mas olhei o ambiente fechado e deixei o maço dentro da bolsa. Tomei na mão o controle da TV e apertei um dos botões. A tela se acendeu e surgiu uma imagem urbana: repórteres, bombeiros, entrevistas. Houvera uma explosão num prédio do centro. Deixei o aparelho sem som, as cenas se sucediam, gritos mudos, choro, desespero, apenas lábios em movimento.

“Amor, você não é ingênuo, quando saio nua de casa quase todos os homens se aproximam, querem falar comigo, fazem propostas, muitas delas tentadoras, não sei o que faço com tantos números de telefones; houve um que deixou o próprio telefone, queria me ligar a todo momento; outros me perguntam, com muito jeito e educação, quanto cobro pelo programa. Portanto, amor, se sou apenas sua, é melhor sair vestida de casa, com recato e esmero. Que você me dispa no hotel, ou em qualquer outro lugar fechado, ou mesmo quando estivermos na praia. Caso queira, ponho em suas mãos uma das minhas peças. Já fizemos esse jogo antes, lembra?”

“Fizemos, e quase morro de tesão só em pensar que larguei você pelada dentro d'água, naquela praia, com tanta gente em volta, eles sem saber que você estava nua.”

“Então, amor, mas era uma praia, as mulheres de biquínis mínimos, ninguém iria se certificar se alguma delas estava sem.”

Ele abriu o frigobar e tirou uma cerveja, estalou o lacre e a levou imediatamente à boca.

“Amor, você liga para o bar e pede um espumante para mim?”, lancei-lhe um beijinho.

“Ninguém percebeu, e eu ali na areia, excitadíssimo, teu biquíni escondidinho numa das minhas mãos, lembro que depois ainda o guardei na tua própria bolsa.”

“Isso mesmo, amor, foi ótimo, eu por quase trinta minutos de molho, sem poder sair de dentro d'água, e no Leblon, uma praia urbana, imagine! Você amou, não foi mesmo? Qualquer dia vamos de novo.”

“Jura, fofinha?”

“Claro, querido. Mas agora peça o espumante, por favor? Olha que vim com uma lingerie que vai deixar você morrendo de calor.”

“Mas você jura que fica nua de novo, na praia?”

“Juro. Mas não me peça para vir como uma piranha, aliás, nem é como uma piranha que você me pede para vir, porque elas hoje em dia não andam tão nuas; na verdade, quem anda como você deseja são os travestis, estes sim, outro dia soube de um que estava totalmente nu em Copacabana.”

“Não, não gosto de travestis!”

“Não? Mas do jeito que você me deseja, até parece...

“Gosto de você! Amo você!

“Então, caso me ame mesmo, não me peça para andar nua. Mais uma coisa: conheço tanta gente, não quero passar vergonha. Venho vestidinha, de preferência com as roupas que você me presenteia, depois dou a você de cortesia uma pecinha, para você levar para casa e sonhar comigo. Está bom assim? Agora peça o espumante, por favor.”

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