quarta-feira, novembro 23, 2011

Noite de verão

Ouça, Marilda, um silêncio... Acho que consigo ouvir a brasa de meu cigarro a queimar.

Roberta, não é essa a questão. O silêncio é muito bom, mas tenho outra preocupação, são três e trinta da madrugada, e nós aqui sentadas, de pernas cruzadas, neste banco de jardim, esperando dois homens...

E o que há de mal nisso?

Não haveria nada de mal se não estivéssemos apenas de calcinha.

Você mesma não falou que toda mulher gosta de andar nua?

Gostamos de andar nuas, de nos exibir, Roberta, quanto a isso não há dúvida, mas vestindo roupa curta, de biquíni numa praia, numa piscina particular, ou mesmo nua dentro de casa, mas não num lugar público, e a esperar dois homens que não sabemos se virão...

Marilda, relaxe, eles sempre vêm; lembra os presentes que pedimos?

Roberta, não somos prostitutas!

Não, claro que não, ganhamos alguma coisa e também gozamos. As prostitutas não gozam.

Roberta, escuta, acho que vem um carro, e agora, o que faremos?

Nada, Marilda, não faremos absolutamente nada. Você sabe como se fica invisível, quietinha, viu.

Ah, passou, não nos viram.

Eles nunca nos veem, não têm sensibilidade para isso, tanto mais algo inesperado como duas mulheres nuas numa noite de verão.

Por que será que esses homens não têm uma ideia mais simples, como a de nos levar a um hotel? Por que desejam a gente nua correndo todo esse risco?

Marilda, há gosto para tudo, um deles falou que sua fantasia principal é a de ver duas mulheres sentadas nuas, de pernas cruzadas, as duas fumando, despreocupadas, como se a nudez fosse a coisa mais normal do mundo.

Sei, Roberta, eles falaram isso, mas podíamos ter ficado com nossas roupas por perto, dá-las nas mãos do garoto e vê-lo ir embora de bicicleta me fez ficar (e ainda estou) toda trêmula.

Marilda, tive uma ideia, na próxima vez, ao dizerem o local, vamos vir antes, trazer roupas reservas e escondê-las por perto.

Próxima vez, Roberta? O problema é agora, nem sei se vai haver uma próxima vez.

Marilda, acenda mais um cigarro, relaxe, tente encontrar prazer nessa situação, estou adorando.

Você está adorando porque tomou duas caipirinhas. Quero ver quando o efeito terminar, vai ficar mais preocupada do que eu. Roberta, ouça, agora parece barulho de moto.

Então, devem ser eles.

Roberta, não são eles, e nos viram, o que vamos fazer?

Quietinha, vamos pagar pra ver.

Pagar?

Ou receber...

Moças, Roberta e Marilda?, perguntou um deles, mantendo-se sobre a moto.

Eu, Roberta; ela, Marilda. Não reparem, ela está tremendo porque está com frio,

Venham com a gente, cada uma suba numa garupa.

Vamos, Marilda, é a nossa vez.

Roberta, aonde esses caras vão nos levar?

Para casa, amiga, eles sempre nos levam para casa.

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