sábado, janeiro 21, 2012

Encontros e desencontros

Sabia que era cedo para conhecê-lo pessoalmente, mas resolvi arriscar. Acordei às seis da manhã como de costume e fui à padaria. Comprei vários tipos de pães e os mais variados petiscos. De volta para casa, fiz café forte, fervi o leite e tirei da geladeira o suco natural. Olhei as horas no relógio da cozinha. Faltavam quinze para as sete! Era a hora que marcáramos. Corri até a rua, olhei o ponto de ônibus que fica a uns cinquenta metros de casa. Lá estava Amigo, era assim que se identificava no Facebook. Reconheci-o pela foto que colocara em seu perfil. Trazia uma pequena sacola, na verdade uma bolsa que se poderia chamar de bagagem de mão. Ao me ver, sorriu e correu para me dar um beijo.

Tomei Amigo por um dos braços e o puxei para dentro de casa. Depois de fechar a porta, virei para ele e nos beijamos mais uma vez.

Não conseguimos tomar logo o café. Caímos os dois no pequeno sofá da sala e nos agarramos de modo ardente. Parecia que éramos velhos amantes que não se viam fazia tempo.

Em poucos minutos, já estávamos totalmente nus. Ora eu escalava seu corpo, ora ele se virava e subia sobre mim. Demoramos no nosso amor.

Duas horas se passaram até que nosso ardor diminuísse. Corri então ao banheiro e tomei um banho. Saí enrolada na toalha. Ao passar pela sala, me abaixei junto ao sofá e o beijei de novo. Ele fez um gesto de que iria me roubar a toalha. Mas escapei, divertida, e corri para o quarto. Já era hora de me vestir. De lá, gritei: “Vou ter de colocar de novo o café e o leite no fogo, devem estar totalmente frios.”

Quando entrei na cozinha, escutei o a água do chuveiro escorrendo no banheiro. Amigo tomava banho. Sua bolsa estava aberta e jazia sobre o chão da sala. Ele pegara algumas roupas limpas para se trocar.

Depois que tomou banho e se vestiu, apareceu junto à porta da cozinha.

Então, falei: “Logo que vi sua foto no Face, fiquei alucinada. Sei que não lhe deveria dizer isso, mas não consigo.”

“Você também é muito bonita. A maioria das mulheres coloca fotos que não correspondem ao que realmente são, mas a sua não desmente você.”

“Deixe de lisonja, já não sou tão jovem, é bondade sua.”

“Verdade, por que eu iria mentir? Antes de qualquer coisa, quero dizer o meu verdadeiro nome. Me chamo Gilson, é assim que todos me conhecem.”

“Muito prazer”, dei-lhe mais um beijo. “O meu nome é o mesmo de sempre, Vilma, você já sabe. E quero lhe dizer mais uma coisa. Sabe qual foi o dia em que você me conquistou de verdade?”

“Qual?”, esperou curioso.

“Quando começou a me mandar poemas e letras de música.”

“Jura?”

“Será que você não acredita numa mulher apaixonada?”

Enquanto terminava os preparativos do novo café, pensei alto: “Que hora mais louca para marcar um encontro. Se eu contar, ninguém acredita.”

“Está arrependida?”, sua voz ecoou pela cozinha.

“Claro que não”, sorri e lhe joguei outro beijo.

“Sua face tem luz”, falou.

Tomamos café com leite e comemos todos os pães. Ele, por causa da viagem, parecia estar com fome. Comeu além de pães, biscoitos e salgados. No final, ainda ofereci um pedaço de bolo de laranja. Ele não recusou.

Voltamos para sala e recomeçamos a namorar. Mais uma vez nossos corpos esquentaram. Em menos de um minuto, ele tirou de novo toda a minha roupa.

Mais tarde, falou de sua vida. Gilson tinha duas filhas. Uma de doze anos e a mais de velha com vinte e dois. Esta já morava com o namorado. Ainda brincou quando disse que a filha já estava praticamente casada.

Como nem tudo pode ser perfeito, um fato me chocou. Gilson contou que ficara viúvo fazia dois meses, e que era muito cedo para arranjar uma namorada a sério. Na verdade, ainda sofria muito devido à morte da esposa, com quem fora casado por mais de vinte anos.

Acabamos conversando por muito tempo. Não consegui entender por que aceitara o encontro se ainda queria resguardar a imagem da esposa.

No final, falei: “Você não acha que com uma namorada será mais fácil esquecer a esposa?”

Ele nada respondeu.

Ao entardecer, despediu-se e se foi. Prometeu voltar um dia desses.

A partir daí, só escreveu sobre suas dores e sobre o tédio, que não o abandonava.

Ainda tentei reanimá-lo, mas concluí que essa relação iria me trazer muitos aborrecimentos. Com ele, eu não teria a companhia que havia tempo procurava.

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