terça-feira, janeiro 17, 2012

No bom sentido, é claro

“Adoro o Rio porque é uma cidade onde se vive muito à vontade, a gente pode andar nua que as pessoas nem reparam”, me falou uma amiga que esteve aqui do final de dezembro ao comecinho de janeiro.  Contou o que aconteceu: “Andava no Arpoador, estava de calça comprida e camiseta; quando vi o que as mulheres vestiam, tirei a roupa e fiquei apenas de top. Na verdade, nem era um top para banho mar, mas um bustiê. Uma amiga me acompanhava, caminhamos até a pedra e apreciamos o mar, ora virávamos para Copacabana, ora para Ipanema. Depois descemos e paramos num quiosque, pedimos água de coco. O vendedor nem chegou a observar como estávamos vestidas. Falei a mim mesma: quando voltar à minha cidade, vou fazer a mesma experiência, andar somente de top nos dias de calor.”

Ana já se foi faz uns dez dias. Ontem, recebi mensagem dela. Acho que a viagem a fez enlouquecer. No bom sentido, é claro. Assim que retornou (não digo qual a cidade para não ferir escrúpulos) foi a um parque e agiu como fizera aqui. Disse que lá, como há apenas um lago, que não é para o banho, as pessoas não costumam usar biquíni. Ela, no entanto, tirou a roupa, forrou a grama e deitou para tomar sol. Nem quis saber a reação das outras pessoas. Ocultou-se atrás de seus belos óculos escuros. No dia seguinte, retornou e reparou algumas meninas também de biquíni. Passaram-se algumas horas e pôde perceber adolescentes com os mesmos trajes. Ficou feliz ao perceber que levara novo costume para a cidade.

Mas, agora, conto o que realmente me surpreendeu. É melhor transcrever suas próprias palavras.

“Querida amiga, não sei o que deu em mim, mas sinto uma incrível felicidade depois que cheguei do Rio. É lógico que gostaria de ter ficado mais aí, junto a você e a outras pessoas com quem travei conhecimento, mas os compromissos sempre nos chamam de volta. Quem sabe, assim que puder volto. Ouça uma coisa muito divertida. Não fiquei nua apenas no parque, mas também em outros lugares, assim como vocês fazem aí. Lembra a canga que comprei naquela loja em Ipanema? Gostei tanto dela que a usei mais vezes. Outro dia marquei com alguns amigos num bar, ao entardecer, tomaríamos um chope. Então, vesti a tal canga. Sei que na sua cidade se sai enrolada no belo pano com o biquíni por baixo. Mas, aqui, como não há praia, imagine como saí de casa! É isso mesmo que você está pensando. Fiz de conta que nem era comigo. O sol ainda ia alto, o céu claro, eu de óculos escuros. No bar, meus amigos ao redor... Não sei o que pensaram, também não perguntei. Se ficaram a tentar olhos de super-homem, aquele que enxerga com raio x? Bem, pode ser. Sei apenas que aproveitei bastante. Quanto ao chope, bem o chope estava uma delícia. Acho que aqui é a única coisa que sabem fazer semelhante ao que vocês têm aí.”

E minha amiga vive feliz. Acho que para sempre. Tanto que qualquer dia desses apareça de novo. “Não deixe de vir”, falei, “aqui é o local certo para você recarregar as baterias.”

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