quarta-feira, março 14, 2012

Depois daquele sonho

Não sou boa para contar histórias, principalmente quando a personagem principal sou eu, mas vou tentar. Sei que preciso falar sobre isso.

Certa vez, no trabalho, deixei escapar uma insatisfação. Disse o seguinte: “não sei aonde vai dar o meu casamento, fui com meu marido assistir a um jogo de futebol, logo eu que gosto tanto de ler, que aprecio ficar num lugar tranquilo, me vi numa arquibancada junto a milhares de pessoas, e torcendo pelo Flamengo.”

Um colega, que se chama Jairo, olhou para mim com cara de desentendido e depois sorriu. Vi uma ponta de malícia no seu sorriso. Continuou sentado, lia uma revista. Imediatamente pensei: não devia ter dito isso, não se deve falar da vida pessoal para pessoas desconhecidas. E é isso o que ele é, um desconhecido. Apenas trabalhamos juntos, falamos somente o necessário.

Dali para frente, passei a observar que ele começou a me olhar de modo diferente, acho que com mais interesse. Repara minhas roupas, meu rosto, os livros que carrego e tudo mais.

Num outro dia, encontrei com ele ao acaso. Eu estacionava o carro na rua que fica atrás da escola onde trabalhamos. Ele vinha andando pelo passeio e acenou para mim.

Sou casada há dezenove anos e quase todos conhecem o meu marido. Uma vez que é dentista e dono de uma clínica, possui muitos pacientes. Também tem um largo círculo de amizades. M. não é uma cidade grande quando se trata de pessoas que têm sua importância. E meu marido é uma delas. Sempre saímos juntos para ir a algum restaurante da orla nos fins de semana. Tenho duas filhas. A mais velha já ingressou na universidade, a caçula está no ensino médio. A irmã de meu marido casou-se com um homem que é da família de políticos locais, pessoas ricas, importantes. Uma delas já foi prefeito da cidade. Frequento festas aonde vai toda essas gente. Portanto, sentimental e materialmente não tenho do que reclamar.

Agora, me acontece isso. Dei pra sonhar que estou beijando na boca o meu colega de trabalho. Estou sempre sentada ao volante, na rua onde ele me encontrou e me acenou. Jairo abre a porta do meu carro, entra como se fosse o ato mais natural do mundo. Então, acontece algo surpreendente: eu lhe dou um beijo na boca e, depois do beijo, me vejo nua.  Ajo como se ele fosse o meu marido. No sonho, sou apaixonada por esse meu colega. Quando acordo, no entanto, sinto nojo de mim mesma.

Gosto muito de correr à beira-mar, percorro quatro quilômetros todo dia, também frequento academia para fazer outros exercícios. Li em algum lugar que, na Grécia antiga, os atletas se abstinham totalmente do sexo, era um modo de manterem o vigor para que dessem tudo de si nas Olimpíadas de então, até mesmo aconselhava-se que enquanto fossem atletas mantivessem a castidade. O que a história tem a ver comigo? Aconteceu-me de eu ter também sonhado sobre isso. Corria na orla marítima, uma competição. Apesar de ser casada, eu era virgem. Tinha me preparado intensamente para a corrida. Vinha disparada, estava em primeiro lugar. Quando faltam poucos metros para a chegada, adivinha quem se aproxima e me ameaça ultrapassar? Jairo, o meu colega de trabalho. Então, resolvo dar a última arrancada. Respiro fundo, fecho os olhos e acelero as passadas. Com grande dificuldade, consigo manter a dianteira. Mas a nove ou dez metros da faixa de chegada, sinto um arrepio e uma sensação estranhamente prazerosa.  Estou tendo um orgasmo. Um gozo como jamais senti. Já ouvi falar sobre mulheres que ejaculam, mas comigo nunca tinha acontecido. A sensação vai aumentando à medida que me aproximo da vitória e culmina no momento em que rompo a fita de chegada. No meio das pessoas que me aplaudem está o meu marido. Acordo encharcada de suor, entre as minhas pernas também estou muito molhada; no quarto, predomina aquele forte cheiro de sexo, que só as mulheres são capazes de exalar.

Sinceramente, não consigo entender o que está se passando comigo, por isso vim procurá-la. Foi uma amiga  quem indicou. Quem sabe, você possa me ajudar.

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