Margarida, escute o que aconteceu ao seu amigo alguns dias atrás; você que gosta de histórias, vai adorar.
Eu chegava à rua onde moro, eram mais ou menos três da manhã. Acabei de estacionar quando uma mulher se aproxima:
“Você pode me informar onde é o ponto do ônibus para a zona sul?”
“Fica na primeira transversal, basta descer esta rua e dobrar a direita que você o verá”, apontei a ela a direção.
Ela, porém, não se deu por satisfeita:
“Será que o local é perigoso?”
Olhei seu rosto. Era bonita e ia lá pelos trinta e poucos ou quarenta anos.
“Não, esse bairro é boêmio, sempre há gente na rua.”
Naquele momento, ouvimos um vozerio vindo da direção que eu lhe apontara.
“O que é isso?”, fez cara de preocupada.
“São pessoas se divertindo. A Lapa é aqui perto, sempre há música e festa.”
“Saí agora da casa de uma amiga, ela é idosa, sabe; se fosse mais jovem, pedia pra ficar até o amanhecer.”
“Moro aqui faz tempo, o local é muito seguro, nunca ouvi falar de problema algum.”
“Posso pedir a você mais um favor?”, continuou retendo-me sobre o passeio.
Olhei em volta, desconfiado. Será que a mulher armava algo contra mim? Sei que você dirá, Margarida: – és tolo, não vês que ela gostou de você? – Mas, naquele momento, achei a moeda grande demais.
“Pois não, se eu puder ajudar”, respondi curto, sem demonstrar facilidade.
“Será que me deixa ir ao toalete?”
O que eu deveria responder? Ela me acompanhou. Subimos o prédio. Saímos do elevador. Abri a porta do apartamento e fiz que entrasse à minha frente. Mostrei o banheiro.
“Agora você está mais distante do ponto de ônibus”, falei quando reapareceu no curto corredor que antecede a saleta, já havia ido ao toalete.
“É mesmo”, sorriu.
“Deseja mais alguma coisa?”
“Gostaria de beber um copo d’água.”
“Que tal água de coco? Tenho na geladeira”, ofereci.
“Ótimo, adoro.”
Sentou-se na poltrona de dois lugares e esperou pelo copo.
Após experimentar, completou: “uma delícia.”
Permaneceu uns minutinhos com o copo na mão direita, olhou-me e suspirou.
“Estou tão cansada.”
Sentei na cadeira em frente e esperei.
“Você ficaria aborrecido se me deixasse permanecer aqui até de manhã?”
Eu já esperava pela pergunta.
“Não fico aborrecido, não”, como já estava sem saída, completei: “se quiser, pode descansar na cama, é de casal.”
Pedi licença, fui ao quarto e me troquei. Ao voltar, ouvi sua voz de novo:
“Já que você me deixou ficar, será que teria uma camiseta pra emprestar.”
Só para provocar emprestei-lhe uma camiseta curta, mal lhe chegava às coxas. Mas ela tirou a roupa e vestiu a camiseta sem demonstrar vergonha alguma.
Foi minha vez de ir ao banheiro. Encontrei sua roupa dependurada no apoiador, que fica perto do boxe. Estavam lá todas as peças, inclusive calcinha e sutiã.
Quando voltei ao quarto, ela já dormia. Deitei ao seu lado e adormeci também.
Não me pergunte, Margarida, o que aconteceu entre nós. Você é uma mulher experiente, há de já saber o fim da história. Só mais um detalhe. Antes de dormir, escondi-lhe a calcinha.
Ao se despedir pela manhã, beijou-me e apenas falou: “obrigada, volto qualquer hora dessas, ok? Anotei o número do seu telefone.”
Sobre a calcinha, Margarida, nem tocou no assunto.
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