sábado, março 17, 2012

Tanto tempo sem namorado

A água descia fria da cachoeira, envolvia o meu corpo e me deixava arrepiada.

“Está bom o banho, não? A água está gelada mas gostosa.”

A presença masculina assustou-me. Estava sozinha havia pouco e, de repente, um homem ao meu lado. Não resisti. Tive de pedir a ele: “Você me deixa sozinha um instante?”

“Algum problema?”, perguntou sorridente.

“Não é bem um problema, mas gostaria que me desse uns cinco minutos, depois pode voltar que converso com você.”

“Ok”, concordou e afastou-se alguns metros da margem onde eu me encontrava. Depois mergulhou e, vencendo a corredeira, apareceu junto à outra margem.

Eu queria sair d’água, correr até o local onde deixara minhas roupas e me vestir, mas percebi que não seria possível. Ele iria notar. Permaneci na correnteza, numa sombreada, desisti de subir a pedra. Quem sabe fosse melhor eu ficar por ali; depois que ele partisse, sairia d'água e me vestiria com tranquilidade.

“Gosta de água fria mesmo, não? Só não entendi essa vontade de solidão”, falou já de volta, juntinho a mim. Tinham passado os cinco minutinhos.

“É”, mantive-me monossilábica. Caso falasse demais, ele não iria mais embora.

“Na parte central forma uma banheira maior, lá está sol e a água é cristalina.”

Queria saber eu de água cristalina? Quanto mais escura a água, melhor.

Mas o homem me queria levar para o meio da correnteza.

“Não se preocupe, venho aqui quase sempre”, falou.

“Eu também, coincidência”, deixei escapar.

“Como nunca vi você?”, quis saber.

“Acho que nossas horas não combinam.”

“Só as horas, ainda bem”, gracejou.

“Vou dizer a verdade a você”, eu já não aguentava, ia no meu limite.

“Verdade? Será que vai dizer que me acha bonito?”

“Isso mesmo, até que você é bonitinho; se fôssemos mais jovens, já estávamos nos beijinhos”, falei para disfarçar o nervosismo.

“Mas somos jovens ainda”, afirmou um tanto contrariado.

“Somos, mas já não temos dezesseis anos. E há mais uma coisa que não cabe bem na minha idade.”

“O que é?”, curioso ele.

“Vou falar para você, mas promete que não vai me fazer mal algum?”

“Mal? Moro aqui perto, todos me conhecem, como posso fazer algum mal?”

“Então será mais fácil”, falei um tanto aliviada.

“Você vira de costa e só desvira quando eu mandar?”

“Por quê, vai fugir?”

“Não, prometo que não.”

“Então é o quê?”

“Sabe, quando entrei n’água, achei que não viria ninguém, você entende, não?”

“Não, não entendo”, falou, “você fala por enigmas.”

“Não é enigma algum”, tomei coragem, “é que estou pelada, entende?”

“Pelada?”, olhou para água como se tentasse ver meu corpo através da transparência do rio.

“Pelada, mas não olhe, por favor; você é um homem educado, não?”

“Sim, sou educado. Mas uma mulher pelada, acho que não resisto.”

“Calma, espere”, disse a ele. “Vou sair d’água e vestir o biquíni, depois a gente continua a conversa. Mas vira de costas, tá?”

“Você promete que não foge?”

“Não, não fujo, prometo”, falei alto.

Ele virou. Saí d’água. Depois apareci lá em cima da pedra, dentro do biquíni.

Foi a vez de ele falar: "Mas esse biquíni é tão pequeno, acho que você ainda está nua."

"Não estou, não, já estive mais."

"Venha cá, a água está gostosa", convidou-me.

Mas ao descer, numa quebrada do caminho, resolvi fugir. Corri para casa.

Dois dias depois o encontrei de novo. No mesmo lugar.

Trocamos olhares e novas palavras. Aceitei então seu convite para irmos à parte central, onde havia a tal banheira com água cristalina e mais o sol.

Não passou nem uma hora e já ia longe o nosso diálogo. Eram mãos que tocavam braços; eram pernas que se encontravam; coxas que se dobravam; ventres que se roçavam; sem contar os lábios, que havia muito se mantinham úmidos não apenas por causa da corredeira. Até que... aconteceu. Nem precisei tirar o biquíni.

Depois, cogitei: desde que ele me encontrou nuinha eu já estava querendo, o que fiz foi me deixar arder por mais dois dias, se arrependimento matasse... E eu, tanto tempo sem namorado.

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