quinta-feira, maio 23, 2013

Escrevi um conto inspirado em você

Tenho um ex que é escritor, e vez ou outra ele envia mensagens para mim. Eis uma conversa por e-mail que tivemos recentemente.

Oi, Beth, tudo bem? Escrevi um conto inspirado em você, quero-lhe enviar colado ao e-mail, mas pergunto antes: posso? Não lhe desejo causar problemas.
Beijos,
Paulo

Não respondi logo, acho que ele chegou a pensar que eu não queria mais assunto. Ontem, porém, escrevi:

Paulo, cadê o conto que você escreveu inspirado em mim? Mande logo. Obrigada!

Oi, Beth, tudo bem? Ainda não tinha enviado porque estava esperando sua concordância. Aí vai.
Beijos,
Paulo

Paulo, nem tudo nesse conto foi inspirado em mim, nunca tive dois namorados ao mesmo tempo. Aqui em Glicério todos me consideram muito. Estou praticamente casada, e o Guilhermino depois que veio morar aqui já fez muitas amizades. Todos os homens falam muito bem de mim pra ele.
Abraços,
Beth

Oi, Beth, desculpe se o conto não corresponde ao que você é. Nem foi essa a minha intenção. Apenas me inspirei em você e criei a história usando a imaginação. As personagens dos contos não precisam corresponder às da vida real.
Beijos,
Paulo

Pouco a pouco minha raiva foi desaparecendo, então li de novo a história e passei a entendê-la de outro modo. Passei até a admirá-la. O que afirmei na mensagem, no entanto, é verdade, jamais namorei dois homens ao mesmo tempo. Mas há outros fatos no conto que me comprometem, e ele poderia tê-los apresentado como argumento mais consistente para questionar a fragilidade do motivo que me levou a ficar aborrecida. Quando namorei o escritor, cometi algumas loucuras que, acredito, nenhuma outra mulher teria coragem de cometer. Caso meu atual marido venha a saber disso, mudará sua opinião sobre mim.

Certa vez ao sairmos de madrugada  eu e esse meu ex , ele me prometeu provocar uma sensação que eu jamais sentira. Parou o carro à beira da estrada, pediu que eu tirasse toda a roupa, a deixasse dentro do carro e saltasse. Como sempre fui destemida, concordei. Ele deu a partida, acelerou e se foi. Ao me ver nua e sozinha, envolvida pela escuridão da noite, percebi a loucura que eu estava fazendo. Fiquei então agitadíssima, o coração a mil por hora. Quando percebi os faróis de outro carro que se aproximava, me atirei no mato, quietinha. Depois que as luzes se foram levantei e descobri que eu estava molhadinha. Mas entre as pernas. Gozei de verdade, e foi um gozo longo, como jamais senti. O namorado voltou vinte minutos depois. Quase pedi que partisse e me deixasse ali mais um pouco. Outra loucura aconteceu na praia. Estávamos dentro d’água quando ele me instigou a tirar o biquíni e entregá-lo em suas mãos. Não demorei a aceitar o novo desafio. Ele levou o meu biquíni e o guardou na bolsa, que ficara na areia; depois voltou e continuamos namorando, eu nua nos seus braços. Também já saí de casa totalmente nua, e por duas ou três vezes. Tanto da minha casa, como do apartamento dele, que fica no Rio. Na minha, desci pelada dois lances de escada; no Rio, saí do apartamento, subi um andar e voltei de elevador; depois bati à porta e esperei um tempo imenso para que ele abrisse.

Oh, todos esses fatos no conto e eu preocupada porque ele sugeriu que namorei dois homens ao mesmo tempo! Querem saber de uma coisa? Acho que nas noites de insônia, é ele quem ainda namoro.

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