“Marta, vais ficar o tempo todo nua.”
Pôs-se a me acariciar. Depois do gozo eles esquecem, pensei,
nenhum deles cumpre o que disse momentos antes, é como se passassem uma
borracha, ou mesmo agissem como se nada tivessem pronunciado. Levantam-se,
vestem-se e se vão. Mas este agiu diferente, continuou impetuoso.
“Estás a se aproveitar”, beijei seu rosto depois de lhe
soprar essas palavras.
“Eu? Estou a te dar proveito, não é o que desejas?” Alisou-me
o ombro, o bico dos seios e o umbigo.
Saltei mais uma vez sobre suas coxas...
“Gosto de brincar, não é mesmo? E tu gostas do esconde-esconde”,
falei.
Namorávamos com suavidade voraz.
“Amor, onde a bolsa?”, perguntei.
“Bolsa?”, fez-se de desentendido.
“Deixa pra lá”, fingi que nada acontecia, e eu arrepiada sobre o
sofá.
Já arrumado, colocou por último a gravata, beijou-me a boca,
despediu-se num muxoxo quase silencioso.
Logo que bateu a porta, pensei em procurar a bolsa. Onde ele a escondera? Será que fizera como na última vez quando a deixara no box junto à escada, no lado de fora do apartamento? Daria uma rápida
corrida, mesmo nua, e a traria de volta. Mas... abateu-me intensa preguiça. Passou pouco tempo e escutei alguém a empurrar o carrinho. Lá se vai o zelador,
falei comigo, lá se vai a bolsa, talvez alguém aproveite alguma das
peças, tudo tão caro, tudo pelos olhos da cara.
“Amor, te trarei um presente logo mais”, falara ele no momento
áureo do amor.
“Presente?”, choraminguei em meio às suas carícias.
“O vestido...”, não o deixei completar, minhas mãos impuseram-lhe
mais ardor.
E lá se vai o homem que zela pela limpeza do edifício, não sabe que deixa nua uma mulher. Tudo fruto de um jogo entre mim e o namorado, um
tipo de esconde-esconde a nos provocar arrepios. E eu sentada, de pernas cruzadas, sobre o sofá da sala de
estar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário