quinta-feira, março 12, 2015

Vale encantado

Estava hospedada no hotel fazenda Vale Encantado, no interior do estado do Rio de Janeiro, em meio a montanhas. Um local de onde não mais se deseja sair. Acompanhava minha filha, meu genro e minha neta. Por falar em neta, o local é um paraíso, principalmente para as crianças. Há várias piscinas, parques, brinquedos, campos para jogos, recreadores e, mais adiante, um lindo bosque. 

Apesar de já ter entrado nos cinquenta, tenho o corpo muito bonito, e, para completar, uso um biquíni mínimo, não é preciso dizer que a parte de trás é apenas aquela tirinha estreita, que entra toda no meu bumbum. Adoro. Minha filha não tem coragem de usar biquíni semelhante.

No segundo dia no hotel, depois de no dia da chegada ter ficado o tempo inteiro na piscina brincado com a minha neta, notei que um senhor me olhava com algumas intenções que não eram a de apenas apreciar a natureza.

Logo que voltei à piscina – já sentia o sol me queimar – ele apareceu ao meu lado, o cabelo curto escorrendo água devido ao recente mergulho. Cumprimentou-me, puxou conversa. Como faria qualquer pessoa educada, correspondi ao seu assunto.

Era viúvo, mas também viera acompanhando familiares. Isso não vai dar certo, pensei. Depois de algum tempo a falar sobre a beleza do local, o clima agradável, a necessidade que temos de passar alguns dias de papo para o ar etc., convidou-me para ir ao bar.

"Bebo uma caipirinha", salientei, "apesar de minha bebida preferida ser vinho. Acho que não há vinho no bar da piscina."

"Acompanho você na caipirinha, depois tenho uma surpresa", falou. 

Imaginei o que ele já estava aprontando. 

No bar, minha filha passou por mim e fez a cara de sonsa que costuma representar quando me vê acompanhada de algum homem. Não correspondi. 

Quando já bebíamos nossas caipirinhas, meu pretendente falou:

"Sabe qual a surpresa? Trouxe comigo duas garrafas de vinho italiano, convido você para beber à tarde", sorriu com ar conquistador. 

Demorei um pouco para dizer se aceitava ou não, mas acabei dizendo que seria um prazer. 

"Convide também seus familiares", disse ele, “caso apreciem um bom vinho.”

Naquela tarde todos bebemos um delicioso Corvo. Meu admirador chamava-se Abelardo. Falou muito sobre as vantagens das férias naquele sítio. Disse que morava a duas horas dali e que já era freguês, vinha quase todos os meses.

No terceiro dia de estadia, minha filha notou alguma coisa além da conversa e resolveu não aparecer para o vinho vespertino. Meu genro parece que, naquele momento, disputaria uma animada partida de futebol. Então, apenas meu admirador e eu apreciamos uma garrafa inteira de Valpolicela. Quando terminamos, confesso que o provoquei.

“Vamos dar um passeio, sugeri.”

Era o convite que ele espererava.

Levei-o através de toda a extensão do hotel, na direção do bosque.

Ao reparar que nos aproximávamos das árvores, falou:

“Queria muito convidar você para passear, mas pensei que acharia a caminhada um tanto longa.”

“Estou acostumada a caminhadas maiores.”

Entramos pelo bosque. O canto dos pássaros àquela hora da tarde era irresistível. Continuamos a dar passadas largas e percorremos um caminho em que predominava uma quantidade maior de árvores. Paramos para apreciar a paisagem. De propósito toquei sobre um de seus braços para apontar a vista. Deixei minha mão ali por alguns segundos. Abelardo parecia embevecido não tanto com a vista a partir daquele ponto da montanha, mas com o calor do meu corpo. Arrastei-o, com uma das mãos, até um arbusto que nos escondia. Qual então não foi nossa surpresa, encontramos um biquíni, isso mesmo, a parte inferior de um biquíni pendurado em um dos galhos mais salientes. Alguém o havia deixado ali fazia pouco tempo, pois dava para perceber que ainda estava molhado.

Coloquei o indicador sobre os lábios sinalizando que nada falasse. Procuramos um lugar mais resguardado. Quando senti que podia dizer alguma coisa, soltei em surdina:

“Acho que alguém teve a mesma ideia que nós, não é mesmo?”

Ele me abraçou e me beijou na boca.

Assim que terminou o beijou, perguntei irônica:

“Será que deixo o meu biquíni no mesmo galho?”

Abelardo me abraçou novamente. Não tive tempo de falar mais nada. Meu biquíni? Ele o tirou. Procuramos um canto sobre a relva e trepamos durante muito tempo.

Quando acabamos, anoitecia. Era possível reparar os postes com lâmpadas oscilantes no outro lado da montanha.

Ao passarmos pelo mesmo local, ainda estava lá o tal biquíni.

“Que tal trocar ou mesmo ficar com os dois, o outro ainda está lá!”, sugeriu, parecia excitado, apesar de todo o sexo que fizemos.

“A ideia não é má.”

“Qual delas?”

“A segunda.”

A última palavra lhe despertou novo desejo. Quis me colocar nua mais uma vez.

“Calma, amanhã ainda haverá tempo, e quem sabe será mais interessante?”, acrescentei.

Mas ele não resistiu. “Amanhã e ainda hoje!”

“Está bem”, falei, “mas espere um instante.”

“Aonde você vai?”

“Vais já saber.”

Fui até o galho e coloquei o meu biquíni ao lado do que lá estava.

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