Ai, acordar peladinha depois dessas festas, nem lembrar
como tudo aconteceu... Ainda estou morrendo de sono, acho que são nove ou dez da
manhã. É o sítio de Mariinha, quanto a isso não posso me enganar. Quando eu
morava em BH, as festas eram mais discretas. Cidade grande é outra história.
Aqui, nesse lugarejo, as meninas são de um fogo terrível. O pior é que acham
que lá, na cidade grande, as mulheres são mais atiradas que cá. E querem
imitá-las. Pior que imitam apenas uma ideia. Então marcam essas festas, onde
acabamos quase todas nuas, mesmo que de uma nudez disfarçada, e dormindo em casas
alheias, nem sabendo onde foram parar uma das blusas. Isso mesmo, sempre
desaparece uma blusa; já aconteceu de sumir uma saia. Como voltar para casa em tal circunstância? É preciso que alguém empreste uma roupa, como um
casaquinho de meia estação. Depois vamos até o Shopping, a 120 km da cidade, comprar
novas roupas. Aqui em Minas todas vivemos de aparência. É lógico que é o único modo
de a sociedade nos aceitar. Fingimos. Em nossos trabalhos somos exímias
profissionais. Uma de nós é dentista. Não digo qual, não quero dar pistas sobre
as amigas, quem sabe eu? Mas voltando às festas, são de lascar, isso mesmo,
acho que é essa a palavra, porque como diz o mineiro do campo, são de tirar o
couro. Como não podem nos tirar o couro real, nos tiram a roupa. Depois, dão no
couro! Muitas querem ter namoradinhos, curtir a vida a dois, casarem-se. Mas já
pensaram sobre? Casarem-se? E quem já passou por isso tudo, quem já cansou? Não
se pode viver para o marido, nem para os filhos. É bom ter filhos, não nego,
mas não se pode viver em função deles durante toda a vida. Então apareceu a
Mariinha e deu a ideia. Chamou as mulheres mais destemidas da cidade e convidou-as
todas. Mas, Mariinha, alguém há de acabar descobrindo, afirmou uma. Não,
basta que fiquemos de boca fechada, ela retrucou, e não precisa que as festas
aconteçam sempre, três ou quatro vezes ao ano é o suficiente, e nada de homem
da cidade, acrescentou a promotora. Engajamo-nos na brincadeira,
mulheres da cidade e outras que ficavam nela apenas parte do tempo, como
médicas, a tal dentista e professoras. O local seria um sítio, a 40 km, na
serra de G, digamos assim. Na primeira das festas, não aconteceu nada demais.
Apenas comemos, bebemos e dançamos... como dançamos! Homens de menos, mulheres sempre mais numerosas.
Fizemos mais duas festas, a frequência aumentou e também a quantidade de homens,
mas as mulheres sempre mais numerosas. Na quarta festa, propus que mudássemos o
local, precaução apenas. Alguém já está comentando pela cidade?, quis saber a amiga. Não, nada ouvi, mas sabe como é, melhor não facilitarmos. Nas
festas seguintes, fomos a uma pousada, era de uma das frequentadoras dos
eventos. Numa pousada, algumas se assustaram, isso pode soar mal. Há no lugar
um grande salão, e depois, fica-se mais à vontade. E passamos a alternar, uma
vez no sítio de Mariinha, outra na pousada. Vieram homens de longe, inclusive
de BH, acharam a nossa ideia maravilhosa. Exercíamos nossas profissões durante
os dias, éramos as pessoas mais sérias da cidade, mas durante as festas a
liberdade era total. Até mesmo vieram algumas mulheres casadas. Mulheres
casadas, assustei-me, podem arrepender-se e sair comentando por aí. Nada disso, rebateu
Mariinha, tenho o nome de todas, estão arriscando o próprio casamento, e é
lícito que se divirtam. E vinham elas, mais sorridentes do que todas nós, mais
provocantes, arrumavam-se num dos banheiros da casa, transformavam-se em
autênticas piranhas. Não há problema que namoremos, disse a dona do sítio, o
importante é que não vire rebu. Achei engraçada a palavra, rebu. Daí em diante já se
via uma ou outra agarradinha com seu par, depois a sair ao ar fresco, até que
alguém falou pois não há um quarto com cama? Concordou-se, então. A respeito do
quarto e da cama. E as festas, oh, uma beleza. Mas nada pode durar para sempre,
trata-se de uma verdade absoluta. Fizemos a última ontem, a de despedida (será?). Já está dando na pinta, surpreendeu-me a amiga. Mas até na última acordar peladinha, e sempre a faltar uma blusinha...
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário