segunda-feira, março 30, 2015

A faltar uma blusinha

Ai, acordar peladinha depois dessas festas, nem lembrar como tudo aconteceu... Ainda estou morrendo de sono, acho que são nove ou dez da manhã. É o sítio de Mariinha, quanto a isso não posso me enganar. Quando eu morava em BH, as festas eram mais discretas. Cidade grande é outra história. Aqui, nesse lugarejo, as meninas são de um fogo terrível. O pior é que acham que lá, na cidade grande, as mulheres são mais atiradas que cá. E querem imitá-las. Pior que imitam apenas uma ideia. Então marcam essas festas, onde acabamos quase todas nuas, mesmo que de uma nudez disfarçada, e dormindo em casas alheias, nem sabendo onde foram parar uma das blusas. Isso mesmo, sempre desaparece uma blusa; já aconteceu de sumir uma saia. Como voltar para casa em tal circunstância? É preciso que alguém empreste uma roupa, como um casaquinho de meia estação. Depois vamos até o Shopping, a 120 km da cidade, comprar novas roupas. Aqui em Minas todas vivemos de aparência. É lógico que é o único modo de a sociedade nos aceitar. Fingimos. Em nossos trabalhos somos exímias profissionais. Uma de nós é dentista. Não digo qual, não quero dar pistas sobre as amigas, quem sabe eu? Mas voltando às festas, são de lascar, isso mesmo, acho que é essa a palavra, porque como diz o mineiro do campo, são de tirar o couro. Como não podem nos tirar o couro real, nos tiram a roupa. Depois, dão no couro! Muitas querem ter namoradinhos, curtir a vida a dois, casarem-se. Mas já pensaram sobre? Casarem-se? E quem já passou por isso tudo, quem já cansou? Não se pode viver para o marido, nem para os filhos. É bom ter filhos, não nego, mas não se pode viver em função deles durante toda a vida. Então apareceu a Mariinha e deu a ideia. Chamou as mulheres mais destemidas da cidade e convidou-as todas. Mas, Mariinha, alguém há de acabar descobrindo, afirmou uma. Não, basta que fiquemos de boca fechada, ela retrucou, e não precisa que as festas aconteçam sempre, três ou quatro vezes ao ano é o suficiente, e nada de homem da cidade, acrescentou a promotora. Engajamo-nos na brincadeira, mulheres da cidade e outras que ficavam nela apenas parte do tempo, como médicas, a tal dentista e professoras. O local seria um sítio, a 40 km, na serra de G, digamos assim. Na primeira das festas, não aconteceu nada demais. Apenas comemos, bebemos e dançamos... como dançamos! Homens de menos, mulheres sempre mais numerosas. Fizemos mais duas festas, a frequência aumentou e também a quantidade de homens, mas as mulheres sempre mais numerosas. Na quarta festa, propus que mudássemos o local, precaução apenas. Alguém já está comentando pela cidade?, quis saber a amiga. Não, nada ouvi, mas sabe como é, melhor não facilitarmos. Nas festas seguintes, fomos a uma pousada, era de uma das frequentadoras dos eventos. Numa pousada, algumas se assustaram, isso pode soar mal. Há no lugar um grande salão, e depois, fica-se mais à vontade. E passamos a alternar, uma vez no sítio de Mariinha, outra na pousada. Vieram homens de longe, inclusive de BH, acharam a nossa ideia maravilhosa. Exercíamos nossas profissões durante os dias, éramos as pessoas mais sérias da cidade, mas durante as festas a liberdade era total. Até mesmo vieram algumas mulheres casadas. Mulheres casadas, assustei-me, podem arrepender-se e sair comentando por aí. Nada disso, rebateu Mariinha, tenho o nome de todas, estão arriscando o próprio casamento, e é lícito que se divirtam. E vinham elas, mais sorridentes do que todas nós, mais provocantes, arrumavam-se num dos banheiros da casa, transformavam-se em autênticas piranhas. Não há problema que namoremos, disse a dona do sítio, o importante é que não vire rebu. Achei engraçada a palavra, rebu. Daí em diante já se via uma ou outra agarradinha com seu par, depois a sair ao ar fresco, até que alguém falou pois não há um quarto com cama? Concordou-se, então. A respeito do quarto e da cama. E as festas, oh, uma beleza. Mas nada pode durar para sempre, trata-se de uma verdade absoluta. Fizemos a última ontem, a de despedida (será?). Já está dando na pinta, surpreendeu-me a amiga. Mas até na última acordar peladinha, e sempre a faltar uma blusinha...

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