domingo, março 01, 2015

Respirei fundo

Como a água estava fria, usávamos os pés para nos movimentarmos, assim não só mantínhamos nossos corpos aquecidos, mas também flutuávamos entre as ondas. Ele, mais do que eu, era ágil com as mãos, queria a todo custo tocar meu corpo. Mas o que me provocou quentura mesmo foi um afago diferente que ele me fez. Nunca havia percebido que alguém, apenas num ligeiro deslizar de mãos, pudesse me provocar um orgasmo enquanto tentávamos escapar da arrebentação.

Tudo começou uma hora antes. Eu andava no calçadão, na altura da Rainha Elizabeth. Queria um quiosque para tomar água de coco. Mas não sei o que me deu. Ao olhar as bebidas expostas, vi uma garrafa de vodca, e aquela marca não era comum nos quiosques.

O senhor faz uma caipivodca para mim com aquela vodca ali?

É pra agora, o empregado não pestanejou.

Eu vestia meu biquíni vermelho, não é tão pequeno mas deixa os homens loucos; uma camiseta justa me cobria até o umbigo. Trazia no ombro a bolsa. Pronta a bebida, comecei a mordiscá-la.  Descobri então um homem que me admirava, e já devia estar ali fazia tempo. Dei uma ajeitada na pose, tomei o copo nas mãos e fui até uma cadeira vaga, numa das mesas que me permitia olhar quem andava no calçadão. Ele se aproximou.

Posso sentar aqui?, quase não há lugar.

Ok, fiz ar displicente.

No começo, fingiu não querer nada comigo. Olhou a paisagem, as pessoas, o empregado do quiosque.

Essa bebida é ótima, não?

É, falei e continuei indiferente.

Deixa a gente a mil.

Poucas palavras as suas, mas suficientes para me calar. Lembrei uma amiga que sempre diz que caipirinha é bom porque sobe pelas pernas em questão de minutos.

Respirei fundo. Ele prestou atenção.

Essa sensação passa, mas só depois de meia-hora, a não ser que se encontre um grande amor, falou.

Não aguentei, tive de rir. Um tempinho depois contei o que minha amiga me dissera.

Ainda dentro d’água. Ele já conseguia me segurar pela cintura, puxou meu corpo para junto dele. Não ofereci resistência. O mar nos levava para cima e para baixo. Às vezes, espumas nos invadiam. Ele beijou minha boca. Deixei que sua língua me ultrapassasse os lábios. Deslizou várias vezes as duas mãos pelas minhas costas, me aprumou rente a ele, ventre contra ventre.

Você não teme o mar?, perguntou.

Só quando há correnteza.

A correnteza hoje são as minhas mãos, os meus braços, os meus lábios; tacou-me mais um beijo.

Nadamos um pouco mais adiante, flutuamos atrás da arrebentação.

Calma, falei, assim você me deixa nua.

Ele havia puxado o meu biquíni, descera até as coxas, um pouco acima dos joelhos.

Você é muito gostosa.

Vamos fazer uma coisa, falei, namoramos como duas pessoas decentes, depois você me leva para onde quiser e lá...

Tudo bem.

Foi assim que aconteceu. Acabei no apartamento dele, ali na Djalma Ulrich. Fiquei até pouco depois de meia noite. E ainda estava de biquíni. Antes de partir, porém:

Você não tem uma camiseta comprida para me emprestar?, pedi.

Tenho, mas só aceito se for uma troca, ainda que temporária.

Troca?, fiz cara de que não entendi.

Ele olhou para o meu biquíni.

Jura que você quer?, perguntei.

Brincadeirinha.

Ele foi ao quarto pegar a camiseta. Enquanto isso entrei no banheiro, tirei o biquíni e o dependurei na torneira do chuveiro. Ele me passou a camiseta pelo vão da porta. Vesti e me olhei no espelho. Caiu bem, era como se eu usasse um minivestido.

Ao sair, beijei meu recente namorado mais uma vez. Ele insistiu querendo-me levar em casa.  Eu disse que não era necessário. Tomei o elevador e desci.

Desejava andar pelas ruas de Copa, apenas a camisa curta prestes a revelar minha nudez, ou lhe deixara o biquíni como um mimo? Nada disso, o ardil tinha outra intenção. Que ele me procurasse na manhã seguinte.

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