quinta-feira, março 24, 2011

Frêmito de prazer

Acho que essa história aconteceu no final dos anos 80, escutem só, é um arrepio.

Era um domingo ensolarado, decidi ir à praia do Flamengo. Logo ao chegar, reparei que estava lotadíssima. E desde o momento em que pisei na areia, a paquera foi intensa. Naquele verão tínhamos adotado biquínis minúsculos. Em todo lugar em que parávamos, havia homens ou rapazes a nos olhar. Uns iam e vinham, outros estacavam em frente a uma de nós e se demoravam, queriam em troca um sorriso convidativo. Senti naquela manhã um ligeiro frisson. Até as meninas que iam às tendas de sorvetes ou refrigerantes trocavam olhares excitados e não ficavam indiferentes aos rapazes que mediam seus seios e bumbuns.

Eu deitara de costas, olhava uma revista quando percebi um homem junto a mim. Foi além do olhar, perguntou se podia ficar ao meu lado. Nada respondi, mas mesmo assim ele ficou. Continuei a folhear a revista, acho que alguma coisa sobre televisão; em algum momento, lancei de soslaio o olhar na sua direção. Estava me observando. Como também aconteceria uma hora mais tarde, no banho de mar, pude constatar que ele era mestre na arte da captura. Não precisou de amarra alguma para me deixar juntinho dele. Sentou-se ao meu lado e, como se não quisesse nada, pôs-se a olhar em frente, um olhar pleno. Depois lembro que falou alguma coisa.

Conversei com ele, poucas palavras, muitas intenções. Deitou então, também virado de costas, encostando ao meu o seu corpo largo; não demorou a escorregar uma das mãos por baixo do meu ventre e percorrer um caminho que a deixou dois dedos dentro do meu biquíni.

Notou meu arrepio. Continuou pousado ali. Como a praia estava cheia, aquele sarro imprevisto me deixou excitada. Era quase uma transa às escondidas, no meio da multidão. Mexi-me involuntária e, para disfarçar, virei mais uma página da revista.

Evitamos as palavras. Sob o vozerio de domingo, roçamos nossos corpos, tateamos nossos poros...

Após alguns minutos, juntei meus lábios aos seus. Se nossos beijos extravagantes contaminariam outros amantes, não era da nossa conta...

Amoldamo-nos tanto um ao outro que parecíamos namorados de outros tempos.

Sempre quando eu percebia que ele queria me falar, tacava-lhe um beijo e sorria. Eu, que sempre fora exigente nas palavras e nos assuntos, sabia que qualquer investida dele que não fosse ao meu corpo fracassaria. Percebeu que eu não queria vozes nem histórias, apenas seu corpo quente, sua boca plena de volúpia e seus dedos a me descobrir segredos adormecidos.

Quando não mais suportávamos os raios do sol, entramos no mar. Apartamo-nos em mergulhos, a água a escorrer por cabelos e faces. Depois outro beijo e novo mergulho. Ele me abraçava, prendia-me pela cintura e depois soltava. Então suas mãos continuavam o trabalho, submersas nas águas, a me tentar em carinhos caprichados.

Numa das vezes em que dele me soltei, dei impulso como se quisesse nadar de costas. Ele deixou que meu corpo deslizasse por suas mãos, mas quando meus quadris passavam por elas, segurou as pontas dos laçarotes do meu biquíni. Adivinhem o que aconteceu!

Ficamos grudadinhos um ao outro durante muito tempo. Namoramos num extremo êxtase. Acho que nunca senti tanto prazer.

Naquele tempo eu trabalhava à tarde, mesmo no domingo. Quis falar a ele que precisava ir, pois pegava às duas, mas não tive coragem. Estiquei o tempo por mais que pude, sempre pensando em alguma solução que evitasse meu atraso ao serviço.

Quando tive de deixá-lo, dei-lhe o número do meu telefone, disse o que fazia e onde trabalhava. Ele, no entanto, nunca ligou nem me procurou.

Corri para o trabalho direto da praia. Vestia um vestido curto, que usava como saída de praia. Pra disfarçar e não chegar molhada, parei em um local em que havia algumas árvores e onde julgava que as pessoas não dariam por minha presença. Em dois movimentos rápidos tirei o biquíni e o coloquei na bolsa.

Apenas o vestido sobre o corpo vermelho de tanto sol.

Com o corpo ainda salgado e com a pele quente, cheguei ao cinema. Eu era bilheteira. Cumprimentei um ou dois funcionários e corri para o meu lugar. O friozinho do ar-condicionado acalmou o meu ardor.

Trabalhei tranquila, sem que ninguém me incomodasse. Num dos intervalos, fui ao banheiro, ajeite-me, depois voltei.

Quando cheguei em casa tarde da noite, pensei no meu recente namorado. Tudo que vivemos na manhã que ainda ia tão próxima me proporcionou mais um frêmito de prazer.

Sabor dos primeiros tempos

Revendo as postagens mais antigas, encontrei a do link que vai a seguir, vejam como é linda! Ofereço àqueles que não tiveram oportunidade de me acompanhar nos primeiros tempos.
Beijos,
Margarida

quinta-feira, março 17, 2011

Esta vida é muito boa

Tudo começou quando falei ao meu namorado:

“Tenho dezessete anos, me iniciei no sexo com você aos quinze, você praticamente mora aqui em casa e estamos juntos faz mais de dois anos. Não quero que leve a mal o que vou te dizer, mas estamos vivendo praticamente uma vida de casados. Ainda sou muito jovem, preciso ter outras experiências, quem sabe um dia possamos nos encontrar de novo, então já teremos vivido mais e saberemos o que realmente queremos dali pra frente. Se continuarmos juntos, acho que nosso amor não dura muito, não demora vamos dizer que nos conhecemos muito cedo, que éramos inexperientes e não aproveitamos a vida.”

Ele me olhou sem nada dizer, mas acho que já esperava por esse tipo de conversa. Havia muito minha atenção a ele diminuíra. Quando percebeu que eu não tinha mais o que falar, perguntou o que todo homem pergunta nesta hora:

“Você tem certeza de que é isso mesmo que você quer?”

“Nunca se sabe ao certo o que se quer, acho que li isso num livro, mas por enquanto tenho.”

Ele se foi.

Comecei uma vida nova. Passei a ter muitos amigos e a sair com os mais diversos tipos de pessoas.

Logo conheci um rapaz através de uma amiga. Deixei-o frequentar a minha casa, mas avisei que não queria compromisso, apenas amizade. Caso rolasse alguma coisa, tudo bem, mas ele não poderia dizer que era meu namorado. Como é difícil um homem e uma mulher estarem juntos sem que aconteçam toques e carícias e que estes, enfim, se transformem em sexo. Ficamos juntos por algum tempo. Acabamos transando no meu próprio quarto, num domingo à tarde. Era carnaval. Se eu quisesse, poderia ter ficado com ele por mais tempo. Temerosa de que se repetisse o que aconteceu comigo e meu primeiro namorado, passei a sair mais e a não ter tempo para ele. Percebeu minha indiferença. Sem nada dizer, desapareceu.

Depois de algumas semanas, viajei com uma amiga cuja família tem casa em Cabo Frio. Uma ótima viagem. Só havia mulheres na casa. Resolvemos, numa noite, ir à discoteca. Lá nenhuma de nós ficou sozinha. Ângela, minha amiga e dona da casa, pediu que caso algum dos rapazes nos acompanhassem no fim da noite tudo deveria acontecer na maior discrição. O melhor seria marcar para o dia seguinte, na praia. Cumpri o que ela me pediu, mas as duas outras acabaram levando a tiracolo seus recentes cachos. A situação ficou um pouco confusa. Só lá pelas seis da manhã foi que elas conseguiram despachá-los. Mas partiram felizes, pois conseguiram o que pretendiam.

O rapaz que ficou mais tempo ao meu lado na boate não apareceu na praia. Mas um homem de uns trinta e poucos anos ficou me olhando, até que se aproximou e pediu para me fazer companhia. Permiti, sob os olhares curiosos das minhas outras três amigas. Na verdade, não aconteceu nada além disso. Apenas quando resolvi dar um mergulho, ele me acompanhou. Dentro d’água, tocou o meu corpo. Mas não houve clima para nada mais. À noite, sim, saímos, apenas nós dois. O homem, que se chamava Carlos, me levou a um bar muito bonito. Depois... Bem, depois não preciso contar o que aconteceu. Mas fomos para a casa dele...

Todas essas experiências comprovavam que eu estava certa quando terminei com o meu primeiro namorado. Conhecer novos homens, saber como cada um age, como seguram nosso corpo, o modo como se dirigem a uma mulher, tudo isso é muito importante. Estava no caminho certo. Era mesmo cedo par colar em alguém.

Apareceu, depois, um homem bem mais velho. Esses são ótimos, porque já tem a vida estabelecida. Pagam tudo e nada perguntam. São carinhosos, sabem se relacionar com as mulheres. O mais difícil, porém, é encontrar um que não tenha compromisso. O que conheci podia sair comigo o dia e a hora que eu quisesse, mas descobri que ele tinha uma mulher, e ela era mais velha do que ele. Minha mãe ficou preocupada, porque, apesar de não se meter nos meus relacionamentos, queria que eu terminasse a faculdade e me tornasse uma mulher independente. Em companhia de alguém mais velho, achava que eu sairia prejudicada. Podia me acomodar, viver uma espécie de prostituição entre aspas.

Não demorou e me vi livre dele, apesar de a separação me deixar um pouco triste. Mas as conversas eram outras, os gostos também, e não seria o dinheiro que iria contribuir para que eu tapasse o sol com a peneira.

Então arranjei algumas amigas que não queriam saber de relacionamentos, mas que gostavam muito de transar. Saíam e trepavam naquela mesma noite com o homem recém conhecido, não importava em que lugar se encontravam. Podia ser dentro do carro, na própria boate, em algum hotel, ou até mesmo num banheiro, fossem eles de qualquer local.

Comecei a achar essa atitude um tanto grosseira. Estava acostumada a ter relações sexuais com homens que gostavam de mim, por isso, conhecer alguém e transar na mesma noite, não sentia como algo positivo. Mas resolvi experimentar. Passei a agir um pouco diferente delas: nunca saía com o primeiro que aparecia. Esperava o tempo passar. Quando tudo levava a crer que não mais surgiria homem algum digno de mim, acontecia o contrário. Minhas amigas, que já tinham experimentado os seus e os mandado andar, ficavam furiosas. Diziam: “Stela, você é sortuda pra cacete.”

Passava o tempo e aquela vida até parecia muito agradável. Satisfazia-me e não tinha que ficar aturando homem algum depois. Na verdade, quando se tem a vida organizada, arranjar um namorado acaba acarretando muitos problemas. O namorado jamais pensa como a gente. Às vezes é impossível um acordo, acabamos sempre fazendo o que não desejamos. O homem, mesmo dizendo que não é machista, acaba por impor sua vontade, porque sempre acha que tem razão. É uma questão cultural.

Para aumentar minha satisfação, fiz mais uma descoberta. Não há lugar melhor para se frequentar do que bares e restaurantes de hotéis de luxo. Neles, além de o ambiente ser mais selecionado, os locais para se fazer amor são mais discretos, como a própria suíte de quem nos deseja. E, caso se precise trepar em toaletes, os dos hotéis são vazios, limpos e discretos.

Outro dia, uma colega de faculdade me perguntou: “nesses relacionamentos ocasionais, não pode aparecer algum louco e fazer algum mal a você?” Respondi que sim. O que iria fazer, mentir? Mas nunca aconteceu. Ou melhor, só houve um pequeno problema, disse a ela: “um deles roubou minha calcinha.” Ela riu, e completou: “ah, isso não é nada, uma taradice dessas até que é boa!”

Mas não sei, não. Lembram-se do meu primeiro namorado? Ele se formou e está trabalhando, um emprego ótimo, fez concurso, ganha muito bem. Mais uma coisa, disse-me a minha mãe, que esteve com ele: arranjou uma namorada linda. Parece que não demora e vão casar.

Já se passaram quatro anos desde o dia em que terminei com ele. Será que já está na hora de eu ter um namorado fixo? Acho que ainda é cedo. Mas sábado passado aconteceu uma coisa que me deixou um pouco preocupada. Fiz amor com um homem lindo, que também conheci naquela mesma noite. Estávamos numa festa na casa de uma amiga. Mas o problema foi que nem ele nem eu tínhamos camisinha. Aliás, tentei arranjar com alguma amiga, mas parecia que ninguém tinha camisinha. Trancamo-nos no banheiro. Adivinhem o que aconteceu? Isso mesmo que vocês estão pensando. A carne é fraca.

Bem, daqui pra frente o que posso fazer é tentar ter mais cuidado. Mas há uma coisa que digo, sem dúvida alguma: esta vida é muito boa.

quarta-feira, março 09, 2011

Última noite

Calma, calma, sei que você está a mil, mas não se afobe, vamos dançar, me acompanhe:

“Mais que calor ô ô ô ô ô ô, mais que calor ô ô ô ô ô ô, atravessando o deserto do Saara, o sol estava quente e queimou a nossa cara, mas que calor ô ô ô ô ô ô... Olha a cabeleira do Zezé, será que ele é, será que ele é? Olha a cabeleira do Zezé, será que ele é, será que ele é? Será que ele é bossa nova, será que ele é Maomé... Quanto beijo, ó, quanta alegria, mais de mil palhaços no salão, Pierrot está chorando pelo amor da Colombina, no meio da multidão...”

Sei qual é o teu desejo, mas agora vamos nos divertir, depois, quem sabe, eu deixo, mas por enquanto quero só brincar. Vem, me abraça, me beija, pode tocar no meu corpo molhado, suado, você também está acabado em suor, e essa música não nos deixa conversar. Me abraça, vamos que é a última noite, a folia logo acaba, depois... Te atrai o meu corpo magro, te atrai mais ainda o meu biquíni minúsculo, não é mesmo? Não, não faça assim, agora não, já te pedi, depois..., depois, prometo. Claro, verdade, cumpro minha palavra...

“Bandeira branca amor, não posso mais... Tristeza não tem fim, felicidade sim... Lá lá lá lá, lá lá lá lá lá!, lá lá lá lá, lá lá lá lá lá!... Ó jardineira, por que estás tão triste, o que te foi que aconteceu...” Não posso ficar nem mais um minuto com você, sinto muito amor, mas não pode ser... Colombina, onde vai você? Eu vou dançar o iê iê iê... Lá lá lá lá, lá lá lá lá lá!, lá lá lá lá, la lá lá lá lá!... Cidade maravilhosa, cheia de encantos mil, cidade maravilhosa, coração do meu Brasil...”

Chega mais perto, amor. Me beija mais uma vez, isso, que bom! Me abraça de novo porque já vai acabar. Você me pediu para vir de noiva, eu vim: o veuzinho e o biquíni. Gostou? Adorou! Fiz a tua vontade. Todas as outras pessoas estão se beijando, mas você quer algo mais, não é mesmo?, e quer agora. Sei que algumas mulheres permitem tudo, mas não é o meu caso, ao menos por enquanto... Vamos depois lá pra fora, há a barraca, lembra, você me deixa nua pelo caminho.

“Cidade maravilhosa...”

Não, aqui não, você quer trepar com uma mulher ou quer deixá-la em maus lençóis? Quero dizer, sem lençol algum? Me devolva! Não, não, não! Assim não te levo comigo... Vai, devolve, não posso sair sem o biquíni por aí... Ah, assim está bom, deixa eu amarrar... Venha, é a última música!

“Cidade maravilhosa... cheia de encantos mil...”

Sei que tenho encantos, tanto é verdade que ficamos juntos dois dias seguidos, e depois da festa estamos aqui de novo, na minha barraca, que preparei para receber o amor de carnaval... Enquanto isso, a cidade lá fora dá os últimos suspiros de folia. Vem, já me deixaste nua, agora podes tudo, sobe sobre mim, me acaricia, isso, assim assim. Você é muito gostoso...

terça-feira, março 08, 2011

É carnaval!

Aqui neste lugarejo, os foliões não deixam escapar sequer um minuto da folia. Entro no ritmo, e na segunda feira sou mais ousada na fantasia. Visto um collant de decote acentuado e fio dental. Bordei a frente com puro brilho, e o visto com uma minissaia de fitilho colorido. Minhas pernas são cobertas somente com purpurinas.


Os blocos de rua já me acham na praça. Todos muito animados, mas mesmo assim as beatas do local se interrogam. Será que aquela devassa ali é a mesma pantera cor de rosa ou a mulher maravilha sem máscara?

Conheço um rapaz que trabalha como barman na praça e começo a contar como é a vida no lugarejo em dia comum.

“E você, por que veio morar aqui, se sua vida neste lugar não tem muito sentido?”

“A gente precisa conhecer outras realidades. Em dias úteis gosto de tranquilidade. Leio, escrevo e uma vez por mês vou receber a pensão que meu falecido, da marinha, deixou para mim. E você, como veio parar aqui?”

“Já estive outras vezes neste local com esse meu negócio. As pessoas daqui bebem muito, por isso venho para cá em época de festas.”

A banda do bloco, barulhenta, não deixa a gente conversar. Aproveito para dar aquele show, na ponta dos pés. Minha sandália alta destaca a marcha da jardineira, e eu canto: “Ô jardineira por que estás tão triste...” O contrário de mim, que estou bastante alegre. É só sair de casa que logo chove na minha horta.

Lico, o barman, deve ser casado, está a serviço e não trouxe a família. Não terá o mesmo sabor ficar com um homem daqui. Mas bem que estas mulheres merecem ser chifradas.

Caminho lentamente com o bloco, mas o capixaba não tira o olho de mim, dos meus cabelos negros e longos. Lico está mesmo é doido para se embalar neles. Se ele topar, depois, no final da noite, eu o levarei para uma barraca armada aqui perto. Pensei em tudo, até no conforto. Aqui não há motel, somente pousada. E sem máscara a fofoca vai pegar fogo.

Me acabo ao som de “Bandeira branca”, “Cabeleira do Zezé” e outras marchinhas.

O dia já está amanhecendo, quase não há mais ninguém na rua. Faço um sinal para o capixaba e ele, mesmo cansado de aturar os foliões, me segue. No caminho, tiro aquele brilho todo com um belo banho de chuveirão. Lico faz o mesmo.

Na barraca, deixei bebida e roupões, próprios para a ocasião. Mas antes disso, já vou nua ao seu lado, além dele apenas as últimas estrelas, que insistem em me acompanhar. Nos deliciamos, os dois, ao som das águas que descem das montanhas.

“Não estou aqui porque você me fez um sinal. Mas porque gostei muito de você. As pessoas precisam deixar de vez em quando a capa em que se escondem durante o ano, e você sabe fazer isso muito bem”

“Nossa, Lico! Dizem que amor de carnaval é passageiro.”

“Comigo, não. Sou solteiro, e hoje, no último dia do carnaval, iremos nos fantasiar de noivos, você topa? E se quiser conhecer minha cidade, será um prazer.”

domingo, março 06, 2011

Vestido de flores azuis

“Marg, você me empresta aquele seu vestido estampado com flores azuis?”
“Estampado com flores azuis?”
“Isso mesmo, aquele que você usou na festa da Isis.”
“Ah, sei, um que comprei na Exotic.”
“Acho que é de lá sim, Marg. Ele é muito bonito.”
“Mas você, Stela, tem tanta roupa bonita, acho que tem mais bom gosto do que eu.”
“Ah, não diga isso, Marg, posso até ter muita roupa, mais bom gosto do que você é outra história.”
“Empresto, basta ir lá em casa pegar.”
“Ótimo, vou lá quando sairmos daqui.”
“Uma curiosidade, pra que você quer o vestido?”
Stela sorveu o último gole do café, olhou através da vidraça a tarde que caía, algumas pessoas apressadas, jovens conversando, homens de terno.
“Seu vestido dá sorte.”
“Sorte? Como assim?”
“Ajuda a arranjar namorado.”
“Que besteira, Stella, o vestido nem é dos melhores que eu tenho, é comprido...”
“Mas toda vez que você o usa, está ao lado de um homem bonito.”
“Mas acho que a razão não é o vestido.”
“Marg, sei que você é uma pessoa especial, acho que com o seu vestido vou me tornar especial também.”
“Já imaginou se todas as minhas amigas pensarem o mesmo e pedirem minhas roupas? Vou andar nua!”
Stela sorriu, comeu o último biscoito, depois olhou na direção de uma das garçonetes.
“Por favor, poderia me trazer mais um expresso?”
A moça prontamente se dirigiu ao fundo da cafeteria.
“Mas, Marg, as outras amigas não precisam saber, é segredo, você me empresta o vestido e depois eu conto o que aconteceu.”
“Ok. Stela, você quer saber mesmo a razão de eu sempre ter namorado a ponto de precisar evitá-los?”
“Quero, mas não vai me deixar de emprestar o vestido por causa disso.”
“Claro que não. A causa é a seguinte: não fico pensando muito nisso, então eles aparecem naturalmente.”
“Você é uma mulher de sorte, Marg, vive em paz consigo mesma.”
“Acho que você descobriu o segredo. Quando vivemos em paz, quando estamos felizes mesmo sozinhas, os homens aparecem às pencas.”
“Às pencas, que palavra engraçada. Agora me lembrei da Dani. Ela foi a um baile de carnaval e disse que os homens a rodeavam às pencas.”
“A Dani adora bailes de carnaval, e daqueles bem quentes.”
“Já sei, Marg, daqueles em que os homens querem deixar a gente nua.”
“Isso mesmo, pelada.”
“Marg, você também gosta desses bailes, não é mesmo?”
A garçonete chegou com o café de Stela. Ela olhou para moça, sorriu e agradeceu.
“Gosto. Já fui a muitos deles.”
“Não vai mais?”
“Não com antes, mas ainda frequento alguns?”
“E os homens, deixam você nua?”, falou e chegou a rir alto, com a xícara de café na mão.
“Se eu bobear, querem até minha calcinha, de lembrança?”
“E você já namorou no carnaval?”
“Sempre se namora, um a cada dez minutos...”
Stela sorriu e completou.
“Sabe, estou eufórica para usar esse seu vestido!”
“Mas você não vai deixá-lo escapar nas mãos de um desses rapazes mais afoitos, não é mesmo? Quero meu vestido de volta!”
Stela me olhou nos olhos e soltou uma sonora gargalhada...

quinta-feira, março 03, 2011

E viva o Carnaval!

Vivo numa cidade pequena onde o carnaval é festa popular. Vem gente de todo lugar para apreciar a folia.

Os jovens preferem as barracas de acampamento. Varal, redes e mochilas são os objetos que acrescentam à natureza ares de convivência humana. Já os de estilo conservador se hospedam nas pousadas.

Observo tudo e penso: como aproveitar e deixar fluir o meu espírito carnavalesco, já que, para todos aqui, sou recatada? Só há um jeito, brincarei neste carnaval, na rua e nos salões, de máscara. Cada dia, uma máscara diferente.

No sábado, opto pela fantasia de "pantera cor de rosa". Às onze da noite, saio. As beatas da cidade nas varandas, o tititi já fazendo parte do cenário. Mas quem vai imaginar que alguém pacata, daqui, aprontará todas por trás de uma fantasia e de uma máscara? Minha roupa rosa com paetês prateados está um luxo, além das meias e da blusa cacharrel. Ao som de marchinhas, danço sobre o chão de pedra e de paralelepípedos. Todos param para me aplaudir. A exceção são as beatas, que perguntam entre si: “De onde saiu tal devassa?” Bares e restaurantes lotados. A conversa é a mesma: “Viram a pantera cor de rosa? Nossa! Com essa pantera eu vou à loucura, o torneado de suas pernas e o bumbum são de tirar o fôlego. E que seios!” “Esses homens daqui parecem que nunca viram mulher, ficam boquiabertos com uma talzinha que ninguém sabe de onde veio”, falam com despeito as beatas.

No domingo, depois de me recompor do cansaço, das bebidas e das insinuações, visto-me de mulher maravilha. Saio mais cedo. Quero ver se pesco o homem mais tesudo e comprometido da cidade. Afinal, sou a mulher maravilha.

“Hei, paixão! Quer ser o meu super-homem nesta noite?”

“Aceito. Nessa ocasião ninguém é de ninguém.”

Saímos, os dois, de braços dados, e vamos pra debaixo de uma gruta. O som da marchinha chega a nós vindo de longe.

“De onde veio essa mulher maravilha?”

“De outras redondezas.”

“Posso provar essa maravilha de mulher?”

“Claro.”

Aos poucos, vou mostrando a mulher maravilhosa que sou. Faço-lhe carícias mil, começo então a apalpar o pênis daquele super-homem. Penso em pedir que o introduza em mim, mas nem preciso dizer palavra alguma, essas coisas se adivinham... A mulher maravilha está quente, jorrando prazer por todos os poros. O homem, impossível de sair da linha durante o resto do ano, naquele momento é meu. Bem feito para a encrenca dele! Enquanto toma conta da vida dos outros, perde o quitute de marido que tem.

Combinamos, na segunda e terça-feira a festa será debaixo de uma velha mangueira. Ficará na história a festa, e também a mangueira.

Bom carnaval pra vocês também!