domingo, fevereiro 26, 2012

Por favor, não faça isso

Meu marido levou-me para trepar com um travesti. Isso mesmo, um travesti. É bom dizer com todas as letras. É uma mulher aparente, muito bonita por sinal, mas tem um pênis enorme por debaixo da minissaia.

Não sei como funciona a mente das pessoas nem tentei estudar tal assunto, mas ele, meu marido, sempre me envolveu em suas fantasias. Tudo o que se possa imaginar em termos de sexo, já praticamos. Sexo em casa, sexo ao ar livre, fetiches diversos. Caso desejem, depois conto, mas agora não quero perder o fio da meada. Embora meu marido não quisesse outro homem envolvido na nossa relação, queria me ver penetrada por um pênis alheio. Então, optou pelo travesti.

Quando tocou no assunto, assustei-me. Mas convidou o rapaz. Ou melhor, a moça. Verdade, ninguém pode dizer que se trata de um homem. Meu marido afirma que Bárbara nasceu homem por acidente.

Fomos os três a um bar. Bebemos, comemos e conversamos. Muito simpática a Bárbara. Afável, risonha, culta e bela. Ainda não foi naquela noite que tiramos nossas roupas e nos aventuramos numa cama a três. Demoramos mais dois encontros. Todos marcados no mesmo bar. Depois do terceiro, entramos num táxi e desembarcamos na porta de um prédio na Domingos Ferreira, em Copacabana.

No apartamento dela, bebemos mais alguns drinques. Não vou contar os pormenores, mas apenas como tudo começou. Fizemos um jogo para que o fogo pouco a pouco nos queimasse. Ficamos de costas e tentávamos adivinhar de quem era a mão que nos acariciava. Quem errava, tirava uma peça de roupa.

Fui a primeira a ficar nua. Não sei se eles mentiam sobre as mãos ou se eu já estava embriagada. Dali para acabarmos nus, os três, não foi difícil. Enquanto trepávamos, eu não soube distinguir de quem era o pênis que me penetrava.

Saímos mais duas vezes, os três. Já na segunda, acertei todas as mãos no nosso jogo. Bárbara foi a primeira a perder toda a roupa. Pude então admirar seu pênis.

Na semana seguinte, telefonei para ela:

“Quero estar sozinha com você.”

“Mas e o Marcos?”

“Não sabe de nada; por favor, não fale com ele.”

Marcamos. Recompensei Bárbara regiamente. Ela gostou da ideia de sairmos também apenas as duas dali em diante, em segredo. No mais, continuaríamos nossos encontros, os três.

Nas transas de nós duas, sempre fiz questão de que ela trepasse comigo como se fosse homem. Apesar de ter o corpo de mulher, não me decepcionou. Tudo o que eu desejava ela prontamente correspondia. Jamais trepei com tamanho ardor.

Comecei a gostar dela. Além de ser muito carinhosa, ficava sobre mim, ou eu sobre ela, o tempo que eu quisesse. Cheguei a gozar cinco ou seis vezes, e gozaria mais. Já que sente prazer principalmente no ânus, Bárbara conseguia evitar o orgasmo. Para ela ejacular, eu teria de fazer o papel de homem e usar um desses pênis que são vendidos nos sex shops.

A razão de contar toda essa história não é simplesmente para que as pessoas saibam o que é namorar um travesti. O fato inusitado descobri no último encontro. Apaixonei-me por ela. E ela apaixonou-se por mim.

Gosto de fazer várias brincadeiras antes de chegarmos ao principal. Uma delas é deixá-la nua, sem possibilidades de esconder o pênis. Ou vesti-la com uma saia curtíssima e fazê-la desfilar tendo que esconder sua masculinidade. Cada vez que lhe escapa o pênis, ela tem de me pagar um bolo. E adivinhem como isso acontece? Precisa me levantar bem junto à parede, segurar-me sem que eu toque o piso, abrir minhas pernas e me penetrar até que eu goze aos gritos.

Outro dia, um fato me deixou excitadíssima. Convenci Bárbara a sair nua no meu carro, no banco do carona. Levei-a para um passeio por toda a cidade. Não deixei que tivesse por perto roupa nem tecido algum que a cobrisse. Apenas o vidro escuro do automóvel ombreava sua nudez. E passeamos por lugares de intenso movimento.

Mas na última vez, assim que me penetrou, senti um jorro quente explodir dentro de mim. A seguir seu pênis amoleceu. Ela, envergonhada, afastou-se e o cobriu com as duas mãos. Enfim, falou:

“Perdão, isto aconteceu porque estou apaixonada por você.”

“Apaixonada?”, perguntei enquanto agachava e deixava escorrer seu sêmen.

“Ou apaixonado, não sei. Você, com todas essas fantasias, com esse carinho...”

“Será que daqui pra frente você vai gozar sempre rápido assim?”

“Não sei se vou conseguir fazer como antes. Agora sinto prazer, e quando isso acontece não consigo me controlar.”

“Que chato”, suspirei, “acho que vou ter de arranjar outro travesti.”

Ela, desesperada, olhou para mim:

“Não faça isso, por favor! Vou tentar fazer sexo com você como antes. Se for preciso, vou à terapia. Me dê pelo menos um tempinho.”

quinta-feira, fevereiro 23, 2012

Deixo que me roube a fantasia

(Este é mais um conto de autoria da minha amiga Rosalinda. Ela se entusiasmou tanto com o carnaval...)

Clara, como está se sentindo com o término do carnaval?

Estou ótima, Ana. Antes da escola pisar na avenida, Joel fez a parte dele. Como sou rainha da bateria já faz cinco anos, não fico ansiosa com o desfile, consigo gozar tranquilamente. Joel chegou ao camarim da escola, eu estava com o meu corpo purpurinado, já me arrumando para a grande festa. Como sempre, ele nem pergunta se quero, com aquelas mãos macias começou a acariciar meus seios. Eu não resisti. Trancamos a porta, Joel percorreu todo o meu corpo com beijos provocantes. Penetrou com classe na minha estação primeira e gozamos ao som dos primeiros batuques da escola. E com você, Ana?

Eu te invejo, Clara, por isso perguntei. Meu parceiro predileto, o Gilson, que toca punheta ao som do pandeiro, não deu as caras. As mulatas sambam até o chão perto dele e ele aproveita o embalo. Semana que vem sei que vai aparecer por aqui, então mando pastar em outro pasto. Estou pensando seriamente em aceitar os assédios do Lauro. Lauro é magro, e dizem que homem magro tem pau comprido e duro. Se ele não rechear essa relação com beijos, linguadas e outras carícias, me encarrego disso; afinal, será um investimento que com certeza me dará lucro.

Nossa, Ana, você está decidida. Também quando chega o carnaval ninguém é de ninguém. O que vale é satisfazer o corpo.

Nesse momento entra Gilson. Ana, larguei tudo e vim aqui. Quero ter você, afinal é com você que tudo se concretiza.

A conversa acontecia na varanda que rodeia a casa de Ana. Clara entendeu a mensagem e se afastou para que os dois ficassem juntos, aproveitou o tempo em que eles com certeza dariam uma boa trepada para olhar os patinhos no lago bem ali próximo.

Gilson, assim sem esperar é muito mais gostoso. Meu corpo agora está bastante quente, estou a mil. Mas vê se não desaparece mais. Se isso voltar a acontecer, quando eu ficar nua no camarim da escola, passo no corpo aquele creme que uso antes de salpicar a purpurina e dou pro primeiro passista que aparecer. Você sabe, tem um monte de homem querendo me comer; no final do desfile, ainda deixo que me roube a fantasia.

segunda-feira, fevereiro 20, 2012

Retiro de carnaval

Este conto é de autoria de uma amiga que se chama Rosalinda. Como ainda não criou o seu blog, pediu que eu o publicasse. Espero que vocês gostem!

Enfim, cheguei!

Carlos! Vamos pro nosso cafofo?

Nossa, Sabrina, a dosagem dupla de ontem não te satisfez? Aqui é um lugar santo, vê se você se comporta. O carnaval para as pessoas do mundo é puro sexo. Nos clubes as mulheres colocam fantasias extravagantes, e os homens aproveitam para se esfregarem nelas.

Olha, Carlos, você sabe que eu ainda tenho ranços do mundo. Ainda sou pecadora. Entrei nessa para ficar com você nesses quatro dias, já que você vive rezando. Tudo bem que você nunca deixa a desejar, mas estou louca de tesão, e aqui estamos longe da igreja.

Sabrina, aos olhos de Deus todos os lugares são santos. Num retiro de carnaval, a gente quer uma convivência também com o nosso Criador.

Sabrina aquietou-se aparentemente.

Vamos, mulher, a equipe escolheu uns louvores agitados para alegrar um pouco a vida de quem ainda não se desgrudou totalmente da vida mundana.

Veja, Carlos, estou fantasiada de Nossa Senhora, você se fantasia de São José?

Ainda bem que ele aceitou. Dançaram ao som de bandeira branca e, depois, da letra: “Só Jesus Cristo salva, eu acredito. A sua vida se renova para Deus, você é cristão...”

Sabrina, com seu corpo fumegando de desejo debaixo daquelas saias santas, vê outro cristão também empanado de atitudes santas e fantasiado de anjinho. Deixa Carlos e engata no bonde do anjinho.

Josué, vamos caminhar um pouco por aí? O início de noite por esses campos nos fará bem. Olha, Josué, aquela gruta! 

Nunca vim aqui, estou amando!

O anjinho sem nada de anjo aproxima-se de Sabrina e...

Nossa, Josué, nunca pensei que com você poderia render um romance.

Sabrina, a carne é fraca, e sempre gostei de novelas de época porque fico excitado só em pensar o que as mulheres têm por baixo de tantas saias.

Josué, tenho uma preciosidade que precisa ser explorada. Para Carlos tudo é pecado.

As mãos do Josué tocam uma xereca preparada para o abate. Escorregando feito quiabo, os dois se deliciam numa gostosíssima transa.

sábado, fevereiro 18, 2012

Nuas no baile

Essa história que vocês contam não é nova. Faz pelo menos vinte ou trinta anos que a nudez já acontece em inúmeros bailes, principalmente nos de carnaval. Às vezes, ficávamos nuas pelas mãos dos homens; outras tantas, nós mesmas tirávamos a roupa. Muitas de vocês gostam de ficar nuas nessas festas de hoje que são chamadas de bailes funk. Vocês são muito jovens para saberem das histórias de carnaval, a não ser que alguém de idade superior a quarenta ou mesmo cinquenta anos lhes tenha contado. Havia aqui no Rio alguns clubes que no carnaval promoviam bailes que se tornaram famosos. Os mais conhecidos eram os do Monte Líbano e os do Sírio Libanês, este último clube nem existe mais. Vejam a ironia, as festas eram em clubes de origem árabe, países onde as mulheres são oprimidas até hoje. Mas os bailes daqui nada tinham a ver com isso. Lembro dos pré-carnavalescos e dos outros que ocorriam durante o carnaval. Nós, que os frequentávamos, já sabíamos o que nos poderia acontecer. Vestíamos sempre roupas sumárias, como biquínis mínimos ou fantasias que nos deixavam praticamente nuas. Posso enumerar alguns tipos que representávamos naqueles bailes. Ora íamos para pular carnaval, como se dizia na época; ora procurávamos camarotes de homens ricos e famosos, queríamos tirar proveito; ora enlouquecíamos diante das câmeras, queríamos notoriedade. Tirávamos o top quando o baile esquentava. Não faltavam mulheres que iam por curiosidade, mas que topavam o que viesse pela frente. Me lembro de uma amiga que foi pela primeira vez. Ao sentir que um homem tentava lhe desatar o biquíni, disse: “você deve saber o que está fazendo”. Às vezes a nudez total era problemática. Ser focalizada nua pelas câmeras era sinônimo de escândalo junto à família e à vizinhança onde se morava. O segredo era estar sempre vestida, ainda que com quase tudo de fora. Havia também aquelas que diziam: "estou para o que der e vier", e ficavam no escurinho, apertadas pelo primeiro que aparecia. Nesses bailes, não acontecia o que acontece agora nos bailes de vocês. Reparo que muitas moças hoje em dia ficam nuas mas têm o que vestir quando a festa acaba. Naquele tempo, caso você deixasse seu biquíni escapar nas mãos de um folião mais excitado, quando o baile acabava você se via em apuros. Era preciso encontrar um cavalheiro que lhe tivesse a generosidade de ceder a camiseta. O que a gente temia era acabar nua na delegacia. Vi muitas mulheres saírem peladas dos bailes daquele tempo, na maioria das vezes sob a proteção de grupos de homens ou rapazes. Eu mesma passei por essa situação. Mas não voltei para casa, fomos todas, eu e mais duas ou três, terminar a madrugada na casa de um rapaz que morava na Gávea. Nesses bailes era bom não ter namorado. Caso você estivesse acompanhada, dava confusão. Era também problemático ir ao banheiro feminino. Havia grupos de rapazes que ficavam à espreita nas proximidades. Quando saíamos do toalete, eles avançavam e começavam a nos bolinar. Era impossível resistir; nossas frágeis fantasias, tampouco. Não quero dizer com essa história, que a nudez nos bailes de hoje não tenha valor, mas como vivíamos num ambiente de menos liberdade, o frisson era bem maior.

domingo, fevereiro 12, 2012

Ensaios de Montaigne

Trabalhar numa cidade dessas, de praias paradisíacas, para onde na alta temporada vem gente de todos os lugares, ninguém merece, tanto mais se durante horas seguidas nada se vende. Chego à papelaria às dez da manhã. Se a patroa ainda abrisse a loja depois do almoço, como fazem os outros comerciantes locais... Mas, não, abre todo dia às dez em ponto, diz que precisamos aproveitar os meses de verão porque a loja vende utensílios para praia. Vá acreditar nesse nome, utensílios. Quais são? Baldinho e brinquedinhos para as crianças, guarda-sol, óleo de bronzear. Sou a primeira a chegar, além de tudo o que tenho a fazer durante o dia inteiro (varrer, tirar o pó, arrumar as mercadorias), tenho o dever de abrir a loja. Assim que levanto a porta o telefone toca. É a patroa perguntando se já cheguei. Tenho vontade de responder que não, que ainda estou no 15º sono. Ninguém entra na primeira hora, a loja é festa para as moscas. Até arranjei um livro. Um sebinho que fica aqui perto vende livros de bolso. Acho que o rapaz que trabalha lá gosta de mim, me vendeu um livro por três reais. De início me surpreendi com o nome: Ensaios de Montaigne. Mas, depois, me acostumei. Como nunca entra ninguém na parte da manhã, fico eu com o livro sobre o balcão a ler os tais ensaios. Esse Montaigne viveu em outra época, um tempo em que as pessoas eram mais sensatas, viviam recolhidas, não havia tantas coisas para se fazer. Mas, como diz o homem, morria-se muito cedo. De doenças, e devido a muitas guerras. Quanto às doenças, ainda não havia remédios, acho que as pessoas se curavam pela filosofia. Continuava na leitura, quando entrou uma pessoa na loja. Levantei os olhos, na verdade não era cliente, mas uma amiga.

“Oi, Marissol, bom dia, como vai?”, falei ao vê-la.

“Olá, Jane, vim só pra te ver.”

“Você que é feliz, pode ir à praia sempre a essa hora.”

“Sou feliz, sei disso, mas queria perguntar a você uma coisa?”

“Uma coisa?”, fiz ar de intelectual com meu livro do Montaigne sobre o balcão.

“Isso, tenho uma dúvida.”

“Então, pergunte”, fechei o livro, ajeitei os óculos e olhei Marissol.

“É sobre um rapaz.”

“Quem? Sobre rapazes não sei muito bem.”

“Não diga, Jane, sempre você está na Bay’s, e lá é cheio de rapazes.”

“Às vezes vou lá, mas só sábado à noite, você sabe, esse trabalho aqui não me dá muitas opções.”

“É sobre um rapaz que frequenta a boate, ele me falou para aparecer.”

“Aparecer, onde?”, perguntei, me abanei com as mãos, estava calor, olhei para o ventilador, parecia jogar o vento em todas as direções, menos na minha.

“Aparecer na Bay’s, Jane.”

“Qual é o nome dele?”

“Esse que é o problema, esqueci de perguntar.”

“Marissol, me poupe, por favor, você vem aqui na loja e quer informação sobre um rapaz de quem nem mesmo sabe o nome?”

“Mas você sabe, Jane, ele sempre está lá, usa um cavanhaque curtinho.”

“Cavanhaque curtinho? Me deixa pensar. Ah, deve ser o Marcelo. É um de cabelo curto preto, que quando está na praia usa sempre bermuda vermelha?”

“Isso, bermuda vermelha, deve ser ele mesmo. Me convidou para aparecer na Bay's, parou na praia, no trecho onde eu tomo banho de mar, para me paquerar, me chamou de sereia porque fico o tempo todo dentro d’água.”

“Então, e o que você quer saber dele?”

Marissol olhou como se investigasse tudo que loja tem para vender, depois se voltou para o meu livro, chegou a pegá-lo nas mãos, mas o pousou sobre o balcão.

“Será que posso encontrar com ele? É boa pessoa?”

“Marissol, nunca ouvi ninguém falar nada de mal sobre ele, apenas que é namorador, acho que se for por uma noite, tudo bem, o difícil é ele ficar com alguém por muito tempo.”

“Obrigada, Jane, era isso que eu queria saber. Então, posso ficar com ele por uma noite.”

“Acho que sim. Se ele quiser...”

“Ok, obrigada mais uma vez, agora vou à praia, já que ele me chamou de sereia”, arremessou um beijinho para mim e se foi. Na porta, virou e disse: “vê se você também aparece na Bay’s, vou lá no próximo sábado.”

“Vou tentar,” falei. Assim que ela saiu, voltei ao meu livro velhinho e amarelado, mas tão gostosinho.


Na segunda seguinte, de manhã, Marissol entra na loja como um furacão.

“Olá”, sorri para mim.

“Oi, como vai? E aquele dia hein?”

“Vim pra te contar.”

“E então?” mostro-me curiosa.

“Foi legal.”

“Apenas legal?”, pergunto.

“Sabe, sempre pode ser melhor, não é mesmo?”

“Não sei, pode?”

Marissol olha os produtos que estão nas estantes de cima, depois volta os olhos para a vitrina que dá para rua principal, vira-se de novo ao balcão e surpreende-se mais uma vez com os meus Ensaios de Montaigne.

“O que diz esse Montaigne?”

“Muitas coisas”, respondo.

“É mesmo? Um dia peço a você esse livro. Mas ouça, vim pra te contar.”

“Então conta.”

“Sabe”, fala Marissol, começa tudo com um “sabe”, “você viu quando eu e o Marcelo passamos a ficar juntos, não?”

“Vi, estava dançando, mas pude perceber.”

“Dali em diante, ficamos. Beijei ele muito, mas o principal foi depois que a festa acabou.”

“O que houve de importante?”

“O de sempre, sabe como é, não se pode ir além do ponto a que estamos acostumadas a ir.”

“Como assim?”, faço-me de desentendida.

“Ah, fomos para a praia. Aí, aconteceu.”

“Aconteceu?”

“Isso, namoramos verdadeiramente, entende? Namoramos, não preciso dizer mais, não é?”

“Já entendi”, falo e dou um suspiro.

“Apenas pedi a ele que forrasse a areia com a camisa, não queria estragar o vestido.”

“Sei, quando vamos à praia para isso odiamos areia no corpo e na roupa”, deixo escapar.

“Ah, esqueci de te dizer, ele falou que eu estava com roupa de piriguete.

“Piriguete?”

“Conhece essa palavra, não? É quando a gente sai com esses vestidos curtinhos, coladinhos ao corpo, como o que eu vesti.”

“E ele gostou?”

“Parece que sim, só não gostou quando lhe perguntei se tinha um punhal.”

“Punhal?”, assusto-me com a palavra. “Pra que um punhal?”

“Aí é que está, pra tornar as coisas mais emocionantes.”

“Marissol, você esteve aqui pra perguntar como era o Marcelo, parecia sentir medo dele, agora me fala em punhal? Você é louca?”

“Não sei, Jane, mas te peço um favor, não conta pra ninguém, tá?”

“E o punhal?”

“Você quer saber, está curiosa também?”, pergunta com ironia.

“Você não perguntou se ele tinha o punhal?”

“Perguntei. Mas ele não tinha. Então, tirei o meu de dentro da bolsa e emprestei a ele.”

“Jura, Marissol? Você agora anda com um punhal? E o que ele fez com o teu punhal?”

“Ah, Jane, você é tão ingênua. E não cansa de ler esses... Como é mesmo o nome do livro?” Pega-o em uma das mãos e lê em voz alta: “Ensaios de Montaigne. Só te peço uma coisa, amiga, não conte pra ninguém. Nem do Marcelo nem do punhal, ok? Um beijo, porque agora vou à praia, obrigado e até logo.”

Na saída, acompanhada pelo som das pedrinhas penduradas que se chocam ante o abrir e o fechar da porta, ela vira-se para mim e manda mais um beijo.

Olho para o balcão, tomo o livro nas mãos e digo em voz alta: Ensaios de Montaigne. Esse Montaigne era um sujeito sensato, agora veja só a Marissol, roupa de piriguete e punhal, era tudo o que me podia acontecer nessa segunda de manhã.

quinta-feira, fevereiro 09, 2012

Banquete

Meu telefone tocou, eram quase cinco horas da manhã.

“Joubert? Venha até aqui, traga uma camisa de homem, ou um pano comprido. Melhor mesmo uma camisa de homem.”

“Alô”, respondi, “quem está falando?”

“É o Edson.”

“O que houve, Edson, algum acidente?”

“Não, não aconteceu nenhum acidente, mas venha até aqui e traga o que estou pedindo.”

“Você não falou aonde devo ir, Edson.”

“Na rodovia, na altura do Morro Grande. Venha de carro. Depois da curva, você vai logo avistar o ônibus da empresa. Estou do lado de fora.”

“Por que não fala o que aconteceu?”

“Aqui você vai saber. Mas não esqueça de trazer a camisa, precisa ser de homem e comprida”, pediu mais uma vez. “Venha sozinho.”

Acendi a luz do quarto, abri o armário e peguei uma camisa. Minha mulher acordou. Ainda sonolenta, perguntou: “o que está acontecendo?”

“Preciso sair pra ajudar um amigo?”, falei baixo, não queria acordar as crianças. Elas dormiam na sala.

“Quer que eu vá com você?”

“Não, é melhor você ficar.”

Me vesti rápido e saí de casa. Nem sinal do amanhecer. Liguei o carro, engatei a primeira e peguei a estradinha que leva à rodovia estadual.

Ao me ver, Edson acenou com os dois braços. Parei na frente do ônibus que ele costuma dirigir todas as manhãs.

“Alguém está ferido?”, eu quis saber, preocupado.

“Não é nada disso, Joubert. Trouxe a camisa?”

Fui ao banco traseiro do carro, peguei a camisa e entreguei a ele.

Edson subiu no ônibus pela porta da frente. Entrei depois dele. Quando pisei no corredor vi, num dos bancos, um passageiro, quer dizer, na verdade era uma mulher. E ela estava nua. Permanecia sentada, com as pernas cruzadas. Com um dos braços, feito uma faixa em meia diagonal, tentava cobrir os seios. Mas não parecia envergonhada. Acho que até sorria. Edson lhe entregou a camisa. Mas a mulher ainda ficou na mesma posição durante alguns segundos. Só depois é que se levantou, enfiou a camisa pela cabeça e ameaçou sentar de novo no mesmo lugar.

“Não, você não vai aí, precisa sair do ônibus e ir com ele”, Edson apontou para mim. “Joubert, deixa ela em casa.”

“O que houve? Foi assaltada?”, perguntei assustado.

“Não, não foi, não. Depois te conto”, ele falou.

A mulher me seguiu. Abri a porta e ela entrou no carro. Nada conversamos, apenas disse seu endereço. Às vezes, esticava a barra da camisa para esconder melhor as coxas. Minutos depois, saltou à porta de casa.

Na sexta à noite encontrei Edson num bar, na Aroeira.

“O que foi aquilo, homem, me conta, encontrou uma mulher nua?”

“Pois é, quem vai acreditar nisso além de você?”

“Mas fala, homem, o que aconteceu ali?”

Começou, então, a contar.

“Você sabe que saio com o carro todo dia às quatro, quatro e dez da madrugada” (os motoristas costumam chamar ônibus de carro).

“Sei, você é um dos primeiros a sair, mora perto da garagem da empresa.”

“Isso. Por eu morar perto, sempre me escalam pro primeiro ônibus. Mas a história não começa aí. Antes, tem uma outra coisa.”

“O quê?”, perguntei um tanto curioso.

“Todos os dias levo uma passageira, é uma professora. Ela faz sinal mais ou menos ao meio dia, quando trafego pelo Visconde. Sorri, me cumprimenta muito gentil e toma o seu lugar. Demonstra muita simpatia. Sempre acho que me dá bola. Aí eu pisco pra ela, que corresponde com mais um sorriso. Já pensei várias vezes em dar um jeito de marcar um encontro, convidar pra uma cerveja ou, se não bebe, pra um refrigerante. Mas você sabe como é, sou um motorista, não acreditava que ela fosse aceitar.  E vai, encontro a mulher nua, às quatro da manhã, na rodovia...”

“Era ela a mesma, a que você acha que te dá bola, a professora?”

“Ela. Essa pra quem você trouxe a camisa e levou em casa.”

“Mas como aconteceu de ela aparecer nua na estrada?”, perguntei. Me sentia excitado com a história.

“Eu vinha da garagem, na direção do terminal. Ela estava na beira da estrada, inteiramente nua. Quando viu o ônibus, fez sinal pra eu parar.”

“Você não perguntou o que aconteceu?”

“Claro que perguntei.” Edson parou de falar e tomou um gole da cerveja. Olhou ao redor para se certificar de que as outras pessoas não prestavam atenção na nossa conversa. Ao perceber que cada um cuidava da sua vida, continuou: “Joguei o carro pro acostamento e abri a porta. Ela veio andando, subiu, sorriu pra mim, deu bom dia e sentou. Você acredita?”

“Acredito, mas e depois?”, eu já não tinha mais nervos para aguardar o desfecho.

Edson continuou: “Perguntei a ela: ‘o que aconteceu?’ ‘Um imprevisto’, foi a única coisa que respondeu.”

“O que você fez depois?”

“Primeiro fiquei paralisado durante algum tempo, olhava pra ela. Então, ela falou: ‘vai ficar aí parado?’”

“Quer dizer que você foi fundo!”, afirmei.

“Põe fundo nisso. Só não fiquei com ela mais tempo porque estava com o carro da empresa sob minha responsabilidade. Joubert, ela é muito gostosa, foi um banquete. Mas, por favor, lhe peço, não conte pra ninguém.”

Fui embora naquela noite com a cabeça quente. Jamais tive em toda a minha vida uma sorte assim. Pensei em seguir a mesma mulher, observar seus passos, ver se fingia encontrar ao acaso com ela. Quem sabe, com um pouco de sorte, ela também me desse o ar de sua graça?

Mas um mês depois tive de mudar com minha família para São Gonçalo. A empresa me transferiu. Outra obra começava. Era a construção da nova refinaria.

domingo, fevereiro 05, 2012

Na praia sobre um lençol

Você admira esta foto em que estou nua deitada sobre o sofá, de bumbum pra cima... Vou contar a você um segredo, ela não foi feita no ambiente do retrato, mas numa noite aqui mesmo na praia, quando arranjei um namorado paulista. Sabe como são esses homens, ele foi logo perguntando: “vocês transam onde nesta ilha?” Respondi: “Não é numa canoa, certamente, ela pode virar.” Ele riu, então continuei: “sabe que já aconteceu?, uma amiga namorava numa canoa, ela e o rapaz se entusiasmaram tanto, que esqueceram onde estavam. O problema principal não foi nadar até a praia, porque aqui quase todos nadam um pouco, mas encontrar a roupa que estivera no piso do barco, era noite, tudo se tornou mais difícil. A gente, aqui, namora na praia, sobre a areia, deixa ficar escuro e leva um lençol pra forrar.” Namorei com ele do jeito que tinha falado, sobre um lençol que tirei escondido de casa. Ele fez a fotografia e disse que ia me colocar num cenário mais chique, depois me mandou por e-mail. Foi assim que fiquei em cima deste sofá, com o quadro bonito atrás, na parede.

Os homens têm a cabeça muito cheia de fantasias, as mulheres não, elas são mais pele. Tive um namorado que adorava me levar nua no barco. Ele tinha um desses pequenos, com um motor de popa que fazia uma barulheira terrível. Me fazia tirar a roupa e pedia pra esconder em algum canto da praia; depois eu entrava no barco e ia passear com ele. Acho que na hora de trepar, os homens se animam mais com essas invenções do que com o corpo da gente. Mulher é diferente, gosta mesmo é de sentir o pênis grande e duro indo bem lá no fundo.

Às vezes, quem vem de outras cidades e fica uma noite com a gente, pergunta se nossos pais sabem que estamos saindo pra trepar. Lógico que sabem, mas fazem de conta que tudo é muito normal. Falar no assunto, não falam, basta que a mulher não apareça grávida. Sou muito jovem, vou fazer dezenove anos semana que vem, tenho amigas que nessa idade já tem dois e até três filhos. Um pedido que minha mãe me fez quando desconfiou que eu já era mulher: que eu trepasse por gosto, não por dinheiro. É isso o que faço, às vezes até aceito um presentinho, mas não sou prostituta. Quero conhecer alguém legal pra casar, ter filhos, levar uma vida normal, como todo mundo; enquanto não acontece, aproveito saindo com pessoas como você, pra me divertir.

Aqui foi engraçado quando a Sandy veio fazer um show. Naquela noite as mulheres da ilha estavam a mil, não se falava em outra coisa que não fosse paquerar, arranjar alguém de fora pra ficar, trepar ou até mesmo conhecer alguém pra um namoro sério. Quando o show terminou, lá pelas três e tanto da madrugada, só se via casal se arrumando aqui e ali, se apressando pra se agarrar, se beijar, as garotas foram ficando nuas nas mãos dos homens, ninguém olhava nem pro lado, só queria saber do seu par. Quando começou a ficar de manhã, a mulherada se pôs a correr pra se vestir, foi um tal de catar blusa, saia, toda a roupa que estava espalhada pela areia, um horror. Não sei se foi verdade, mas dizem que uma moça da praia da Florinda se escondeu nua num quiosque até que alguém lhe trouxesse uma camiseta. Conto essas coisas porque sei que vocês, homens, adoram imaginar as garotas peladas, não é mesmo?

Agora me abraça, já faz um tempão que estou falando de frente pra esse marzão, você tem também lá as suas, já me pediu pra eu fingir que lia um jornal nua aqui em cima do pano, já gozou uma vez dentro de mim, eu deixei, e olha que costumo exigir camisinha. Agora vem por trás, vem. Mas é pra meter na frente. Você não sabe o quanto eu gozo nessa posição. 

Isso, assim, bem assim, está gostoso, vai, vai... ai, que bom, não para, vai, demora bastante, viu...