sábado, fevereiro 18, 2012

Nuas no baile

Essa história que vocês contam não é nova. Faz pelo menos vinte ou trinta anos que a nudez já acontece em inúmeros bailes, principalmente nos de carnaval. Às vezes, ficávamos nuas pelas mãos dos homens; outras tantas, nós mesmas tirávamos a roupa. Muitas de vocês gostam de ficar nuas nessas festas de hoje que são chamadas de bailes funk. Vocês são muito jovens para saberem das histórias de carnaval, a não ser que alguém de idade superior a quarenta ou mesmo cinquenta anos lhes tenha contado. Havia aqui no Rio alguns clubes que no carnaval promoviam bailes que se tornaram famosos. Os mais conhecidos eram os do Monte Líbano e os do Sírio Libanês, este último clube nem existe mais. Vejam a ironia, as festas eram em clubes de origem árabe, países onde as mulheres são oprimidas até hoje. Mas os bailes daqui nada tinham a ver com isso. Lembro dos pré-carnavalescos e dos outros que ocorriam durante o carnaval. Nós, que os frequentávamos, já sabíamos o que nos poderia acontecer. Vestíamos sempre roupas sumárias, como biquínis mínimos ou fantasias que nos deixavam praticamente nuas. Posso enumerar alguns tipos que representávamos naqueles bailes. Ora íamos para pular carnaval, como se dizia na época; ora procurávamos camarotes de homens ricos e famosos, queríamos tirar proveito; ora enlouquecíamos diante das câmeras, queríamos notoriedade. Tirávamos o top quando o baile esquentava. Não faltavam mulheres que iam por curiosidade, mas que topavam o que viesse pela frente. Me lembro de uma amiga que foi pela primeira vez. Ao sentir que um homem tentava lhe desatar o biquíni, disse: “você deve saber o que está fazendo”. Às vezes a nudez total era problemática. Ser focalizada nua pelas câmeras era sinônimo de escândalo junto à família e à vizinhança onde se morava. O segredo era estar sempre vestida, ainda que com quase tudo de fora. Havia também aquelas que diziam: "estou para o que der e vier", e ficavam no escurinho, apertadas pelo primeiro que aparecia. Nesses bailes, não acontecia o que acontece agora nos bailes de vocês. Reparo que muitas moças hoje em dia ficam nuas mas têm o que vestir quando a festa acaba. Naquele tempo, caso você deixasse seu biquíni escapar nas mãos de um folião mais excitado, quando o baile acabava você se via em apuros. Era preciso encontrar um cavalheiro que lhe tivesse a generosidade de ceder a camiseta. O que a gente temia era acabar nua na delegacia. Vi muitas mulheres saírem peladas dos bailes daquele tempo, na maioria das vezes sob a proteção de grupos de homens ou rapazes. Eu mesma passei por essa situação. Mas não voltei para casa, fomos todas, eu e mais duas ou três, terminar a madrugada na casa de um rapaz que morava na Gávea. Nesses bailes era bom não ter namorado. Caso você estivesse acompanhada, dava confusão. Era também problemático ir ao banheiro feminino. Havia grupos de rapazes que ficavam à espreita nas proximidades. Quando saíamos do toalete, eles avançavam e começavam a nos bolinar. Era impossível resistir; nossas frágeis fantasias, tampouco. Não quero dizer com essa história, que a nudez nos bailes de hoje não tenha valor, mas como vivíamos num ambiente de menos liberdade, o frisson era bem maior.

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