Eu viera do Sul e estava hospedada na Barra da Tijuca. O sol
de julho, morno e carinhoso, convidava à praia. No Rio, quando há sol, sempre
há gente na praia. Havia rapazes e moças, mulheres e crianças. Eu queria mesmo
era arranjar um namorado, mesmo que fosse só para aqueles poucos dias em que eu
ficaria na cidade. Vestira um biquíni pequeno, mas discreto. Não era aquele
escândalo que as cariocas usam. Mas os homens me olhavam, acho que até imaginavam que eu não era da cidade. Lembrei a Thereza. Quando viera ao Rio,
arranjou um namorado. Márcia, disse ela, você não imagina a situação, não
podia levar o homem para o meu hotel, e acho que nem ele podia me levar para a sua casa, então, como fizemos?, arranjamos um buraco. Um buraco, Thereza,
como?, eu, curiosa que só. Olha, é difícil te dizer, você vai achar muito
estranho, foi à tardinha, ainda o sol brilhava, poucas pessoas na areia, foi
ele que percebeu uma barraca, dessas de camping, olhou pela fresta e me
convidou a entrar, uma barraca pequeníssima, na verdade era mais um buraco do que
barraca, é sua? perguntei aflita; de um
amigo, respondeu; entramos, o resto você imagina, e foi tão bom, jamais vou
esquecer o Rio. Era essa a lembrança que eu tinha de Thereza. Achei que era
tudo mentira. Ela quisera apenas se engrandecer ante a amiga. Mas, quem sabe,
comigo aconteceria de verdade. Descobri, então, um homem a me olhar. Ele estava
sob um guarda sol. Lia jornal. Mas me olhava de rabo de olho. Quando descansou
o maço de folhas, sorriu para mim. E me pegou no flagra. Eu bem que olhava para
ele. Não tive outra saída a não ser sorrir. Não demorou a se aproximar. Oi,
falou, você é turista, de longe dá pra notar, está gostando do Rio? Não respondi
de imediato, apenas falei, será que sou tão brega assim? Não, retrucou, você
tem uma beleza diferente, uma beleza exterior. A cantada tradicional, todos os
homens tem essa carta na manga. Mas, como estava na praia, deixei o barco
correr... Era uma viagem; eu, passageira. Ele fumava. Ofereceu-me um dos seus
cigarros. Aceitei. Fumamos os dois. Daí para frente ele demonstrou muita
habilidade. Conversamos durante duas horas. Ele era da área de vendas. Estava
na cidade devido ao lançamento de um livro. Era o autor. Explicou do que se tratava,
e de modo minucioso. Era uma história que vinha lá da antiguidade, tentava
provar alguns segredos, depois chegava aos dias de hoje e prometia sucesso.
Tudo aquilo me pareceu uma mistura de ficção com autoajuda. Queria ele fazer
palestras nas empresas, provar que a prosperidade estava garantida caso seguissem os
seus conselhos. Ouvi atenta. No final eu disse, você é muito convincente, acho
que seu livro vai fazer o maior sucesso. Ele sorriu. Mas não custou a perceber
que eu desejava mesmo era outro tipo de sucesso. Tomamos banho de mar juntos. Ele achou o meu biquíni lindo e provocante. Nem tanto quanto os biquínis das cariocas, falei. É tão pequenino, acrescentou, dá pra esconder na palma da mão. Mas não o esconda de mim, alertei. Quem sabe?, ele disse e arregalou os olhos com ar travesso, enquanto eu deslizava minhas mãos pelo seu tórax. Acabamos no seu hotel. Eu de saída de praia, curtíssima. Não sei como me deixaram entrar. Ficamos
no quarto por umas duas ou três horas. Tão bom. Houve um momento em que quase
falei sobre a minha amiga que transou dentro de uma barraca, ou de um buraco,
sei lá. Mas me calei a tempo. Ele pensaria mal sobre mim, talvez achasse que aconteceu comigo. Em outro momento,
quando ia nua em suas mãos, foi ele quem falou: as mulheres adoram andar
nuas, não é mesmo? Sim, respondi, mas depende. Depende, como?, ele quis saber. Você não vai me obrigar a sair pelada do hotel, sorri no final da frase.
Até que não é má a ideia, falou e sorriu também. Ah, eu não deveria ter
sugerido isso, comentei e fiz cara de vexo. Lógico que era tudo brincadeirinha. Você me quer peladinha, não?, a gente gosta de ficar nua, mas é nos
braços de quem nos pegue de jeito, completei. Agarrei o homem, beijei-o na boca
e deitei de novo sobre ele.
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