Quando olho os rapazes, fico morrendo de inveja, logo quero
um deles só pra mim. São tão bonitos, musculosos, bem cuidados. Mas o perigo é
que sempre desejam garotas. E eu tenho, no mínimo, o dobro da idade deles.
Outro dia, lendo uma revista, reparei que existem máscaras geniais, máscaras
que nos deixam muito rejuvenescidas. Foram criadas para o cinema. Aquela
história de atores e atrizes que precisam fazer o papel de alguém bem mais jovem.
Eu achava que tal disfarce não me serviria, pensava que logo seria descoberta.
Mas arrisquei. Entrei num desses cursos que ensinam manipular maquiagem com máscaras. Tudo resultado da mais alta tecnologia. Estudei e pratiquei
bem uns quatro meses. Depois, comprei todo o equipamento. Não demorei a
descobrir que fazer a máscara nos outros é fácil, em nós mesmas, porém, torna-se
um pouco mais difícil. Mas, com cuidado, depois de borrar aqui e ali, de gastar
mais material do que o necessário, consegui. Olhei-me ao espelho demoradamente
e imaginei como voltaria para o prédio onde moro caso saísse sob tal disfarce. O porteiro, na certa, não me deixaria entrar.
Saí à noite transformada numa jovem que falta pouco para os vinte anos. Que maravilha, todos os rapazes mexeram comigo! Com os homens maduros, não foi muito diferente. Eles me queriam, assim como desejam todas as meninas que andam nuas ou vestidas por aí. No primeiro passeio, não arrisquei. Foi intensa a paquera, diversas vezes fui chamada de gostosa. Apesar do prazer que senti, não posso negar que tive medo de ser descoberta. Já pensaram, desmascarada? Morreria.
Com mais treino e mais maquiagem, arrisquei uma segunda vez.
Digo mais maquiagem porque na verdade a gente fica muito diferente. São
necessários muitos produtos para o disfarce. Mas aplicando a máscara com
correção, não se percebe o tanto de produtos aplicados. Ela aparenta o próprio
rosto. E sobre o meu corpo? Vocês também querem saber, não é mesmo? Falei tanto
do rosto que deixei de lado o corpo. Certa vez uma amiga disse: Lúcia, você,
de costas, nem parece a idade que tem, pode passar por uma adolescente. No
carnaval, engano todos os homens. Faço tipo de garota de dezessete aninhos.
Basta uma máscara (das que se usam no carnaval). Oh, não roube a máscara, caso
isso aconteça, você terá problemas, é o que sempre peço, e todos eles me
respeitam. E lá fui eu à segunda saída com a tal máscara – agora, a de maquiagem.
Esta noite, vou dar conversa, pensei. Então, fui a um
lugar onde sempre há muitos jovens. Uma boate feita exclusivamente para eles. Lúcia,
e se te descobrem?, sussurrei para mim mesma. Apesar da insegurança, mantive a
coragem. Ninguém há de me descobrir, afirmei convicta. Fácil falar, na hora,
porém, o coração acelera. Quando aceitei o primeiro que se aproximou, acho que
fiquei verde. Ainda bem que estava escuro e ele não notou. Depois relaxei. Você
é linda, tão jovem, o rapaz falou. Arnaldo, encantado. Oh, estupefata, ainda se
usa essa palavra, encantado! Maria Zilda, revidei. Meu verdadeiro nome é apenas
para a verdadeira face. Dançamos, bebemos cerveja, conversamos. Mas na hora
agá, naquela horinha em que qualquer homem diz que ficaríamos melhor num lugar
mais tranquilo, minhas pernas tremeram. Pedi licença para ir ao toalete. Não
voltei. Escapei através do escuro e estreito salão em busca de outros namorados.
Queria apenas me divertir. Não preciso dizer que, com o meu corpo mignon, levei
todos à loucura, me passei por alguém da mesma idade deles. Fugi já alta a
madrugada. E dentro de um táxi. Não deixei que ninguém me seguisse.
Comecei achar ótima aquela vida. De aventura em aventura, mais me
aperfeiçoava. A máscara tornava-se ainda mais sutil, e passou a ser a minha
verdadeira face. Dali pra frente, comecei a namorar com os rapazes.
Quando digo namorar, todos já devem imaginar do que se trata.
Depois das festas, acabava a noite na cama de um deles. Deixava que me tirasse
toda a roupa. Mas tinha cuidado para não me tocar o rosto. O namorado podia
beijar-me; eu pedia, no entanto, que fosse delicado, porque minha pele sempre
fora muito sensível.
Chamaram-me de Priscila, Amália, Débora, Ana Júlia e Maria
Zilda. Esse último é o que perdura, já que passei a frequentar o mesmo círculo.
É tão interessante conviver com as meninas de menos de vinte anos de idade,
viver suas inquietações, ansiedades e seus problemas como se fosse uma delas.
Também é interessante falar a língua delas. E ninguém desconfia quem sou. Transformei-me
numa boa atriz.
Acabei, como muitas, arranjando um namorado fixo. Ele tem
uma moto. Leva-me na garupa para todo lado. No fim da noite, trepamos de modo
selvagem no seu quarto. Digo "quarto" porque ele mora com os pais.
Em uma das últimas saídas, bebemos muito. Nosso porre foi
tamanho, que achei melhor não dormir com ele. Como já estávamos juntos fazia
quase quinze horas, pela manhã minha cara estaria por demais
amassada. Ele fez tudo para que eu ficasse. Transarmos por quase duas horas, todas
as posições, toda a energia. Quando ele adormeceu (sim, nisso sou mais
resistente, é comum os homens adormecerem primeiro) saí à cata das minhas roupas. Mas... decepção, não as encontrei. Provavelmente ele as escondera para que eu
tivesse de ficar. Mas teimosa do jeito que sou, parti nua mesmo.
No dia seguinte, veio a reclamação, e na voz da mãe dele: “Filho,
o síndico falou que sua namorada saiu nua do prédio na noite passada!”
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