Reli meu escrito e estou alarmada. Não quero que suspeitem
que sentei aqui para escrever um dos meus contos. Afinal, trabalho no setor de
vendas de acessórios numa revendedora de automóveis da R. Mas vamos ao texto.
Estava sentada aqui faz um tempinho quando vi um homem
passar para a sala de espera. Ali há uma máquina com vários tipos de café, TV e
cadeiras estofadas. É para onde encaminhamos os clientes quando precisam aguardar
o atendimento. O homem entrou na sala e parou diante da máquina de café. De lá olhou para mim, e eu estava ainda olhando para ele.
Disfarcei. Mas quando voltou após tomar o café, me esqueci e o olhei de novo. Ele
arregalou os olhos e sorriu para mim. Embora as pessoas achem que não, ainda
tenho um pouco de pudor. Confesso que fiquei envergonhada. Ele continuou a
seguir em frente, depois dobrou à esquerda e foi para o pátio esperar pelo seu
automóvel. Deixei passar cinco minutos. Então me levantei e segui para onde ele provavelmente estaria. Atravessei o pátio e fui fumar um cigarro na
área externa. Lá é o único lugar onde se pode fumar. Dali, olhei mais uma vez
para ele. Apesar de estarmos longe um do outro, talvez uns quarenta metros,
acho que percebeu a minha olhadela. A partir daí não mais tirou os olhos de
mim.
Minhas amigas
dizem que sou muito esportiva, que com o meu corpo mignonzinho, sempre vestida
de calça de liga e camiseta, sou a modelo de mulher que os homens desejam.
Quanto ao meu gosto pelos homens, é um pouco diferente do delas. Gosto de homens
meio relaxados com a roupa. Aprecio muito os meio hippies, cabelo grande, barba
por fazer, uma camisa sobre a outra, calça jeans desbotada e surrada. O homem
que aguardava o automóvel era assim.
Fumei vagarosamente o meu cigarro. Ao voltar para o meu
local de trabalho, o aquário onde ficam as vendedoras de acessórios, ele não
estava mais no pátio. Acho que alguém o chamara para lhe entregar o automóvel.
Fiquei a pensar como faria para estabelecer contato com ele. Se ele tivesse
se aproximado e falado comigo, eu daria o meu cartão. Quem sabe quisesse
comprar algum acessório? Mas caso eu descobrisse o telefone dele, poderia ligar
oferecendo os acessórios. Afinal, estivera na Revendedora apenas para a revisão do automóvel. Do acessório paro o principal, que seria
dar uma namoradinha com ele, eu não estava muito distante.
Sempre quando saio com algumas das minhas amigas a conversa
gira em torno de namorados e da minha ousadia. Elas dizem: “Juliana, você é
muito piranha”. Eu respondo que não é bem assim. “Não sou piranha, não”, rebato.
Não tenho namorado fixo porque não quero. Gosto de sair com amigos e de transar
com quem me atrai. Quem sabe um dia vou me apaixonar por alguém? Mas, por
enquanto, prefiro esta vida. Não preciso dos homens por causa de dinheiro. Tenho
o meu emprego e ganho bem. Trepo por prazer. Basta eu gostar de um homem, que
não é difícil ele me levar para cama. Mas minhas amigas são cheias de pudor,
plenas de treme-treme. Contei a duas delas sobre um cara que conheci num bar.
Ficamos eu e ele conversando até duas da madrugada. Depois me convidou ao
seu apartamento, na Gávea. E não é que o cara era médico? Uma logo disse: “Juliana,
por que você não ficou com o homem? Eu não perderia uma oportunidade dessas”.
Respondi que queria mesmo era transar, uma transa bem louca, bem funda, sei lá,
bem gostosa. Contei que o homem era cheio de preâmbulos. Talvez não seja essa
a palavra. Mas era do tipo conquistador,
falava uma porção de galanteios. Depois me despiu com o maior cuidado. Foi
tirando peça por peça e pousando-as delicadamente no encosto de uma cadeira.
Quando me deixou nua por inteiro, perguntou, “você quer beber ou comer
alguma coisa? Tenho cada coisa gostosa na geladeira”. Eu queria mesmo era
trepar com ele. Mas como agia com tanta delicadeza e demonstrava tamanho gosto
pelas coisas, perguntei: “você tem pudim de leite condensado?”. “Claro”,
respondeu. Foi à cozinha e voltou trazendo um pratinho de sobremesa com o pudim
e uma colher pequena. Contando assim parece hilário, mas até que foi bem legal.
Eu sentada no pequeno sofá da sala, nua, de pernas cruzadas, a comer pudim
de leite condensado. Depois trepamos, e posso confessar que a trepada foi maravilhosa.
Se eu já não tivesse compromisso marcado para o dia seguinte com um amigo,
teria saído de novo como o tal médico.
Mas, agora, paro de escrever para sair à cata do número do
homem que passou por mim e ficou a me olhar. Tenho certeza de que vou conseguir.
Basta eu ir até a manutenção.
E sobre o meu conto, o que vocês acham? Será que devo
ficar tão alarmada assim?
Nenhum comentário:
Postar um comentário