Ficou a me olhar, e seus olhos pareciam perguntar por que você
nunca chegou nua na casa do namorado? Beijei-o nos dois lados do rosto e atravessei
a porta. O toc-toc dos meus saltos ecoou no corredor do quinto andar do
prédio. Lembrei que optara pela bolsa a tiracolo porque combinava com a cor da
sandália de meio salto.
Horas antes estávamos os dois abraçados, cada um querendo
sentir mais prazer do que o outro. Na verdade, nada disputávamos, desejávamos
apenas o grito de amor dos nossos corpos. Não sei por que, naquele momento,
veio-me à cabeça a tarde que eu passara com mamãe. Levara-a para passear, uma
excursão a um desses clubes de campo. O ambiente não estava bom, pensei que
fosse um clube familiar, mas todos os homens ficaram a me olhar. Não havia quem não voltasse a cabeça quando eu passava. Eu vestia um biquíni bem pequenino, e
fiquei o tempo todo à beira da piscina, vez ou outra ia ao bar. Quando deixei
mamãe em casa ao anoitecer, você telefonou. Atendi e disse que queria sim,
queria ver você. Descansei e, depois, às dez, você me veio buscar. Daí, o
restaurante; depois o seu apartamento; e o abraço, bem entrelaçado; enfim, o
amor. Na verdade, eu não pensava em transar naquela mesma noite. Mas enquanto estava
sentada no sofá, imaginei o seu corpo sobre o meu. Rápida, fui até a cama,
deitei-me de vestido ainda. O prazer que você me fez sentir quase me deixa
louca. Não, não pare, fique assim a noite toda, cheguei a sussurrar no seu
ouvido. Não sabia que você era um atleta tão eficaz, um atleta do sexo. Não sei
dizer quantas vezes me levou ao êxtase, ou melhor, quantos os orgasmos. Lá
pelas duas e tanto, adormecemos, um sono leve. Eu não queria sair de sua casa
de manhã. Tenho duas filhas jovens, você sabe que costumam chegar em casa quase
pela manhã e encontrar a mãe envolta nos lençóis. Levantei-me sorrateira às
três, ou já eram quatro? Sentei-me à beira da cama. Onde minhas roupas? Fora
tão quente o amor que não me lembrava delas. Você também levantou. Beijou-me. Ficou
a esperar. Era eu que tinha de ir. Nada falei, calcei a sandália com que
chegara, coloquei a bolsa no ombro direito e, depois, eu a beijar você na porta
do apartamento. Lógico que eu nada perguntaria. Nenhum constrangimento.
Por que você nunca chegou nua na casa do namorado? Seus
olhos perguntavam, seus dedos acariciavam meus seios. Quem sabe qualquer dia
desses, eu poderia ter respondido. Esperei que fechasse a porta, a noite ainda
ia consistente.
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