Conheci-o através de uma amiga, numa festa, aniversário dela. Conversávamos em grupo. Depois conversei com ele, apenas nós dois. Em dois dias me convidou para sair. Não nego que adorei o convite. Fomos a um espetáculo; depois, a um restaurante, na Barra da Tijuca. Como moro em Ipanema, havia muito não andava por aquelas bandas. Após o jantar, adivinhem. Todo homem tem desejo por uma mulher, e a maioria delas sente o mesmo por eles. Fomos a um lugar aconchegante, onde apenas nós dois, nossos braços, nossas pernas, nossos sexos...
Contar os pormenores nunca é fácil. Melhor a imaginação de cada leitor. Mas houve algo especial. É normal que o homem tire a roupa da mulher. Ou mesmo que termine de despi-la. Às vezes não sabem soltar o fecho de um vestido, descer com cuidado um zíper, acabam por amarrotar ou mesmo danificar alguma peça. Pode-se correr o risco de não se ter o que vestir pelo resto da noite. Prefiro começar a me despir; as pequenas peças, porém, deixo-as para eles.
Mas aquele homem começou a se comportar de modo diferente. Eu, de calcinha, esperando que seus dedos me livrassem dela para enfiar-me em seus braços, experimentar seu sexo. Mas ele relutava. Tive de dar o alarme:
“Não vais me deixar nua?”
Ele não foi sutil:
“Quero que você tire a calcinha com as próprias mãos.”
“Então vais ficar apenas com a esperança...”
“Não costumo tirar, nos momentos que antecedem o amor, a última peça de uma mulher.”
“Não?”
“Quase nunca”, reafirmou.
“Estranho, é normal os homens despirem as mulheres...”
“Achei você uma mulher de vanguarda.”
“Para essas coisas, sou conservadora. E muito.”
“Gosto também das conservadoras”, depois dessa afirmativa, abraçou-me e quando pensei que fosse roubar-me a peça, falou: “concentre-se, mexa o bumbum, pode ser que ela saia por si só.”
Dei uma gargalhada. Levantei-me, pus-me de costa para ele, mexi o bumbum.
“Sair por si só? Veja como é pequena e como está enfiada.”
“Não toco em você enquanto sua calcinha não descer suas pernas. Por si só ou com o auxílio das suas mãos.”
“Então não passamos disso. Estou nua, mas resta-me a calcinha. E dela não me livro.”
“Está bem, caso eu a tire, levo-a comigo, concorda?”
“Usas roupa de mulher?”
“Usar, não uso. Mas, entende, é um fetiche.”
“Bem, já que falas assim, posso pensar a respeito.”
“Mas uma coisa”, falou, “posso contar a respeito algo semelhante? Aconteceu quando saí com uma namorada.”
“Conta. Gosto de histórias.”
“Ah, ainda bem. Há mulheres que ficam furiosas. Quando estão nuas não pode existir nenhuma outra.”
“Conta, não me importo.” Sentei-me, cruzei as pernas, acendi um cigarro. Vi-me no espelho oposto. “Fala, tenha a bondade.”
“Era uma namorada que eu tinha de despi-la por inteiro. Não se tocava quando estava a sós num quarto com um homem. Certa vez, fiz a ela o mesmo pedido: a calcinha em troca do ato de a despir. De início, hesitou. Mas, depois, deixou-a nas minhas mãos: ‘faça com ela o que quiseres’, foram suas palavras.”
“E daí?”, soltei a fumaça, olhei para ele.
“E daí que certa vez, enquanto a despia, reparei que viera sem a pequena peça, nua por baixo da saia. ‘Cadê a calcinha?’ perguntei. Nada falou, fez-se de tímida. ‘Nada feito’, falei, ‘sem a calcinha não sinto desejo por você’.”
“Coitada, não devias ter feito isso.”
“Coitada? Nada disso. Ela disse: ‘todos os dias volto nua, hoje vim nua. O que há de mal nisso?’ ‘Sem a calcinha, nada feito’, repeti. E olha que a mulher era muito bonita. ‘Está bem’, falou. ‘Vou embora, mas antes quero ir ao toalete’. Foi ao toalete. De lá saiu e dobrou esse mesmo corredor, bateu a porta e se foi. Ao amanhecer, quando fui tomar banho, estava a calcinha dela pendurada na torneira do chuveiro.”
“Gostavas mais da calcinha do que dela, foi o que ela quis dizer”, completei.
“Pode ser.”
“E quanto a mim, vais querer apenas a minha calcinha?”
“Não. Acho que de você vou querer mais do que isso.”
“Olha que já deixei muito mais do que calcinha na casa de namorado.”
“Jura?”, excitou-se.
“Se queres assim, juro.”
Voou sobre mim, arrancou-me a calcinha, puxou-a de tal forma que ela se tornou inútil. Possuiu-me com voracidade.
Depois que acabamos... Bem, depois aconteceu o que sempre acontece com todos eles.
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