sábado, dezembro 04, 2010

Coisas da vida

Estava na Cafeína, no Leblon, conversando com uma amiga, a Célia.

“Marcela, quero contar uma coisa a você. Algo que me aconteceu no último fim de semana.”

“Pode contar, já estou curiosa.”

“Você sabe que meu namorado mora em São Paulo, um fim de semana eu vou, no outro ele vem. Semana passada foi minha vez de ir. Imagine a ideia que ele teve sábado à noite, antes de sairmos para passear?”

“Nem quero dar palpite, é melhor você contar.”

“Queria que eu saísse de casa nua, você acredita? Eu disse: ‘como vou sair nua, posso ir presa.’ Ele retrucou: ‘aqui tudo é possível, as pessoas se divertem do jeito que querem desde que não incomodem ninguém.’ ‘Nua, não vou, nem pensar, você enlouqueceu.’ Acabamos chegando a um acordo. Eu irira com um vestido desses que são abotoados na frente, de cima até embaixo. Mas nada de calcinha nem sutiã. Ah, tive de fazer a vontade dele. Esses namorados... Saímos de carro; depois de rodarmos alguns minutos pelo centro, ele estacionou e fomos a um bar. Bebemos e comemos. Na volta, antes de chegarmos ao estacionamento, sugeriu: ‘vamos andar um pouco.’ Resumindo: ele queria que eu fizesse o papel de uma prostituta. Ele se aproximaria, proporia um programa e eu teria de aceitar. ‘Tudo vai ser muito rápido’, falou, ‘você não precisa ficar com medo.’ Não sei como aceitei a brincadeira. Na hora, nem refleti. Me levou para uma rua escura, fiquei junto a uma banca de jornal que estava fechada. Ele desapareceria durante alguns minutos, mas logo voltaria. ‘Seja rápido, viu, se não, vou com outro’, brinquei, mas com o coração aos trancos. Ele se foi. Mas voltou como combinado. Antes que a paquera se consumisse, falou: ‘quero ver primeiro os teus seios.’ ‘Como, na rua?’, demonstrei surpresa. ‘As prostitutas estão acostumadas’, afirmou. Abri o vestido e coloquei os peitos pra fora. Você acredita?”

“Acredito.”

“Depois ainda não me deixou abotoar o vestido. Caminhei com os seios de fora até o carro, chegando lá, me tirou também o vestido.”

“Você voltou nua pra casa dele?”

“Voltei. Ainda bem que ninguém viu, pelo menos acho que não."

“Você gostou?”

“Pra dizer a verdade, sim. Na hora fiquei com muito medo, mas agora quando lembro me dá uma ponta de tesão. Você já viveu algo parecido?”

“Já.”

“Como foi?”

“Você quer saber mesmo?”

“Quero.”

“Então, escute. É uma história que aconteceu faz um tempinho, mas lembro perfeitamente. E, como você, acabei gostando.”

“Então conta, vai.”

Numa madrugada, aceitei o convite de um namorado. Ele era muito divertido, nós aprontávamos. Naquela mesma noite, ele já havia saído com alguns amigos e tinha bebido muito. Acho que chegou em casa lá pelas duas da madrugada. Então me telefonou. Disse: “vou aí pegar você para darmos umas voltas”.

Falei: “você não acha que já está muito tarde, que não demora amanhece e vamos ficar muito cansados?”

“Não faz mal, o importante é estarmos juntos.”

Acabei aceitando. Veio de carro até onde moro e me pegou. Estava um pouco frio, eu vestia um casaco por cima da calça e blusa.

Na época eu Morava em Macaé, lembra que falei que sou de lá? Então, Macaé não é uma cidade pequena, mas, ao mesmo tempo, não é uma cidade grande, muita gente me conhecia porque fazia anos que me tornara professora e já lecionara em várias escolas.

Entrei no carro e saímos rodando pela madrugada. Dirigiu até a orla marítima. Já estava quase tudo fechado, entramos por uma estrada que faz ligação com a rodovia usada para entrar e sair da cidade.

Falou: “vamos fazer aquela brincadeira?”

“Qual?”

“Aquela que propus a você. Você tira a roupa toda e sai do carro pelada, fica escondida. Daqui a alguns minutos volto para buscá-la.”

Confesso que fiquei um pouco excitada com a proposta, mas contra-argumentei:

“Está muito frio, não vou aguentar.”

Com facilidade, rebateu:

“Você fica com o casaco.”

“O casaco é curto, só vai até a cintura.”

“Não faz mal, você fica agachadinha, volto logo, é apenas uma brincadeira.”

Parou o automóvel num lugar muito deserto. Tirei toda a roupa, inclusive calcinha e sutiã, deixando tudo dentro do carro. Saí apenas de casaco.

“Vou seguir e volto piscando o alerta.”

Arrancou com o carro me deixando ali na beira da estrada. Logo que ele saiu veio um outro carro atrás, deitei no meio do mato para que não me vissem. Depois, mais outro. Fiz a mesma coisa. Passaram-se dez minutos, intermináveis, veio um carro com o pisca alerta ligado. Eu já estava do outro lado, esperando por ele. Fiz sinal, ele parou. Quando eu ia entrar, falou.

“Me dá o seu casaco, é só por um instante.”

Tirei o casaco e deixei dentro do carro. Ele deu uma arrancada me deixando totalmente nua na estrada. Parou mais à frente. Quando eu ia correr, vi que vinha um carro atrás. Me atirei dentro do mato. Depois que passou, me levantei e corri até o carro mais uma vez. Quando estava quase chegando, ele deu outra arrancada e parou vinte metros à frente. Corri de novo, já exausta.

“Por favor, não faz isso comigo!”, gritei.

Deixou-me entrar no automóvel e partiu comigo ainda nua.

“Não vou deixar você se vestir ainda”, tinha escondido minhas roupas.

Reparei que o céu já clareava e fiquei um pouco preocupada.

“Olhe, já está amanhecendo.”

Me levou para a sua casa, mas ao entrar na vila, pegou toda a minha roupa e saiu correndo me deixando nua dentro do carro. E já estava bem claro.

Agachei-me então na frente do banco do carona, sob o painel. Comecei a pensar o que fazer. Era capaz de ele dormir e eu ter de ficar nua ali a manhã inteira. Podia ser descoberta, ia passar a maior vergonha. Remoía esses pensamentos quando vi no banco traseiro um short e uma camiseta, ambos roupa de homem. Vesti-os rapidamente, saí do carro e corri até a casa dele. Bati suavemente, temia despertar os vizinhos. Ele abriu a porta. Entrei.

“Olha, você me deixou numa situação...”

“Vai dizer que você não gostou?”

“Sabe, na hora que você me deixou na estrada cheguei a ficar molhadinha...”

Tirou-me short e a camiseta. Namoramos com volúpia.

Não posso negar que toda aquela experiência me deixo a mil por hora.

No final, disse baixinho no meu ouvido:

“Não devia ter voltado para te apanhar, devia ter te deixado nua na estrada. Acho que seria ainda mais estimulante ouvir você contar como fez para sair daquela situação.”

“Ui”, gemi.

“O que foi?”

“Fiquei molhadinha. De novo!”


“Célia, você gostou muito da minha história, está morrendo de rir...”

“Marcela, você é ótima. E por que não continuou com ele?”

“Não sei, Célia, coisas da vida.”

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