Não há desejo interior. Ah, verdade, não há! O desejo sempre explode na própria pele, descreve uma curva que leva a uivos de delírio. Cada poro exala então sua lágrima, ora de êxtase, ora de dor. Todo gozo beira o fim. É bom desejar, mas é melhor satisfazer o desejo desejando; é bom transitar à beira do abismo, mas não abalar; é bom equilibrar-se ao máximo, deixar arder as entranhas, ferver em espirais de um ciclone, mas esperar, não ser levada por Zéfiro ou Boréas, deixar apenas as roupas soçobrarem, levantarem voo vazias, gaivotas que acompanham naus oceânicas. Mas se vem o gozo, ai, quero que elas voem de volta, que não me abandonem, se não morro de vergonha. Enquanto dura o desejo sou atrevida, sou a vida, sou o escorrer do rio, desde uma nascente subterrânea até um Nilo que lava há dez mil anos homens e mulheres, sou eterna nua desejante; quero que o leito desse rio se aprofunde, se alargue, que dê mil voltas, que descanse, que torne possível banhar-me nele duas ou quem sabe três vezes; rio que respinga nos beirais de um Cairo antigo, mas que postergue suas águas, jamais entregando minhas partes descobertas... Mediterrâneo é o mar que divide areias e montanhas, que cinde meu desejo, que o mantém aceso. À beira da explosão penso em outra coisa, talvez num armarinho onde possa comprar linhas, alfinetes e agulhas. Então esfrio, dou umas voltas vestida de branco; sou virgem a lamber sorvetes e a empinar balanços. Não demora torno a me aquecer, de novo mulher a namorar em êxtase de precipícios. Quando me ameaça o despenhadeiro, pedra lisa que me impede segurar nas frestas, volto ao armarinho, compro mais linhas e agulhas, talvez também uma fita, me transformo em menina que dá laços nos longos cabelos...
Feliz Natal, boas festas de fim de ano. Que em 2011 possamos ter muita saúde, realizar todos os desejos e viver muitas fantasias!
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