quarta-feira, dezembro 29, 2010

Morríamos de rir

Vinha por um dos corredores do shopping abraçada com minha mãe.

“Filha, eu te amo, não me solta não, quero ficar agarrada a você o passeio todo.”

Sou muito parecida com ela, apenas o que nos diferencia é que cresci mais alguns centímetros.

Olhamos quase todas as vitrines de roupas, e mais a de uma loja que vendia toalhas, cada uma mais felpuda do que a outra. Paramos e apreciamos a arrumação, as toalhas de várias cores.

“Temos que comprar toalhas novas, você não acha? Qualquer dia desses preciso vir aqui e levar pelo menos quatro conjuntos, as nossas já não estão boas.”

Assenti, luminosa. Cruzou à nossa frente um homem, devia ter entre quarenta e cinquenta anos, olhou-nos e sorriu, vai ver que pensou o que fazem essas duas mulheres agarradas? Mas ao acabar de passar deve ter voltado a cabeça para nossas costas e falado para si mesmo mãe e filha.

“Olhe, querida, veja que shortinho bonito. Deve ficar ótimo em você, não quer experimentar?”

Minha mãe adora que eu saia nua por aí.

“Não está muito curto, mãe?”

“Não. Todo mundo está usando esse tipo de short agora no verão. Vamos comprá-lo, você quase não tem roupa para a estação.”

Entramos. A vendedora veio nos atender. Pedi dois modelos diferentes, mais uma bermuda, e ainda uma blusa curta.

“Ficaram lindas, filha, todas essas roupas estão ótimas em você.”

“Mas, mãe, você não acha que já tenho roupa demais?”

“Não, para nós, mulheres, roupas nunca são demais, por mais que as compremos sempre vamos estar precisando.”

Saímos da loja com duas bolsas, e de braços dados.

“Vai sair à noite, filha?”

“Acho que vou.”

“Vá com um desses shorts, o Geraldo vai adorar.”

“Ah, isso a senhora acertou, o Geraldo adora me ver nua.”

“Ele tem bom gosto, filha.”

“E a senhora, vai ficar em casa hoje?”

“Não sei, é segredo, ainda vou resolver.”

“E o Antônio, não gosta de ver a senhora nua?” Perguntei enquanto descíamos pela escada rolante, apesar do dia 27 de dezembro ainda tocava uma música de Natal.

“Ele morre de vergonha quando saio de roupa curta, você sabe.”

“Mãe, a senhora é muito extravagante, imagine o que aprontava quando era da minha idade...”

“Já contei a você tudo o que fiz, não faltou nada”, falou enquanto me puxava para uma das mesas de um café.

“Vamos tomar um expresso, filha?”

“Vamos. Mas quero o meu com leite.”

Sentamos.

“Mãe, a senhora não me contou uma coisa.”

“O quê, filha?”

“Não é coisa de antigamente, mas algo que aconteceu com a senhora na quinta passada.”

“Na quinta? Nem me lembro onde fui na quinta.”

“A senhora saiu com o Antônio, chegou às três da manhã. Agora o segredo, baixinho para que ninguém das outras mesas nos ouça: a senhora entrou pelada em casa! Eu estava deitada no sofá da sala, fiz de conta que estava dormindo, vi tudinho.”

“Ah, isso mesmo, foi uma brincadeira, Quis deixar o Antônio, tímido do jeito que é, morrendo de vergonha. Quando fico pelada, até parece que é ele que está nu!”

A garçonete colocava nossos cafés sobre a mesa, enquanto morríamos de rir.

Nenhum comentário: