Dois dias depois, enquanto tomava chá no salão da cafeteria, no subsolo do Ed. Avenida Central, Zilda esquecia por alguns momentos os grossos processos que trazia na bolsa para pensar na aventura que vivera durante a madrugada na boate. Às vezes censurava a si mesma pelo comportamento intempestivo, pelos disfarces e frequência a ambientes que podiam complicar-lhe a vida. Caso alguém descobrisse sua verdadeira identidade, o que aconteceria? A desembargadoria tentaria impedir que ela exercesse o cargo? Em muitas ocasiões, os superiores fingem que nada sabem, agem como se nada acontecera, mas no momento em que há o interesse de alguém, um parente ou mesmo amigo próximo, não deixam de exercer o poder e investigam a fundo a vida daqueles de quem desejam o cargo, dando ouvidos até mesmo a boatos. Portanto era preciso ser cautelosa. Não se sentia culpada. O que estava fazendo não era errado. Gostava de divertir-se, e os disfarces, em meio às atribulações diárias, atuavam como uma espécie de relaxamento da tensão. Sabia que era bom realizar-se com a carreira que escolhera, que as atividades profissionais deviam bastar-lhe; mas, será que se vivia apenas para isso? Será que não tinha o direito a divertimentos que a deixassem num estado eletrizante? Certa vez ouvira de uma amiga que muitas pessoas extasiam-se com o perigo. O risco torna-as excitadas. É mais ou menos como acontece quando frequentamos um parque de diversões. Por que escolhemos, principalmente quando ainda jovens, o brinquedo mais perigoso? Será que é apenas porque precisamos de autoafirmação? Ou será que há um desejo oculto, um desejo que temos dificuldade de nomear e que só se realiza ante o perigo? Dizem que, na relação sexual, o momento do gozo nada mais é do que uma centelha de êxtase ante a perspectiva da morte. E, na verdade, essa morte ocorre. Após o orgasmo, cai-se numa atitude de inação, que não deixa de ser uma metáfora do próprio fim. Aquele que supera esses momentos e continua impetuoso, sente-se, talvez, uma espécie de fênix. O ato de morrer e renascer, instantes de ressurreição, estabelece de modo perene o prazer de se trafegar e tocar corpos ante a perspectiva do abismo.
Zilda sentiu um arrepio. Olhou em volta, mas as outras pessoas conversavam entre si ou – principalmente as sozinhas – mergulhavam os pensamentos nas xícaras de chá ou nas taças de suco de laranja.
No dia seguinte, após colocar a leitura dos processos em dia, recebeu o convite de um promotor de justiça para jantar num restaurante em Ipanema. Ela aceitou. Marcaram para nove horas. Ela também permitiu que ele a apanhasse em casa.
Nesse dia, nada de disfarces, Maria Zilda era ela mesma. Estava exuberante. Vestira-se com uma roupa que a tornou uma senhora de aspecto bem sucedido. Fazenda de primeira, corte especial, jóias e o cabelo com um prendedor pequeno mas capaz de brilhar sob poucas luzes.
Quando já estavam sentados à mesa do restaurante, enquanto ela olhava o cardápio, o homem sussurrou:
“Nunca saí com uma mulher tão maravilhosa como você.”
Ela o olhou por cima dos óculos:
“Você está sendo muito delicado. Já não sou jovem. Há muitas mulheres que conseguem manter-se dentro dos padrões de beleza que os homens dos dias hoje têm em mente.”
A conversa ia e vinha. Via-se que seu acompanhante estava fascinado. Não a cortejava apenas por delicadeza. Zilda sabia, mas viera porque precisava de disfarce. Não como os usuais, mas para que as pessoas a vissem e comentassem que ela era uma mulher normal. Na verdade estava usando aquele cavalheiro. E, quando deu conta disso, sentiu-se um tanto vexada.
Jantaram; beberam uma garrafa de vinho tinto. As luzes do restaurante eram baixas nas laterais. Os garçons acompanhavam todos os movimentos dos freqüentadores. Não deixavam copo ou taça vazios. Traziam o que havia de melhor e procuravam mostrar-se sempre solícitos. Havia em outras mesas mulheres com roupas que reluziam, acentuando o desejo de serem observadas. As mulheres são mais afeitas a essas coisas; adoram exibir-se. Maria Zilda comeu até o último pedacinho da sobremesa. Achou tudo maravilhoso. Sorriu o tempo todo, deixando o homem que a convidara muito feliz.
Já havia muito que ele vinha fazendo convites e ela esquivava-se. Naquele momento, acreditava, acertara. O enamorado pegara-a num bom dia, ou numa boa noite, estava feliz. Ela, por sua vez, representava; talvez o próprio papel, mas representava. Seu prazer não era aquele, tentava, no entanto, passar credibilidade como atriz.
Quando acabaram, ele surpreendeu-se com uma palavra dela. Apenas uma. Que saiu em forma de pergunta.
“Namoro?”
Ele a olhou enquanto esperava pela iniciativa dela para deixarem o local. Talvez pensasse que ela embriagara-se com a pouca bebida. Ouviu de novo.
“Namoro?”
Agora com o segundo “o” mais aberto, tornando a palavras mais pessoal.
Saíram do restaurante. O manobrista entregou-lhe o carro e ele pôs-se a dirigir. Não sabia o que dizer nem para onde ir. Mas levá-la em casa parecia desperdício. Guiou o veículo até a orla marítima. O ar que vinha do oceano invadiu-lhes os pulmões, embora trafegassem com os vidros fechados. Maria Zilda abriu a janela e respirou fundo, de olhos fechados.
“Deseja ir a mais algum lugar?”, perguntou suave, temeroso. Não queria encerrar o passeio de modo abrupto. Conhecia a mulher, ela às vezes era incisiva.
“Quem sabe você não me convide para ouvir uma música, num lugar de luz baixa, onde o som apenas envolva nós dois?”
Ao fazer a curva no final do Posto 6, trafegavam no sentido de quem vai para a Lagoa.
O apartamento do promotor era grande. Apesar de morar sozinho, não poupava esforços para ter o que chamava de apartamento onde a beleza jamais deixa de estar presente. Apreciava convidar pessoas para beber, ou mesmo para conversar. Viera de São Paulo, precisava fazer amigos, os parentes eram poucos e não havia nenhum no Rio. Uma vez que era relativamente jovem, gostava de festas. O apartamento servia. Mas tudo acontecia na maior discrição, sem grandes ruídos, sem qualquer tipo de incômodo para a vizinhança.
Som de orquestra espalhou-se pela sala. Havia alto-falantes embutidos no teto, o que dava à musica possibilidade de expansão. Ouviram uma sonata, silenciosos. Quando esta acabou, ele trouxe uma garrafa de champanha. Abriu-a. Serviu à mulher e depois encheu a própria taça. Brindaram.
Maria Zilda deixou-se envolver por um abraço demorado. Correspondeu ao beijo que ele oferecera-lhe. Após alguns segundos, ajeitaram-se sobre a poltrona larga. Ela olhou ao redor, parecia procurar alguma coisa.
“Há algo que você deseja?”
“Não”, ela sussurrou, “estou olhando a decoração.”
Ele aumentou a luz, através de um pequeno comutador que ficava junto a uma mesa lateral. Quadros se enfileiravam na parede oposta. A mulher pôde perceber a variedade de telas que ornamentavam o apartamento. Embora algumas trouxessem ao ambiente o traço moderno, tendiam ao clássico.
Beberam o champanhe, quase sem palavras. Zilda percebeu que seu anfitrião era vagaroso; talvez temesse que algo desse errado. Esperava por ela; dava mostras de que não desejava desagradá-la. Sentia-se bem ali, mas será que ele não ficaria no encalço dela depois desse dia? Será que a importunaria? Por momentos achou que não tomara a atitude correta quando o incentivou a convidá-la ao apartamento dele. Tudo estava muito bonito e agradável, mas temia as consequências. O que faria dali em diante? Diria que desejava ir embora? Não seria boa a solução. Começou a suspirar pelas suas saídas anônimas e disfarçadas; além de não ter de dar satisfação a ninguém, podia manter a máscara pelo tempo que desejasse. Na situação em que se encontrava, não seria elegante tentar desvencilhar-se do homem tão de repente. Pensou mais um pouco, enquanto ele aproximou-se e alcançou-lhe o rosto. Ela representou uma mulher em início de paixão. Cedeu. Os braços dele desceram-lhe as costas e pararam no pedaço que antecede a cintura. Ele a puxou para si e quis que ela recostasse sobre seu tronco. Zilda obedeceu. Ficaram assim por longos minutos.
A mulher disse que precisava ir ao toalete. Ele apontou a porta correspondente. Ela tomou mais um gole da bebida, pousou a taça sobre a mesinha, levantou-se e caminhou a passos suaves, levando a bolsa consigo. Chegara à conclusão do que faria para acabar com aquela noite de forma mais rápida; mas de modo que não o ofendesse.
Deixou a bolsa sobre um aparador, onde havia cremes e perfumes; olhou-se no espelho, retocou os cantos do rosto, passou uma camada suave de batom. Começou então a colocar o plano em ação. Tirou toda a roupa, sem pressa. Procurou um lugar para colocá-la de modo que não ficasse dobrada e marcada. Olhou-se mais uma vez e viu seu reflexo na lâmina do espelho. Não estava má sua silhueta. Manteve-se sobre os sapatos de salto e segurou a bolsa. Saiu do banheiro, com muita naturalidade; voltou e sentou-se no mesmo lugar onde estivera.
O homem, ao repará-la, teve ímpetos de tomá-la nos braços com violência e deitá-la ali mesmo, mas conteve-se. Sorriu levemente e fingiu estar acostumado àquele tipo de atitude. Maria Zilda também sorriu e o puxou para si.
Namoraram longamente. Na poltrona e mesmo sobre o tapete.
Mostrou-se uma mulher ardorosa.
Quando acabaram, ele falou, ainda deitado junto a ela:
“Nunca vi você com homem algum, fiquei a princípio temeroso de convidá-la...”
“Não tenho namorado”, ela disse, “nem tenho intenção de ter.”
Ele permaneceu em silêncio. Apesar de todos os movimentos ousados daquela mulher, compreendeu que jogava um jogo difícil, com alguém que se mostrava quase impossível de ser batido.
“Já teve algum?”, a pergunta saiu quase que indesejada; depois, reparou que não marcara ponto com a investida.
Ela apenas disse:
“Alguns.”
No meio da madrugada, quando estava pronta para partir, beijou-o mais uma vez. E, talvez ainda com a finalidade de confundi-lo mais um pouco, sorriu e disse:
“Quando era mais jovem, mais ou menos aos vinte e poucos anos, tive um namorado. Ele era muito avançado para época. Me deixava nua em quase todos os lugares para onde me levava; e muitas vezes eram lugares públicos.”
Ele teve vontade de perguntar o que se sucedera, mas não ousou, apenas sorriu.
Maria Zilda não permitiu que ele a levasse em casa. Telefonou para que viesse um táxi. Apesar de muitos os protestos do homem.
Zilda sentiu um arrepio. Olhou em volta, mas as outras pessoas conversavam entre si ou – principalmente as sozinhas – mergulhavam os pensamentos nas xícaras de chá ou nas taças de suco de laranja.
No dia seguinte, após colocar a leitura dos processos em dia, recebeu o convite de um promotor de justiça para jantar num restaurante em Ipanema. Ela aceitou. Marcaram para nove horas. Ela também permitiu que ele a apanhasse em casa.
Nesse dia, nada de disfarces, Maria Zilda era ela mesma. Estava exuberante. Vestira-se com uma roupa que a tornou uma senhora de aspecto bem sucedido. Fazenda de primeira, corte especial, jóias e o cabelo com um prendedor pequeno mas capaz de brilhar sob poucas luzes.
Quando já estavam sentados à mesa do restaurante, enquanto ela olhava o cardápio, o homem sussurrou:
“Nunca saí com uma mulher tão maravilhosa como você.”
Ela o olhou por cima dos óculos:
“Você está sendo muito delicado. Já não sou jovem. Há muitas mulheres que conseguem manter-se dentro dos padrões de beleza que os homens dos dias hoje têm em mente.”
A conversa ia e vinha. Via-se que seu acompanhante estava fascinado. Não a cortejava apenas por delicadeza. Zilda sabia, mas viera porque precisava de disfarce. Não como os usuais, mas para que as pessoas a vissem e comentassem que ela era uma mulher normal. Na verdade estava usando aquele cavalheiro. E, quando deu conta disso, sentiu-se um tanto vexada.
Jantaram; beberam uma garrafa de vinho tinto. As luzes do restaurante eram baixas nas laterais. Os garçons acompanhavam todos os movimentos dos freqüentadores. Não deixavam copo ou taça vazios. Traziam o que havia de melhor e procuravam mostrar-se sempre solícitos. Havia em outras mesas mulheres com roupas que reluziam, acentuando o desejo de serem observadas. As mulheres são mais afeitas a essas coisas; adoram exibir-se. Maria Zilda comeu até o último pedacinho da sobremesa. Achou tudo maravilhoso. Sorriu o tempo todo, deixando o homem que a convidara muito feliz.
Já havia muito que ele vinha fazendo convites e ela esquivava-se. Naquele momento, acreditava, acertara. O enamorado pegara-a num bom dia, ou numa boa noite, estava feliz. Ela, por sua vez, representava; talvez o próprio papel, mas representava. Seu prazer não era aquele, tentava, no entanto, passar credibilidade como atriz.
Quando acabaram, ele surpreendeu-se com uma palavra dela. Apenas uma. Que saiu em forma de pergunta.
“Namoro?”
Ele a olhou enquanto esperava pela iniciativa dela para deixarem o local. Talvez pensasse que ela embriagara-se com a pouca bebida. Ouviu de novo.
“Namoro?”
Agora com o segundo “o” mais aberto, tornando a palavras mais pessoal.
Saíram do restaurante. O manobrista entregou-lhe o carro e ele pôs-se a dirigir. Não sabia o que dizer nem para onde ir. Mas levá-la em casa parecia desperdício. Guiou o veículo até a orla marítima. O ar que vinha do oceano invadiu-lhes os pulmões, embora trafegassem com os vidros fechados. Maria Zilda abriu a janela e respirou fundo, de olhos fechados.
“Deseja ir a mais algum lugar?”, perguntou suave, temeroso. Não queria encerrar o passeio de modo abrupto. Conhecia a mulher, ela às vezes era incisiva.
“Quem sabe você não me convide para ouvir uma música, num lugar de luz baixa, onde o som apenas envolva nós dois?”
Ao fazer a curva no final do Posto 6, trafegavam no sentido de quem vai para a Lagoa.
O apartamento do promotor era grande. Apesar de morar sozinho, não poupava esforços para ter o que chamava de apartamento onde a beleza jamais deixa de estar presente. Apreciava convidar pessoas para beber, ou mesmo para conversar. Viera de São Paulo, precisava fazer amigos, os parentes eram poucos e não havia nenhum no Rio. Uma vez que era relativamente jovem, gostava de festas. O apartamento servia. Mas tudo acontecia na maior discrição, sem grandes ruídos, sem qualquer tipo de incômodo para a vizinhança.
Som de orquestra espalhou-se pela sala. Havia alto-falantes embutidos no teto, o que dava à musica possibilidade de expansão. Ouviram uma sonata, silenciosos. Quando esta acabou, ele trouxe uma garrafa de champanha. Abriu-a. Serviu à mulher e depois encheu a própria taça. Brindaram.
Maria Zilda deixou-se envolver por um abraço demorado. Correspondeu ao beijo que ele oferecera-lhe. Após alguns segundos, ajeitaram-se sobre a poltrona larga. Ela olhou ao redor, parecia procurar alguma coisa.
“Há algo que você deseja?”
“Não”, ela sussurrou, “estou olhando a decoração.”
Ele aumentou a luz, através de um pequeno comutador que ficava junto a uma mesa lateral. Quadros se enfileiravam na parede oposta. A mulher pôde perceber a variedade de telas que ornamentavam o apartamento. Embora algumas trouxessem ao ambiente o traço moderno, tendiam ao clássico.
Beberam o champanhe, quase sem palavras. Zilda percebeu que seu anfitrião era vagaroso; talvez temesse que algo desse errado. Esperava por ela; dava mostras de que não desejava desagradá-la. Sentia-se bem ali, mas será que ele não ficaria no encalço dela depois desse dia? Será que a importunaria? Por momentos achou que não tomara a atitude correta quando o incentivou a convidá-la ao apartamento dele. Tudo estava muito bonito e agradável, mas temia as consequências. O que faria dali em diante? Diria que desejava ir embora? Não seria boa a solução. Começou a suspirar pelas suas saídas anônimas e disfarçadas; além de não ter de dar satisfação a ninguém, podia manter a máscara pelo tempo que desejasse. Na situação em que se encontrava, não seria elegante tentar desvencilhar-se do homem tão de repente. Pensou mais um pouco, enquanto ele aproximou-se e alcançou-lhe o rosto. Ela representou uma mulher em início de paixão. Cedeu. Os braços dele desceram-lhe as costas e pararam no pedaço que antecede a cintura. Ele a puxou para si e quis que ela recostasse sobre seu tronco. Zilda obedeceu. Ficaram assim por longos minutos.
A mulher disse que precisava ir ao toalete. Ele apontou a porta correspondente. Ela tomou mais um gole da bebida, pousou a taça sobre a mesinha, levantou-se e caminhou a passos suaves, levando a bolsa consigo. Chegara à conclusão do que faria para acabar com aquela noite de forma mais rápida; mas de modo que não o ofendesse.
Deixou a bolsa sobre um aparador, onde havia cremes e perfumes; olhou-se no espelho, retocou os cantos do rosto, passou uma camada suave de batom. Começou então a colocar o plano em ação. Tirou toda a roupa, sem pressa. Procurou um lugar para colocá-la de modo que não ficasse dobrada e marcada. Olhou-se mais uma vez e viu seu reflexo na lâmina do espelho. Não estava má sua silhueta. Manteve-se sobre os sapatos de salto e segurou a bolsa. Saiu do banheiro, com muita naturalidade; voltou e sentou-se no mesmo lugar onde estivera.
O homem, ao repará-la, teve ímpetos de tomá-la nos braços com violência e deitá-la ali mesmo, mas conteve-se. Sorriu levemente e fingiu estar acostumado àquele tipo de atitude. Maria Zilda também sorriu e o puxou para si.
Namoraram longamente. Na poltrona e mesmo sobre o tapete.
Mostrou-se uma mulher ardorosa.
Quando acabaram, ele falou, ainda deitado junto a ela:
“Nunca vi você com homem algum, fiquei a princípio temeroso de convidá-la...”
“Não tenho namorado”, ela disse, “nem tenho intenção de ter.”
Ele permaneceu em silêncio. Apesar de todos os movimentos ousados daquela mulher, compreendeu que jogava um jogo difícil, com alguém que se mostrava quase impossível de ser batido.
“Já teve algum?”, a pergunta saiu quase que indesejada; depois, reparou que não marcara ponto com a investida.
Ela apenas disse:
“Alguns.”
No meio da madrugada, quando estava pronta para partir, beijou-o mais uma vez. E, talvez ainda com a finalidade de confundi-lo mais um pouco, sorriu e disse:
“Quando era mais jovem, mais ou menos aos vinte e poucos anos, tive um namorado. Ele era muito avançado para época. Me deixava nua em quase todos os lugares para onde me levava; e muitas vezes eram lugares públicos.”
Ele teve vontade de perguntar o que se sucedera, mas não ousou, apenas sorriu.
Maria Zilda não permitiu que ele a levasse em casa. Telefonou para que viesse um táxi. Apesar de muitos os protestos do homem.
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