quinta-feira, abril 02, 2009

Vestida de noiva

Sempre fui muito corpo. Toda vez que arranjo um namorado, quero que ele me acaricie continuamente; desejo sentir seus dedos sobre minha pele; peço que percorra minhas costas, o bumbum, as pernas e que não esqueça de tocar meus pequenos pés. Quando estou prestes a fazer amor, imploro-lhe carícias maiores. Ofereço-lhe meus lábios, que não esqueça de mordiscá-los antes do beijo; só depois mergulhe sua língua, inundando-me a boca. De arrepio em arrepio, de pequenas em pequenas explosões, marcho inflamando-me, até culminar num grande abalo sísmico, onde não dou mais conta dos meus atos.

Nas últimas semanas, porém, conheci um homem dois anos mais velho que eu, experiente. Além de adivinhar todo o mecanismo que me excita, introduziu-me em experiência mais vasta. Agora, além do corpo, despertou meu espírito.

Numa das primeiras vezes, perguntou baixinho, em meu ouvido:

“Você usa só o corpo, ou também a mente?”

“A mente? Como assim?”, pensei tratar-se de alguma experiência que ia além do físico.

“A imaginação.”

“Como, a imaginação?”

“Você pensa em alguma coisa ao fazer amor ou se concentra apenas nos aspectos táteis que o corpo pode proporcionar?”

“Às vezes penso numa coisa...”

“O quê, por exemplo?”

“Ah, agora não digo, tenho vergonha.”

“Então vou contar algo mais; você vai delirar de prazer.”

“Deixa para amanhã; hoje me toca daquele jeito especial, que só tu conheces.”

Naquela noite trepamos de forma avassaladora. Meu corpo vibrou sob seus dedos ágeis. Dirigia-me ora com sutileza ora com toda a energia; executava uma sinfonia em que durante vários movimentos me fez beirar o êxtase.

No encontro seguinte, no apartamento dele, quando já me encontrava nua e pedia sua aproximação, ele começou a tatear meu corpo como sempre, mas, ao mesmo tempo, passou a sussurrar-me algo excitante. Era uma pequena história.

Conto com minhas palavras.

Eu estava numa praia deserta, passava da meia-noite, e ia nua, isso, nuinha; esperava alguém. O vento me tocava a pele, como mão de um homem que faz pequenas carícias. Aí apareceu meu amante. Saiu de dentro da noite e rolou comigo sobre manto estendido sobre as areias. Ao longe ouvíamos o mar. Quando terminamos, pediu-me que entrasse n’água e, depois do mergulho, de lá saísse como princesa das águas, pronta para mais um encontro. Tremi, mas fui. Ao sair, dei-me com a escuridão e o vazio. Não vi o homem que me aguardaria. Minhas próprias mãos percorreram meu corpo trêmulo. Apalpei-me, procurei tapar minha nudez envergonhada. Quando me desesperava, ele apareceu. Envolveu-me seus braços largos. Meu corpo úmido percorrido por seus dedos hábeis provou outros tremores, agora de prazer maior. Fizemos amor mais uma vez. Ao lampejo de uma estrela tardia, ele disse que precisava partir. “Como vou embora?”, eu estava ansiosa por saber, pois não havia rastros de como chegara ali, se nua ou vestida, ou mesmo onde morava. Sorrateiro, antes de desaparecer, sua voz soou tal canto de navegante homérico: “És a musa desse lugar, estás em tua própria casa”, e se foi. Pensei comigo: ‘logo será dia, onde estou? Para onde irei?’ Eis que momentos de inquietude se dissiparam ante a chegada de um príncipe com seu automóvel. “Vou levá-la, rainha, esperam-na trajes de majestade.” Beijei-lhe uma das faces, entrei em seu carro temerosa. Um conversível, sob as luzes da cidade. Antes de chegados ao destino, paramos em um amplo descampado, à beira de uma outra praia, de ondas estrondosas, seculares. Ali, sobre meu corpo, fez o mesmo trajeto de todos os outros. Depois me carregou ainda nua, abriu a mala e quis vestir-me com um vestido de noiva, descomunal. Apenas o tecido sobre a pele, rendas e mais rendas. Sua voz chegou-me como carícia: “essa noite, o casamento!” Ainda digo: “casamento? Nem te conheço, como casamento? E além de tudo, não estou pura, olha meus cabelos, minha pele salgada, e nem trago nada além do vestido que me dás.” Ele completa: “vou banhar-te em água doce! E o casamento é só por uma noite!” Carregou-me até uma nascente em que espirarrava um jorro flácido; banhou-me, esfregando o corpo com sabonete de rosas.

Essa foi a narrativa.

Antes de fazermos amor, ou mesmo durante, meu namorado passou a me contar a cada noite uma nova história; levou minha imaginação a extremos, proporcionando-me o gozo em dobro.

Em suas narrativas eu saía cada noite com uma roupa insinuante. Ora elegante, ora provocante, ora seminua. Ele, ou mesmo alguém incumbido por ele, conduzia-me. Durante a madrugada, mesmo que por alguns momentos minhas roupas desapareciam. Às vezes minha nudez passava despercebida, eu ultrapassava peripécias como se fosse uma mulher invisível; outras, devia tramar para ludibriar olhares acintosos. Tínhamos cuidado de voltar antes do amanhecer. Os vidros escuros do veículo sempre estavam a me salvar. Certa vez roubei a festa. Fui a um noivado e terminei na cama do noivo. Apenas muitos meses depois, ele notou que tivera em seus braços a mulher trocada.

Numa outra noite, disse a meu narrador e namorado: “Lembra uma vez que senti vergonha de te contar minha fantasia? Escuta, agora, é tua vez de delirar.”

Isso se deu faz dois meses. Deixei-me seduzir por um homem que conhecera naquele mesmo dia. Estávamos numa praia deserta. Ficamos agarradinhos, namorando de pé durante um bom tempo. Então ele desfez os lacinhos do meu biquíni; me deixou nua! Apesar de não ter ninguém por perto, eu senti uma vergonha imensa. Morri de medo que alguém aparecesse.

Depois ele me sentou sobre suas coxas, de frente, uma perna para cada lado. Eu tremia muito. Achei que ia sentir dor, mas seu pênis escorregou fácil para dentro de mim. Ouvi sua voz, bem junto ao meu ouvido, quase um sussurro: "relaxe, não vai haver problema algum", naquele momento pude sentir um pouco de prazer.

Quando acabamos, eu estava de novo com muita vergonha; nunca tivera uma relação sexual numa praia às quatro da tarde. Ele ainda disse: "você fica linda nua, acho que vou pedir pra você desfilar um pouquinho".

Lembrei-me de uma amiga que se viu em apuros depois de fazer amor com um homem que conhecera momentos antes. Pensei que poderia acontecer o mesmo comigo; as circunstâncias eram muito parecidas.

Continuou: "ainda não vi os seus seios".

Olhei em volta e, diplomática, propus: "deixo você ver, mas me devolva primeiro o biquíni".

"Vou pensar", ele falou.

Cruzei as mãos, instintiva, sobre meus poucos pelos. Esperei cerca de um minuto. De repente, falei:

"Hoje vou me casar"

"Casar?".

"Isso, o que há de errado?"

"Mas você esteve comigo, agora vai para os braços de outro?".

"Oh, sou livre, encaro o casamento de outra forma; meu noivo sabe disso".

"Então quer dizer que deixei uma noiva nua!"

"Deixou. Agora me devolva a parte de baixo que eu mostro o que desejas, mas depois preciso me vestir e partir. Caso-me às nove da noite. Se não apareço em casa, ou se apareço nua, haverá escândalo; e escândalo é o que mais detesto, morro de vergonha".

Ao ver que eu ainda tremia e que estava muito vexada, ele (como demorou!) me devolveu a p­­­equenina peça. Algumas gotículas d’água escorriam de meu corpo; não sei se ainda a água do mar ou se o suor provocado pela aflição.

Cumpri o que prometera.

Logo após vestir a calcinha, refazendo nas laterais os pequenos laços, tirei o top; e por alguns minutos deixei aquele homem, que eu conhecera não fazia duas horas, apreciar meus seios.

"Como são belos!", sua voz e seu rosto revelaram todo o feitiço em que eu o enredara.

Abracei-o. Senti seu tronco quente; e logo suas mãos tatearam minhas costas, minha cintura, meus quadris e depois de novo estreitaram os laços que me vestiam.

Recomeçamos. Agora, eu sentia mais confiança. E ia nua por inteiro.

Ainda falou:

"Acho que seu casamento vai ter de esperar."

"Que espere, as noivas sempre atrasam...", falei excitada; ele acabara de descobrir o ponto chave de meu corpo.

Quando aquela segunda vez acabou, caminhei nua até a beira d’água para me lavar. Mas ao voltar....

"Não conto o desfecho, deixo-o a ti. Só digo que me foi favorável!"

Não perguntei a meu namorado se imaginou o final da história. Ele estava com o gozo à flor da pele. Prendeu-me voraz; soltou-me somente após despejar-me todo o seu ardor.

Não é preciso dizer que minha vida tornou-se uma aventura errante. No bom sentido, é claro. Como era bom errar em meio à tanta fantasia. Não creio que de hoje em diante me acostumaria com um homem que fosse apenas corpo.

Mas há ainda mais uma coisa.

De tanta fantasia, decidimos colocar algumas em prática. Há quem diga que é perigoso trazer a literatura para vida real. Mas sempre me saí bem. Caso algo desse errado, o que me poderia acontecer? Não seria condenada à morte por querer um gozo a mais.

Dentre tantas aventuras, resumo a mais excitante e arriscada. Fomos a uma boate, lugar de gente distinta. Lá pelas tantas, soltei o tomara-que-caia e o deixei sobre um estofado do fundo; escorreguei-me nua pelo salão escuro. Uma mulher muito branca, porém, gritou: “acendam as luzes, acendam as luzes, há uma mulher nua!.”

Acenderam. Mas como demoraram. Demoraram tanto, que eu já ia vestida; se não dentro da roupa com que chegara, ao menos coberta pelo agasalho do homem que me aguardava!

E ninguém notou.

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