segunda-feira, junho 24, 2013

Se houvesse sol - 10

O táxi subiu uma estrada onde acredito jamais ter passado.

“Esse endereço que a senhora me deu fica na estrada que leva ao clube Costa Brava,” disse o motorista.

Saltei numa rua estreita de muitas casas em ambos os lados, mas eram casas distantes umas da outras. Algumas, quase cinematográficas. Nos anos 1960, a região fora muito badalada, as residências pertenciam a milionários que resolveram viver estilo de vida norte-americano.

Leila estava à minha espera, beijou-me mostrando imensa alegria. O local era guarnecido por homens de terno, via-se que se comunicavam entre si porque usavam fones e microfones embutidos. Subimos dois lances de escada e atravessamos um pequeno jardim. Leila mostrou-me a paisagem. Embora fosse tarde da noite, era possível apreciar a montanha de um lado e, de outro, um trecho do mar. Um vento moderado tornava o ambiente bastante fresco. Entramos num dos salões, havia estofados que rodeavam o local, algumas pessoas estavam sentadas, enquanto outras bebiam junto ao sofisticado bar. Alguém avisou que a música dali em diante seria ao vivo. Já se ouviam os primeiros acordes da pequena banda de jazz.

“Há também a parte descoberta, onde fica o terraço; a piscina está localizada atrás.”

Apesar de a iluminação ser baixa, permitia reparar homens e mulheres, jovens na maioria. Leila sorria para as pessoas. Todos cumprimentavam-me como se eu fosse velha conhecida. Comecei a gostar do ambiente.

“Fique à vontade, não vou poder dar atenção a você o tempo todo, mas sei que não vai se incomodar”, falou e foi buscar uma bebida. Trouxe dois copos altos, continham tequila misturada com frutas, a bebida da moda. “Aqui há gente para todos os gostos”, continuou, “para dançar, conversar, namorar etc., basta procurar.”

“Leila, é sua amiga?”, perguntou um homem de meia idade.

“Sim, esta é Célia”, falou Leila apontando-me e virando-se a ele.

“Muito prazer, Leonardo.”

“O prazer é todo meu.”

“Vamos para a varanda”, convidou.

Enquanto atravessávamos a sala em direção à parte descoberta da casa, Leila desapareceu entre seus amigos. Leonardo começou a falar sobre o trabalho que fazia na TV. Um amigo parou diante dele e lhe ofereceu cigarro. Não era um cigarro comum, mas cigarro de maconha. Ele aceitou de bom grado, acendeu, deu dois tragos, fez que ia devolver mas lembrou-se de mim. Estendeu a mão e me ofereceu. Não recusei, tomei o estreito cigarro entre meus dedos, sorvi-o também duas vezes e o devolvi ao primeiro homem, que esperava.

“Maravilhado com a senhorita”, falou e pediu licença.

“Figuraça esse aí que trouxe a cannabis”, sorriu,

Passei a ouvir tudo o que Leonardo contava, mas não revelei minha identidade nem disse em que trabalhava. Ele teve a educação de não fazer perguntas a respeito. A conversa entrou pela filosofia. Começou a contar sobre uma peça recente que abordava a vida de Spinoza.

“Já ouviu falar de Spinoza?”, perguntou.

“Já, mas não sou especialista em filosofia”, respondi.

“Não digo Spinoza, o filósofo, mas a peça.”

“Não, também não estou a par.”

“Maravilhosa, não deixe de assistir, é o melhor papel do Zé Augusto. Por falar nele, ficou de passar por aqui.”

“A peça trata do Spinoza filósofo?”, perguntei.

“Oh, sim, e trata de filosofia, mas de forma amena. Sabe como são as peças de hoje, todas voltadas para o grande público. Caso se encene um assunto difícil, o fiasco é total. Não é possível montar espetáculos apenas para eruditos.”

“O que mais se destaca nessa montagem?”, comecei a mostrar curiosidade.

“A atuação do Zé Augusto. Isso é ponto pacífico.”

“O que mais?”, insisti.

“A Holanda da época, a tolerância religiosa, embora os judeus do período não tenham tolerado Spinoza.”

“A direção consegue recriar a Holanda de Spinoza, no palco?”

“Consegue, mas não é uma superprodução teatral, há na montagem muita sugestão. E é um mundo que já preconiza o futuro, o presente que vivemos, compreende?”

“Compreendo.”

“Não deixe de ir, é espetacular.”

Uma mulher loura veio sentar-se junto a nós.

“Esta é Tânia”, apresentou a amiga. “Como você se chama mesmo?”

“Célia, muito prazer”, disse e me apresentei à amiga.

“Tânia, estava falando a ela sobre Spinoza, a peça teatral, você também não a achou ótima?”

“Ah, Spinoza, sim, muito boa.”

“E o Zé Augusto, já chegou?”

“Parece que telefonou, está chegando, todos querem congratulá-lo.”

“Então”, Leonardo voltou-se para mim, “é uma unanimidade.”

“Léo”, chamou Tânia, “a Mércia também está para chegar, e disse que vem como atua na peça.”

“Mas ela, no espetáculo, aparece o tempo todo nua!”, arregalou os olhos depois da exclamação.

“Portanto, há de se esperar que ela venha pelada”, Tânia fez fisionomia de que dizia algo óbvio.

“Mas, como, nua? Vai vir de Copacabana até aqui sem roupa alguma?”, Leonardo mostrava-se estupefato.

“Pelada, sim. Mércia gosta de aparecer, você já sabe, não?”

“Gosta, gosta muito, e não é a primeira vez que ela aparece nua numa festa. No começo da carreira fez a mesma coisa.”

“O que há de mais numa mulher nua?”, interrompi a estupefação de ambos.

“Na verdade, nada”, disse o homem, “você tem toda a razão. Não há nada de extraordinário numa mulher nua, tanto mais quando se trata da Mércia”, proferiu Leonardo.

“Spinoza é aquele da ética, você sabe?”, interferiu Tânia.

“A ética é sobre o que as pessoas mais falam na filosofia dele, mas Spinoza escreveu também sobre outras coisas muito interessantes”, falei.

“Você entende de filosofia?”, perguntou a mulher.

Naquele momento a música tornou-se extremamente barulhenta lá dentro, as pessoas começaram a gritar, festejavam algo, alguma coisa que parecia imperdível. Tanto Leonardo como Tânia levantaram-se sem pedir licença e correram para o salão. Fiquei sem dar a minha resposta sobre Spinoza, o filósofo. Mas, na verdade, eles não estavam interessados nisso.

Como todos se deslocaram para o salão onde estavam os músicos, senti curiosidade e acompanhei as demais pessoas. Muitos convidados estavam à minha frente, mas com jeitinho consegui aproximar-me. Todos começaram a gritar o nome do ator, o homem que atuava na peça Spinoza. Ao mesmo tempo, apareceu uma mulher inteiramente nua, cobria a sua cabeça um chapéu enorme. Seu corpo estava quase todo prateado, e onde deveriam estar seus pelos púbicos havia o núcleo de um cometa pintado em dourado, a cauda do corpo celeste subia até um dos seios da atriz. Mércia não era alta, mas um sapato de salto muito avantajado aumentava-lhe a estatura.

Alguém, de repente, bradou vivas ao ator; depois, à atriz. Espocaram-se rolhas de garrafas de espumante. Zé Augusto e Mércia foram carregados e atirados ao ar. Em relação à atriz, o cuidado era redobrado, pois não lhe queriam estragar a fantasia.

Quando a exaltação amainou, formaram-se grupos. O ator e a atriz principais ficaram no centro dos dois grupos constituídos por outros atores e convidados. Alguém gritou:

“Um brinde a Zé Augusto, um brinde a Mércia, um brinde a Spinoza, um brinde à ética!” Todos gritaram com entusiasmo e beberam mais um copo de champanha.

 Depois da algazarra, as pessoas ainda disputaram durante algum tempo a permanência próxima a Zé Augusto e à Mércia. Voltei ao terraço, encontrei Leila durante curto espaço de tempo com quem troquei algumas palavras. A seguir reapareceu Leonardo, que procurou reatar o assunto que conversava comigo antes da chegada do casal de atores.

A tequila voltou a circular, misturada ou pura, vinha servida pelos garçons. Meu recente amigo pegou dois copos e ofereceu-me um sem que eu pedisse. Brindamos novamente os dois e bebemos alguns goles.

Enfim, perguntou qual era o meu ramo de trabalho. Eu não quis falar sobre o que fazia, disse apenas que vendia a jornais alguns artigos sobre cultura.

“Interessante”, respondeu, “mas onde saem seus artigos?”

Já tinha preparada a resposta. Como tinha uma amiga na Folha de São Paulo, chutei que publicava alguma coisa no caderno “Ilustrada”, e que conseguira colocar uma matéria também na Folha, mas na edição dominical. De início senti algum receio, porque, como se tratava de profissional de TV, provavelmente era pessoa que lia todos os jornais. Qual não foi minha surpresa ao ouvir dele:

“Ultimamente não tenho olhos para jornais Temos tanto trabalho na TV, que chego em casa exausto.”

Silenciei. Pude constatar a minha teoria de que a TV jamais levará as pessoas a algum lugar. A conversa com Leonardo mostrou-se improdutiva. Se ao menos ele desejasse conversar sobre assuntos fugazes, seria bem melhor. Mas seu constante esforço para aparentar erudição provocava efeito contrário. Cada vez que começava a falar sobre algum autor, ou mesmo sobre determinada montagem teatral, apenas observações medíocres saíam de sua boca. Quando a pequena banda voltou a tocar, levantei-me e pedi licença. Aleguei que queria estar próxima dos músicos. O homem ficou para trás e se perdeu no meio de seus próprios amigos. Que também não se mostravam muito diferentes dele.

Reparei, no salão principal, um jovem que me olhava. Depois de alguns minutos, ao observar que lhe correspondera o olhar, veio apresentar-se.

“Meu nome é Jaime, como você se chama?”, quis saber. Sua fisionomia demonstrava real interesse.

“Célia, muito prazer.”

Ele tomou-me pelo ombro e me conduziu ao meio do salão. As pessoas dançavam de rosto colado, como se fosse possível dançar um blues. Mas o acompanhei e não deixei de tirar proveito de sua afetividade.

“Vim a essa festa, mas conheço poucas pessoas”, falou bem junto do meu ouvido, temendo que o som da música impedisse-me de ouvi-lo.

“Não me diga que você é um penetra.”

“Penetra? Nem pensar. Além de eles serem muito vigilantes com a entrada de convidados, eu morreria de vergonha caso fosse descoberto.”

Ri de suas palavras. Jaime acompanhou-me na risada.

“Você sabe poemas de Fernando Pessoa?”, perguntou-me de repente.

“Alguns, mas não sou tão boa de memória. Leio Pessoa, mas olhando nos livros."

“Tenho um livro dele aqui comigo”, falou fingindo que tiraria o livro de um dos bolsos. “Assim que sairmos deste salão, vamos até a varanda. Lá a gente toma alguma coisa e lê alguns poemas”, sugeriu.

A música cessou por alguns instantes, tempo suficiente para ele me tomar por um dos braços e arrastar-me para a varanda. Tirou o exemplar do bolso, abriu-o e procurou o primeiro poema:

Os Deuses vendem quando dão.
Compraze a glória com desgraça.
Ai dos infelizes, porque são
Só o que passa!

Depois de enfatizar e parecer se deleitar com a última estrofe, partiu para o poema seguinte:

O mito é o nada que é tudo.
O mesmo sol que abre os céus
É um mito brilhante e mudo.

Tentava dar à voz um tipo de contracanto à música que vinha lá de dentro. Como não queria gritar, criava aquele efeito teatral em que o ator apenas simula a voz num tom mais alto.

Eu nunca guardei rebanhos,
Mas é como se os guardasse.
Minha alma é como um pastor,
Conhece o vento e o sol
E anda pela mão das Estações
A seguir e a olhar.

Aí, mencionou:

Há metafísica bastante em não pensar em nada...

“O poeta da verdadeira metafísica, Alberto Caeiro.”

Eu ouvia-o com interesse. O rapaz declamava bem os poemas. Em algum momento, reparei que outras pessoas também prestavam atenção nele. Quando acabou, houve quem o aplaudisse.

“É o maior poeta da nossa língua”, exclamou Jaime.

“Mais do que Camões?”, arrisquei.

“Camões é de outro tempo, é de um mundo que não mais existe, compará-lo com qualquer outro só traz dificuldades.”

“Então você admite a grandiosidade do poeta seiscentista”, afirmei.

“Admito, é claro, e posso dizer que você faz boas observações.”

“Estou no senso comum”, sorri para ele.

Reparei que me olhava de modo enternecedor, depois falou:

“Você é muito sensível, além disso, é bonita.”

“É o que todos falam.”

“Não acredita?”, fez cara de curioso.

“Acredito. Tanto é verdade que os homens estão sempre a me desejar.”

Riu alto e logo após silenciou, parecia ouvir algo distante.

“Podíamos ir para um lugar mais tranquilo, conversaríamos melhor e mais à vontade”, falou.

“Não agora, tenho uma amiga, acho que seria desfeita caso eu meu retirasse.”

“Não, por favor, não sugiro que deixemos a festa agora, mas que nos encontremos qualquer dia desses para podermos ler Pessoa de modo mais intenso.”

“Ah, sim, compreendo, acho ótimo.”

Passava um garçom com várias taças de tequila, Jaime pegou duas e me ofereceu uma.

“Há um lugar mais silenciosa, outro terraço, vamos até lá”, fez mais uma sugestão.

“Outro terraço?”

“Outro, a casa é cheia de surpresas”, acrescentou.

“Será que outras pessoas já não estão lá?”

“Não creio, é um lugar afastado, entre as árvores que ficam além da piscina.”

Apesar de já saber até onde iam suas intenções, aceitei o convite. Mas ao chegarmos lá, uma surpresa, havia uma garota nua nos braços de um rapaz. Eles fizeram de conta que não nos viram e pareceram não se incomodar com a nossa presença. Jaime olhou além dos muros da casa e mostrou um ponto perdido no mar, fácil de apreciar do local. Depois não demorou a beijar-me. Acabei por aceitar parte de seu carinho. Digo parte porque também começou a me querer tirar a roupa. Segurei suas mãos e dei-lhe um beijo. Fechei os olhos abraçada a ele, sem deixar que avançasse.

“Sabe, há certo exercício que me excita bastante”, falou, mantendo-se agarrado a mim.

“Exercício?”, estava eu a demonstrar interesse.

“É um tipo que ioga que provoca excitação.”

“Como é?”, ainda não o soltara.

“Você precisa deitar e usar a imaginação. Primeiro movimenta energias pelo corpo, depois a concentra nos órgãos sexuais. Caso a pessoa leve essa prática a sério, é capaz de chegar ao orgasmo apenas por meio do pensamento.”

“Jura?”

“Juro. E há quem consiga na primeira vez.”

“Se isso for verdade, todos os problemas estão resolvidos”, arrisquei.

“Você acha? Por quê?”

“Ninguém mais estará sozinho, e já não se precisará de um 'outro'. Em contrapartida, viveremos um constante tipo de morte. Estaremos sempre deitados a gozar com a imaginação.”

“Se você se satisfaz assim, por que, neste caso, precisará na verdade de um 'outro'?”

“Não falo neste caso”, afirmei, “mas em todos os casos. A humanidade entrará em decadência. Será como uma droga que nos contagiará a todos.”

“Não seja tão trágica, trata-se apenas de um exercício sexual. Você não que treinar? Com o jeito que você tem, é capaz de logo conseguir.”

“Você será o meu instrutor?”

“Sim”, respondeu com convicção.

“Só não me peça para tirar a roupa, por favor.”

“Não, não precisa. Basta que você se deite e siga o que vou sussurrar no seu ouvido.”

A partir daí se seguiu um fato engraçadíssimo. A garota nua que estava havia longo tempo a namorar o rapaz ouviu as palavras de Jaime, aproximou-se e perguntou se também poderia participar da experiência. Ele não se surpreendeu, respondeu que sim.

“Conheço um lugar mais reservado onde poderemos ficar sem que ninguém nos incomode”, falou a mulher. “Desculpe pela intromissão e por não me ter apresentado a vocês, me chamo Ana e o nome dele é João.”

“Muito prazer, Célia”, depois Jaime falou seu nome.

“Vamos, então?”, convidou-nos e se pôs a caminho por uma trilha entre as árvores do jardim.

Nos fundo, onde o terreno beirava um muro, deparamo-nos com uma minúscula casa. A porta não estava trancada, e parecia que ela sabia disso. Ana girou a maçaneta e convidou-nos a entrar. Era um quarto rústico. Numa das extremidades, vi a pequena cozinha, um fogão antigo e um botijão de gás. Ao lado, ficava o banheiro. No quarto, apenas uma cama de casal e um armário antigo completavam o ambiente.  Ela mesma tocou no interruptor, uma luz fraca acendeu-se.

“Não se preocupe, este lugar era a moradia de um casal que faz muito tempo partiu para o interior de Minas, eram caseiros aqui”, informou Ana.

Logo em seguida deitou-se na cama e  pediu a Jaime que começasse a experiência.

“Célia, não vai participar também?”

Olhei a mulher nua sobre a cama, olhei para Jaime, fiz um gesto de indefinição.

“Deite ao lado dela.”

O homem que estivera com ela até ali, dirigiu-se a nós e disse: “vou até o salão pegar alguma coisa para beber, volto já”, abriu a porta e desapareceu na escuridão que envolvia o jardim.

O rapaz começou o seu trabalho. De início, fez que relaxássemos até quase não sentirmos mais o corpo. Depois, instigou-nos a movimentar nossas energias internas. Pedia que juntássemos essas energias sobre a cabeça e começássemos a movê-las da cabeça aos pés, cada vez de modo mais rápido. Confesso que tais movimentos, caso feitos com seriedade, deixará alguns rastros no corpo, como sensações diversas. Portanto, ao direcionar toda essa energia a pontos específicos do corpo, foi-me possível sentir de modo mais intenso sua atuação. Ela tornou-se tanto maior, quando dirigida aos órgãos genitais. Daí em diante não consegui avançar, mas Ana começou a ter reações estranhas.

“Agora vocês estão sentindo muita excitação. Em pouco tempo estarão transbordantes de prazer, serão capazes de atingir o orgasmo sem ninguém tocar seus corpos. Ouçam, é como um copo que se vai pouco a pouco enchendo”, continuava Jaime muito sério, “no ponto em que começa a transbordar, é o momento do gozo. Vocês já estão quase lá. Pensem em algo capaz de provocar tesão em vocês. Cada um de nós sabe de algo ou de alguma situação que nos provoca o princípio do prazer, pensem nisso, concentrem-se, então faltará pouco. Agora, o copo já se encontra quase cheio, vocês estão chegando lá, em alguns segundos atingirão o ponto máximo." Nesse momento, Ana começou a gritar desesperada.

“Estou gozando, estou gozando, acho que não preciso mais de homem algum, nunca mais, é o gozo máximo, nunca senti nada igual, estou gozando, gozando, é interminável, por favor, me deixem sozinha, saiam”, ordenava apenas com a voz, sem mexer o corpo, “saiam”.

Levantei-me e corri dali. Não esperei por Jaime. Atravessei o jardim, passei pela piscina e encontrei um garçom com a bandeja cheia de taças de champanha. Peguei uma delas e caminhei até o outro extremo do salão. A banda ainda tocava, mas naquele momento bossa nova. Encontrei Leila, beijava na boca um amigo. Ela sorriu para mim. Caminhei até a varanda, reparei que algumas pessoas já deixavam a festa, eram quatro da manhã.

“Alguém vai para Ipanema?”, perguntou um homem de terno.

“Eu”, gritei de longe. Corri e entrei no automóvel. No banco traseiro havia mais duas mulheres. Uma delas era a atriz que chegara nua. Reconheci-a pela pintura sobre o corpo, mas vestia uma camisa comprida sobre a pele. Sorriu e cumprimentou-me. O motorista deu a partida.

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