sexta-feira, junho 21, 2013

Se houvesse sol - 9

Como Daniel fora garçom em M., tive a ideia de procurar todos os cursos que formavam este tipo de profissional na cidade. Ele poderia estar aperfeiçoando-se para trabalhar num restaurante de luxo. Descobri dois cursos, o do Senac e o da Faetec. A primeira instituição pertencia ao comércio e tinha várias unidades pela cidade. Fui a uma delas e me informei sobre os locais onde o curso funcionava, os horários e a duração. A recepcionista disse-me que o curso já havia começado e naquele período não mais se aceitavam inscrições. Provavelmente pensou que era eu a candidata. Agradeci e deixei o local. Nos dias que se seguiram fui às unidades de ensino e treinamento no horário da entrada. Vi diversos jovens e até mesmo pessoas de meia idade que frequentavam o curso, mas não identifiquei entre eles a face de Daniel. Na semana seguinte fui à Faetec. Procedi da mesma forma, como fizera no Senac, mas minhas tentativas de encontrar o rapaz foram vãs.

Na quinta à noite Marisa telefonou-me. Minha amiga de adolescência conseguira alguns ingressos para um espetáculo teatral. Era uma produção de grandes proporções, sucesso em todo mundo havia vários anos. A montagem brasileira fora muito bem recebida pela crítica, tratava-se de O violonista no telhado. Marcamos encontro com uma hora de antecedência no Shopping próximo ao teatro.

Logo ao chegar avistei minha amiga numa das mesas de um café, ela estava acompanhada de outra mulher.

“Oi, como vai?”, pareceu surpreender-se ao avistar-me, “esta é Jaqueline, estudou comigo e também é assistente social, só que já se aposentou.”

“Muito prazer, Célia”, aproximei-me e trocamos beijos. Era uma mulher jovial, difícil definir sua idade. Caso Marisa não tivesse pronunciado a palavra “aposentada”, diria que estava na casa dos quarenta.

“Como vai? Marisa falou muito de você, inclusive mostrou o seu livro.”

“Marisa acha que minha profissão é a mais charmosa do mundo, não sabe ela o grande aborrecimento que é escrever.”

“Ah, imagino”, sentou no mesmo lugar em que estivera antes da minha chegada. Marisa apontou-me a cadeira ao seu lado.

“Não temos muito tempo, mas podemos conversar melhor depois do espetáculo”, falou enquanto tentava chamar o garçom.

Pedi um café expresso. Minha amiga e Jaqueline tomavam cappuccinos. Não passou muito tempo tivemos de correr para o teatro.

Não se pode dizer que O violonista no telhado foi um bom ou mal espetáculo, tudo depende do que deseja ver quem vai ao teatro. Como se tratava de superprodução, havia todo um aparato técnico que sobressaía mais do que os atores. Quando frequento teatro, procuro geralmente peças menores, onde seja possível observar mais atentamente a representação. A calcular pelo tempo em que perduraram os aplausos após o término da encenação, todos apreciaram muito o espetáculo. Minhas amigas não foram exceção. Talvez a questão mais pungente que a história proporcionou, pelo menos para mim, foi a questão da separação e do exílio. Os pais já estão velhos e todos são obrigados a partir do lugar onde sempre viveram. Mas não vão juntos. A maioria dos filhos já cresceu. Cada um toma um destino diferente. O que acontecerá depois, já sabemos. A história do século 20 com suas duas guerras mundiais, holocausto e mais os conflitos localizados, incluindo aí a guerra fria. Ainda todos à flor da pele.

Ao sair do teatro, procuramos um restaurante no Leblon. Caso sério essa procura, porque todos, principalmente depois das onze da noite, estão sempre lotados. Mais difícil é encontrar um bom restaurante que, ao mesmo tempo, seja convidativo ao bate-papo. O Rio de Janeiro é muito barulhento.

Apesar disso, encontramos. Era um restaurante fechado, com porta de madeira e pegadores dourados. O maître veio-nos dar boas vindas. Estávamos na avenida Ataulfo de Paiva.

Jaqueline, a amiga de Marisa, logo se aproximou de mim. Muito simpática, tomou iniciativa da conversa. E, para o nosso bem, não falou de trabalho. Às vezes há quem pensa que os escritores gostam de falar de livros o tempo todo. A mulher jovial logo entendeu que comigo não era assim. Pôs-se a conversar sobre os homens, o que despertavam nela e como preferia namorá-los. A conversa tornou-se, a partir daí, muito interessante. Marisa ouvia, mas não partilhava das opiniões. De repente, falou:

“Sou casada com o mesmo homem faz trinta e três anos, não posso participar desta conversa.”

Jaqueline rebateu: “nada a ver, você pode ser casada com o mesmo homem e namorá-lo com ele como se ele fosse todos os homens do mundo.”

“Como?” Assustou-se a minha amiga, “não entendi.”

O garçom trouxe as bebidas, vinho e uma caipivodca de lima da pérsia. Fizemos o brinde, mas o assunto não esmoreceu.

“Vamos lá, Jake, quero que você me conte como posso namorar todos os homens do mundo e o meu marido ao mesmo tempo. Isso tudo sem o trair?”, Marisa insistia.

Depois de repousar o copo e alinhar o guardanapo de pano, Jaqueline voltou o rosto para a amiga e falou:

“Em primeiro lugar, as pessoas mudam. Você já pensou nisso?” Sem esperar resposta, continuou: “você e seu marido não são as mesmas pessoas de trinta anos atrás, não são as mesmas nem de cinco anos para cá. Portanto, é como se você estivesse experimentado vários homens e ele várias mulheres. Mas ainda há mais outra coisa”, interrompeu para levar a taça de vinho aos lábios, depois passou um pouco da pasta de atum do couvert numa torrada, comeu delicadamente, pousou a faca com a ponta no prato e continuou: “escute só, para isso dar certo vai depender de vocês dois. Nós acabamos de sair do teatro, não? Então, falo de representação. Pode-se representar estando a dois, não? Você e seu marido podem assumir cada dia, ou cada semana, um papel diferente. Façam de conta que são outra pessoa, finjam que se conheceram naquele momento e estão se entregando a um feérico sexo casual. Tenho uma amiga que passou agir assim, conseguiu convencer o marido sobre essa necessidade, o casamento a partir de então melhorou muito, eles até estudam o papel que vão representar. Ela diz que sente o maior tesão. Assim, conhece muitos outros homens além do marido, e ele conhece outras mulheres."

“Você é muito didática”, intrometi-me. Jake caiu na gargalhada.

“Eu, didática? Sou a mulher mais confusa que existe.”

“Teoricamente sua explicação é perfeita, mas para isso acontecer, vai depender...”, falou Marisa.

“Vai depender de você.”

“Jake, você já foi casada alguma vez?”, perguntou-lhe a amiga como se não conhecesse sua vida particular.

“Marisa, você sabe que nunca me casei.”

“Então, falar é fácil, queria ver se você fosse casada, será que iria conseguir colocar em prática essa teoria?”

“Marisa, você consegue, sim, tenho amigas que conseguem e são muito felizes ao lado do marido.”

“Eu sou feliz também, mesmo com o homem de há trinta e três anos”, assegurou.

“Então, por que mesmo estamos conversando sobre isso?”, perguntou a explanadora do assunto.

Foi a vez de nós três juntas cairmos na gargalhada. Houve gente que, de outras mesas, olhou em nossa direção.

O jantar transcorreu num clima de bastante animação. Deixamos o restaurante depois de uma da madrugada.


Jaqueline não demorou a me telefonar. Era uma quarta-feira, queria marcar um encontro comigo, pedia que a esperasse na mesma tarde do telefonema, perguntou seu eu tinha algum compromisso e se tinha hora para voltar para casa.

“Compromissos sempre tenho, mas posso abrir mão, depende da situação.”

“Acho que você vai adorar, posso contar quando chegar?”

Marcamos às cinco da tarde no Armazém do, na Visconde de Pirajá.

Ela chegou primeiro. Algumas pessoas tomavam café, outras conversavam, na parte mais interna da cafeteria um senhor lia o jornal.

“Oi, Célia, que bom ver você!”, exclamou e me beijou.

“Quais as novidades?”

“Tudo bem. Sabe por que quis encontrar você hoje? Um amigo vai lançar um livro. Vai ser numa livraria aqui perto. Não marquei com você diretamente lá porque queria perguntar primeiro se você aceita ir. Como você é uma pessoa conhecida, pode ser que não  queira participar, não é mesmo?”

“Vou, sim, conheço a livraria que você está falando, lá acontecem lançamentos de livros quase sempre. Num dia desses eu estava lá e até comprei o lançamento; Mas era um livro sobre políticas ambientais, acredita?”

“Pois é, Célia, esse de hoje é uma tese de doutorado que meu amigo defendeu com muito sucesso, ele conseguiu publicá-la em livro.”

A garçonete trouxe os nossos cafés, Jake pedira também um brioche.

“Qual o assunto do livro de seu amigo?”

“Ele estudou antropologia, mas acho que fala de história e até de literatura.”

“Deve ser bom, então.”

“É uma pessoa muito elogiada, escreve para o jornal O Globo como colaborador.”

Tomei o café e fiquei olhando a rua através do vidro da cafeteria. Era um tipo de bistrô. Via as pessoas apressadas que caminhavam na calçada, reparei um jovem e achei que fosse Daniel, mas ao olhar com mais cuidado pude certificar-me de que não era ele. Engraçado, pensei, não falei a pessoa alguma sobre o meu ex-namoradinho desde que cheguei à cidade. Enquanto isso, Jake contava-me alguma coisa. Eu fazia de conta que a escutava, mas meu pensamento fixou-se no jovem que me escapara sem deixar vestígios.

Sempre achei que Daniel nada poderia me proporcionar, mas eu sabia a origem daquela fixação. Era um modo de a vida ter mais emoção, de ter sentido. Sabia que quando ele aparecesse logo se tornaria uma pessoa comum. O ser humano tem esse dom de criar falsas expectativas. Elas é que dão combustível para se continuar vivendo.

“Vamos, então?”, perguntou Jake tirando-me do mundo da fantasia. Ainda bem que não desconfiou dos meus devaneios. Pagamos a conta e nos pusemos a andar pela Visconde de Pirajá, que aquela hora já apresentava um bonito anoitecer.

A livraria da Travessa tornou-se ponto de encontro entre muitos intelectuais da zona sul carioca. Embora a cidade já não viva o tempo mítico em que escritores frequentavam livrarias, a Travessa de Ipanema ainda é capaz de atrair alguns, mesmo que apenas para apreciar as bancadas iniciais, onde se expõem, sobretudo, livros de literatura. Logo ao entrar, encontrei R. C., conhecido autor de biografias e de livros sobre movimentos culturais que se desenvolveram durante o século 20. Ele reconheceu-me. Veio abraçar-me e beijar, falou sobre mim à pessoa que estava com ele, uma mulher bem mais jovem. Ela também ofereceu o rosto. Com seu ar bonachão, ele apontou-me como autora brilhante, que era mais conhecida no exterior do que no Brasil, uma grande injustiça que faziam comigo, porque nosso país não tinha o dom de conhecer os verdadeiros valores da casa.

“Será lisonja, ou você troça sobre mim?”

“Margarida, sua maneira de falar infla-me o espírito, não haveria de troçar você.”

Ambos rimos alto, um livreiro amigo dele se aproximou. R. C. começou um breve mas impetuoso discurso sobre as letras nacionais, revelando-o ao homem, que pareceu mais interessado em mim do que na minha obra. Esta o escritor enumerava pormenorizadamente, demonstrando estar a par de todos os meus livros e artigos.

“Margarida, eu recebo a New Yorker, não perco um texto seu.”

Ele entendeu que minha amiga Jake chamava-me. Fiz menção que tinha de ir ao fundo da loja, mas, antes, ainda falou:

“Antes de você ir embora, quero deixar um convite.”

“Ok, volto para conversarmos mais.”

Jake levou-me até seu amigo, que autografava os livros sobre uma mesa comprida. Ele sorriu muito ao vê-la. Apesar da grande quantidade de gente que circulava no local, pude ouvi-lo:

“Obrigado por ter vindo”, levantou-se e a beijou.

Jake olhou para onde eu estava. “Quero apresentar uma amiga”, falou.

Fui até ela e o amigo beijou-me também. Jake nada falou sobre mim, acho que por delicadeza não quis fazer nenhum tipo de alarde sobre minha pessoa.

Os garçons passavam com pequenos canapés, vinho e espumante. Um deles parou à minha frente. Peguei uma taça de vinho branco e agradeci. Outro, logo atrás, ofereceu-me um dos vários tipos de salgados. Segurei um guardanapo e, com certa dificuldade, usei a mão livre para tirar um da bandeja.

Ficamos na livraria por pelo menos uma hora, acabamos conversando com várias pessoas. Duas ou três reconheceram-me e vieram ficar junto a mim. Havia um repórter da Folha de São Paulo, ele aproximou-se e pediu que lhe concedesse uma entrevista. Reparei que duas ou três pessoas tentavam de modo discreto ouvir o que eu falava. Mas recusei de modo delicado, disse que a personalidade ali não era eu, mas sim o autor que lançava o livro. Perguntou minha opinião sobre o livro.

“Por favor, vamos conversar num outro dia”, o repórter ouviu e levou, satisfeito, o número do meu telefone.

“Célia, quero dizer uma coisa”, era Jake que me levava para um dos cantos perto do setor onde ficavam os livros de filosofia, “há dois amigos meus aqui, estão nos convidando para jantar, você aceita?”

Tentei declinar, mas minha amiga parecia tão feliz com minha companhia, que acabei dizendo: “vou, mas me deixa sair sozinha, muita gente aqui já me reconheceu.”

No lado de fora, ela desculpou-se: “Célia, não sabia que tantas pessoas iriam incomodar você, desculpe o transtorno, fui eu a responsável.”

“Nada de desculpas, Jake. Vim porque quis.”

“Célia, em relação a esse meu amigo”, falava enquanto ele fora buscar o automóvel, “nada sabe sobre você nem é intelectual.”

“Ótimo, então podemos falar bastantes besteiras, ninguém há de nada nos cobrar”, afirmei e apertei-lhe mais intensamente o braço.

O homem que parecia ser o mais velho chamava-se Ariel, o outro Marlon. Confesso que não me passou pela cabeça homens com mentalidade tão superficial como desses dois. Começaram mal. Não tiveram a delicadeza de perguntara onde queríamos jantar. Parece que já estava tudo acertado. Ariel dirigiu até o Jardim Botânico e parou num restaurante da rua Pacheco Leão. Descemos enquanto ele estacionava. Os dois sentaram de frente a nós duas, não esperaram que escolhêssemos bebidas nem comida, fizeram seus pedidos. Acabamos aceitando o que sugeriram. Tomaram chope; Jaqueline quis caipivodca; só para contrariar, pedi uma minigarrafa de espumante francês. Quando o garçom explodiu a rolha, eles fizeram tamanha algazarra. No começo gostei da brincadeira, mas depois comecei a perceber que nos convidaram não porque Jake era amiga deles, mas porque tinham outras intenções. Neste dia também fiquei decepcionada com minha recente amiga. Ela deixou-se levar pelas manobras dos rapazes e não se portou com a mesma presença de espírito que demonstrara momentos antes e também na noite em que saíramos com Marisa, após o espetáculo teatral.

“Você conhece a cidade?”, perguntou Ariel enquanto Jake perdia-se numa conversa com Marlon.

“Sim, nasci e morei aqui durante muito tempo.”

“Pensei que você fosse do interior.”

“Não, morei em M. Mas de um tempo para cá voltei ao Rio."

“Está gostando da cidade?”

“Sempre gostei, nunca deixei de visitá-la ao menos uma vez em cada dois meses.”

“Visitá-la?”, surpreendeu-se.

“A cidade”, esclareci.

“Hum, sabia que já namorei uma mulher do interior”, falou.

“Interior?”, queria sabe qual o sentido da palavra para ele.

“De Cordeiro, já ouviu falar?”

“Na mulher?”, falei de propósito, já que ele contava seus sucessos.

“Não, na cidade.”

“Cordeiro? Ah, sim, mas nunca estive lá.”

“Eu estive, e por dois meses, trabalhei numa época com instalações de antenas parabólicas, tive de ficar na cidade a serviço da empresa.”

“E o que tem lá?”

“Em Cordeiro? Absolutamente, nada. Ou melhor, arranjei a tal namorada, serviu para que eu me distraísse.”

“Você arranjou mulher par se distrair?”, alfinetei.

“Bem, não falo isso com a intenção de diminuir as mulheres, mas no interior é realmente duro de se viver.”

“Você fala em interior, mas isso não existe.”

“Não existe interior?”, piscou os olhos e franziu a testa em sinal de que não acreditava no que eu dissera. “Marlon, ela diz que não existe interior hoje em dia”, riu quando acabou de falar. O amigo não lhe deu importância, estava melhor na conversa com Jakie. “Não existe interior”, riu mais uma vez. “Você poderia explicar essa questão?”, perguntou-me.

“Não há questão alguma. Hoje é possível chegar a esses lugres rapidamente. Além disso há meios de comunicação que nos permitem estar com as pessoas que residem nessas cidades quase que diariamente. Muitos desses lugares, que você chama de interior,” ressaltei, “são desenvolvidos, até mais do que aqui na capital.”

“Vou contar para você o que é interior, ouça”, insistia ele. “Fui fazer uma excursão com essa namorada que arranjei por lá e me perdi, tivemos de passar a noite numa montanha, pensei que não mais voltaria. Mais uma coisa, se você não se assustar com o que vou falar. Ela estava nua.”

“Nua, como assim?”

Ariel notou que eu me surpreendi e continuou. “Nua, pelada. Saímos para subir uma montanha, nem era muito longe, nossa intenção na verdade era namorar. A moça me levou para dentro de um mato e depois não conseguia encontrar o caminho de volta.”

“Mas você não acabou de falar que ela estava nua?”

“Em um determinado lugar, começamos a namorar, tirei toda a sua roupa. Então ela inventou de nos embrenharmos na mata ainda mais. Aí aconteceu. Nos perdemos. Eu, preocupado como voltaríamos, e ela querendo encontrar suas roupas.”

“Você não acha que ela tinha razão de querer encontrar suas roupas?”, interrompi.

“O problema é que começou a ficar de noite e não conseguíamos nenhuma das duas coisas.”

Tive de rir da história. Mas para a decepção dele não perguntei o desfecho. Marlon deixou por instantes a conversa com Jakie e perguntou se eu gostava de jogar boliche. Respondi que nunca tivera a experiência. Convidou a nós duas para jogar, havia um clube em São Conrado.

Tive de rir da proposta. “São Conrado? Você está parecendo personagem de Nelson Rodrigues?”

“Nelson Rodrigues?”, acho que não conhecia o autor.

“Um jornalista que resolveu escrever textos para teatro com a intenção de ganhar dinheiro”, respondi sarcástica. Mas ele não entendeu. Jaqueline percebeu a brincadeira.

No final, Ariel insistiu para que eu saísse com ele, queria namorar-me de qualquer maneira. E naquela mesma noite.

Jaqueline, muito sem graça, pediu-me mil desculpas quando fomos juntas ao toalete.

“Célia, deve ser porque ele já bebeu demais. Ariel não é assim, pode acreditar.”

“Acredito, Jake. Mas peça desculpas a eles. Vou embora daqui.” Deixei duas notas de cinquenta com ela. Não queria que pagassem a minha parte.

“Mas Célia, vai ser uma grande desfeita.”

“Desfeita? Você não imagina o que ele me propôs.”

“Não somos crianças, os homens são assim, eles sempre querem comer as mulheres”, falou com naturalidade.

“Já saí com vários tipos de homem, Jake. Não é porque sou escritora, uma intelectual, é porque uma proposta colocada desse modo é um desaforo. Também gosto de trepar, mas o cara tem de ter um pouco de sutileza. Você me convidou para o lançamento de um livro. Fui , gostei, encontrei alguns amigos na livraria. Mas esses caras passam do limite.”

Despedi-me e parti. Os dois não chegaram a perceber quando deixei o restaurante.

No sábado recebi um telefonema de Leila, a atriz que conhecera na praia. Convidou-me, como me falara na ocasião, para uma festa. Em relação a ela posso dizer que não me surpreenderia, já conhecia o terreno onde iria pisar, e ela foi sincera:

“Você sabe como são as festas no nosso meio, não? Quando muitos artistas se juntam, se não é espetáculo é uma zona.”

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