quinta-feira, junho 13, 2013

Se houvesse sol - 5


No dia seguinte não fui à praia, acordei em torno do meio-dia e fiquei na cama por mais uma hora. Depois que me levantei, ainda permaneci em casa até as três horas. Quando saí, foi com a intenção de ir ao centro da cidade.

Ao chegar à rua Direita, parei numa cafeteria. Ainda bem que M. passou a ter uma dessas cafeterias que são comuns na zona sul do Rio de Janeiro. Pedi um café expresso. Apenas dez minutos depois chamei a garçonete para me trazer um salgado. Era a primeira coisa que eu comia após ter acordado. Olhei para a rua e vi o movimento no calçadão. Tentei imaginar aonde ia toda aquela gente. Havia pessoas de todos os tipos. Quais seriam suas profissões? O que faziam àquela hora andando pelo Centro? A passagem de dois jovens que conversavam animadamente me fez lembrar meu namorado. Onde andaria ele naquele momento? Não consegui situá-lo em lugar algum. Os dois que passaram riam, trajavam roupas esportivas e seguiam na direção norte. Logo depois, duas moças despertaram minha atenção. Vinham vagarosas, carregavam bolsas de uma loja famosa que fora inaugurada havia pouco, ali mesmo nas proximidades, a mesma loja também existia no único shopping da cidade. Uma das moças era minha conhecida. Conversei pela primeira vez com ela numa festa. Mal a conheci, ela me falou:

“Você me faz um favor?”

“Se eu puder...” 

“Conheci um rapaz ainda há pouco e vou sair com ele. Preciso de alguém que fique de sobreaviso. Minhas amigas também se arranjaram. Não há ninguém a quem eu possa pedir esse favor. Caso aconteça algum problema, não tenho a quem recorrer. Posso ficar com o número do seu telefone?”

“Claro”, dei a ela o meu número.

A moça agradeceu e ainda completou:

“Quando a gente tem alguém à mão, é sempre melhor.”

Ela ligou dois dias depois para me contar que tudo correra bem. Saíra com o garoto, mas não tinha acontecido nada além do namoro corriqueiro à beira da praia, já que ele não a convidara para um hotel nem ela poderia levá-lo para casa.

“Que besteira, a gente sai com esses rapazes para ficar se agarrando na areia.”

“Você não gosta de namorar na praia?”, perguntei.

“Depende, na maioria das vezes, não.”

“Eu gosto”, falei, “já namorei tantos homens na praia, tanto durante o dia quanto à noite.”

“Você não tem medo?”

“Antes temia ir para cama com alguém que conhecera no mesmo dia. Mas com o passar do tempo, fui tomando confiança e passei a não mais sentir medo. Já aconteceu alguma coisa a você?” perguntei.

“A mim, não, mas já tive uma amiga que se viu em apuros. Quase morreu.”

“Nesse caso”, continuei, “acho que mesmo deixando alguém de sobreaviso é difícil evitar que aconteça o pior.”

Encerramos logo depois a conversa. Num outro dia ela me telefonou, encontramo-nos na praia e continuamos a falar sobre homens e namorados.

Ela passou com a amiga, mas não me viu. Permaneci na cafeteria por mais algum tempo.

Ao deixar o local, fui avistada pelo James. Este não foi meu namorado, mas tivemos um caso, o suficiente para deixá-lo louco por mim.

“Oi, meu amor, quanto tempo, como vai essa beleza toda?”, falou.

“Vou bem, mas beleza toda é impressão sua.”

Beijou-me, deixou o rosto encostado ao meu durante alguns segundos.

“Que pena, não saímos mais. A última vez foi uma maravilha”, insistia ele.

“Já faz tanto tempo...”

“Mas não esqueci. Como vou esquecer uma gostosura como você?

Sorri educada.

“Vamos tomar um café?”, convidou-me.

“Acabei de sair da cafeteria”, apontei para o local com um leve movimento da cabeça.

“Que pena! Vamos fazer outra coisa?”

“Estou cansada. Dormi pouco na última noite, preciso voltar para casa.”

“Quer então uma carona?”

“Não, obrigada, meu carro está estacionado aqui na rua de trás.”

“Vamos marcar alguma coisa para um dias desses.”

“Vamos”, concordei, “você me telefona.”

“Você jura que não vai dar desculpa educada e...”

“Dessa vez, juro.”

“Olha lá, hein?”

“Não gosto de jurar. Mas quando juro, não minto. As pessoas me conhecem.”

“Fico muito feliz, vou telefonar.”

Beijou-me. Antes de ir, sussurrou no meu ouvido.

“Você ainda usa aquele biquíni?”

“Agora, tenho um menor.”

“Menor? Então, e aquela surpresa...”

Para terminar a conversa, insisti.

“Telefone, você vai ter direito a tudo. Estou precisando de outra noite como aquela”, assegurei-lhe.

“Deixa eu te dar mais um beijo.”

Aproximou o rosto mais uma vez, beijou-me e se foi. Mas sua fisionomia aparentava uma ponta de dúvida.

A história sobre o biquíni foi a seguinte.

Quando ele me conheceu, eu vestia um biquíni mínimo. Fora feito exclusivamente para o meu corpo, não sobrava nem faltava nenhum tantinho de pano. O homem me paquerou durante muito tempo, aproximou-se e iniciou uma conversa sem sentido. Depois de uma semana, na segunda vez em que saímos à noite, pediu que eu levasse o biquíni.

“Pensei que você estivesse me convidando para jantar, mas para vestir biquíni à noite...”

“É para jantar mesmo, e no Ilha Linda Sul, o restaurante mais cobiçado da orla. Mas depois você veste o biquíni.”

“Vamos à praia, à noite?”

“Não, mas quero você de biquíni só pra mim.”

“Quer saber de uma coisa? Tenho um biquíni ainda menor.”

Ele me olhou de soslaio, admirou meu corpo e disse:

“Menor?”

“Menor. Quer que eu o leve ou que eu venha com ele à praia amanhã?”

“Então o leve.”

“Pensei que você me quisesse nua, não de biquíni.”

“Quero nua, sim, mas primeiro de biquíni.”

“Ok.”

Encontramo-nos. Meu biquíni estava na bolsa. Jantamos no restaurante combinado. Comemos e bebemos bem. Uma garrafa de vinho ótima, no final um licor maravilhoso. Ficamos prontos para o amor. Quando entramos no carro, antes que ligasse o motor, pedi para que fechasse os olhos durante um minuto. Quando disse que os podia abrir, deparou-se com uma mulher vestida de biquíni a seu lado. Beijou-me intensamente. Ficamos namorando durante algum tempo. Depois, abri a porta do carro e corri para a praia. Disse:

“Venha me pegar!”

“Você é maluca”, gritou.

Do jeito que estava saiu correndo atrás de mim Fui até à beira d’água e o fiz molhar os sapatos para me abraçar. Ele me abraçou, me beijou, passeamos um pouco agarrados um ao outro.

“Você não tem medo que alguém a veja assim?”

“Estou de biquíni, e estamos na praia.”

“Virou-se e me beijou mais uma vez.”

No meio do beijo, senti que me despia da parte debaixo. Nada falei.

“E agora? Deixei você nuinha.”

“Nada disso, falta o sutiã”, mostrei os seios.

Deixei que o tirasse. Ainda o instiguei.

“Vá embora, me deixe aqui, nua.”

“Mas não vamos namorar num hotel?”

“Vamos, mas primeiro faça isso, vá embora.”

“Você promete que não vai escapar?”

“Como vou escapar nua?”

“Você é capaz de qualquer coisa.”

“Não vou escapar. Vá até o carro, guarde minhas roupas lá e depois volte para me buscar.”

“E se aparecer alguém?”

“Lembre-se, quem está nua sou eu!”

“Se é assim que você deseja...”

Foi até o carro, guardou meu biquíni e voltou correndo. Agarrou-me.

“Vamos, assim você me mata”, sussurrou depois de me beijar mais uma vez.

Foi uma noite maravilhosa, mas as circunstâncias nos impediram de novos encontros. Acho que arranjei outro namorado. James ainda me telefonou várias vezes. Acabei por lhe dizer que não poderia mais sair com ele. A esperança, no entanto, nunca o abandonou.

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