quarta-feira, dezembro 26, 2012

Faz parte do show

Estou sentada, de pernas cruzadas, esperando a minha vez, porém nua. Isso mesmo, sem roupa alguma. Cheguei ao apartamento faz vinte minutos. O homem atendeu e perguntou: “candidata?”. “Sim”, sorri, tenho de ser simpática. “Entre, por favor.” Segui aquele que parecia ser uma espécie de assistente. Trouxe-me até esta sala, vazia por sinal. “Tire toda a roupa, pendure-a no cabideiro e sente-se ali”, apontou a cadeira, único objeto existente no cômodo além do cabideiro. “É para tirar a roupa toda, entendeu?”, completou. “Sim”; monossilábica, respondi.

Enquanto espero, lembro-me de um namoradinho, já faz uns sete anos, nunca mais o vi. Na época, levou-me para uma casa de praia e insistiu para me fotografar nua. Sentei numa cadeira muito parecida com esta, só que de ferro, dessas que se alugam com mesas para festas; cruzei as pernas para um lado, para o outro, depois fiquei de pé, de frente, de lado, de costas com o pescoço virado e o rosto olhando para a câmera. Numa das fotos ele me pegou de surpresa, quis me fotografar antes de eu estar preparada. Rápida, tentei dar as costas e tapar os seios com a precariedade das minhas pequenas mãos, um gesto instintivo e inútil. Ele clicou. Até que a foto ficou engraçada. A mais bonita, porém, é aquela em que estou sentadinha como agora, as pernas cruzadas, os seios cobertos parcialmente por um dos braços.

Aqui neste estúdio, penso: para onde me irão levar? Tenho tanto receio de ficar longe de minhas roupas. Mas tenho de representar. Qualquer ponta de temor seria considerada uma fraqueza. Será que me vão mandar nua para casa? Acho que não chegam a esse ponto. Talvez eu até possa processá-los caso isso aconteça. Mas já não conseguiria ser candidata em lugar nenhum. Para quem se aventura nesse ramo, não é possível a mínima hesitação. Luzia disse que a levaram nua para passear de automóvel. Eles nos conduzem de um lado a outro, falam com diversas pessoas da produção, pedem que esperemos, até esquecem que estamos sem roupa na frente de tanta gente. Essas pessoas também parecem não nos reparar, tratam tudo como a coisa mais normal no mundo.

Tenho uma amiga chamada Isa. Na verdade ela já é uma senhora, quase trinta anos mais velha do que eu, e gorda que só. Às vezes vou com ela à praia. Usa um biquíni mínimo, apesar do peso. Quando estamos dentro d’água, cobertas até o pescoço, ela pede: “Sandra, leva o meu biquíni aonde estão as nossas coisas e guarda ele bem escondidinho?” Ela, então, me passa o top e a calcinha. “Isa, se te descobrem nua, você vai passar a maior vergonha”, não deixo de mostrar a minha preocupação. “Não descobrem, não, ninguém olha pra uma mulher gorda.” E fica um tempo enorme tomando banho de mar. Certa vez permaneceu dentro d’água a tarde inteira. Ninguém notou sua nudez. “Sinto um prazer enorme nisso”, segreda-me. “Qualquer hora vou fazer como você”, afirmo. “Aí vai dar problema”, ela diz, “você é muito bonita, todos os homens estão te olhando, é bom ficar nua ao teu lado porque os homens só têm olhos pra você, eu fico invisível.” Rimos as duas.

“Psiu, psiu, Sandra”, chamam-me lá de fora. Levanto e vou até a janela. Vejo num apartamento do bloco em frente um grupo de mulheres: “Vem aqui, vem aqui”, gritam. Fico sem entender. “É com você mesma”, continuam, “venha até aqui.” “Não posso, estou esperando o assistente”, retruco. “Vem, vem”, continuam, “faz parte do show.”

Ouço sons dentro do cômodo onde estou. É o assistente que volta. Olha para mim e diz: “faz parte do show”, vira as costas e sai. As moças continuam a me chamar. “Vem, vem.” “Como faço pra ir até aí?” “Saia do apartamento, vá ao corredor, tome o elevador e desça ao térreo, atravesse o jardim e entre no outro bloco, sexto andar, 601”, grita a mais espevitada. “Estou nua!”, mas elas sabem, a mesma voz fala de lá: “faz parte do show.”

Respiro fundo, deixo o apartamento e aperto o botão para chamar o elevador. De repente o mesmo assistente aparece ao meu lado. “Me dê o iphone, você já postou muita coisa hoje." “Um segundinho”, dou as costas, imagino ele olhando a minha bunda. Lá vou eu, nua porta afora, depois conto o final... Feliz 2013 p/todos vocês!

quinta-feira, dezembro 20, 2012

Nua por uma noite

Uma mulher para andar nua por aí precisa ser muito bonita; na verdade, deve ter o corpo perfeito. Sempre acreditei que tenho essa qualidade, por isso insisto em sair algumas vezes sem roupa alguma; em outras, seminua. Também gosto que me fotografem. Já tive dois ou três namorados que me clicaram como vim ao mundo. As fotos ficaram lindas. Um problema, porém: nunca recolhi as tais fotos, sempre as deixei com eles. Mas não tive problemas por causa disso. Eles foram suficientemente honestos. Ficaram com as fotos para lembrar de mim quando não mais me tinham por perto. Tenho lido ou escutado muitas histórias de fotos tiradas por namorados, que foram parar na internet. Há homens que fazem chantagem com as mulheres. Ou elas cumprem o que eles exigem, ou eles as colocam nuas na rede. Comigo isso nunca aconteceu. Meus namorados jamais me procuraram para me chantagear. E nunca encontrei em sítio algum uma foto em que estivesse nua. Confesso que às vezes sinto um arrepio. Pode ser que alguém tenha postado uma delas. De repente a pergunta: “essa, por acaso, não é você?” O que direi caso isso aconteça? Tentarei disfarçar ou afirmarei que não se trata de foto minha, mas de alguém muito semelhante? Posso dizer que é uma montagem. Com a tecnologia atual é possível despir as mulheres sem que elas concordem. Quando penso nas poses que fiz para os namorados, sinto ligeiro frisson. Na verdade vou contar um segredinho: às vezes sinto vontade de que eles tornem pública a minha nudez. Quero que as pessoas me admirem. Como disse no começo, para posar nua é preciso ser perfeita. Já que estou incluída nesse item... Lembro a brincadeira que vez ou outra faço para excitar alguns desses homens com quem namoro. Saio de casa em pelo e peço que o namorado tranque a porta. Espero um ou dois minutos do lado de fora, depois bato para que ele venha abrir. O tempo que permaneço nua correndo o risco de ser descoberta, ou mesmo correndo o risco de um deles não abrir, me deixa a mil por hora. Aparecer, portanto, nua num sítio, na internet, seria até excitante. Quem sabe, passar não todo o tempo mas uma noite nua na rede não será mais excitante do que estar a bater nua por apenas um minutinho na porta do namorado?

sábado, dezembro 15, 2012

Arrepiada

No Arpoador, como a calçada é alta, o passeio forma um paredão em relação ao nível da areia da praia. Assim, à noite, aquele pedaço de areia torna-se um espaço quase privilegiado para casais que desejam namorar sem serem observados. Hoje, quase ninguém mais namora às escondidas, mas sempre há pessoas que gostam do risco, homens e mulheres que sentem imenso prazer em descer à praia de madrugada e ficar ali se agarrando. Revelei esse desejo ao meu namorado. Ele, no começo, achou perigoso. Porém, após eu insistir, acabou cedendo. E ficou morrendo de tesão quando eu, nua, o abracei, nas areias da praia.

“Você não tem medo de que apareça alguém?”, parecia nervoso.

“Não penso nisso, só quero o prazer.”

“Mas podemos ser presos. Já pensou, você nua na delegacia? Vai ser o maior escândalo.”

“Esquece isso, por favor. Agora, trepa comigo”, pedi.

Começamos a namorar. Ele pouco a pouco foi esquecendo o perigo, encostou-me no paredão, levantou-me e encaixou seu pênis entre as minhas coxas. O friozinho da noite contrabalançava ao ardor que eu emanava pelos poros. Fechei os olhos e também esqueci onde estava. Pedi em seguida que ele se deitasse e fui sobre ele, seu pênis sempre ereto.

Ouvíamos a explosão da arrebentação e o rugir do mar, que ia e vinha em espumas que deslizavam sobre a areia. Também era possível escutar o ruído dos automóveis que desciam a avenida.

Permanecemos enroscados um ao outro por quase uma hora. Depois que gozei, deitei-me sobre ele. Meu namorado forrara a areia com a própria camisa.

Embalamo-nos num sono leve e confortável. Quando demos pela hora, o céu parecia anunciar a manhã. Meu namorado antecipou-se:

“Vamos embora, já vai ficar claro.”

“Espera ainda um pouquinho”, pedi.

Abracei com força seu tórax e rolamos pela areia, quis que ele ficasse sobre mim.

“Já está tarde”, falou.

“Não te preocupa, só mais um pouquinho”, pedi.

Transamos mais uma vez. Quando acabamos, já era dia.

Então, anunciei:

“Vais ter de me levar pelada para casa.”

“Por quê?”

“Não reparaste que cheguei nua?”

“Lembro que, no carro, você estava vestida; mas quando chegamos aqui embaixo, não sei como você fez para aparecer nua.”

“Combinei com uma amiga, bobo. Pedi que ela levasse minhas roupas. Falei a ela: tenho um namoradinho novo, ele tem cara de que é capaz de resolver qualquer problema.”

Beijei sua boca. Ele me abraçou.

“Por que você não deixou suas roupas por perto?”, ele.

“Porque gozo em dobro correndo riscos.”

“Você é terrível, Mara. Vou ver o que posso fazer.”

Ainda sussurrei:

“Olha como estou arrepiadinha!”

quarta-feira, dezembro 12, 2012

O canto da sala de estar

Ele levanta-me num dos cantos da sala; eu, encostada à parede, meu corpo sustentado apenas pelo seu baixo ventre e por suas coxas ligeiramente inclinadas. Flutuo como uma borboleta. O que me torna humana é o seu pênis dentro de mim. Demora o homem. Quer-me em contínuo estado de êxtase, apraz-lhe constatar minha vivência de total prazer. Meu momento de explosão não custa a anunciar-se. Ele espera pelo seu com segurança quase cirúrgica, sabe que tem tempo.

Hoje ao olhar o mesmo canto da sala, tenho saudades do namorado. Já vieram outros, mas não me apanham com o mesmo jeito. Deitam-me na cama e sobem sobre o meu corpo, a trepada convencional; às vezes gozam primeiro, deixam-me a desejar o namoradinho que aparava cuidadoso o meu voo arrojado.

Já pensei sugerir a mesma posição, mas estaria comportando-me com extrema vulgaridade. Posso apenas fazer semblantes. Quando pensam que estou a gozar devido a seus másculos manejos enganam-se, mais viva é a imaginação que trago do amante equilibrista.

Às vezes acho que fui louca quando terminei o relacionamento. Sabia que jamais encontraria homem semelhante. Ele mostrou-se triste ao partir. Mas nada falou. Nem era preciso. Sabia que, a mim, seria impossível esquecê-lo.

As extravagâncias que pratico hoje são frutos daquele tempo. Uma vez que já não me é possível alguém com tamanha habilidade, restam-me atitudes que me aceleram a pulsação, que me multipliquem os arrepios. Logo, atravessar a cidade à noite ao volante, apenas os vidros do carro e carroceria a esconderem minha nudez, é uma dessas invenções. O risco de ser surpreendida é o meu cantinho de parede.

Há outros tipos de invenções. Um dia desses ouvi de uma amiga que certa vez agarrara um homem pelas costas. Estavam na praia, dentro d’água. Ele a princípio assustou-se. Mas ela, hábil, tapou-lhe os lábios com um longo beijo. Como tudo acaba, o beijo também acabou. A amiga, no entanto, permaneceu grudada a ele e, num gesto ligeiro, pediu-lhe que nada falasse, queria apenas sentir seu corpo. A seguir, ela mesma tirou-lhe o pênis fora da sunga e o encaixou dentro do biquíni. Foi muito feliz naquela tarde. Poderia ter optado pela nudez total, sugeriu, o biquíni escondido dentro do calção de banho do homem. O risco os faria gozar dobrado. Mas deixou tal aventura para um dia vindouro.

Um cantinho de parede, porém, acende-me todas as luzes, transforma meus braços em asas, livra-me da gravidade, sensibiliza-me aos mais sutis sabores; abocanho então dardo veloz, rijo músculo de algum deus olímpico.

quinta-feira, dezembro 06, 2012

Amor à vista

Chego mais cedo na sexta-feira. Ligo a televisão. Vejo uma pessoa interessante dando entrevista para o jornal nacional ou NF TV.

É o meu príncipe encantado! Homem magro, jovial, usa óculos e cabelos longos. Sempre esperei que um dia fosse conhecê-lo. Sua imagem bastou para que eu começasse a sonhar com noites quentes, bebidas alucinógenas e atitudes desafiadoras.

Mas como encontrar essa pessoa na cidade grande? É como procurar agulha no palheiro.

Todas as noites antes de dormir voo em pensamento e me encontro com aquele homem assim que pego no sono. Ele chega de mansinho, estreita-se entre mim e a parede do meu quarto, fala baixinho no meu ouvido:

“Vim dormir com você.”

Embalada nesse aconchego sussurro: “Que bom que você veio!”

Ao som de um Jazz, começamos a namorar. São beijos deliciosos, promessas de amor e um sacode sexual que nenhuma mulher negaria realizar.

Já esgotados de prazer, cada um vira para um lado e dorme.

Quase todas as noites, o mesmo ritual. Acordo com a alma satisfeita.

Será apenas fantasia, imaginação minha, ou ele é um anjo que aparece e que me faz tão bem a ponto de me sentir realizada?

quinta-feira, novembro 29, 2012

Crônica

Preciso escrever a minha crônica diária e enviá-la ao jornal, mas me aconteceu algo inesperado. Estou nua, sentada numa cadeira de ferro e trancada numa sala comercial. Para manter a elegância e não demonstrar vergonha ou temor, cruzo as pernas, a direita sobre a esquerda, os seios cobertos pela metade por um dos meus braços como uma correia em meia diagonal. Vejo-me em tal situação por causa do namorado. Ele me quer sempre nua; além disso, me pede que eu represente. Tenho de fazer de conta que sou a pessoa mais vestida do mundo, dessa vez no escritório de um amigo seu às cinco e meia da tarde, no centro do Rio, um prédio de vinte e tantos andares em que há muitas outras salas onde trabalham advogados, médicos, dentistas, contadores etc. Tirei a roupa e dei nas mãos de meu namorado. Pediu licença e foi guardá-la numa outra sala, ou num outro escritório, não sei bem. Abriu a porta e saiu. Ouvi sua voz quando falou com alguém que transitava no corredor. Talvez tenha ido à rua comprar um maço de cigarros. Aqui, no lado de dentro, apenas as paredes, também nuas, e a cadeira que me serve de assento. Aguardo, aliás, espero. Espero que ele volte. Lá fora o sol se põe, as cores da tarde se dissolvem num azul que pouco a pouco avança e se torna cada vez mais negro. Tenho até às oito para enviar a crônica ao jornal. Hoje quero escrever sobre a viagem de Sandrinha ao mar Báltico. Onde, porém, o meu namorado? Encontrei-o  ao acaso faz trinta minutos, no café da esquina da Rodrigo Silva. Gisele, vamos ao escritório de um amigo, sugeriu. Aceitei. Quando entramos, a sala vazia, nada do amigo. Não demorei a perceber o que meu namorado queria. Mas, Valdo, a essa hora?, estou trabalhando, eu disse. É pra já, não vai demorar nada, insistiu ele. Ok, concordei e fui tirando a roupa. Ei, volte aqui, não me vai fazer perder o compromisso, alertei. E lá foi ele porta afora. Se não volta? Se lhe acontece alguma coisa? Uma síncope, ou mesmo um assalto. A cidade está tão violenta, plena de perigos. Vai que ele tenha sido sequestrado... E eu tenho de escrever e mandar a minha crônica. Oh, ato falho, pois não estou pensando nele nem nos perigos que corre, mas em mim, no meu emprego, na minha crônica. Amanhã vocês saberão o desfecho dessa história, depois de amanhã a viagem de Sandrinha. Ainda bem que existem os smartphones, ainda bem que, com um deles, sempre se dá um jeito.

quarta-feira, novembro 21, 2012

Sempre se tem algum segredo

Estou num pequeno hotel, no centro de Macaé. Vim à cidade com a intenção de resolver um problema na sede local da Petrobras. Sempre quando retorno ao hotel, no fim da tarde, reparo a mulher que sai de uma escola próxima. Ela, muito atraente, corresponde ao meu olhar. No terceiro dia, espero por ela. Como não calcula com a minha atitude, passa ao meu lado quase de cabeça baixa.

“Por favor, não se assuste”, falo, “pensei que eu estivesse agradando.”

Ela sorri; passamos então a caminhar lado a lado.

“Como você se chama?”, é minha a primeira pergunta.

“Sueli.” Desde o começo se mostra econômica nas palavras.

“Você é da cidade?”, tento manter o diálogo.

“Sim”, sorri mais uma vez e interrompe a caminhada.

“Então, aqui parece ser um bom lugar.”

Ela meneia a cabeça, seus cabelos são lisos e seu rosto tem traços de raça índia.

“Cheguei faz dois dias, trabalho na Petrobrás.”

“Aqui?”, surpreende-me a pergunta.

“Não, no Rio, vim para um trabalho especial.”

Não sei se é apenas impressão, mas acho que sua fisionomia apresenta alguma tristeza.

“Que tal irmos a algum lugar?”, sugiro.

“Hoje?”

“Isso, hoje. Que tal?”

“Hoje, não; quem sabe amanhã?”

Volto ao hotel e fico no apartamento vendo televisão. Mais tarde tento telefonar para ela, mas a ligação cai várias vezes na caixa postal.

Ao passar pelo mesmo local em que a vi no dia anterior, olho para a escola. Mas não vejo Sueli. Penso em entrar e perguntar por ela, mas mal sei em que trabalha. Será ela professora? A escola parece atender às primeiras séries. Permaneço no local durante uns bons vinte minutos, mas nada de ela aparecer. Tiro o celular do bolso. Quando estou tentando seu número, vejo que lá adiante vem ela. Seus passos são rápidos, caminha na minha direção. Ao me alcançar para, me cumprimenta e espera que eu tome a iniciativa. Veste um vestido florido, mais curto do que o da véspera, traz sob um dos braços uma bolsa cheia de papéis.

“Vamos?”, pergunto.

Faço sinal ao táxi que está parado junto a um restaurante.

“Aonde vamos?”, pergunta.

“À orla marítima. Que tal comermos e bebermos alguma coisa?”

Nada responde. Interpreto seu silêncio como sinal de aprovação. Entramos no táxi e o motorista dá a partida.

No bar escolhido por ela, podemos apreciar o mar. Está azul e calmo. Como ainda brilha o sol, algumas pessoas andam pela areia, um ou outro se aventura ao banho de mar.

“Você costuma frequentar a praia?”, aponto com face de contentamento.

“Só no verão.”

“Mas está tão quente, até parece verão.”

“Gosto de vir à praia quando estou de férias.”

“Quando você está sem preocupação, com a cabeça leve, não?”

“Isso mesmo.”

“Você vive sozinha?”, o garçom chega com nossas bebidas.

“Tenho filhos, mas moro sozinha. Eles já são adultos.”

Brindamos. Tomo um longo gole do meu chope. Ela antes admira o seu copo cheio; depois, com suavidade, toma um gole.

“Você é professora daquela escola?”

“Sim.”

“É bom ser professora?”

“É melhor namorar”, pela primeira vez abre um largo sorriso. Reparo em seu rosto um certo ar provinciano, que lhe acentua a beleza.

“Você gosta de namorar, então?”

“E quem não gosta?”

O bar tem alguma frequência àquela hora, ela tenta descobrir alguém conhecido.

“Você vem sempre aqui?”, continuo meu interrogatório.

“Vinha quando tive um namorado.”

“E ele se foi.”

“Mais ou menos.”

“Agora, você procura outro”, afirmo em tom de pergunta.

“Mais ou menos.”

“Como se pode ter um namorado mais ou menos?”, termino a frase em tom de deboche.

“Podemos, sim.”

“Já sei, alguém que é e não é namorado ao mesmo tempo”, defino a questão.

“Você é inteligente”, ri, “por isso trabalha na Petrobras.”

“Vou dizer a você algo importante: trabalhar na Petrobras não é tão difícil. O mais difícil hoje é arranjar uma namorada.”

Seu rosto se ilumina mais uma vez.

“Para os homens é mais fácil do que para as mulheres”, diz.

“Você é mulher e parece ter sorte.”

“Tenho sim, sempre aparece alguém.”

O garçom chega com um petisco. Coloca o prato diante de nós e deseja bom apetite. Ela me olha, não quer ser a primeira a beliscar.

“Você tem jeito de que é misteriosa. Acho que tem muitos segredos.”

“Sempre se tem algum segredo. Você também deve ter um”, afirma.

“Eu, um segredo?”

“Tem, sim. Mas fique tranquilo, não precisa me contar.”

“Mas eu gosto de saber segredos. Você me conta o seu?”, pergunto meio indolente.

“É segredo, não posso contar.”

“Se você conta só pra um e este não leva adiante, continua segredo.”

“Verdade. Você promete guardar?”

“Prometo.”

“Promete guardar e não tirar proveito?”

“Guardo, sim; mas não tirar proveito não faz parte do segredo”, falo e depois caímos os dois numa gostosa gargalhada. O garçom traz outro chope para mim, ela diz que tudo está muito gostoso.

“Ok, vou contar o meu segredo. Mas antes observe como está lindo o anoitecer, não é mesmo?”

“Sim, está. Mas o segredo....”

“Escute, então. Esta cidade não é grande nem pequena, você concorda?”, espera a minha resposta para continuar.

“Concordo.”

“Quem vive aqui, conhece muita gente. Todo lugar aonde se vai se encontra um colega, ou mesmo um amigo.”

“Sim”, me mantenho interessado.

“Num lugar assim, já tive dois namorados, ao mesmo tempo, é claro.”

“Este é o seu segredo?”

Ela bebe um gole do chope, pousa o copo sobre a mesa e olha em volta.

“Aqui mesmo, já vi três pessoas conhecidas.”

“Já que você é tão namoradeira, não quer ter o terceiro namorado?”

Ela sorri. “Terceiro, não; agora só tenho paqueras; caso arranje algum, vou ter apenas um.”

Ficamos no jogo de palavras. Eu galanteando a morena, e ela cheia de dengo.

“O que você ensina pras suas crianças?”

“Muitas coisas.”

“Eles parecem muito pequenos.”

“São, sim. É uma turma de alfabetização.”

“E os pais, não reclamam de seus filhos terem uma professora namoradeira?”

“Ah, não. Acho que nem sabem. Além disso, pais e mães também namoram muito, e nem sempre um com o outro. Nessa cidade todos namoram, mesmo os casados e as casadas. Sei cada história de arrepiar. As mulheres que têm cara de santinhas são as piores”, seu sorriso cora mais uma vez a sua face.

Já é noite quando deixamos o restaurante. Faço de tudo para levá-la ao meu hotel, ou mesmo a outro qualquer, mas ela não aceita.

“Não posso ir para hotel algum aqui, quase todos me conhecem, tenho ex-alunos trabalhando em vários lugares, onde menos espero aparece um. Se vou pra um hotel com você, amanhã estou na boca do mundo.”

“Como vocês fazem pra namorar por aqui?”

“Precisa ser em hotel de alguma cidade próxima, e mesmo assim você deve me dizer antes a que hotel vai me levar.”

“Você quer dizer que não podemos dar uma namoradinha...”

“Não é isso, até podemos namorar, passar algumas horas juntos, mas não em hotel.”

“Onde, então?”

Estamos dentro do carro, ainda na orla marítima.

“Tenho mais um segredo pra contar a você”, ela fala.

“Mais um?”

“Quer saber?”

“Conte, por favor.”

“Tive um namorado que adorava que eu fosse nua à praia, de noite.”

“Totalmente nua?

“Eu usava uma saída de praia, dessas bem justinhas e curtas, apenas isso.”

“E como vocês faziam?”

“Íamos pra um recanto de praia que ele descobriu, perto da lagoa, é bem escuro, ninguém podia nos ver.”

“Você não acha isso mais perigoso do que ir a um hotel?”

“Não. Escute mais. Eu deixava o vestidinho no carro e corria com ele pela areia. Lógico que somente eu ficava nua. Tomava até banho de mar noturno. Você não imagina como é gostoso.”

“Ok, vamos fazer assim, então.”

“Você precisa arranjar um carro.”

“Arranjo.”

“Amanhã, então, a gente se encontra de novo.”

“Onde?”, pergunto. Meu coração se acelera por causa do relato.

“Você me pega em casa?”

“Pego.”

“Então vou escrever o endereço. Ok, não perca. Você não imagina como as mulheres gostam de andar nuas.”

“Imagino, sim. Pego você às sete, tá?”
  

Sueli entra no carro com o vestidinho justo sobre o qual falou no restaurante. Como as pessoas são imprevisíveis, penso, uma mulher com jeito de equilibrada, uma professora da prefeitura com alunos e ex-alunos por toda parte, mas que sente prazer em andar nua pela cidade.

“Nua pela cidade, não, apenas na praia”, diz como se tivesse ouvido meus pensamentos.

“Você vai entrar na água?”, pergunto quando já caminhamos na areia.

“Depende, se a água do mar não estiver muito fria...

“Você não tem medo de encontrar alguém, você com essa roupa curta...”

“Você não está gostando?”

“Estou adorando, mas você disse que conhece muita gente.”

“Não vai aparecer ninguém, não; venha, me abrace", a seguir se despe e pede que eu guarde sua saidinha de praia no carro.

Será que preciso contar o desfecho dessa história?

Sueli se mostra uma mulher quentíssima, transborda prazer, geme bastante e dá a impressão de que goza várias vezes. Trepamos pela primeira vez logo que chegamos. Quando acabamos, ela vai até a beira d’água, espera que as espumas toquem seus pés, olha para mim e ri. Depois corre e mergulha de cabeça. Após alguns minutos, sai da água e vem ao meu encontro. Me abraça e me beija. Trepamos mais uma vez. A água do mar a torna mais delirante. No final, sempre nua, caminha para o mar. Dessa vez, anda lentamente e espera que a água lhe invada o corpo, depois se abaixa e fica apenas com a cabeça de fora.

Não digo a ela que também tenho o meu segredo. Na verdade, toda mulher gosta de homens um pouquinho tarados. Muitas, por causa disso, vão além do arrepio. Também gosto de mulheres nuas ao meu lado em lugares abertos, assim como o seu ex-namoradinho gostava, mas dou um passo à frente (ou um passo para igualá-lo, vá la saber). Depois de transar com Sueli duas vezes, sinto vontade de me esconder enquanto ela se banha, fazer de conta que fui embora. Quero observar a sua reação.

Mas eis ela a correr de novo, a se chegar junto a mim, a colocar os braços em volta do meu pescoço, a me beijar...

"Tenho outro segredo pra te revelar", diz.

"Já sei. Seu namoradinho fugiu e deixou você peladinha aqui na praia", arrisco.

"Isso mesmo. Mas tem mais uma coisa.

"O quê?"

"O que aconteceu depois; você não quer saber?"

"Claro, estou ansioso. Conte, por favor."

"Conto amanhã", sorri, "ou depois de amanhã", puxa-me pelo pescoço, "ou quem sabe qualquer dia desses", mais um beijo, e sempre o sorriso luminoso, astro prateado a completar o risco incerto da lua sobre a maré alta.

quinta-feira, novembro 15, 2012

O que eu queria mesmo?

Súbita ereção! E num momento impróprio. Para um homem, algo muito natural. Mas para uma travesti, nada mais terrível. Por que não me submeto à cirurgia? Não posso privar os homens daquilo que eles mais gostam. Além disso, há outra coisa. Por ser travesti, faço mais sucesso do que a maioria das mulheres. Vamos, porém, à inesperada ereção.

Sempre fui muito controlada. Posso usar roupa curtíssima, o vestido mais ousado. Ou mesmo sair quase nua, apenas a sainha. Nada por baixo. Mantenho-me cool. Eles se aproximam, tocam-me, querem mexer no meu pinto. Ficam doidinhos. Algo, então, me percorre o corpo por dentro, um tipo diferente de calor. Porém, sou toda comando. Tudo acontece como se eu tivesse a pele sob toalha molhada em água fria. Mas ontem...

Foi numa boate. Aqui em Barcelona as coisas fervem. Eu dançava num canto, sozinha, um show de bolso, particular. Então... Então surgiu ele.

Melhor dizer, nunca o tinha visto. Cabelos pretos, curtos, olhos maliciosos, gravata rubra. Subiu-me a quentura, senti um espasmo. Depois... Depois a incontrolável ereção! E a saia tão curtinha. Dei as costas. Veio ele. Senti suas mãos subindo minhas coxas, levantando-me a roupa...

“Não, por favor”, deixei escapar.

“Você está quente”, sua voz de barítono.

“Se fosse só isso”, suspirei envergonhada.

“O que mais?”

“Quer saber mesmo?”

“Já percebi.”

“Gostas?”, murmurei.

“Por que não?”

“Nunca aconteceu.”

“Verdade?”

“Durinho assim, não.”

“Sempre há a primeira vez.”

“O que faço, agora?”

“Permita-me ajudá-la.”

“Mas segurando nele? Assim é que não volta ao tamanho original.”

“Vamos experimentar, tudo depende da qualidade da mão.”

Começamos um jogo. No início eu ia inibida, mas pouco a pouco me fui soltando. Meu pênis, cada vez maior, cada vez mais rijo. O homem abaixou-se, colocou o rosto pertinho. Continuou, porém, todas as manobras. Naquele momento, senti-me inteiramente nua, toda arrepiada. Quando pensei que estava em lugar público, cheguei a ter outro espasmo, agora de terror. Uma mulher nua, vá lá; mas uma do meu tipo, onde guardar tamanha preciosidade?

“Não se preocupe, tudo vai ficar bem, e você ainda mais sarada”, acho que lia meus pensamentos.

“Sarada? Como assim?”, eu não perguntava, gemia.

“Não vai querer outra vida”, ele quase a beijar o meu pinto.

Em meio à música alta, cheguei a gritar:

“Nunca gozei pela frente.”

Então, mergulhou o meu dote na sua boca macia e quente. Em frações de segundo eu pisava o fio da navalha, e pisava descalça.

“Você é uma pena, deixe o vento levá-la às alturas”, ele me adivinhava.

Seu sussurro me fez ganhar altitude, me ascendeu a céu jamais alcançado por qualquer aventureiro. Planei incólume durante vários minutos, os cabelos soltos, a pele sensível à variada temperatura, do sopro matinal que produz arrepios ao suor provocado pelo sol a pino. De repente, meus setenta e dois quilos, meu metro e setenta e oito, enfim, todo o meu corpo iniciou uma curva vertiginosa. Era a lei da gravidade, o anúncio da queda, o tombo... Não, aquilo não era o tombo, era a febre, uma febre seguida de explosão que me transformou em milhões de partículas prateadas. Faltou pouco para eu lhe derramar goela abaixo toda a minha alma. Não posso contar mais. O gozo não é feito de palavras. Eu estava tortinha, transpirava.

Depois do prazer inesperado, o que eu queria mesmo? Ah, sim, que voltasse ao tamanho original!

quinta-feira, novembro 08, 2012

Você veio de maiô?

Eu queria mesmo era aproveitar a noite. E, como estava calor, sugeri a meu namorado: “que tal um banho de mar?” Ele apenas falou: “vinda de você, a proposta não me surpreende".

Sempre gostei de tomar banho de mar. À noite, então, nem se fala, me faz ficar toda arrepiada. Posso entrar nua no mar.

Descemos à areia no Remanso. Ele deixou o carro perto de um quiosque, havia algumas pessoas tomando cerveja e conversando. Peguei meu namorado pelo braço e fizemos o caminho inverso. Não queria ninguém nos vendo entrar pelo escurinho da praia.

Quando chegamos à beira, ele perguntou: “você veio de maiô?”

Sorri para ele, dei-lhe um beijo sobre uma das bochechas, levantei o vestido e o tirei pela cabeça. Pedi que o segurasse, corri, mas antes de entrar na água voltei e lhe entreguei também a calcinha. Achei melhor ir nua, minha fantasia predileta. E tão poucas vezes realizada.

Mergulhei. As pessoas de modo geral temem o mar à noite, acho que por causa da escuridão, ou mesmo porque pensam que podem ser atacadas por algum peixe maior. Mas não tenho esse temor. Os peixes se afastam quando sentem as pessoas próximas. Cortei várias ondas, o mar estava bravio. Cheguei a nadar até após a primeira arrebentação. Fiquei a flutuar naquele pedaço de mar. Sempre que alguma onda se levantava, eu me abaixava ou a cortava. Havia correnteza em direção ao oceano, sabia que para voltar precisaria esperar um pouco e contornar pelo lado esquerdo de onde eu estava. Embora a situação não fosse fácil  a água gelava-me todo o corpo , a sensação era muito prazerosa. Meu corpo inteiramente nu furando as ondas era quase um gozo. O que me preocupou a partir de certo momento não foi o fato de o mar estar batendo ou de eu estar tomando banho de mar nua, mas o pressentimento de meu namorado, por não me poder ver, pensar que eu estivesse em dificuldades. Isso poderia levá-lo a dar o alarme. Então, algumas pessoas viriam me procurar. Comecei achar melhor voltar à praia. Como não conseguia nadar em linha reta devido à corrente, fiz um contorno que me custou uns quinze minutos. Ao ver que poderia chegar à areia, dei mais algumas braçadas e peguei uma onda, surf de peito. As pessoas não sabem como é gostoso praticar esse tipo de esporte, tanto mais pelada. Outro gozo. Quando senti meus pés tocarem o fundo, caminhei e saí d’água. Mas... Cadê meu namorado?

O local estava escuro, era possível perceber o pessoal no quiosque, lá longe, mas sobre as areias não havia ninguém. Agachei à espera. O vento frio me fustigava a pele. Como dentro d’água a sensação era de uma temperatura mais amena, tive vontade de voltar ao mar. Porém avistei alguém correndo em minha direção. No começo, temi. Quem sabe um desconhecido? As batidas de meu coração se aceleraram. O homem abraçou-me não se importando com o meu corpo molhado, beijou minha boca e depois falou: "sua fantasia é tomar banho de mar nua, a minha é transar com você nas areias da praia".

Deitou-me e subiu sobre o meu corpo. Depois de gozar duas vezes dentro d’água, quem iria negar que não era o momento? E, agora, com alguém dentro de mim.

"Tenho também minhas fantasias", sussurrou, "e uma delas sempre foi encontrar uma mulher nua na praia. Vou levar você pra minha casa", beijou-me e concluiu: "peladinha." 

sábado, novembro 03, 2012

E acho que até não vai ser mal

Comecei a percorrer os lugares de que Mariana me falara.

“O importante não são apenas as praias, as montanhas, a estrada deserta, mas o que ele me pedia”, contou-me.

Quando tocou no assunto pela primeira vez, fiquei impressionada. Mas, depois, comecei a sentir curiosidade sobre tudo que me dizia.

“Você não teme que lhe possa acontecer algo de ruim?”, perguntei.

“O risco é que faz as coisas ter graça”, falou, e sua face se iluminou num sorriso brando.

Dirigi primeiro até a Praia da Joana. Faltava pouco para o sol se pôr. O mar estava liso, apenas vez ou outra alguma espuma deslizava, um véu de noiva que se alongava frágil. Não havia pessoa alguma no local. Era possível sentir a umidade e o sal presentes no ar. Descobri um quiosque distante; a janela, aberta, porém não vi ninguém. Imaginei como seria andar nua sobre aquela areia fina e depois esconder-me dentro d’água, exatamente como lhe pedira o namorado. Imaginei-me a correr nua, sem destino. Mas primeiro eu tinha de arranjar alguém que me pedisse tal ato. Onde eu guardaria o biquíni? Seria melhor deixá-lo nas mãos do homem. Será que iria embora e me abandonaria nua na praia? Arrepiei-me. Acho que por causa do vento, acho que por causa do desejo. Os homens de verdade não fazem essas coisas, preferem trepar com as mulheres e despejar nelas todo o ardor.

Certa vez perguntei à Mariana: “por que me conta essas coisas tão íntimas?”

“Você tem razão, não devia contar a ninguém.”

Dias depois subi a estrada da Bicuda Grande. Parei no local exato sobre o qual ela me falara. Ultrapassadas algumas curvas, a partir do pequeno povoado, há uma enorme e solitária árvore. Após a ela, contam-se dois pequenos morros. Parei o carro e descobri o riacho que passa pelo local. Suas águas são cristalinas. Saí e molhei os pés. Tive vontade também de ficar nua. Mas não tinha ninguém para me pedir a nudez. Sozinha, achei que não teria graça. Caminhei um pouco mais. Encontrei então o biquíni de Mariana. Bandida, além de ficar nua deixou o biquíni como prova de que não mentia. Estava enroscado num pequeno galho. Era minúsculo, não se podia negar que não fosse seu. No dia em que o deixara ali, os dois treparam quase todo o tempo na margem mais alta; depois ele pediu que ela abandonasse o biquíni. “Eduardo, não posso ir à praia amanhã, pois não tenho outro.” “Não faz mal, amor, vamos primeiro ao shopping, pode escolher o biquíni mais caro.”

“Faltou contar da estrada”, disse-me ontem.

“Estrada?”, fingi surpresa.

“Foi emocionante. Nuazinha à beira da estrada. E esperando por ele.”

“Já imaginei o que aconteceu.”

“Uma encenação. O homem vem só no carro e encontra uma mulher nua, que lhe pede ajuda. Ela entra. Só Deus sabe onde ele vai deixá-la. Caso tenha bom caráter, arranja-lhe uma roupa e leva-a a casa. Mas a maioria vai querer comê-la primeiro. Outra surpresa: a mulher é que deseja comê-lo; depois pede que a mande sair do automóvel, ainda nua. ‘Como você vai fazer?’, ele pergunta. ‘Isso é assunto meu’, ela, altiva.”

Mariana terminou o relato dizendo que nunca viveu situação tão excitante.

“Seu namorado é demais”, falei, “quem dera arranjar um parecido.”

“Tente você agora. Terminamos o namoro ontem.”

“Não acredito.”

“Verdade.”

Acho que é mentira. Mas como sempre foi minha amiga, fiz que acreditei.

Agora falta encontrar com ele. Tenho, no entanto, de me comportar. Não posso deixar que perceba que sei dessas histórias. Caso eu fracasse na representação, acho que vai querer que eu vá nua a seu encontro, a única coisa que minha amiga não fez.

Às vezes me arrependo de ter ouvido os relatos de Mariana. Às vezes me arrependo de ter sido sua amiga. Não sei onde isso pode acabar.

Mas, num rompante, acabo por falar a mim mesma: deixa de ser boba, Dora, o máximo que pode acontecer é você terminar nua num canto desses. E acho que até não vai ser mal!

sexta-feira, outubro 26, 2012

Basta que me permitas a representação

Meu namorado sempre me sussurra ao pé do ouvido quando está prestes a gozar: “vou amarrar você nua sobre a cama e trepar assim durante muito, muito tempo.” Mas toda vez que acabamos, ele não mais toca no assunto. Outro dia, porém, logo que ameaçou afastar-se de mim, falei:

“Quando me vais amarrar?”

Apenas riu.

“Falo sério”, continuei, “falas o tempo todo nisso e não concretizas.”

“Você quer mesmo?”

“Claro, pois não diria à toa.”

Ainda nua, levantei e procurei um cordonete. Voltei ao quarto e o entreguei a ele.

“Você quer agora?”

“Agorinha. Neste mesmo instante.”

Deitei-me e lhe ofereci os punhos. Amarrou-me. Os braços atados forte à cabeceira; as pernas, abertas, presas pelo cordão, que ele enroscou na parte inferior do estrado.

“Ainda falta algo”, sugeri.

“O quê?”, olhou-me curioso.

“Quero que me amordaces.”

Foi ao banheiro e voltou com uma fita larga de esparadrapo. Grudou-a sobre minha boca.

“E agora, o que faço?”, perguntou.

Por meio de “hum, hum", expressei-me. Mas meu olhar, mais convincente, apontou-lhe o pênis.

Começou a brincar sobre o meu corpo. De repente, deu a sugestão.

“Espere, pensei uma coisa mais excitante. Vou sair um pouco e deixar você amarradinha aí.”

Levantou-se e começou a vestir-se. Ao me olhar, quando acabou de calçar o tênis, reparou minha testa franzida.

“Não fique preocupada, volto logo.”

Bateu a porta e saiu.

Fiquei a meditar sobre o que estava tramando. No início até achei boa a ideia, mas com o escorrer dos minutos comecei a ficar preocupada. Como ele poderia ter feito isso comigo? Eu, sem me poder soltar, sem a capacidade de emitir sons, e sozinha em casa.

Meu coração ia adiantado quando ouvi a porta abrir.

“Entre, por favor, espere aqui na sala”, ouvi a voz dele. Nossa! Quer dizer que ele trazia alguém.

“Será que não estou incomodando?”, a outra voz, e de mulher.

“Não, fique um pouco, ela já chega, disse que não ia demorar.”

“Prefiro voltar mais tarde.” Só então reparei que era a vizinha. “Ela me prometeu a receita, mas não é tão urgente.”

“Vou procurar. As coisas dela ficam numa gaveta no quarto, um momentinho”, levantou-se e veio para junto de mim. Sorriu e falou em surdina: “acha melhor chamá-la para vir até aqui?”

Movi a cabeça querendo dizer que não, que a despachasse.

Ele voltou à sala de mãos vazias.

“É melhor eu ir, estou com a comida no fogo. Depois falo com sua mulher.”

“Ok, dou o recado”, ele falou.

“Ouvi a porta bater.”

Voltou então ao quarto. Havia tirado toda a roupa.

“Viu? Deixei você por um triz”, subiu sobre meu corpo. Trepamos.

Eu estava molhadinha, de nervoso e de desejo. Devido à situação, gozei duas vezes. Depois, destapou-me a boca e pediu que eu o chupasse, ainda amarrada. Foi então que gozou,

Só no dia seguinte tocou de novo no assunto:

“Quer que eu amarre você hoje?”

“Claro. E estou a imaginar quem irás trazer dessa vez.”

“Que explicação daremos à visitante?”, ele quis saber.

“Nenhuma. Mas quero que a dispa e a amarre também. Só que na sala.”

"E o que faço caso eu traga um homem?”

“Nada, basta que o mande vir ao quarto no teu lugar.”

domingo, outubro 21, 2012

Como devo fazer para dar a ideia?

Uma amiga me veio falar sobre um namorado.  Contou que ele a obriga a ações extravagantes.

“Obriga?”, pergunto.

“Maneira de dizer. Na verdade ele pede, e eu consinto.”

“Consente? Dê um exemplo.”

“Se você quiser, dou vários, mas escute este.”

Contou que o homem adora sexo ao ar livre.

“Na praia?”

“A praia é um dos lugares favoritos dele. Mas há outros, como no meio ao mato, numa subida de serra, tudo durante a noite. Também adora me deixar nua num trecho escuro da rodovia estadual, partir com o automóvel e voltar um quarto de hora depois para me resgatar.”

“Resgatar?”

“Isso. Me pegar de volta.”

“Mas você não teme que algo possa dar errado?”

“Errado, como assim? Confio tanto nele.”

“Pode acontecer alguma coisa, como um enguiço no carro, ou mesmo um acidente. Como então você faz para voltar?”

“Sabe, Glória, nunca pensei nisso. Acho que quando se está amando, a gente não pensa nessas coisas.”

Terminamos nossa conversa com a chegada de outra pessoa. Logo depois me despeço e vou embora.

No caminho de casa continuo pensando sobre o que ela me contou. Nua na estrada, nua na praia, tudo no escurinho da noite, ou mesmo da madrugada. O importante é estar nas mãos do namorado, segundo ela, o maior frisson.

Os dias se passam, e eu sem namorado. Ao pensar novamente na minha amiga nua, sinto um arrepio. Quem sabe eu consiga um homem assim.

Sem querer, avisto seu namorado quando estou no Shopping. Ele me reconhece e me vem cumprimentar. Ah, se fosse eu a nua!, exclamo em silêncio. Primeiro aperta a minha mão, depois me beija e arregala os olhos, imensos, acho que chega a me desejar.

“Como vai a Isabel?”, pergunto.

“Vai bem. Ela falou que encontrou você um dia desses.”

“É, encontramos sim, lá no calçadão.”

O homem me come com os olhos, e não é impressão. Será que ela lhe falou sobra a conversa que tivemos? Chego a suspeitar.

“Vamos marcar um encontro um dia desses. Eu, Isabel e você. Leve mais alguém, vamos a um bar, na orla, ok?”, sugere.

Imagino nós três bebendo, depois ele levando a Isabel e eu para a rodovia, pedindo para tirarmos a roupa. Saímos então do carro nuas. Oh, minha mente maldosa!

“Não deixe de aparecer, leve o namorado, a gente conversa um pouco, é bom conhecer novas pessoas”, continua.

Despedimo-nos, eu parto. Vou pensando se ele já não está entediado de deixar a namorada nua por aí, pois para sair com ela precisa de outras companhias.

Depois desses dois encontros estou a procurar um namorado. E arrepiadíssima. Nua na estrada, quem dera! E se arranjo alguém, como faço para dar a ideia?

segunda-feira, outubro 15, 2012

Um caso a pensar

“Valdo, por favor, pare com essa brincadeira”.

“Que brincadeira, Valéria?”

“Não posso voltar nua pra Barra Mansa”.

É ótimo dormir com ele. Toda sexta. Ele tem lá suas taras, mas isso é normal nos homens. Valdo me quer nua o tempo todo. Sempre transamos duas ou três vezes na mesma noite. Pela manhã, corro de volta pra minha cidade.

Eu andava na Nossa Senhora de Copacabana. Era uma dessas sextas calorentas que antecipam o verão. Ia de calça justa e blusa curta, a roupa acentuando as minhas curvas. Pernas grossas, seios volumosos. De repente...

“Ei moça, vamos conversar”.

“Verdade?”, mostrei-lhe o rosto.

“Verdade verdadeira”, falou, “mas vamos antes beber alguma coisa”.

“Não sou de beber. Mas quero lhe dizer uma coisa, estou pra um programa, nem cobro tanto”.

“Não calculei que você fosse prostituta”.

“Prostituta?”

“Isso. Como posso chamar você?”

“Valéria”.

“Valéria, não gosto de prostitutas”.

“Quando você me tiver na cama, não falará assim”.

“As prostitutas trepam mecanicamente. Só pensam em acabar logo pra levar o dinheiro do cliente”.

“Se você pensa assim a meu respeito, tchau”.

Dois quarteirões à frente veio ele de novo. Só então reparei que ainda me seguia.

“Qual o preço?”

“Você não vai achar caro”.

“Quanto?”

“Duzentos”.

“Pode ser pela noite toda?”

“Pra quem diz que não gosta de prostitutas...”

“Sim ou não?”

“Não. Preciso voltar pra minha cidade”.

“E se eu dobrar a oferta?”

“É um caso a pensar”.

Acabei aceitando. Fomos ao apartamento dele.

Não costumo ir a apartamentos, frequento apenas os hotéis onde os funcionários me conhecem. Medida de segurança. Mas ele pareceu ser boa pessoa.

“Você é muito bonita. E muito gostosa”, disse assim que acabamos de transar pela primeira vez.

“Ainda me quer pelo resto da noite?”, pensei nos homens que me abandonam assim que gozam.

“Claro, ainda não acabamos”.

“Não?”, fingi surpresa.

Reparei que escondera minhas roupas. Mas nada falei. Transamos novamente. Depois caímos num sono gostoso.

De manhã, acordei ainda nua. Ele dormia ao meu lado. Andei um pouco pelo pequeno apartamento. Quando sentei novamente na cama, Valdo me agarrou pelas costas sem que eu esperasse. Trepamos de novo.

Eram nove da manhã quando falei: “gostei muito de você, mas não posso voltar pelada pra casa”.

Passamos a nos encontrar toda sexta, no mesmo lugar, à mesma hora. Bebemos, comemos e depois subimos ao apartamento.

“Acho que não vou mais cobrar, já somos namorados”, falei ontem.

"Nada disso, nada de namoro, você é minha contratada para toda sexta".

Vesti uma saia curtinha, só pra ele. Ele me trazia um presentinho: calcinha e sutiã.

"Quer que eu vista agora?", sorri mostrando as duas peças.

"Quem sabe", respondeu.

Depois da terceira transa, pediu: "veste o meu presentinho, veste; você vai ficar linda dentro dele”.

“Vou tomar um banho primeiro. Mas não posso voltar pra casa de calcinha e sutiã, Valdo!”

“Quem sabe”, fez cara de safadinho.

quinta-feira, outubro 11, 2012

Amuada

Você jura que não vai me roubar?

Claro; não sou ladrão.

Estou preocupada, ouça, nos conhecemos agora, são dez pras duas da madrugada, estamos numa rua deserta, não sei onde estou com a cabeça.

Sobre o pescoço, não?

Não brinque, estou com medo, acho que vou embora.

Mas foi você mesma que me abordou...

Sei, mas estou arrependida, era só uma brincadeira.

Então vá; quer que eu a acompanhe até sua casa?

Não, ainda não, acho que fico mais um pouco.

Como quiser.

Mas jure que não vai me roubar.

Juro, não sou ladrão.

Então vamos no meu carro.

Ok.

Gostou?

Gostei.

Silencioso, não?

Muito.

Vou parar um instantinho, quero faze xixi.

Ei, pra fazer xix não é preciso tirar a roupa toda!

Não consigo fazer xixi vestida.

Já voltou? Você ainda nem se agachou...

Quero pedir uma coisa primeiro.

Peça.

Não vai me roubar, vai?

Ah, já disse que não.

Preste atenção. Estou saindo nua do carro, vou me agachar atrás daquela árvore, o carro é meu e tudo que possuo está aqui dentro, até a roupa do corpo, não vai me roubar, viu?

Que demora, pensei que você não fosse mais voltar...

Foi de propósito, e até estou amuada.

O que foi, alguma coisa deu errado?

Não. Quer dizer, sim.

Fiz algo que feriu você?

Fez.

O quê?

Você não entendeu a brincadeira...

Brincadeira? Que brincadeira?

Não me roubou!

quinta-feira, outubro 04, 2012

No vão da bomba d'água

Estou nua, fora da área da casa, no espaço intermediário entre o muro e a construção. Ouço o ruído de pessoas que se aproximam. Corro para a lateral, agacho e me escondo no estreito vão da bomba d’água. Para não ficar tão aflita, ajo do mesmo modo de quando me vejo em apuros. Começo a pensar em outras coisas. Principalmente coisas excitantes.

Lembro-me de um namorado antigo. Como era carinhoso o homem. Queria namorar durante a maior parte do dia e também me queria nua pela casa. Me fazia vestir apenas sapatos. Eu podia escolher os mais bonitos. Depois desejava me ver com uma bolsa no ombro, ou mesmo numa das mãos caso fosse pequena. Eu fazia de conta que chegava daquele jeito à casa dele. Muitas vezes fui ao lado de fora para bater e ele abrir a porta. Me recebia como se eu fosse a pessoa mais vestida do mundo. Sem demonstrar pejo algum, eu entrava. Ele pedia, então, que eu sentasse. O que eu fazia com elegância; cruzava as pernas e esperava que ele iniciasse a conversa. Perguntava o que eu desejava comer e beber. Após alguns minutos, voltava com uma bandeja de prata, tudo no maior requinte. Tempos bons aqueles.

Outra lembrança que me afogueia é a de um namorado que me levava de carro para passear. Como me admirava muito de roupa curta, pedia que eu saísse de casa quase pelada. Às vezes eu nem tinha coragem de sair do carro. Certa vez acabei indo de biquíni. “Não vou poder sair do carro desse jeito”, falei. Mas, lá pelas três da manhã, comemos num quiosque na orla marítima; ele me emprestou a camisa para eu vestir sobre as duas mínimas peças. Numa outra ocasião, me levou para uma estrada escura. Quis que eu saísse do carro e deixasse as roupas com ele. Senti um friozinho na barriga. “E se aparecer alguém, já imaginou? Você vai me perder pra outra pessoa; eu nem terei como nada negar. O que posso dizer caso alguém me encontre nua numa estada?” E lá fui assim mesmo para lhe satisfazer a vontade.

Então aconteceu... Houve o policial. O que você faz quando um policial lhe surpreende nua? Nada, não é mesmo? Não há nada a fazer nessa situação, a não ser esperar. Eu esperei que ele me levasse presa. Mas não foi esse o final. Ele me levou para sua casa e quis me namorar. Além de namorarmos de todas as maneiras possíveis e impossíveis, tinha mania de investigador. Me soltava nua dentro de um pequena floresta, digamos assim sobre o lugar, e pedia que eu me escondesse. Não é que sempre me encontrava, e bem antes do amanhecer.

Meses depois estava eu vestidíssima, no teatro, assistia à melhor peça da temporada. E ia acompanhada de um ator, que tinha me conquistado num restaurante. O policial? Ficara para trás. Eu e o ator, depois da primeira saída, representamos os mais diversos papéis. Eu ia ora vestida, ora nua. Mas o que valia era minha atuação. Foi tão bom.

Vocês hão de perguntar, por que não permaneci com algum desses namorados se todos sempre são tão adoráveis, carinhosos e me queriam bem. Na verdade eu vivia uma ciranda, saía da mão de um para cair na de outro. Não havia nada melhor.

E agora estou aqui, nua, do lado de fora de casa. Por que esses homens sentem tanto prazer com essas pequenas perversões? E não é que passei também a gostar? Cada um que me faz uma proposta desse tipo, me injeta mais combustível; voo então a mil. Ainda há pouco queria tanto sair por minha conta, nua, às dez da noite, mas foi ele quem me pediu. Aquele que estava na plateia e acabou por me arrebatar. Mas as pessoas que chegaram não estavam no roteiro. E sei que este meu namorado vai oferecer cerveja, vai conversar, e vou mofar aqui, neste vão da bomba d’água... Não fosse meus seios grandes, voltava correndo lá pra dentro, peladinha!

Não posso deixar que se esgote meu estoque de lembranças.

Houve também uma praia, deixei meu biquíni nas mãos de um admirador que conhecera naquela mesma tarde, e eu dentro d’água, meu destino em suas mãos... Ai, não sei por que a sensação do creme hidrante sobre a pele, eu toda molhadinha; quem gostava de me deixar lambuzada assim era aquele lá do começo, que me colocava nua sobre saltos e carregando uma pequena bolsa; eu prestes a tragá-lo; ou, caso quisesse escapar, impossível, tão escorregadia...

quinta-feira, setembro 27, 2012

Suada e doída

O ser humano vive sempre em busca do prazer, e o corpo é o local onde esse prazer realiza-se de modo mais intenso. Há pessoas que o obtêm através de processos positivos, como o contato táctil conhecido como carícia. Neste caso, embora haja o aumento da temperatura e a aceleração da pulsação, tal desequilíbrio no funcionamento do organismo é recebido como um tipo de bem estar. Mas há aqueles que não se satisfazem com o mesmo processo, pois necessitam de desiquilíbrio maior, ou mesmo do rompimento ainda que temporário da estabilidade do funcionamento do organismo, o que produzirá o processo conhecido como dor. Tal subversão é conhecida nos meios psicanalíticos como sadomasoquismo.

Sou adepta do amor e da carícia. Mas outro dia me telefonaram dois homens. Queriam trepar comigo ao mesmo tempo. No início fiquei temerosa, mas como a proposta me era vantajosa aceitei.

Embora sempre tenham ímpetos de violência, quando se relacionam com as mulheres os homens, de modo geral, trepam de modo civilizado. Mas isso não acontece ao se aproximarem das travestis. Pode ser a mais bonita, que mesmo assim desejam logo praticar algum tipo de perversão.

Ao entrar no apartamento combinado, repararam o meu vestido curtinho, minhas pernas compridas e grossas de fora. Pediram que eu não me mexesse. Obedeci. Transformei-me numa estátua. A primeira ação de um deles foi arrancar minha calcinha. Queria se certificar se o meu pênis escaparia pela barra do vestido. Para a alegria deles, escapou. Na maioria das vezes, os homens querem trepar com travestis para fazer sexo oral. A modelo põe a sua masculinidade à mostra e eles mergulham de cabeça. Um deles imediatamente quis me abocanhar. Mas o outro o advertiu: “espera, quero que ela desfile para nós.” Afastou-se e apontou para eu caminhar pela sala. Ainda o vestido curtinho, os saltos bem altos, a bolsa ao ombro e o pênis... de fora. Depois, este entregou minha calcinha para o amigo: “guarda pra você, é uma lembrança.”

Não demoraram a me despir.

“Por favor”, falei com delicadeza, "não posso voltar nua pra casa, não estraguem minha roupa.”

Apenas riram.

Será que preciso descrever o que aconteceu durante todo o tempo em que estivemos juntos? Acho que não, vocês são capazes de imaginar. Mas, no final, quiseram algo inesperado. Que eu me deitasse sozinha na cama e me masturbasse até gozar.

“Vamos ver se ela consegue. Travestis não gozam quando mexem no peru. Já obriguei uma à meia-hora de punheta e não saiu uma gota.”

Pus-me em movimento. E eles torcendo por mim.

Durante bons quinze minutos friccionei o meu pênis com toda a intensidade. Um estorvo.

O mais alto, então, tirou um pequeno chicote da bolsa.

“Não, por favor, assim você vai me marcar”, gelei.

“Vira de lado, vamos, vira. Você vai gozar rapidinho.”

Voltei a bunda para ele. Aplicou-me a primeira lambada.

“Ui”, gemi, “devagar, por favor, bate sem marcar”, acabei por me revelar.

Bateu uma, duas, três, quatro vezes.

A cada chicotada eu tremia num espasmo involuntário.

“Vamos, sua puta, goza, goza rápido.”

Intensifiquei as fricções e comecei a gritar.

“Me bate, vai, mais, mais, não pára, pode me marcar, marca bem, na bunda, estala o chicote”, passei a comandar o espetáculo. “Vai, mais, mais, mais...” E o homem em ação.

Depois de alguns minutos, aconteceu. Meu sêmen enfim jorrou. Nunca ejaculei tanto.

No final, o que estava de espectador disse: “Alcides, olha como ficou o lençol. Isso não tava previsto.”

Suada e doída, não escondi o riso.

sexta-feira, setembro 21, 2012

E o meu corpo a crescer, e o biquíni a se estreitar

Estou no parque tomando sol; o dia, lindo, de repente vejo um dos meus pacientes. É preciso dizer que sou dentista e que nas horas vagas adoro ir ao Olhos D’Água. Esse é o paciente de quem mais gosto. As pessoas não imaginam quantas vezes médicos, dentistas e outros profissionais de saúde se apegam a quem lhes procura. Acho que estou apaixonada por ele. A primeira vez que chegou a meu consultório foi para uma breve consulta. Logo que o vi, pensei, faz tanto tempo não vejo homem tão atraente. Sou mais velha do que ele, seis anos. Nessas consultas acabamos por conversar assuntos que não deveríamos. Mas meu paciente me aparece no parque, de bermuda, camiseta e tênis. Depois segue em caminhada, acho que não me viu. Continuo deitada sobre uma toalha, na grama, na parte em que as pessoas param para tomar sol. Segredinho: estou de biquíni. Sou magra, pequena, mas tenho meu charme, sei que os homens adoram me apreciar. Mas esse meu paciente... Já encostei nele, toques sutis, demonstrações espontânea de afeto. Há quem diga que a relação sexual começa nesses ligeiros movimentos. Quero que ele me veja. Será o primeiro encontro fora do consultório. Poderemos conversar à vontade. Tenho uma amiga que diria o seguinte, “Deus me livre, dar de cara com um paciente, e eu de biquíni, morro de vergonha.” Comigo, porém, nada disso, não tenho o que temer. Ele já insinuou em me convidar para um café. Mas na hora agá recuou, pensou que minha profissão me exige muito. Eu, enfim, preciso descansar. Mal sabe ele de que realmente preciso. Perdida nesses pensamentos, eis que ele volta pelo mesmo caminho em que se foi. Preparo o melhor sorriso. Me vê, acena. Será que virá até aqui?

“Oi, doutora, que surpresa, tudo bem?

“Tudo ótimo.” Minha resposta inclui o lado bom do imprevisto. Acho que percebeu.

“Mais parecia que ia chover quando amanheceu.”

“Não, nada de chuva, o sol e outras coisas boas”, digo. “Fique um pouco. Está com pressa?”

“Não, nada de pressa, hoje não tenho o que fazer.”

“Que bom!, um dia e nada para fazer, não pode haver coisa melhor.”

“E você, vai ao consultório hoje?”

“Mais tarde, tenho dois pacientes depois das quatro.”

“Então, ainda há tempo.”

“Oh, há muito tempo.”

Senta-se ao meu lado.

“Importa-se?”

“Não, sua companhia é um prazer.”

Sorri. Acaba por se deitar.

Sem pensar – porque se a gente pensa não faz essas coisas – encosto no braço dele.

“Você está bronzeado, vem aqui todos os dias?”

“Quase todos.”

Aproxima-se mais um pouquinho. Acho que lembrou os meus sorrisos no consultório, nossas conversas... Um dia falamos tão intensamente sobre um filme, que quase chegou a me convidar para o cinema.

“Venha mais, vamos nos encontrar mais vezes, aqui é melhor para conversar”, dele a proposta.

“Venho, sim, mas isso não significa que você vai embora...”

“Não! Quero aproveitar para lhe falar uma coisa.”

“Então?”, arrisco.

“Arranjei uma namorada.”

“Namorada?” Não consigo ocultar a decepção.

“Não se preocupe, ela está exatamente ao meu lado.”

Rimos ambos, um sorriso envolvente, quase um abraço. E o meu corpo a crescer, e o biquíni a se estreitar...

Me respondam, vocês acham que eu ainda vou ao consultório, hoje? 

quinta-feira, setembro 20, 2012

Vou fingir que acredito

Amor, já que acabamos de tomar o café da manhã, você me ajuda numa tarefa?

Diga, querida.

Um amigo me pediu para revisar um texto dele. É algo que lhe aconteceu há mais de vinte anos, escreveu o episódio por esses dias e deseja publicar.

O que você quer que eu faça?

Preciso que leia o texto e dê sua opinião, principalmente sobre o vocabulário. Ele abusa de algumas palavras que eram comuns há duas ou três décadas, como gírias e maneiras de dizer. Quero que você me diga se soam bem ou não. Veja, ele chama o amigo de bicho, a mulher amada de broto. Acho que estas eram gírias usadas pelo Roberto Carlos, não?

Ok, querida, deixa eu dar uma olhada.

Está aqui o conto, nestas folhas. Enquanto isso, fico aqui no sofá lendo o jornal, quero saber sobre os filmes da semana.

Opa, querida, teu amigo é um homem de sorte, encontrou uma mulher nua na praia às quatro e trinta da manhã de uma sexta-feira.

Ele jura de pés juntos que isso é verídico.

Por isso resolveu escrever.

O interessante, amor, é a história da camiseta.

Estou vendo, parece ser bem legal.

Legal, amor?

É, ele foi gentil com ela, você não acha, querida?

Você já chegou na parte que diz o que ele pede em troca?

Deixe-me ver. Ah, sim, cheguei agora. Ele vinha de uma festa, parou na orla, quis dar uma caminhada à beira mar e se deparou com uma mulher inteiramente nua.

Isso.

De início, fica perplexo. É essa a palavra com que você cismou, perplexo?

Mais ou menos, mas há outras.

Continuo, querida. Ele coloca o pensamento dela no texto, mas é ele quem narra a história.

Ele diz que é uma inovação, parece que alguns autores estão escrevendo assim.

Deixa ver se eu entendi. Embora seja um narrador masculino, de primeira pessoa, também aparecem no texto as inquietações da mulher, como: “ao ver que alguém se aproximava senti um calafrio, mas depois me acalmei, quem sabe eu estava com sorte?” Acho que deve ser colocada uma vírgula depois de aproximava, não?

Depende, querido, se ele deseja mostrar que a mulher está preocupada com a situação, ou mesmo nervosa, não precisa de pausa.

Ele pergunta se ela precisa de alguma coisa. É lógico que precisa, a mulher está nua.

Mas essa deixa, amor, é para ela poder se insinuar, assim talvez  o conquiste e consiga o seu objetivo.

Ele pergunta por que ela está nua. Mas a mulher não responde, apenas sorri, como se fosse agruras da vida.

Agruras?

É o que está escrito, querida.

E o que acontece?

Vou adivinhar: eles namoram...

Mais ou menos.

É a maneira que ela encontrou para fisgá-lo.

Isso, querido, ela precisa dele.

Mas não quer trepar sobre as areias da praia, convida o homem para ir a sua casa, mas antes pede a camiseta dele.

Amor, ela não pode sair nua pelas ruas da cidade, não é mesmo?

Se fosse eu o homem, desconfiaria. Encontrar uma mulher nua nestas circunstâncias é esmola demais para que cego não possa enxergar.

Ele não é cego, querido. Que bom, encontrei um filme ótimo aqui no segundo caderno.

Ela desperta no homem intenso tesão. Abraça-o, faz carinho nele, beija-o, mas quer evitar o principal: que ele goze. Teme que depois do sexo o homem desista dela e vá embora. Não tarda a amanhecer e ele é sua única chance.

Como acaba, querido?

Você não disse que leu, Célia?

Li. Mas leio tanta coisa.

Não sei, não, ainda falta, mas acho que ele vai com ela.

Vai sim, amor, agora lembrei, os homens sempre vão com as mulheres. Você diz que resistiria, mas não deixaria a mulher pelada ali, tanto mais se estivesse só, o dia quase raiando, seria um achado.

É, dependendo das circunstâncias...

E então, amor, o texto está bom?

Acho que sim, não vejo nada de errado nas palavras que ele usa, tanto mais que o conto é ambientado nos anos de 1980.

Foram anos bons, éramos mais jovens.

Prefiro você agora, querida, mesmo com mais vinte e poucos anos de idade e vestidinha como está, Deixo a mulher nua para o seu amigo.

Certo, querido, vou fingir que acredito.