Foi muito divertido. Só no final que fiquei um pouco apreensiva. Eu tinha de chegar nua naquele local, uma espécie de consultório. Uma porção de gente sentada: homens, mulheres, e uma recepcionista junto a uma pequena mesa observando alguns dados na tela do computador. Tinha de estar nua, mas na verdade não em pelo. Eu vestiria uma blusa curta, umbigo de fora, mas as mangas compridas; na mão esquerda, a bolsa segura por uma pequena alça; daí pra baixo a nudez, apenas a bota a cobrir de um ponto abaixo dos joelhos até os pés. Deveria agir com muita naturalidade, dirigir-me à recepcionista e dizer meu nome. Sabia que uma câmera se escondia em algum lugar da sala, mas não seria possível percebê-la. As pessoas, quaisquer que fossem suas reações, não deveriam me incomodar. Mesmo que falassem comigo, reparassem com palavras a minha nudez, ou mesmo me censurassem. Tinha de sentar após o aval da funcionária, pegar uma revista e aguardar a minha vez. Fora orientada a não dar conversa a pessoa alguma entre os que também aguardavam. Caso alguém inquirisse sobre qualquer assunto, deveria sorrir de modo delicado e nada comentar. Meu papel seria desconversar.
Percorri o corredor comprido do andar. Ao descobrir o número 508, empurrei a porta e entrei. Fiz o que estava previsto. A recepcionista perguntou meu nome, alguns dados e pediu que aguardasse apontando-me uma das poltronas. As pessoas estavam absortas. Algumas olhavam à tela da TV, outras liam, duas senhoras conversavam em voz baixa, uma jovem ao meu lado (devia ter uns quinze anos) lia um livro. Como todos se mantinham alheios, não quis esticar o braço até o console onde estavam as revistas, para não chamar a atenção. Fechei um pouco os olhos, concentrei-me nos exercícios costumeiros, inspirei vagarosa, ainda as pálpebras abaixadas. Foi quando um homem de meia idade me ofereceu uma revista. Agradeci e pus-me a folheá-la. Após cerca de dez minutos, a recepcionista chamou meu nome. Levantei-me e a acompanhei a uma antessala onde em um dos cantos um abajur lançava luz sutil, meio prata meio ouro. Ouvi mais uma vez a voz da mulher: “tire toda a roupa e me acompanhe”. Fiz o que mandou, permaneci apenas de botas. Num outro cômodo mais espaçoso e bem decorado fez-me sentar numa poltrona larga. “Fique à vontade”, falou mais uma vez. Olhei a mobília, os quadros, as luminárias, tudo se harmonizava. Mais alguns minutos e dessa vez um homem jovem veio me chamar. Acompanhei-o a um cômodo menor. Ficou atrás de uma mesa, como um médico a anotar o prontuário de um paciente. Mas não fez perguntas, disse apenas: “pode deitar”. Dirigi-me a um estofado branquíssimo. Só então percebi uma outra mulher. Estava vestidíssima, mas descalça. Aproximou-se, tirou-me as botas e vestiu-as. Levantou-se, olhou-se de perfil no espelho, segurou a bolsa com a mão direita e se foi. Ainda ouvi sua voz antes de fechar a porta: “obrigada”.
Depois alguém me cedeu sandálias de salto, fez que eu as calçasse, entregou-me a pequena bolsa como meus pertences e disse: “vai com Deus”.
Quando me vi do lado de fora, o céu já não estava tão escuro, tive de me apressar. Entrei no carro, dei a partida e desapareci no fim da rua.
Feliz natal, boas festas de fim de ano e muita saúde, realizações e fantasias em 2010.
Volto a publicar meus contos a partir do final de janeiro, quando esse blog completa quatro anos!
Beijos
sábado, dezembro 19, 2009
sexta-feira, dezembro 11, 2009
Londrina
Hoje, dou voz a uma amiga rica, que gosta de viajar, frequenta o jet set internacional e sempre está cercada de gente importante.
“Vou contar apenas um episódio que me aconteceu, porque falar sobre tudo seria preciso mais de um livro.
Tenho paixões por sapatos, de salto, já que sou baixinha: 1,66m. Em qualquer lugar, caso encontre uma loja dessa especialidade e nela alguns interessantes, não deixo de entrar e imediatamente comprar alguns pares. Sou atualmente casada com um empresário nórdico, digamos assim para não definir de quem falo. Tenho também uma outra paixão além dos sapatos; digo-a apenas agora: gosto de homens jovens. Tenho 39 anos, reconheço que os namorados mais interessantes são os que são cinco ou até mesmo dez anos mais jovens que eu. Outro dia estava almoçando num famoso restaurante, em Londres, quando vi numa das mesas vizinhas um jovem ator. Ele já me conhecia de uma recepção beneficente, inclusive contribuiu de modo generoso para uma de nossas causas, uma ONG ambientalista. Fui até à mesa em que conversava com os amigos e cumprimentei-o com alegria. Apresentou-me as pessoas que o rodeavam. Disse que precisava falar-lhe, mas não queria ferir a etiqueta. Marcamos um encontro no foyer do hotel, uma hora e meia mais tarde. Ainda aproveitei o curto espaço de tempo depois do almoço para atravessar a rua e mergulhar nos sonhos que os sapatos da loja em frente me instigavam. A vendedora me adorou, disse que já tinha lido alguma coisa sobre mim nos jornais ingleses. Comprei três pares. Depois voltei para o hotel. O ator já me esperava. Perguntou por minhas amigas, chegou a dizer que tenho uma espécie de séquito, isto é, moças e rapazes que sempre viajam comigo, para me servirem. Respondi-lhe que dera uma espécie de folga a eles, e que estavam a fazer compras pela cidade. Reparou que eu calçava sapato belíssimo, de salto.
‘Posso dizer uma coisa você?’, perguntou.
‘Claro.’
‘Já que estamos nos tornando amigos íntimos, adoro uma mulher sobre saltos, e tanto mais se eles forem bem altos.’
‘Que bom’, respondi, ‘assim você vai me amar cada vez mais.’
‘Há mais uma coisa.’
‘Qual?’, aprontei-me curiosa.
‘Gosto que elas apareçam sobre os saltos inteiramente nuas.’
Não deixei de rir, mas desviei a conversa. Uma mulher importante como eu não poderia demonstrar vulgaridade.
Despedi-me após uns trinta minutos. Falou que ainda ficaria na cidade por dois dias e deu-me o endereço de seu hotel.
Foi então que eu e as amigas que sempre me seguem nas viagens resolvemos aprontar. Contei a elas a paixão dele por mulheres nuas sobre saltos.
Fomos ao seu hotel por volta da uma da madrugada. Não foi difícil entrar e nos acomodarmos na suíte onde ele se hospedava.
Chegou sozinho, em torno das duas horas, ligeiramente bêbado. Achamos que assim seria melhor. Quando se atirou sobre a cama, havia muito que eu e as outras três estávamos em pelo. E sobre saltos.
Ao nos ver, saltou assustado, sentou-se sobre a cama, pegou a garrafa de uísque e bebeu no gargalo. Sorrimos, fazendo poses especiais. Andamos sobre nossos saltos, para que ele gozasse toda a sua paixão.
Quando quis nos agarrar, sinalizei que esperasse. Saímos as quatro. Nuinhas. E desaparecemos no corredor comprido do hotel.
Dias depois o vi na TV. Narrou o episódio. Disse, num programa noturno de entrevistas da BBC, que estava em seu quarto de hotel quando três (enganou-se na conta) mulheres nuas e sobre saltos invadiram o seu apartamento. O entrevistador perguntou se ele tinha exagerado na bebida naquela noite.
Respondeu:
‘Sempre exagero, mas nunca me aconteceu de aparecer três mulheres nuas ao mesmo tempo.’
Todos caíram na gargalhada.
Ainda bem que ele não contou sobre a noite seguinte. Tudo aconteceu da mesma forma. Só que fui sozinha. E não me dissolvi nas sombras.”
“Vou contar apenas um episódio que me aconteceu, porque falar sobre tudo seria preciso mais de um livro.
Tenho paixões por sapatos, de salto, já que sou baixinha: 1,66m. Em qualquer lugar, caso encontre uma loja dessa especialidade e nela alguns interessantes, não deixo de entrar e imediatamente comprar alguns pares. Sou atualmente casada com um empresário nórdico, digamos assim para não definir de quem falo. Tenho também uma outra paixão além dos sapatos; digo-a apenas agora: gosto de homens jovens. Tenho 39 anos, reconheço que os namorados mais interessantes são os que são cinco ou até mesmo dez anos mais jovens que eu. Outro dia estava almoçando num famoso restaurante, em Londres, quando vi numa das mesas vizinhas um jovem ator. Ele já me conhecia de uma recepção beneficente, inclusive contribuiu de modo generoso para uma de nossas causas, uma ONG ambientalista. Fui até à mesa em que conversava com os amigos e cumprimentei-o com alegria. Apresentou-me as pessoas que o rodeavam. Disse que precisava falar-lhe, mas não queria ferir a etiqueta. Marcamos um encontro no foyer do hotel, uma hora e meia mais tarde. Ainda aproveitei o curto espaço de tempo depois do almoço para atravessar a rua e mergulhar nos sonhos que os sapatos da loja em frente me instigavam. A vendedora me adorou, disse que já tinha lido alguma coisa sobre mim nos jornais ingleses. Comprei três pares. Depois voltei para o hotel. O ator já me esperava. Perguntou por minhas amigas, chegou a dizer que tenho uma espécie de séquito, isto é, moças e rapazes que sempre viajam comigo, para me servirem. Respondi-lhe que dera uma espécie de folga a eles, e que estavam a fazer compras pela cidade. Reparou que eu calçava sapato belíssimo, de salto.
‘Posso dizer uma coisa você?’, perguntou.
‘Claro.’
‘Já que estamos nos tornando amigos íntimos, adoro uma mulher sobre saltos, e tanto mais se eles forem bem altos.’
‘Que bom’, respondi, ‘assim você vai me amar cada vez mais.’
‘Há mais uma coisa.’
‘Qual?’, aprontei-me curiosa.
‘Gosto que elas apareçam sobre os saltos inteiramente nuas.’
Não deixei de rir, mas desviei a conversa. Uma mulher importante como eu não poderia demonstrar vulgaridade.
Despedi-me após uns trinta minutos. Falou que ainda ficaria na cidade por dois dias e deu-me o endereço de seu hotel.
Foi então que eu e as amigas que sempre me seguem nas viagens resolvemos aprontar. Contei a elas a paixão dele por mulheres nuas sobre saltos.
Fomos ao seu hotel por volta da uma da madrugada. Não foi difícil entrar e nos acomodarmos na suíte onde ele se hospedava.
Chegou sozinho, em torno das duas horas, ligeiramente bêbado. Achamos que assim seria melhor. Quando se atirou sobre a cama, havia muito que eu e as outras três estávamos em pelo. E sobre saltos.
Ao nos ver, saltou assustado, sentou-se sobre a cama, pegou a garrafa de uísque e bebeu no gargalo. Sorrimos, fazendo poses especiais. Andamos sobre nossos saltos, para que ele gozasse toda a sua paixão.
Quando quis nos agarrar, sinalizei que esperasse. Saímos as quatro. Nuinhas. E desaparecemos no corredor comprido do hotel.
Dias depois o vi na TV. Narrou o episódio. Disse, num programa noturno de entrevistas da BBC, que estava em seu quarto de hotel quando três (enganou-se na conta) mulheres nuas e sobre saltos invadiram o seu apartamento. O entrevistador perguntou se ele tinha exagerado na bebida naquela noite.
Respondeu:
‘Sempre exagero, mas nunca me aconteceu de aparecer três mulheres nuas ao mesmo tempo.’
Todos caíram na gargalhada.
Ainda bem que ele não contou sobre a noite seguinte. Tudo aconteceu da mesma forma. Só que fui sozinha. E não me dissolvi nas sombras.”
sábado, dezembro 05, 2009
A natureza é nua
Quando morei em Estâncias do Vale, uma pequena cidade no noroeste do Rio, tive experiências fascinantes com a natureza. Minha casa ficava no meio de um bosque onde se podiam apreciar árvores diversas e acolhedoras. Sempre achei que há árvores que não desejam a proximidade de seres humanos. Mas, ao menos em relação a mim, elas se mostraram receptivas a partir do momento em que me estabeleci ali e passei a admirá-las. Ainda bem que minha casa ficava fora do perímetro urbano, e a residência mais próxima a mais ou menos quinhentos metros. Podia sair à vontade em qualquer hora do dia ou mesmo da noite que me sentia protegida por toda aquela exuberante natureza. O canto dos pássaros, os sons de animais de que eu nem mesmo sabia o nome não me intimidavam. Nada ali poderia me fazer mal. À noite, gostava de caminhar até um platô de onde eu observava todas as estrelas possíveis. Não havia luzes por perto, logo era mais escuro o céu e as estrelas brilhavam como diamantes. Não me lembro de, antes, ter apreciado um céu assim.
Quando chegou o verão, um vento morno soprava ao entardecer. Após as dez da noite, já se podia sentir a pele sendo acariciada por um sudoeste que vinha para nos arrepiar. Aí esquecia-se todo o calor do dia que findara para se mergulhar numa noite fresca, confortável.
Certo dia estava excitada. Não sabia o motivo. Meu peito arfava, queria sair, irmanar-me a toda aquela vegetação, acariciar o tronco das árvores, sentir o pulsar de suas seivas, recostar num arbusto que se mostraria irmão de uma mulher que não estava ali para destruí-lo nem tramar nada de mal contra ele. Na mesma noite, notei que me faltava algo. Observei mais acurada a natureza; tentava descobrir nela o que faltava em mim. Passeei por vários caminhos; andei sobre a relva; resvalei em árvores que até então não havia reparado; descobri a areia fofa das margens de um pequeno regato que eu escutava mas ainda não estivera com ele. Depois olhei de novo para o céu. Toda a imensidão desembocava numa confluência que é difícil traduzir em palavras. As palavras às vezes matam a experiência. Subitamente descobri o que me fazia diferente: a natureza é nua! Isso mesmo, nada a cobre, a não ser sua própria pele: cascas, folhas, resíduos diversos, frutos e flores. Descobri um galho que se sobressaía em uma árvore maior. Galho à meia-altura, convidativo a aparar as roupas de uma mulher que se embebia de um suco embriagador. Tirei toda a roupa. Que não era muita. Pendurei-a no galho saliente.
Passei então a andar entre as árvores, a fazer meu passeio noturno como vim ao mundo, exatamente como todo aquele bosque, com plantas, árvores pequenas e grandes, vegetação diversa, e pequenos bichos.
A natureza expõe sua beleza através de seus próprios traços; os homens e as mulheres convencionaram criar traços que vão além daqueles com os quais nasceram.
Depois de algum tempo, já não precisava do galho em que pendurara minhas roupas na primeira e na segunda vez. Saía nua de casa.
Então veio a estação das chuvas. Quis sentir a tempestade sobre a própria pele, quis viver a experiência das árvores maiores, que estão expostas ao tempo, que não têm onde se esconderem. A água escorria sobre meus cabelos, sobre meu corpo inteiro, até atingir a terra que alimenta todos nós. Observava os galhos maiores, os troncos úmidos, as folhas que jaziam já sem vida à sua volta. Tudo era amor e silêncio, cheiro de terra e vida que se acumulava.
Quando voltou o sol, saí nua em plena luz do dia. Fui mais longe do que nunca. Quando voltava reparei sons vizinhos, vozes estranhas ao local, ruídos que destoavam à natureza. Fiquei à espreita, procurei um tronco maior onde me abrigar. Escalei-o sôfrega. Protegi-me nos galhos mais altos. Nunca tinha subido numa árvore, mas percebi que aquela me ajudava. Eles passaram. Eram dois e traziam uma espingarda. Demoraram a partir. Apenas ao anoitecer pude sair do meu esconderijo. Então, já não se ouvia som humano. Perto de casa, recostei-me numa árvore que sempre me acarinhava, contei-lhe o sucedido.
Dali em diante, fiquei muito tempo sem sair nua. Ao mesmo tempo, tentei descobrir quem eram aqueles homens. O que pude saber é que não moravam na cidade nem em nenhum arraial próximo.
Quando tudo se tranqüilizou novamente, me expus como antes, agora em pleno júbilo, talvez devido ao desejo reprimido.
Foi aí que me descobriste. Nua! E eu morrendo de vergonha. Te aproximaste e pediste que eu não temesse, que tu já me espiavas de longa data e também querias viver a mesma aventura. Fingi acreditar, embora exigisse que tapasses os olhos para que eu escapasse incólume. Prometeste naquele momento que não me farias mal algum e que só tocarias meu corpo com minha permissão. Fiz-me afável, talvez tenha semeado algum tipo de esperança em teu coração.
Mas ao amanhecer do dia seguinte, antes que voltasses – porque eu sabia que voltarias –, parti. Deixei para trás minhas árvores, minhas flores, meu céu nunca antes visto. Concluí que minha vida era um sonho; que aos homens e às mulheres não é possível a mesma vida das árvores.
Quando chegou o verão, um vento morno soprava ao entardecer. Após as dez da noite, já se podia sentir a pele sendo acariciada por um sudoeste que vinha para nos arrepiar. Aí esquecia-se todo o calor do dia que findara para se mergulhar numa noite fresca, confortável.
Certo dia estava excitada. Não sabia o motivo. Meu peito arfava, queria sair, irmanar-me a toda aquela vegetação, acariciar o tronco das árvores, sentir o pulsar de suas seivas, recostar num arbusto que se mostraria irmão de uma mulher que não estava ali para destruí-lo nem tramar nada de mal contra ele. Na mesma noite, notei que me faltava algo. Observei mais acurada a natureza; tentava descobrir nela o que faltava em mim. Passeei por vários caminhos; andei sobre a relva; resvalei em árvores que até então não havia reparado; descobri a areia fofa das margens de um pequeno regato que eu escutava mas ainda não estivera com ele. Depois olhei de novo para o céu. Toda a imensidão desembocava numa confluência que é difícil traduzir em palavras. As palavras às vezes matam a experiência. Subitamente descobri o que me fazia diferente: a natureza é nua! Isso mesmo, nada a cobre, a não ser sua própria pele: cascas, folhas, resíduos diversos, frutos e flores. Descobri um galho que se sobressaía em uma árvore maior. Galho à meia-altura, convidativo a aparar as roupas de uma mulher que se embebia de um suco embriagador. Tirei toda a roupa. Que não era muita. Pendurei-a no galho saliente.
Passei então a andar entre as árvores, a fazer meu passeio noturno como vim ao mundo, exatamente como todo aquele bosque, com plantas, árvores pequenas e grandes, vegetação diversa, e pequenos bichos.
A natureza expõe sua beleza através de seus próprios traços; os homens e as mulheres convencionaram criar traços que vão além daqueles com os quais nasceram.
Depois de algum tempo, já não precisava do galho em que pendurara minhas roupas na primeira e na segunda vez. Saía nua de casa.
Então veio a estação das chuvas. Quis sentir a tempestade sobre a própria pele, quis viver a experiência das árvores maiores, que estão expostas ao tempo, que não têm onde se esconderem. A água escorria sobre meus cabelos, sobre meu corpo inteiro, até atingir a terra que alimenta todos nós. Observava os galhos maiores, os troncos úmidos, as folhas que jaziam já sem vida à sua volta. Tudo era amor e silêncio, cheiro de terra e vida que se acumulava.
Quando voltou o sol, saí nua em plena luz do dia. Fui mais longe do que nunca. Quando voltava reparei sons vizinhos, vozes estranhas ao local, ruídos que destoavam à natureza. Fiquei à espreita, procurei um tronco maior onde me abrigar. Escalei-o sôfrega. Protegi-me nos galhos mais altos. Nunca tinha subido numa árvore, mas percebi que aquela me ajudava. Eles passaram. Eram dois e traziam uma espingarda. Demoraram a partir. Apenas ao anoitecer pude sair do meu esconderijo. Então, já não se ouvia som humano. Perto de casa, recostei-me numa árvore que sempre me acarinhava, contei-lhe o sucedido.
Dali em diante, fiquei muito tempo sem sair nua. Ao mesmo tempo, tentei descobrir quem eram aqueles homens. O que pude saber é que não moravam na cidade nem em nenhum arraial próximo.
Quando tudo se tranqüilizou novamente, me expus como antes, agora em pleno júbilo, talvez devido ao desejo reprimido.
Foi aí que me descobriste. Nua! E eu morrendo de vergonha. Te aproximaste e pediste que eu não temesse, que tu já me espiavas de longa data e também querias viver a mesma aventura. Fingi acreditar, embora exigisse que tapasses os olhos para que eu escapasse incólume. Prometeste naquele momento que não me farias mal algum e que só tocarias meu corpo com minha permissão. Fiz-me afável, talvez tenha semeado algum tipo de esperança em teu coração.
Mas ao amanhecer do dia seguinte, antes que voltasses – porque eu sabia que voltarias –, parti. Deixei para trás minhas árvores, minhas flores, meu céu nunca antes visto. Concluí que minha vida era um sonho; que aos homens e às mulheres não é possível a mesma vida das árvores.
quarta-feira, novembro 25, 2009
Socorro!
“Senhora, senhora, por favor, me ajude!”
Uma jovem de mais ou menos vinte anos chegara junto a mim e fizera o pedido. Estávamos dentro d’água na praia da Joana, era sábado, devia ser quase uma da tarde.
“O que houve?”, perguntei.
“Preciso de sua ajuda.”
“Ajuda? Que tipo de ajuda?”
“Estou nua.”
“Nua?”
“Isso; sem a parte de baixo do biquíni.”
“Como aconteceu?”
“Ah, é tão difícil contar, preciso primeiro de sua ajuda, depois conto.”
“Como vou ajudar você?”
“Arranja um biquíni pra mim...”
“Um biquíni vai ser difícil, mas vou tentar ajudar, nem há muitas pessoas na praia...”
“Mas não posso sair assim daqui.”
“Calma, você não vai sair.”
“Então você vai arranjar um biquíni pra mim?”
“Vou tentar. Mas, me diga uma coisa, não foi esse mar que levou o seu biquíni, foi?”
“Não.”
“Então o que foi?”
“Um rapaz.”
“Rapaz?”
“O namorado.”
“Então ele volta; deve estar escondido em algum lugar pra ver o que acontece; há homens que se excitam mais com a fantasia do que com a realidade. Quando eu tinha mais ou menos a sua idade, já passei por isso.”
“Moça, por favor, ele não vai voltar; vai me deixar nua, aqui.”
“Calma! Veja só, ninguém está a nos olhar; se você se controlar, tudo vai se resolver. Uma mulher bonita atrai boas soluções; e você é bonita.”
“Mas estou tão nervosa...”
“Não fique assim; finja que nada aconteceu que tudo vai se resolver.”
“A senhora então vai me ajudar?”
“Senhora, que senhora?”
“Desculpa; você me ajuda?”
“Não tenho um biquíni reserva, mas vou ver o que posso fazer.”
“Traga qualquer coisa, que eu visto.”
“Vai ser pior; vai chamar a atenção. Vou dar um jeito.”
“Não demore, por favor, estou morrendo de medo.”
“Tenha calma, você não vai morrer por causa disso. Já passei por situações semelhantes, até mesmo piores.”
“Veja, vem alguém ali.”
“Fique tranqüila, ninguém vai reparar,”
“Ai, que medo...”
“Viu? Passaram adiante. A água está escura, não dá pra notar. Tudo depende da sua atitude mental; se ela
for correta, nada acontecerá.”
“Posso acreditar?”
“Claro. Agora fique aí quietinha que eu vou sair e ver uma solução. Mas aposto que você vai resolver sozinha.”
“A senhora, quer dizer, você não vai me abandonar aqui, não é?”
“Não.”
“E também não vai falar pra ninguém que eu estou nua, não é mesmo?”
“Lógico que não. Somos discretas. Aguarde aí. Não se desespere; não vá fazer a loucura de sair correndo até seus pertences.”
Depois de alguns minutos, quando eu já estava na areia, pensando o que ia fazer para ajudá-la, vejo a mesma moça vindo em minha direção; e vestidinha.
Ela sorria.
“Quero agradecer, ainda estou morrendo de vergonha.”
“Como conseguiu o biquíni?”
“Fiz o que você falou, me tranqüilizei; consegui esquecer que estava nua, comecei a sentir uma sensação incrível, não sei nem dizer de que, mas uma paz, uma felicidade... queria mesmo que aquele momento não acabasse. Então, ele voltou!”
“Seu namorado?”
“Isso.”
“Que bom; não disse que ele voltava? Você ainda vai ficar nua muitas vezes.”
“Você acha?”, ela quis saber.
“Acho. Você parece muito comigo quando eu era mais jovem.”
Ela me beijou, agradeceu mais uma vez e se foi.
Uma jovem de mais ou menos vinte anos chegara junto a mim e fizera o pedido. Estávamos dentro d’água na praia da Joana, era sábado, devia ser quase uma da tarde.
“O que houve?”, perguntei.
“Preciso de sua ajuda.”
“Ajuda? Que tipo de ajuda?”
“Estou nua.”
“Nua?”
“Isso; sem a parte de baixo do biquíni.”
“Como aconteceu?”
“Ah, é tão difícil contar, preciso primeiro de sua ajuda, depois conto.”
“Como vou ajudar você?”
“Arranja um biquíni pra mim...”
“Um biquíni vai ser difícil, mas vou tentar ajudar, nem há muitas pessoas na praia...”
“Mas não posso sair assim daqui.”
“Calma, você não vai sair.”
“Então você vai arranjar um biquíni pra mim?”
“Vou tentar. Mas, me diga uma coisa, não foi esse mar que levou o seu biquíni, foi?”
“Não.”
“Então o que foi?”
“Um rapaz.”
“Rapaz?”
“O namorado.”
“Então ele volta; deve estar escondido em algum lugar pra ver o que acontece; há homens que se excitam mais com a fantasia do que com a realidade. Quando eu tinha mais ou menos a sua idade, já passei por isso.”
“Moça, por favor, ele não vai voltar; vai me deixar nua, aqui.”
“Calma! Veja só, ninguém está a nos olhar; se você se controlar, tudo vai se resolver. Uma mulher bonita atrai boas soluções; e você é bonita.”
“Mas estou tão nervosa...”
“Não fique assim; finja que nada aconteceu que tudo vai se resolver.”
“A senhora então vai me ajudar?”
“Senhora, que senhora?”
“Desculpa; você me ajuda?”
“Não tenho um biquíni reserva, mas vou ver o que posso fazer.”
“Traga qualquer coisa, que eu visto.”
“Vai ser pior; vai chamar a atenção. Vou dar um jeito.”
“Não demore, por favor, estou morrendo de medo.”
“Tenha calma, você não vai morrer por causa disso. Já passei por situações semelhantes, até mesmo piores.”
“Veja, vem alguém ali.”
“Fique tranqüila, ninguém vai reparar,”
“Ai, que medo...”
“Viu? Passaram adiante. A água está escura, não dá pra notar. Tudo depende da sua atitude mental; se ela
for correta, nada acontecerá.”
“Posso acreditar?”
“Claro. Agora fique aí quietinha que eu vou sair e ver uma solução. Mas aposto que você vai resolver sozinha.”
“A senhora, quer dizer, você não vai me abandonar aqui, não é?”
“Não.”
“E também não vai falar pra ninguém que eu estou nua, não é mesmo?”
“Lógico que não. Somos discretas. Aguarde aí. Não se desespere; não vá fazer a loucura de sair correndo até seus pertences.”
Depois de alguns minutos, quando eu já estava na areia, pensando o que ia fazer para ajudá-la, vejo a mesma moça vindo em minha direção; e vestidinha.
Ela sorria.
“Quero agradecer, ainda estou morrendo de vergonha.”
“Como conseguiu o biquíni?”
“Fiz o que você falou, me tranqüilizei; consegui esquecer que estava nua, comecei a sentir uma sensação incrível, não sei nem dizer de que, mas uma paz, uma felicidade... queria mesmo que aquele momento não acabasse. Então, ele voltou!”
“Seu namorado?”
“Isso.”
“Que bom; não disse que ele voltava? Você ainda vai ficar nua muitas vezes.”
“Você acha?”, ela quis saber.
“Acho. Você parece muito comigo quando eu era mais jovem.”
Ela me beijou, agradeceu mais uma vez e se foi.
quinta-feira, novembro 12, 2009
Com ele!
Era uma quarta-feira à noite, resolvi enganá-lo. Vesti-me com uma roupa nova e provocante, maquiei-me, aprontei o cabelo, calcei sapatos de salto-alto e me escondi no terraço de nossa casa.
Há muito que ele anda me deixando sozinha; vai jogar futebol com os amigos, depois para pra beber em algum bar; chega em casa lá pelas tantas.
Quando vi que apontava lá na esquina, agachei-me e deixei que entrasse em casa. Esperei uns quinze minutos. Percebi que me procurava; devia estar surpreso por encontrar-se só. Isso jamais ocorrera. Reparei que acendia as luzes, entrava por todos os cômodos; em algum momento, ouvi gritar meu nome.
A partir daí coloquei meu plano em ação. Desci até a entrada da casa e, sem que ele desse por mim, abri e fechei o portão. O rangido costumeiro provocou-lhe um sobressalto. Apareceu na janela.
Subi as escadas.
“Onde você esteve?”
Eu nada disse.
Insistiu.
Nada falei. Fui para o meu quarto e comecei a tirar a roupa.
Ele invadiu o quarto com sofreguidão, agarrou-me e arrancou o que restava sobre meu corpo. Começou a se esfregar em mim, tirou para fora da calça o pênis e deslizou-o por entre as minhas pernas.
Fizemos amor ali mesmo, ele me pressionando contra a parede. Quando deu a entender que ia gozar, disse excitado:
“Fale, fale onde você foi, fale com quem você esteve!”
Taquei-lhe um beijo na boca. Escapei de seu pênis. Disse também sôfrega:
“Sou eu quem gozo primeiro.”
Deitamos.
Depois que terminamos, ficamos longo tempo encostados um ao outro, ambos satisfeitos. Ainda me deu um longo beijo na boca. Sei que a paixão ardia em seu peito. O homem só beija a mulher após o sexo quando a ama muito.
Lá pela madrugada, desci e fui à cozinha comer alguma coisa. Estava faminta. Ele dormia um sono pesado, tinha o rosto banhado em uma alegria que havia muito eu não reparava.
Os dias se passaram. Nossa vida continuou a mesma. Ele não mudou nada. Continuava indo para o trabalho, de lá para o futebol e depois para o bar. Acho que desejava viver a mesma situação. Mas não se surpreendeu, encontrou-me todas as vezes sem nada dizer, vendo TV, ou mesmo dormindo.
Um mês depois, decidi colocar em ação a segunda parte do meu plano. Num dos dias em que ele joga futebol, fiz a mesma coisa. Subi ao terraço e me escondi. Esperei que ele chegasse e se descobrisse só.
Tudo ocorreu como eu previra. Senti que me procurava, ávido, e provavelmente muito excitado.
Comecei a agir. Ainda no terraço tirei toda a roupa. Corri até o portão, abri-o e fechei. O barulho despertou-o. Subi as escadas e ele se deparou com sua mulher inteiramente nua.
“O que aconteceu?”, sua voz não escondia deslumbre e expectativa.
Nada falei. Agarrei-o. Despi-o.
“Me diga, por favor, você chega nua em casa e vai ficar calada?”
Procurei seu pênis, beijei sua boca. Encostei meu homem na parede e fiz que ele me penetrasse ali mesmo, na sala, ainda no primeiro andar.
Quando eu estava prestes a gozar, sussurrei em seu ouvido:
“Dessa vez ele me deixou nua”, e fiz uma cara de que era a mulher mais feliz do mundo.
“Ele, quem?”
“Não pare, por favor, não pare, quero gozar, não pare..."
“Diga o nome dele pelo menos, por favor, diga!”
“Não pare, não pare, agora não pare, vou gozar, ai... ai ... isso, isso, não pare..."
Então gozei. Beijei-lhe a boca. Após alguns segundos, agachei-me e abocanhei seu pênis.
Surpreendi-o ainda uma vez logo que me desembaracei de seu corpo. Abri abruptamente a porta e corri nua para os fundos da casa. Encostei-me no muro, junto à latada de plantas.
Ele correu atrás de mim, agarrou-me e cobriu meu corpo com o seu.
“Foi tão bom”, falei.
“Você gostou? Quer mais uma vez?”
Desfiz o equívoco:
“Foi tão bom, foi ótimo. Mas com ele!”
Há muito que ele anda me deixando sozinha; vai jogar futebol com os amigos, depois para pra beber em algum bar; chega em casa lá pelas tantas.
Quando vi que apontava lá na esquina, agachei-me e deixei que entrasse em casa. Esperei uns quinze minutos. Percebi que me procurava; devia estar surpreso por encontrar-se só. Isso jamais ocorrera. Reparei que acendia as luzes, entrava por todos os cômodos; em algum momento, ouvi gritar meu nome.
A partir daí coloquei meu plano em ação. Desci até a entrada da casa e, sem que ele desse por mim, abri e fechei o portão. O rangido costumeiro provocou-lhe um sobressalto. Apareceu na janela.
Subi as escadas.
“Onde você esteve?”
Eu nada disse.
Insistiu.
Nada falei. Fui para o meu quarto e comecei a tirar a roupa.
Ele invadiu o quarto com sofreguidão, agarrou-me e arrancou o que restava sobre meu corpo. Começou a se esfregar em mim, tirou para fora da calça o pênis e deslizou-o por entre as minhas pernas.
Fizemos amor ali mesmo, ele me pressionando contra a parede. Quando deu a entender que ia gozar, disse excitado:
“Fale, fale onde você foi, fale com quem você esteve!”
Taquei-lhe um beijo na boca. Escapei de seu pênis. Disse também sôfrega:
“Sou eu quem gozo primeiro.”
Deitamos.
Depois que terminamos, ficamos longo tempo encostados um ao outro, ambos satisfeitos. Ainda me deu um longo beijo na boca. Sei que a paixão ardia em seu peito. O homem só beija a mulher após o sexo quando a ama muito.
Lá pela madrugada, desci e fui à cozinha comer alguma coisa. Estava faminta. Ele dormia um sono pesado, tinha o rosto banhado em uma alegria que havia muito eu não reparava.
Os dias se passaram. Nossa vida continuou a mesma. Ele não mudou nada. Continuava indo para o trabalho, de lá para o futebol e depois para o bar. Acho que desejava viver a mesma situação. Mas não se surpreendeu, encontrou-me todas as vezes sem nada dizer, vendo TV, ou mesmo dormindo.
Um mês depois, decidi colocar em ação a segunda parte do meu plano. Num dos dias em que ele joga futebol, fiz a mesma coisa. Subi ao terraço e me escondi. Esperei que ele chegasse e se descobrisse só.
Tudo ocorreu como eu previra. Senti que me procurava, ávido, e provavelmente muito excitado.
Comecei a agir. Ainda no terraço tirei toda a roupa. Corri até o portão, abri-o e fechei. O barulho despertou-o. Subi as escadas e ele se deparou com sua mulher inteiramente nua.
“O que aconteceu?”, sua voz não escondia deslumbre e expectativa.
Nada falei. Agarrei-o. Despi-o.
“Me diga, por favor, você chega nua em casa e vai ficar calada?”
Procurei seu pênis, beijei sua boca. Encostei meu homem na parede e fiz que ele me penetrasse ali mesmo, na sala, ainda no primeiro andar.
Quando eu estava prestes a gozar, sussurrei em seu ouvido:
“Dessa vez ele me deixou nua”, e fiz uma cara de que era a mulher mais feliz do mundo.
“Ele, quem?”
“Não pare, por favor, não pare, quero gozar, não pare..."
“Diga o nome dele pelo menos, por favor, diga!”
“Não pare, não pare, agora não pare, vou gozar, ai... ai ... isso, isso, não pare..."
Então gozei. Beijei-lhe a boca. Após alguns segundos, agachei-me e abocanhei seu pênis.
Surpreendi-o ainda uma vez logo que me desembaracei de seu corpo. Abri abruptamente a porta e corri nua para os fundos da casa. Encostei-me no muro, junto à latada de plantas.
Ele correu atrás de mim, agarrou-me e cobriu meu corpo com o seu.
“Foi tão bom”, falei.
“Você gostou? Quer mais uma vez?”
Desfiz o equívoco:
“Foi tão bom, foi ótimo. Mas com ele!”
quinta-feira, novembro 05, 2009
Fui parar na cama dele
“Adriana, você não imagina o que me aconteceu nesses dias.”
“Já sei, conquistou um homem lindo.”
“Isso não é novidade, é algo que vai além.”
“Trata-se de um membro da família real!”
“Não brinca, Adriana, não é nada disso, deixe-me contar.”
“Deixe-me? Então, deixo-te!”
“Escute só. Sabe aquele cara com quem eu tenho saído?”
“Ah, aquele último, que foi colega de trabalho de uma amiga nossa?”
“Esse mesmo.”
“Estou curiosa.”
“Num dia desses, eu ainda estava fazendo aquele jogo de esconde-esconde; não queria logo chegar ao ponto culminante; você me entende, não?”
“Entendo, mas isso pode ser dito sem tanto rodeio, Lara.”
“Permita-me os rodeios; sou uma mulher barroca.”
“Que bom, o barroco é dado a novelos.”
“Ainda bem. Então, Adriana, ele falou: ‘não podemos ficar nos agarrando assim em lugares públicos, como cinemas e restaurantes, não temos mais idade para isso’.”
“Acho que ele tem toda a razão.”
“Aceitei o convite para jantarmos num restaurante aconchegante; depois, fui parar na cama dele.”
“Então você aproveitou...”
“Ao chegarmos na sua casa, ele não tentou coisa alguma, nem mesmo me beijou. Foi à geladeira, apanhou uma cerveja, ofereceu-me. Recusei. Bebeu sozinho enquanto escutávamos uma música. De repente, levantei-me e fui até o quarto. Nunca havia estado lá. Deitei na cama dele. Chamei-o de lá do quarto. ‘Antônio, venha até aqui, por favor’.”
“E ele foi?”
“O que você acha? Claro. Quando entrou, me viu deitada na cama de casal. Fui eu quem disse: ‘deite aqui junto a mim’. Ele deitou e me deu um longo beijo na boca. Foi aí que tudo aconteceu.”
“O quê?”
“Não imagina?”
“Imagino, Lara, mas quero ouvir você contar.”
“Deixei que ele me tirasse toda a roupa. Eu nua, e ele ainda vestido. Então me beijou de novo. Depois começou a acontecer o principal.”
“E foi bom?”
“Foi ótimo, mas fiz uma loucura.”
“Qual?”
“Lembra que contei a você que fiquei grávida aos dezessete anos porque não resisti às carícias de um namorado?”
“Lembro; mas essa gravidez já fez mais de vinte anos.”
“Isso, mais de vinte anos, mas continuo a mesma louca, a mesma irresponsável.”
“Como assim, Lara?”
“Não resisti a tanta excitação. Deixei que ele me penetrasse sem camisinha.”
“Verdade?”
“Verdade. Na hora, não sei se foi uma vontade inconsciente de correr perigo ou tesão demais.”
“E como você ficou?”
“Fiquei e ainda estou preocupadíssima. Veja só, a minha filha é uma pessoa responsável, diz que só transa de camisinha, tem o maior cuidado com seu corpo, tem um grande controle sobre seus instintos. Pelo menos é assim que ela diz. E a mãe é totalmente irresponsável.”
“E agora, Lara, o que vai fazer?”
“Não há o que fazer.”
“E quando ele convidar você novamente?”
“Não sei. Acho que levo eu a camisinha.”
“Ele aceita?”
“Acho que aceitar, aceita; o problema não é ele Adriana; o problema sou eu. Sou completamente louca. Principalmente se estou nua e na cama de um namorado. Não fale pra ninguém, mas acho que trepo melhor com o perigo!”
“Já sei, conquistou um homem lindo.”
“Isso não é novidade, é algo que vai além.”
“Trata-se de um membro da família real!”
“Não brinca, Adriana, não é nada disso, deixe-me contar.”
“Deixe-me? Então, deixo-te!”
“Escute só. Sabe aquele cara com quem eu tenho saído?”
“Ah, aquele último, que foi colega de trabalho de uma amiga nossa?”
“Esse mesmo.”
“Estou curiosa.”
“Num dia desses, eu ainda estava fazendo aquele jogo de esconde-esconde; não queria logo chegar ao ponto culminante; você me entende, não?”
“Entendo, mas isso pode ser dito sem tanto rodeio, Lara.”
“Permita-me os rodeios; sou uma mulher barroca.”
“Que bom, o barroco é dado a novelos.”
“Ainda bem. Então, Adriana, ele falou: ‘não podemos ficar nos agarrando assim em lugares públicos, como cinemas e restaurantes, não temos mais idade para isso’.”
“Acho que ele tem toda a razão.”
“Aceitei o convite para jantarmos num restaurante aconchegante; depois, fui parar na cama dele.”
“Então você aproveitou...”
“Ao chegarmos na sua casa, ele não tentou coisa alguma, nem mesmo me beijou. Foi à geladeira, apanhou uma cerveja, ofereceu-me. Recusei. Bebeu sozinho enquanto escutávamos uma música. De repente, levantei-me e fui até o quarto. Nunca havia estado lá. Deitei na cama dele. Chamei-o de lá do quarto. ‘Antônio, venha até aqui, por favor’.”
“E ele foi?”
“O que você acha? Claro. Quando entrou, me viu deitada na cama de casal. Fui eu quem disse: ‘deite aqui junto a mim’. Ele deitou e me deu um longo beijo na boca. Foi aí que tudo aconteceu.”
“O quê?”
“Não imagina?”
“Imagino, Lara, mas quero ouvir você contar.”
“Deixei que ele me tirasse toda a roupa. Eu nua, e ele ainda vestido. Então me beijou de novo. Depois começou a acontecer o principal.”
“E foi bom?”
“Foi ótimo, mas fiz uma loucura.”
“Qual?”
“Lembra que contei a você que fiquei grávida aos dezessete anos porque não resisti às carícias de um namorado?”
“Lembro; mas essa gravidez já fez mais de vinte anos.”
“Isso, mais de vinte anos, mas continuo a mesma louca, a mesma irresponsável.”
“Como assim, Lara?”
“Não resisti a tanta excitação. Deixei que ele me penetrasse sem camisinha.”
“Verdade?”
“Verdade. Na hora, não sei se foi uma vontade inconsciente de correr perigo ou tesão demais.”
“E como você ficou?”
“Fiquei e ainda estou preocupadíssima. Veja só, a minha filha é uma pessoa responsável, diz que só transa de camisinha, tem o maior cuidado com seu corpo, tem um grande controle sobre seus instintos. Pelo menos é assim que ela diz. E a mãe é totalmente irresponsável.”
“E agora, Lara, o que vai fazer?”
“Não há o que fazer.”
“E quando ele convidar você novamente?”
“Não sei. Acho que levo eu a camisinha.”
“Ele aceita?”
“Acho que aceitar, aceita; o problema não é ele Adriana; o problema sou eu. Sou completamente louca. Principalmente se estou nua e na cama de um namorado. Não fale pra ninguém, mas acho que trepo melhor com o perigo!”
quinta-feira, outubro 29, 2009
Tara
Sou bonita, saibam, sou muito bonita. Já fui convidada várias vezes para ser modelo. Mas não é o meu desejo. Tenho outros ideais, acho que mais amplos. Há uma coisa, porém, que gostaria de contar. É um segredo. Nunca disse a ninguém. Hoje vou revelar. Alguns que já me conhecem vão surpreender-se: tenho uma tara. Isso mesmo, uma tara. Será que cada um não tem a sua? Todo ser humano tem um ponto fraco, e esse ponto pode ser sua tara. Vamos à minha.
Outro dia arranjei um namorado. Há quanto tempo não tinha um! Não por falta deles, mas porque estava ocupada com outros afazeres. Ele, o namorado, apaixonou-se imediatamente. Vive telefonando-me, quer encontrar-me todos os dias. Faço seu desejo. É bom, não é mesmo? Quantos não almejariam ter seus desejos realizados por uma mulher excepcionalmente bonita. Mas voltemos à minha tara. Um dia desses tentei fazer que ele a percebesse. Não sei se consegui. Nada falei. Saímos. Passeamos. Era um dia de primavera. Vesti uma calça justíssima e tênis. Para fazer o coração dele bater mais forte, coloquei um top bem pequeno, quase um sutiã. Nada por cima. Queria meu homem vidrado nos meus seios. Fomos ao Pontal. Tinha pouca gente lá, o dia não estava ensolarado; um sol tímido, quase branquinho, um ventinho que arrepiava.
“Tire umas fotos minhas”, passei-lhe a máquina.
Fiz a pose e começou a clicar. Sou mestra em fazer poses, cada uma mais linda do que a outra, imaginem. Aquele top, a calça colada ao corpo e o tênis branco me deixavam exuberante. Fez mais algumas fotos, a maioria com o mar atrás. Então resolvi ousar, quis surpreendê-lo, ou mesmo assustá-lo. Virei de costa, desatei o top e voltei-me a ele com os seios nus. Arregalou os olhos:
“Olhe, há outras pessoas!”.
“Não há problema, elas não vão ficar aborrecidas por causa disso.”
Pedi que fizesse outras fotos. Sentei-me nas pedras, levantei-me, fiquei de perfil. Para as últimas, arremessei o sutiã a ele:
“Guarde na bolsa, por favor.”
“Mas...", tentou retrucar; apenas tentou, não conseguiu.
“Vamos, não esmoreça, continue clicando!”.
Tirou mais uma dezena de fotos. Quando acabou, abracei-o.
“Não vai vestir-se?”
“Espere, não há pressa, está tão bom assim.”
Fiquei coladinha a ele, beijei-o na boca; depois, apoiei-me em seu ombro. Ainda andamos um pouco lado a lado, fomos até a extremidade do Pontal, onde se sentem na pele alguns respingos do mar. Num momento de mais arrepio, grudava-me de frente ao meu namorado. Foi um domingo tão bom, tão gostoso, enfim, ótimo; nada a reparar. Mais uma coisa: não voltei ao top. Apenas à tardinha, na hora de descer do carro, já à porta de casa, recuperei-o ao corpo.
Ah, minha tara...
Outro dia arranjei um namorado. Há quanto tempo não tinha um! Não por falta deles, mas porque estava ocupada com outros afazeres. Ele, o namorado, apaixonou-se imediatamente. Vive telefonando-me, quer encontrar-me todos os dias. Faço seu desejo. É bom, não é mesmo? Quantos não almejariam ter seus desejos realizados por uma mulher excepcionalmente bonita. Mas voltemos à minha tara. Um dia desses tentei fazer que ele a percebesse. Não sei se consegui. Nada falei. Saímos. Passeamos. Era um dia de primavera. Vesti uma calça justíssima e tênis. Para fazer o coração dele bater mais forte, coloquei um top bem pequeno, quase um sutiã. Nada por cima. Queria meu homem vidrado nos meus seios. Fomos ao Pontal. Tinha pouca gente lá, o dia não estava ensolarado; um sol tímido, quase branquinho, um ventinho que arrepiava.
“Tire umas fotos minhas”, passei-lhe a máquina.
Fiz a pose e começou a clicar. Sou mestra em fazer poses, cada uma mais linda do que a outra, imaginem. Aquele top, a calça colada ao corpo e o tênis branco me deixavam exuberante. Fez mais algumas fotos, a maioria com o mar atrás. Então resolvi ousar, quis surpreendê-lo, ou mesmo assustá-lo. Virei de costa, desatei o top e voltei-me a ele com os seios nus. Arregalou os olhos:
“Olhe, há outras pessoas!”.
“Não há problema, elas não vão ficar aborrecidas por causa disso.”
Pedi que fizesse outras fotos. Sentei-me nas pedras, levantei-me, fiquei de perfil. Para as últimas, arremessei o sutiã a ele:
“Guarde na bolsa, por favor.”
“Mas...", tentou retrucar; apenas tentou, não conseguiu.
“Vamos, não esmoreça, continue clicando!”.
Tirou mais uma dezena de fotos. Quando acabou, abracei-o.
“Não vai vestir-se?”
“Espere, não há pressa, está tão bom assim.”
Fiquei coladinha a ele, beijei-o na boca; depois, apoiei-me em seu ombro. Ainda andamos um pouco lado a lado, fomos até a extremidade do Pontal, onde se sentem na pele alguns respingos do mar. Num momento de mais arrepio, grudava-me de frente ao meu namorado. Foi um domingo tão bom, tão gostoso, enfim, ótimo; nada a reparar. Mais uma coisa: não voltei ao top. Apenas à tardinha, na hora de descer do carro, já à porta de casa, recuperei-o ao corpo.
Ah, minha tara...
quinta-feira, outubro 22, 2009
Das duas às cinco da madrugada são as horas mais seguras
“A nudez é coisa para os jovens!”
Como ele gosta de me ver nua! Gosta mais de me deixar nua. É bom fazer amor depois das fantasias que ele inventa.
Eu e meu namorado descobrimos algo inusitado: das duas às cinco da madrugada são as horas mais seguras. Eu posso sair nua no carro, ao seu lado; não há ninguém para nos molestar. Apenas as sombras e o braço dele a me envolver, o tecido de sua blusa a roçar meu corpo. Na primeira vez, ainda trêmula, temendo algum imprevisto, levei uma canga; na segunda, deixei-a na garagem; na terceira, saí nua. Tranquei a porta de casa e pendurei o cordão com as chaves, no pescoço. Senti um friozinho na barriga, mas depois me tornei a mulher mais corajosa do mundo. Ele morria de tesão ao me ver naquele estado. Com o correr das semanas e dos meses, já não vivíamos sem aqueles momentos. Uma relação convencional, sobre a cama, eu envolta em lençóis, só se antes tivéssemos praticado nossa fantasia. Às vezes trepávamos na rua mesmo. Dentro do carro ou fora; eu, encostada numa árvore.
Nunca disse nada a ninguém. Acho que não acreditariam. Caso algum amigo tocasse em assunto mais ousado, dava a sugestão: “pergunte a sua namorada se ela não gostaria de sair nua, de madrugada?” Tenho certeza de que quase todas as mulheres vão se apressar em dizer não. Depois, no entanto, sentirão a pulga atrás da orelha. A pergunta vai martelar durante alguns dias, vai transformar-se num desafio. Enfim, ela mesma vai tocar no assunto. Caso tenha sido verdadeira a proposta do namorado, acabará aceitando. Primeiro timidamente, a seguir tomará coragem e será difícil detê-la. O romance passará a ter nova face; a mulher sentirá a paixão maior e estará sempre pensando nele; ele, nela.
Se me perguntam se já pratiquei minha própria sugestão, respondo com outra pergunta: “o que você acha?”, e não digo mais.
Um dia desses fomos um pouco além. Quando voltávamos, pedi para dirigir. Nua. Como foi bom! Ao parar defronte da garagem, quis que fizesse amor comigo ali mesmo, que subisse sobre meu corpo no próprio banco do motorista. Tento ser discreta, não posso, porém, negar: como senti prazer... Quando acabamos, saí do carro e fui abrir o portão da garagem.
Caso vamos a alguma festa, jantar, ou caso tenhamos assistido a algum espetáculo e ainda estamos na rua durante a madrugada, tenho uma sacola para guardar as roupas que sei que vou tirar. Coloco-as na mala do automóvel. Não quero pano algum junto a mim. Meu bumbum se esparrama no assento do carona, relaxo o corpo e deixo que as mãos de meu homem me percorram o corpo. Não há nada melhor.
Ia esquecendo: ainda há as fotos. Cada uma mais linda do que a outra. Eu sempre nua, poses sutis, de arrepiar. Ah, como são boas essas máquinas digitais!
Como ele gosta de me ver nua! Gosta mais de me deixar nua. É bom fazer amor depois das fantasias que ele inventa.
Eu e meu namorado descobrimos algo inusitado: das duas às cinco da madrugada são as horas mais seguras. Eu posso sair nua no carro, ao seu lado; não há ninguém para nos molestar. Apenas as sombras e o braço dele a me envolver, o tecido de sua blusa a roçar meu corpo. Na primeira vez, ainda trêmula, temendo algum imprevisto, levei uma canga; na segunda, deixei-a na garagem; na terceira, saí nua. Tranquei a porta de casa e pendurei o cordão com as chaves, no pescoço. Senti um friozinho na barriga, mas depois me tornei a mulher mais corajosa do mundo. Ele morria de tesão ao me ver naquele estado. Com o correr das semanas e dos meses, já não vivíamos sem aqueles momentos. Uma relação convencional, sobre a cama, eu envolta em lençóis, só se antes tivéssemos praticado nossa fantasia. Às vezes trepávamos na rua mesmo. Dentro do carro ou fora; eu, encostada numa árvore.
Nunca disse nada a ninguém. Acho que não acreditariam. Caso algum amigo tocasse em assunto mais ousado, dava a sugestão: “pergunte a sua namorada se ela não gostaria de sair nua, de madrugada?” Tenho certeza de que quase todas as mulheres vão se apressar em dizer não. Depois, no entanto, sentirão a pulga atrás da orelha. A pergunta vai martelar durante alguns dias, vai transformar-se num desafio. Enfim, ela mesma vai tocar no assunto. Caso tenha sido verdadeira a proposta do namorado, acabará aceitando. Primeiro timidamente, a seguir tomará coragem e será difícil detê-la. O romance passará a ter nova face; a mulher sentirá a paixão maior e estará sempre pensando nele; ele, nela.
Se me perguntam se já pratiquei minha própria sugestão, respondo com outra pergunta: “o que você acha?”, e não digo mais.
Um dia desses fomos um pouco além. Quando voltávamos, pedi para dirigir. Nua. Como foi bom! Ao parar defronte da garagem, quis que fizesse amor comigo ali mesmo, que subisse sobre meu corpo no próprio banco do motorista. Tento ser discreta, não posso, porém, negar: como senti prazer... Quando acabamos, saí do carro e fui abrir o portão da garagem.
Caso vamos a alguma festa, jantar, ou caso tenhamos assistido a algum espetáculo e ainda estamos na rua durante a madrugada, tenho uma sacola para guardar as roupas que sei que vou tirar. Coloco-as na mala do automóvel. Não quero pano algum junto a mim. Meu bumbum se esparrama no assento do carona, relaxo o corpo e deixo que as mãos de meu homem me percorram o corpo. Não há nada melhor.
Ia esquecendo: ainda há as fotos. Cada uma mais linda do que a outra. Eu sempre nua, poses sutis, de arrepiar. Ah, como são boas essas máquinas digitais!
quinta-feira, outubro 15, 2009
Obra de arte
Meu namorado, com essa mania de querer me ver nua em todo e qualquer lugar, falou:
“Agora, Margarida, pode tirar, não há ninguém por perto.”
Estávamos numa galeria de arte, em Ipanema, numa quinta-feira, às cinco da tarde.
“Mas aqui?”, ainda tentei contrapor.
“Aqui, e rápido.”
“Você não acha arriscado?”
“Não. E vamos fazer uma foto. Vai ficar ótima. Vamos distribuí-la para todos os jornais.”
“Ok, se é assim que você deseja...”
Rápida, tirei a saia.
Não satisfeito, retirou um dos quadros da parede e me deu para que eu o segurasse.
“Pegue-o apenas por uma das extremidades. Apesar de ser de um pintor famoso, ninguém precisa identificá-lo.”
Fiz o que me pediu.
O interessante não foi apenas meu corpo seminu, mas o cenário. Uma parede apenas em tijolos, sem reboco algum – fazia parte da decoração –, uma janela ao fundo deixava entrar um pouco de luz.
Por instantes, pensei que um dos seguranças pudesse entrar e me surpreender: blusa curta, salto alto, sustentando de modo frágil a pintura que vale milhões de euros. Mas, para minha sorte, ninguém apareceu. Meu namorado clicou e a foto é essa aí, muito interessante, acho que mais do que a pintura do famoso artista.
Todos acham que apareço exuberante, sensual. Perguntam: “onde você se deixou fotografar? Ficou tão bonito. Jamais vi alguém, nem mesmo uma modelo dessas famosas, em tão atraente situação.”
Não era minha intenção falar que posei nua numa galeria de arte, escondida, e morrendo de medo que aparecesse alguém.
Meu namorado, no entanto, resolveu dar o alarme. Não aquele que acusa roubo de obras de artes. Mas outro; enviou a foto para o Le Monde. Apareci nas páginas europeias. Um especialista sobre o pintor, cujo quadro eu sustinha pelas pontas dos dedos, identificou a obra. Era de um acervo francês. Como pôde acontecer aquilo? O quadro nas mãos de uma mulher irreverente, na galeria para onde fora emprestado através de um intercâmbio cultural?
Escândalo internacional. O quadro correndo o risco de ser roubado, ou mesmo destruído, uma perda para o patrimônio cultural da humanidade. E, ainda, a afronta: a mulher estava nua.
Aliás, depois que se salvaram todos, inclusive o patrimônio universal, acharam a mulher muito elegante, apesar de não tão jovem; até houve quem ressaltasse a delicadeza com que segurava o pintor famoso.
Puseram-se a discutir o que valia mais: a obra ou a mulher?
“Agora, Margarida, pode tirar, não há ninguém por perto.”
Estávamos numa galeria de arte, em Ipanema, numa quinta-feira, às cinco da tarde.
“Mas aqui?”, ainda tentei contrapor.
“Aqui, e rápido.”
“Você não acha arriscado?”
“Não. E vamos fazer uma foto. Vai ficar ótima. Vamos distribuí-la para todos os jornais.”
“Ok, se é assim que você deseja...”
Rápida, tirei a saia.
Não satisfeito, retirou um dos quadros da parede e me deu para que eu o segurasse.
“Pegue-o apenas por uma das extremidades. Apesar de ser de um pintor famoso, ninguém precisa identificá-lo.”
Fiz o que me pediu.
O interessante não foi apenas meu corpo seminu, mas o cenário. Uma parede apenas em tijolos, sem reboco algum – fazia parte da decoração –, uma janela ao fundo deixava entrar um pouco de luz.
Por instantes, pensei que um dos seguranças pudesse entrar e me surpreender: blusa curta, salto alto, sustentando de modo frágil a pintura que vale milhões de euros. Mas, para minha sorte, ninguém apareceu. Meu namorado clicou e a foto é essa aí, muito interessante, acho que mais do que a pintura do famoso artista.
Todos acham que apareço exuberante, sensual. Perguntam: “onde você se deixou fotografar? Ficou tão bonito. Jamais vi alguém, nem mesmo uma modelo dessas famosas, em tão atraente situação.”
Não era minha intenção falar que posei nua numa galeria de arte, escondida, e morrendo de medo que aparecesse alguém.
Meu namorado, no entanto, resolveu dar o alarme. Não aquele que acusa roubo de obras de artes. Mas outro; enviou a foto para o Le Monde. Apareci nas páginas europeias. Um especialista sobre o pintor, cujo quadro eu sustinha pelas pontas dos dedos, identificou a obra. Era de um acervo francês. Como pôde acontecer aquilo? O quadro nas mãos de uma mulher irreverente, na galeria para onde fora emprestado através de um intercâmbio cultural?
Escândalo internacional. O quadro correndo o risco de ser roubado, ou mesmo destruído, uma perda para o patrimônio cultural da humanidade. E, ainda, a afronta: a mulher estava nua.
Aliás, depois que se salvaram todos, inclusive o patrimônio universal, acharam a mulher muito elegante, apesar de não tão jovem; até houve quem ressaltasse a delicadeza com que segurava o pintor famoso.
Puseram-se a discutir o que valia mais: a obra ou a mulher?
sexta-feira, outubro 09, 2009
Boa Fortuna
Passáramos toda a noite juntos, meu namorado e eu. Estávamos na ponta da praia, em Geribá. Sutis manchas num dos lados do céu anunciavam a despedida da noite. Eu, só de calça jeans justíssima, de sapatos de salto, mas sem a blusa, que ficara no carro. Era desejo dele me ver seminua. E eu bem que gosto de andar assim. Passeávamos olhando o mar, distantes de qualquer marco da civilização. Em algum momento tirei os sapatos e, segurando-os em uma das mãos, pusemo-nos a caminhar sobre as areias da praia indo até a beira d’água. Ele me abraçou, me beijou, apertou-me junto a seu corpo musculoso. Ficamos ali parados, a namorar, por muitos minutos. Quando a manhã já ofuscava o piscar das últimas estrelas, caminhamos na direção do calçamento.
“Vou pedir a você mais uma coisa.”
“Pois, peça, sou toda realização.”
“Quero acreditar”, falou.
“Peça; prometo cumprir.”
“Então, ouça, vou pegar o notebook no carro, quero que escreva agora uma história para mim, desse jeito que você está.”
“Mas não consigo escrever com ninguém olhando.”
“Dou umas voltas enquanto você escreve.”
“Vais me deixar sozinha?”
“Sozinha e nua. E quero a história em tempo real.”
“Tempo real? Mas sou tão perfeccionista...”
“Você prometeu que cumpriria meu pedido. Volto após ler a postagem.”
“Está bem, vou tentar; mas onde você vai enquanto escrevo?”
“Dou umas voltas.”
Foi ao carro, apanhou o computador, entregou-mo, beijou-me e se foi.
Bandido, não é que foi passear de carro e me deixou aqui de peito de fora?
Aí vai a história.
"A Beatriz quis fazer uma surpresa para seus amigos e amigas; como adora festas e vinha prometendo uma especial desde o ano passado, resolveu reunir o grupo que não se encontrava havia algum tempo. Convidou todos para passar o domingo em sua casa. A casa da Bia é ótima, há um espaço enorme, e divertimentos para todos os gostos. Mas logo que fomos chegando ela alertou, principalmente a nós, mulheres: 'meninas, comportem-se, haverá hora para tudo'.
Tomamos banho de piscina, bebemos, comemos, cantamos, dançamos e, depois das quatro, apresentamos um espetáculo especial.
A idéia que ela teve surpreendeu não só a eles, mas também a nós.
Vestimos nossos menores biquínis e nos preparamos para enfrentar umas às outras numa piscina cheia de gel. Era como se diz por aí, luta no gel. Tiramos as duplas e fizemos um trato. Cada combate duraria no máximo dois minutos. Ganharia a que conseguisse fazer a oponente entregar os pontos. Acredito que ao assistir a lutas desse tipo, todo homem gostaria de ver uma das competidoras arrancando o biquíni da outra. Mas combinamos que, caso isso acontecesse, a participante seria desclassificada.
Nunca imaginei o que poderia ser esse tipo de enfrentamento. Fiquei melada até as entranhas. Meu biquíni entrou todo e a todo o momento eu tinha que esconder um dos seios. Ganhei a primeira e a segunda luta, mas na terceira, caí de bruços e fui imobilizada de uma forma que cheguei a engolir gel. Então fui derrotada. Lutar nessas condições nem adianta ter noções de qualquer tipo de artes marciais, porque o principal problema é que não há onde se apoiar. Somente quando se derruba a rival e se está por cima é que se tem alguma condição de agir. Mas logo a situação pode se reverter, com a outra pessoa escorregando e pulando sobre você. Os rapazes gritavam, excitadíssimos.
Quando tudo acabou, estávamos tão meladas que os convidamos para nos tentar segurar. Uma das moças ainda disse: 'isso não vai dar certo'. Lógico que a primeira coisa que eles pensaram foi tirar nossos biquínis. Uma vez que estávamos escorregadias, a ação deles não se deu com tanta facilidade. Depois de algum tempo, com o corpo já ressecado em alguns pontos, tudo se tornou mais fácil. Aí, pouco a pouco, nos deixaram nuas.
A casa da Bia fica num condomínio fechado e, além disso, um muro alto de hera impede que estranhos observem quem está no quintal. É lógico que, com todas as mulheres peladas, pode-se imaginar o que aconteceu. Mas ninguém reclamou; tanto para eles quanto para nós, foi um domingo muito divertido. E prazeroso."
Meu Deus, já passam das seis, e meu namorado não volta. Uma pessoa já apareceu, distante ainda, mas pouco a pouco se aproxima. A única coisa que posso fazer é sentar, abraçar o notebook, juntar os joelhos pontudos e recuar os calcanhares até que toquem minhas nádegas.
Mas não faz mal ser surpreendida. Pensando bem, azar é o dele que não volta. Dizem que quando uma mulher é flagrada nessas circunstâncias, significa boa fortuna.
Que, então, venham! O desconhecido e a fortuna!
“Vou pedir a você mais uma coisa.”
“Pois, peça, sou toda realização.”
“Quero acreditar”, falou.
“Peça; prometo cumprir.”
“Então, ouça, vou pegar o notebook no carro, quero que escreva agora uma história para mim, desse jeito que você está.”
“Mas não consigo escrever com ninguém olhando.”
“Dou umas voltas enquanto você escreve.”
“Vais me deixar sozinha?”
“Sozinha e nua. E quero a história em tempo real.”
“Tempo real? Mas sou tão perfeccionista...”
“Você prometeu que cumpriria meu pedido. Volto após ler a postagem.”
“Está bem, vou tentar; mas onde você vai enquanto escrevo?”
“Dou umas voltas.”
Foi ao carro, apanhou o computador, entregou-mo, beijou-me e se foi.
Bandido, não é que foi passear de carro e me deixou aqui de peito de fora?
Aí vai a história.
"A Beatriz quis fazer uma surpresa para seus amigos e amigas; como adora festas e vinha prometendo uma especial desde o ano passado, resolveu reunir o grupo que não se encontrava havia algum tempo. Convidou todos para passar o domingo em sua casa. A casa da Bia é ótima, há um espaço enorme, e divertimentos para todos os gostos. Mas logo que fomos chegando ela alertou, principalmente a nós, mulheres: 'meninas, comportem-se, haverá hora para tudo'.
Tomamos banho de piscina, bebemos, comemos, cantamos, dançamos e, depois das quatro, apresentamos um espetáculo especial.
A idéia que ela teve surpreendeu não só a eles, mas também a nós.
Vestimos nossos menores biquínis e nos preparamos para enfrentar umas às outras numa piscina cheia de gel. Era como se diz por aí, luta no gel. Tiramos as duplas e fizemos um trato. Cada combate duraria no máximo dois minutos. Ganharia a que conseguisse fazer a oponente entregar os pontos. Acredito que ao assistir a lutas desse tipo, todo homem gostaria de ver uma das competidoras arrancando o biquíni da outra. Mas combinamos que, caso isso acontecesse, a participante seria desclassificada.
Nunca imaginei o que poderia ser esse tipo de enfrentamento. Fiquei melada até as entranhas. Meu biquíni entrou todo e a todo o momento eu tinha que esconder um dos seios. Ganhei a primeira e a segunda luta, mas na terceira, caí de bruços e fui imobilizada de uma forma que cheguei a engolir gel. Então fui derrotada. Lutar nessas condições nem adianta ter noções de qualquer tipo de artes marciais, porque o principal problema é que não há onde se apoiar. Somente quando se derruba a rival e se está por cima é que se tem alguma condição de agir. Mas logo a situação pode se reverter, com a outra pessoa escorregando e pulando sobre você. Os rapazes gritavam, excitadíssimos.
Quando tudo acabou, estávamos tão meladas que os convidamos para nos tentar segurar. Uma das moças ainda disse: 'isso não vai dar certo'. Lógico que a primeira coisa que eles pensaram foi tirar nossos biquínis. Uma vez que estávamos escorregadias, a ação deles não se deu com tanta facilidade. Depois de algum tempo, com o corpo já ressecado em alguns pontos, tudo se tornou mais fácil. Aí, pouco a pouco, nos deixaram nuas.
A casa da Bia fica num condomínio fechado e, além disso, um muro alto de hera impede que estranhos observem quem está no quintal. É lógico que, com todas as mulheres peladas, pode-se imaginar o que aconteceu. Mas ninguém reclamou; tanto para eles quanto para nós, foi um domingo muito divertido. E prazeroso."
Meu Deus, já passam das seis, e meu namorado não volta. Uma pessoa já apareceu, distante ainda, mas pouco a pouco se aproxima. A única coisa que posso fazer é sentar, abraçar o notebook, juntar os joelhos pontudos e recuar os calcanhares até que toquem minhas nádegas.
Mas não faz mal ser surpreendida. Pensando bem, azar é o dele que não volta. Dizem que quando uma mulher é flagrada nessas circunstâncias, significa boa fortuna.
Que, então, venham! O desconhecido e a fortuna!
sábado, outubro 03, 2009
Fingirei rubor
A noite foi ótima; agora estou envolta em sedas e lençóis, o dia já amanheceu. Ele trouxe-me ao hotel quando a noite já entrava pelas horas. Namoramos apaixonados. Tirou toda a minha roupa, depois abriu o champanha. Bebemos e comemos pequenos canapés, sentados em torno da pequena mesa da suíte. Eu, de pernas cruzadas, confortável, falando sobre os mais diversos assuntos e nem dando à mostra que estava em pele. Da mesma forma, ele fez de conta não me reparar sem as roupas. Conversava sobre os assuntos mais sérios, inclusive sobre filosofia. Eu correspondia atenta, perspicaz. Não representávamos, éramos nós mesmos. Após bebermos todo o líquido espumante, delicioso, aproximou-se. Pôs-se a percorrer com a ponta dos dedos minha cútis macia. Ainda conversava, fazia-se inocente ante a minha nudez. Fui eu quem o atraí. Peguei-o pelo pescoço e aproximei sua boca da minha. Um longo beijo foi suficiente para silenciar nossas vozes e deixar fluir o murmúrio da madrugada, que se misturava ao rumorejo do mar. Levantamo-nos. Você já namorou de pé, nua por inteiro? Creio que toda mulher já viveu essa experiência. Como ele é maior do que eu, seu sexo teve alguma dificuldade para encontrar o meu. Procurei facilitar as coisas. Sussurrei todo o meu ardor, arfei de amor. Ele, delicado, explorou-me, desvelou minhas sutis reentrâncias, deslizou sobre minhas elevações e mergulhou em meus líquidos, qual outra taça do champanha. Deitamo-nos. Alternando posições percorremos as trilhas escorregadias do amor. Falei um poema. Nada de derramamentos. Fala enxuta, escorreita, seca em adjetivos, plenas de substâncias primevas. Não deu trégua aos meus seios. Creio que em todo o meu corpo é do que mais gosta. Derramou-se, deleitou-se. Tornamo-nos com o inexorável caminho escuro das horas dois seres extáticos.
Dormimos.
Ao acordar, já não estava a meu lado. Deixou-me ainda envolta nas sedas finas do hotel de estilo francês; sobre a cama macia, o travesseiro digno de uma princesa proustiana. As princesas de Proust submergem a amores travessos, disfarçam, fingem-se virgens, mas, por baixo das saias, ardem, mesmo que os amantes sejam nobres postiços.
As ondas da praia em frente rumorejam com mais intensidade do que durante a noite, a manhã vai cinza. Haverá mulheres nuas nos outros aposentos, o corpo coberto apenas pelos tecidos amassados, estendidos elegantes no dia anterior pelas camareiras? Haverá mulheres sem roupa alguma, tendo a roçar-lhe o corpo somente a precariedade de fronhas e lençóis? Encontrar-se-ão outras que pediram no respirar sobressaltado das horas de poucas luzes que os amantes as abandonassem ao sabor das incertezas da manhã vindoura? Não sei. Meu amante não tomou minhas palavras como metáforas. Cumpriu-as. Apenas, acho eu, demonstrará com um arfar curioso, voz opressa na garganta – caso ainda me encontre hoje ou qualquer hora dessas – interesse pelo desfecho, se é que o haverá. Deitar-se-á sobre meu corpo despido e fará a pergunta crucial: o que fizeste? Caso eu responda “nada”, tocar-me-á nos lugares em que o sinto mais intensamente e se sairá com outra indagação: “como partiste?” Eu, ainda nua, fingirei rubor: “não sei se conto”. Aproximarei sua face da minha, umedecerei seus lábios com os meus e permanecerei tomada por toda a sua presença.
Dormimos.
Ao acordar, já não estava a meu lado. Deixou-me ainda envolta nas sedas finas do hotel de estilo francês; sobre a cama macia, o travesseiro digno de uma princesa proustiana. As princesas de Proust submergem a amores travessos, disfarçam, fingem-se virgens, mas, por baixo das saias, ardem, mesmo que os amantes sejam nobres postiços.
As ondas da praia em frente rumorejam com mais intensidade do que durante a noite, a manhã vai cinza. Haverá mulheres nuas nos outros aposentos, o corpo coberto apenas pelos tecidos amassados, estendidos elegantes no dia anterior pelas camareiras? Haverá mulheres sem roupa alguma, tendo a roçar-lhe o corpo somente a precariedade de fronhas e lençóis? Encontrar-se-ão outras que pediram no respirar sobressaltado das horas de poucas luzes que os amantes as abandonassem ao sabor das incertezas da manhã vindoura? Não sei. Meu amante não tomou minhas palavras como metáforas. Cumpriu-as. Apenas, acho eu, demonstrará com um arfar curioso, voz opressa na garganta – caso ainda me encontre hoje ou qualquer hora dessas – interesse pelo desfecho, se é que o haverá. Deitar-se-á sobre meu corpo despido e fará a pergunta crucial: o que fizeste? Caso eu responda “nada”, tocar-me-á nos lugares em que o sinto mais intensamente e se sairá com outra indagação: “como partiste?” Eu, ainda nua, fingirei rubor: “não sei se conto”. Aproximarei sua face da minha, umedecerei seus lábios com os meus e permanecerei tomada por toda a sua presença.
quinta-feira, setembro 24, 2009
Paredes aveludadas
Eu, com este corpo mignon, causo sensação na boate. Mas tenho um medo que me pelo. Sei lá, alguma coisa pode dar errado. Chego pelas duas da madrugada, porque a essa hora os homens já estão até certo ponto saciados. As mulheres adoram ficar nuas; eu não sou exceção. Deixo que eles me toquem, que namorem comigo, mas procuro evitar o principal. Gosto de me abaixar, colocar o pênis de algum dos rapazes para fora e introduzi-lo na minha boca. Faço qualquer um gemer de prazer. Dizem que não há ninguém melhor do que eu nisso. É preciso, porém, esclarecer. Os fatos que relato se passam numa festa que acontece uma vez no mês. Trata-se de uma festa fechada. Alugamos uma boate, que é entregue totalmente a nós. Temos todo nosso pessoal: recepcionistas, seguranças, homens de bar e garçons. Fazemos parte de um grupo grande, divertimo-nos. Às vezes, é permitida a entrada de convidados. Mas são casos especiais. Nossa festa pode ser aproveitada de várias maneiras. Há bebidas e comidinhas, muita música e nós, as mulheres. Bem, nós sempre gostamos de roupas curtas, exíguas, adoramos nos mostrar sexy, somos as estrelas das muitas extravagâncias que acontecem ali. Mas tudo depende do dia e do clima, isto é, do espírito da festa. Podemos durante toda uma noite ser as mulheres mais pudicas do mundo; noutra ocasião, no entanto, pode acontecer de ficarmos nuas, isso mesmo, sem roupa alguma, durante boa parte da noite. Sempre há pouca luz, e o acende e apaga prateado, dourado e colorido sempre apela mais pro escurinho.
Numa das últimas vezes, apareceu um homem que eu ainda não conhecia. Alto, porte atlético, dentes muito brancos, sorriso nos lábios, roupa justa no corpo. Eu estava muito à vontade, já passavam das três e trinta. Ele estava a mil por hora. Agarrou-me com força, encostou-me numa das paredes aveludadas, longe da pista. Não consegui escapar. Quando ia agachar, me puxou pela cintura e falou: quero você ereta. Levantou-me. Sua altura não permitia um confronto em pé de igualdade. Espere, quis dizer, não sinto muito prazer assim, ainda sou bastante jovem. Não me deu ouvido. Você é muito grande pra mim, ainda insisti. Mas também não me escutou. Eu estava morrendo de medo. Tentei fazer as contas; lembrar se estava no período fértil. Mas depois que deslizou uma das mãos sobre meu bumbum e com a outra me apertou os seios, me vi vencida. O que pedisse eu atenderia. Ajudei-o. Afastei as pernas. Seu pênis escorregou inteiro para dentro de mim. Quando acabamos, ele ainda quis dizer alguma coisa, mas não encontrei sentido nas suas palavras. Falei junto ao seu ouvido, pois o barulho era intenso, tenho de achar meu short e top, daqui a pouco a festa acaba, não quero voltar nua pra casa, houve uma vez em que só encontrei o casaco, que por sinal era muito curto. Corri. Desde aquela noite ando procurando por aquele homem. Mas, nas festas seguintes, não mais cruzei com ele. Até agora ninguém soube me dizer se pertence ao grupo ou se era um convidado especial.
Hoje, há mais uma festa desse tipo. E, pelo que estão dizendo, vai ser de arrepiar. Será que vou vê-lo? Já sei: vou de roupa comprida. Chego mais cedo e aproveito a noite, com discrição; não tiro a roupa nem permito que me dispam. Caso o descubra, faço-me difícil. Sei que repito sempre essas palavras. Mas na hora da empolgação, não resisto: acabo nua. E, tomara, nas mãos dele!
Numa das últimas vezes, apareceu um homem que eu ainda não conhecia. Alto, porte atlético, dentes muito brancos, sorriso nos lábios, roupa justa no corpo. Eu estava muito à vontade, já passavam das três e trinta. Ele estava a mil por hora. Agarrou-me com força, encostou-me numa das paredes aveludadas, longe da pista. Não consegui escapar. Quando ia agachar, me puxou pela cintura e falou: quero você ereta. Levantou-me. Sua altura não permitia um confronto em pé de igualdade. Espere, quis dizer, não sinto muito prazer assim, ainda sou bastante jovem. Não me deu ouvido. Você é muito grande pra mim, ainda insisti. Mas também não me escutou. Eu estava morrendo de medo. Tentei fazer as contas; lembrar se estava no período fértil. Mas depois que deslizou uma das mãos sobre meu bumbum e com a outra me apertou os seios, me vi vencida. O que pedisse eu atenderia. Ajudei-o. Afastei as pernas. Seu pênis escorregou inteiro para dentro de mim. Quando acabamos, ele ainda quis dizer alguma coisa, mas não encontrei sentido nas suas palavras. Falei junto ao seu ouvido, pois o barulho era intenso, tenho de achar meu short e top, daqui a pouco a festa acaba, não quero voltar nua pra casa, houve uma vez em que só encontrei o casaco, que por sinal era muito curto. Corri. Desde aquela noite ando procurando por aquele homem. Mas, nas festas seguintes, não mais cruzei com ele. Até agora ninguém soube me dizer se pertence ao grupo ou se era um convidado especial.
Hoje, há mais uma festa desse tipo. E, pelo que estão dizendo, vai ser de arrepiar. Será que vou vê-lo? Já sei: vou de roupa comprida. Chego mais cedo e aproveito a noite, com discrição; não tiro a roupa nem permito que me dispam. Caso o descubra, faço-me difícil. Sei que repito sempre essas palavras. Mas na hora da empolgação, não resisto: acabo nua. E, tomara, nas mãos dele!
quinta-feira, setembro 17, 2009
Você não é a Márcia?
Ele começou a falar aquelas coisas no meu ouvido, então comecei a ficar preocupada.
O que ele falou?
Primeiro que sou muito gostosa, depois que queria me ver sempre nua, que devia chegar nua na casa dele, disse que quando acabasse de me namorar naquela noite não deixaria que eu me vestisse, que esconderia minhas roupas, que ia me colocar nua num táxi, e coisas mais.
Muitos homens são assim, é um meio de aumentar a excitação.
Mas ele é demais, pensei até que fosse tarado.
Os homens são sempre um pouco tarados, isso é bom, você não acha?
Às vezes acho, mas ele passa dos limites, começo a ficar preocupada e não consigo mais sentir prazer.
Eles falam essas coisas mas, depois que gozam, esquecem e não tocam mais no assunto, você se preocupa à-toa.
Mas com ele é diferente, parece que aquilo nunca vai acabar, se estende por boa parte da noite; no começo gosto, mas depois fico preocupada.
Finja que você é outra pessoa, isso lhe dará alívio e fará você sentir mais prazer.
Ah, fingir que sou outra pessoa?, é algo fascinante, mas pode dar errado, lembro que já fiz isso quando era adolescentes e as conseqüências não foram tão boas.
O que aconteceu?
Eu devia ter uns quinze anos, tinha ido acampar e no acampamento arranjei um namorado, ficávamos namorando dentro da barraca; certo dia, entrou lá um amigo dele, eu fiz isso que você sugeriu, fingi ser outra pessoa, vestia biquíni, tínhamos vindo da piscina, meu namorado me chamou pelo nome, respondi que não era a Márcia; como, você não é a Márcia?, perguntou; não, não sou a Márcia, fechei a cara e virei de costas, notei que ele e o amigo trocaram algumas palavras; o que vocês estão cochichando?, perguntei; quer dizer que você não é a Márcia?, perguntou de novo ele; não, não sou, insisti; quem é você, então?; não vou dizer, apenas não sou a Márcia; aí meu namorado me segurou pelas pernas, o outro, pelos braços, ambos me imobilizaram, o amigo me deixou sem a parte de cima do biquíni, meu namoradinho me tirou a calcinha; quer dizer que você não é a Márcia?, ainda perguntou uma vez; não, não sou a Márcia; no princípio, gostei e aceitei a brincadeira, nuazinha nas mãos dos dois, mas depois comecei a ficar preocupada, eu era virgem e temi que me forçassem a fazer amor com eles dois. Quando vi que a coisa esquentou, fingi voltar a mim: o que está acontecendo, vocês me deixaram nua, o que aconteceu comigo, cadê o meu biquíni?, tentei disfarçar com essas palavras; você não é a Márcia?, perguntou o namoradinho; claro que sou, como não sou a Márcia?; mas você mesma disse há pouco que não era; claro que sou a Márcia, contra-ataquei, anda logo, me dá meu biquíni; biquíni? que biquíni?, o outro respondeu, você chegou aqui nua; nada disso, vocês tiraram meu biquíni, deem-me!, gritei. Só sei dizer uma coisa: a brincadeira acabou por me custar caro, eles demoraram um tempo enorme para me devolver o biquíni, e quando devolveram uma das tiras da calcinha estava arrebentada, morri de vergonha, por pouco não tive de sair nua da barraca.
Você parece que gostou, fala a verdade, gostou, não?
Gostei até certo ponto, mas depois fiquei apavorada!
Os homens são assim, não tema, eles só vão até certo ponto.
Você acha?
Claro, esse seu namorado atual jamais vai colocar você nua num táxi.
Olha que coloca.
E se colocar, o que é que tem? Você vai morrer por causa disso? Acho que até vai fazer o maior sucesso! Mas ele não fará isso, não vai querer perder você...
O que ele falou?
Primeiro que sou muito gostosa, depois que queria me ver sempre nua, que devia chegar nua na casa dele, disse que quando acabasse de me namorar naquela noite não deixaria que eu me vestisse, que esconderia minhas roupas, que ia me colocar nua num táxi, e coisas mais.
Muitos homens são assim, é um meio de aumentar a excitação.
Mas ele é demais, pensei até que fosse tarado.
Os homens são sempre um pouco tarados, isso é bom, você não acha?
Às vezes acho, mas ele passa dos limites, começo a ficar preocupada e não consigo mais sentir prazer.
Eles falam essas coisas mas, depois que gozam, esquecem e não tocam mais no assunto, você se preocupa à-toa.
Mas com ele é diferente, parece que aquilo nunca vai acabar, se estende por boa parte da noite; no começo gosto, mas depois fico preocupada.
Finja que você é outra pessoa, isso lhe dará alívio e fará você sentir mais prazer.
Ah, fingir que sou outra pessoa?, é algo fascinante, mas pode dar errado, lembro que já fiz isso quando era adolescentes e as conseqüências não foram tão boas.
O que aconteceu?
Eu devia ter uns quinze anos, tinha ido acampar e no acampamento arranjei um namorado, ficávamos namorando dentro da barraca; certo dia, entrou lá um amigo dele, eu fiz isso que você sugeriu, fingi ser outra pessoa, vestia biquíni, tínhamos vindo da piscina, meu namorado me chamou pelo nome, respondi que não era a Márcia; como, você não é a Márcia?, perguntou; não, não sou a Márcia, fechei a cara e virei de costas, notei que ele e o amigo trocaram algumas palavras; o que vocês estão cochichando?, perguntei; quer dizer que você não é a Márcia?, perguntou de novo ele; não, não sou, insisti; quem é você, então?; não vou dizer, apenas não sou a Márcia; aí meu namorado me segurou pelas pernas, o outro, pelos braços, ambos me imobilizaram, o amigo me deixou sem a parte de cima do biquíni, meu namoradinho me tirou a calcinha; quer dizer que você não é a Márcia?, ainda perguntou uma vez; não, não sou a Márcia; no princípio, gostei e aceitei a brincadeira, nuazinha nas mãos dos dois, mas depois comecei a ficar preocupada, eu era virgem e temi que me forçassem a fazer amor com eles dois. Quando vi que a coisa esquentou, fingi voltar a mim: o que está acontecendo, vocês me deixaram nua, o que aconteceu comigo, cadê o meu biquíni?, tentei disfarçar com essas palavras; você não é a Márcia?, perguntou o namoradinho; claro que sou, como não sou a Márcia?; mas você mesma disse há pouco que não era; claro que sou a Márcia, contra-ataquei, anda logo, me dá meu biquíni; biquíni? que biquíni?, o outro respondeu, você chegou aqui nua; nada disso, vocês tiraram meu biquíni, deem-me!, gritei. Só sei dizer uma coisa: a brincadeira acabou por me custar caro, eles demoraram um tempo enorme para me devolver o biquíni, e quando devolveram uma das tiras da calcinha estava arrebentada, morri de vergonha, por pouco não tive de sair nua da barraca.
Você parece que gostou, fala a verdade, gostou, não?
Gostei até certo ponto, mas depois fiquei apavorada!
Os homens são assim, não tema, eles só vão até certo ponto.
Você acha?
Claro, esse seu namorado atual jamais vai colocar você nua num táxi.
Olha que coloca.
E se colocar, o que é que tem? Você vai morrer por causa disso? Acho que até vai fazer o maior sucesso! Mas ele não fará isso, não vai querer perder você...
sexta-feira, setembro 11, 2009
Sonhos e segredos
Fui a uma festa na casa de uma amiga. Uma comemoração discreta, com a presença de poucas pessoas. Bebemos champanha durante boa parte da noite. Ela preparou comidinhas saborosas e serviu queijos que eram uma delícia. Conversamos sobre arte, principalmente música e literatura. Entre os convidados havia um violinista. Ele não veio com a intenção de dar um concerto, mas trouxe alguns CDs que ouvimos com muito gosto. As mulheres estavam bem vestidas, roupas elegantes; muitas têm tanto bom gosto que escolhem com preciosismo seus vestidos, saias e blusas para vir a esse tipo de festa. Além de tudo de bom que aconteceu, era um charme a mais apreciar a elegância de homens e mulheres.
Lá pelas duas da madrugada, alguns convidados começaram a despedir-se. Fui ficando, até que me vi apenas com a anfitriã e duas ou três pessoas que pernoitariam ali. Ainda permanecemos conversando por mais uma hora. Bebemos mais uma ou duas taças.
Então quem restou foi se retirando para seus quartos. Miriam, a dona da casa, me falou:
“Margarida, acho melhor você ficar com a gente essa noite.”
“Ah, obrigada. Fico sim; não me incomodo em dormir aqui na sala.”
Ela trouxe um lençol uma almofada e perguntou seu eu queria uma camisola ou uma camiseta.
“Não é preciso, eu me viro.”
Deu boa noite e foi para o seu quarto.
Tirei toda a roupa, dobrei cada peça com cuidado e as coloquei sobre um dos braços do estofado. Deixei por cima de tudo o sutiã. Cobri-me com o lençol e não demorei a adormecer.
Antes de amanhecer, percebi que alguém passou pela sala; ia em direção à cozinha. O suave ruído foi suficiente para me despertar. Mas permaneci imóvel, como se continuasse dormindo. Abrira os olhos, mas a pessoa não pôde perceber. Demorou alguns instantes bebendo água, creio; depois voltou e, ao perceber meu sutiã, parou e tomou-o nas mãos. Senti um ligeiro arrepio. Vim à festa na casa de uma pessoa tão sofisticada e um dos convidados há de roubar-me o sutiã! Confesso que naquela penumbra de fm de noite, senti uma ponta de excitação. A pessoa, que eu não consegui distinguir, continuou com a peça nas mãos, depois a levou ao nariz e cheirou. De propósito, fiz um ligeiro movimento sobre o sofá. Continuou com meu sutiã nas mãos, mas levou-as às costas escondendo-o, e apressou-se em retirar-se do local.
“Ai!”, exclamei, “agora essa.”
Enquanto conjecturava o que faria, adormeci.
Quando acordei, o sol ia alto. A casa ainda estava mergulhada no silêncio. Foi então que lembrei do sutiã perdido.
Olhei para onde estavam minhas roupas. Mas ele estava lá, como se ninguém o tivesse tocado.
Fui à cozinha e fiz café.
Quando os outros hóspedes e a dona da casa acordaram, eu já havia me vestido com todo o recato.
Tomamos café alegremente, relembrando a noite agradável que passamos juntos. Antes de me despedir, tomei um leve susto. Uma das mulheres soprou em meu ouvido o seguinte:
“Tive um sonho estranho; sonhei que depois da festa, eu saía sem a blusa e sem o sutiã”, pôs-se então a rir.
“Tive um sonho parecido”, foi minha vez de falar. “Estava deitada no sofá, quando vi que alguém me roubava o sutiã. Fiquei apavorada. Mas adormeci. Quando acordei, ele estava intocável, no mesmo lugar.”
“O que será mesmo que nós desejamos?”, perguntou-me e começou a rir.
“Não sei, mas esse champanha francês é capaz de despertar os desejos mais recônditos.”
Rimos ambas, em silêncio.
E escondemos nossos segredos.
Lá pelas duas da madrugada, alguns convidados começaram a despedir-se. Fui ficando, até que me vi apenas com a anfitriã e duas ou três pessoas que pernoitariam ali. Ainda permanecemos conversando por mais uma hora. Bebemos mais uma ou duas taças.
Então quem restou foi se retirando para seus quartos. Miriam, a dona da casa, me falou:
“Margarida, acho melhor você ficar com a gente essa noite.”
“Ah, obrigada. Fico sim; não me incomodo em dormir aqui na sala.”
Ela trouxe um lençol uma almofada e perguntou seu eu queria uma camisola ou uma camiseta.
“Não é preciso, eu me viro.”
Deu boa noite e foi para o seu quarto.
Tirei toda a roupa, dobrei cada peça com cuidado e as coloquei sobre um dos braços do estofado. Deixei por cima de tudo o sutiã. Cobri-me com o lençol e não demorei a adormecer.
Antes de amanhecer, percebi que alguém passou pela sala; ia em direção à cozinha. O suave ruído foi suficiente para me despertar. Mas permaneci imóvel, como se continuasse dormindo. Abrira os olhos, mas a pessoa não pôde perceber. Demorou alguns instantes bebendo água, creio; depois voltou e, ao perceber meu sutiã, parou e tomou-o nas mãos. Senti um ligeiro arrepio. Vim à festa na casa de uma pessoa tão sofisticada e um dos convidados há de roubar-me o sutiã! Confesso que naquela penumbra de fm de noite, senti uma ponta de excitação. A pessoa, que eu não consegui distinguir, continuou com a peça nas mãos, depois a levou ao nariz e cheirou. De propósito, fiz um ligeiro movimento sobre o sofá. Continuou com meu sutiã nas mãos, mas levou-as às costas escondendo-o, e apressou-se em retirar-se do local.
“Ai!”, exclamei, “agora essa.”
Enquanto conjecturava o que faria, adormeci.
Quando acordei, o sol ia alto. A casa ainda estava mergulhada no silêncio. Foi então que lembrei do sutiã perdido.
Olhei para onde estavam minhas roupas. Mas ele estava lá, como se ninguém o tivesse tocado.
Fui à cozinha e fiz café.
Quando os outros hóspedes e a dona da casa acordaram, eu já havia me vestido com todo o recato.
Tomamos café alegremente, relembrando a noite agradável que passamos juntos. Antes de me despedir, tomei um leve susto. Uma das mulheres soprou em meu ouvido o seguinte:
“Tive um sonho estranho; sonhei que depois da festa, eu saía sem a blusa e sem o sutiã”, pôs-se então a rir.
“Tive um sonho parecido”, foi minha vez de falar. “Estava deitada no sofá, quando vi que alguém me roubava o sutiã. Fiquei apavorada. Mas adormeci. Quando acordei, ele estava intocável, no mesmo lugar.”
“O que será mesmo que nós desejamos?”, perguntou-me e começou a rir.
“Não sei, mas esse champanha francês é capaz de despertar os desejos mais recônditos.”
Rimos ambas, em silêncio.
E escondemos nossos segredos.
quarta-feira, setembro 02, 2009
Coração aos saltos
A Praça Saens Peña estava movimentadissima às cinco e meia da tarde. Logo que o semáforo ante à Major Ávila tornou-se verde, toda a fila de automóveis começou a buzinar. Mães seguravam a mão de seus filhos temendo que atravessassem antes da hora. Do outro lado, na calçada diante das Lojas Americanas e C&A, pedestres e camelôs misturavam-se. A banca de jornais era uma espécie de oásis; quem ali entrava para ver ou comprar uma revista usufruía minutos de alguma tranquilidade. Viam-se pelos arredores muitos estudantes que, em grupo, caminhavam barulhentos. Era hora da saída nas escolas que ficavam nos arredores. Uma menina loira de mais ou menos dezesseis anos destacava-se; os garotos disputavam para estar ao lado dela. A jovem sorria, como se não pudesse abraçar todos ao mesmo tempo. Quando alcancei a saída do metrô, junto à General Roca, senti alguém me puxar por um dos braços. Virei-me.
“Oi, Karina, quanto tempo, acho que faz uns dois anos, não? Voltei para o Brasil. E você sempre surpreendendo, com essa maquiagem parece até mais velha...”
Quis dizer que eu não era a Karina, mas a mãe dela, no entanto não tive tempo. Estávamos na calçada atrapalhando a passagem. Foi ele quem continuou a me segurar pelo braço e me arrastou para o canto, onde pudemos trocar algumas palavras. Quando tentei falar, surpreendeu-me com um beijo na boca; seus lábios estavam úmidos.
“Você continua linda.”
O sol por trás das montanhas da Tijuca mostrava seus últimos raios. Uma vez que estávamos no mês de julho, a noite não demoraria a nos cobrir. Quando resolvi falar, pronunciei apenas seu nome:
“Jeferson!”
Ele tacou-me mais um beijo, abraçou-me e nos pusemos a caminhar entre as tantas pessoas daquele final de tarde. Levou-me para uma cafeteria, na Desembargador Izidro.
“Podíamos ir ao Shopping, mas lá deve estar um inferno”, falou.
“Eu ia exatamente para lá...”
“Por que não falou? Vamos, então.”
“Depois, agora quero um cappuccino.”
“Ah, boa ideia, vou querer também um.”
Continuei sem coragem para dizer que eu não era a Karina. Deixei que ele tomasse a iniciativa da conversa. Em momento algum desconfiou de que contava suas confidências à pessoa errada. Falou sobre sua viagem, a bolsa de estudos, a estada numa universidade no interior dos Estados Unidos. Comentou sobre suas perspectivas dali em diante.
“Não vai voltar para a América?”
Olhou-me curioso e demorou a responder. Pensei que tivesse desconfiado e que descobrira minha verdadeira identidade. A palavra América soara mal. Os jovens geralmente dizem Estados Unidos.
“América?”, repetiu, “legal esse seu jeito de falar. Não sei se volto. Tenho alguns convites, mas acho que vou ficar por aqui. Também estão querendo que eu vá à Europa; aprendi alemão e na minha profissão sempre estão ávidos por alguém competente. Tenho um convite para Frankfurt, mas vou pensar um pouco. Agora estou de férias, quero me divertir."
Mais uma vez, sem que eu esperasse, beijou-me. Naquele momento, um beijo mais demorado; sua língua invadiu-me, disfarcei meu desespero. Mas no final gostei do seu gesto e do modo como beijava.
“Me traiu muito na América?”, perguntei serelepe.
“Trair você? Oh, jamais!”, sorriu e levou a xícara à boca. “O que você vai fazer hoje à noite?”
Minha pergunta sobre a possível traição deixara uma porta aberta.
“Vou ao Shopping, como já disse”, falei.
“Depois? Gostaria de saber.”
“Ah, ainda não sei; espero um telefonema...”
“Quer dizer que tem um namorado...”
“Não é bem um namorado, sabe como é, tanto tempo sem ver você, e nossas comunicações interrompidas; a gente aqui nessa cidade não consegue ficar só”, embarquei na fantasia e arquitetava para torná-lo curioso; também desejava despertar uma dose de ciúme.
A garçonete passou com uma bandeja cheia de xícaras e um bule com chocolate quente. Numa das pontas, quatro senhoras contrastavam com três jovens de cabelos castanhos que tomavam café com creme e gesticulavam animadamente.
“Fica comigo esta noite”, ouvi a voz de Jeferson e me voltei a ele.
“Calma, vamos devagar, quem sabe?”
Sorriu. Dessa vez, fui eu quem lhe beijei a boca. A porta não estava aberta, mas escancarada.
Fomos ao Shopping. Circulamos por dois pavimentos. Havia gente por todo o lado. Entrei numa loja, mas era difícil escolher alguma coisa com alguém ao meu lado. Sempre estou acostumada a fazer compras sozinha. Ele, porém, interveio, mostrou uma peça de roupa muito bonita, que eu mesma não reparara. Experimentei. Ficou ótima. Chamei-o para que visse em meu corpo.
“Ficou maravilhosa, acho que vou pedir para que desfile só para mim.”
“Quem sabe?”, sorri, voltei ao provador e tirei o vestido.
Andamos ainda a esmo; deparamo-nos com um bar, estilo italiano.
“Vamos tomar uma taça de vinho para comemorar. Caso tivéssemos marcado, talvez as coisas não acontecessem desse modo”, falou.
Continuei olhando para ele. Eu estava realmente feliz. Jamais me desnudaria daquela fantasia. Agora que mergulhara nela, iria até o fim. Por trás dele, no fundo do corredor, havia uma livraria. As luzes e a vitrina compondo o cenário arremessaram-me com maior ímpeto na fantasia.
“Vamos tomar o vinho?”, insistiu no convite.
“Vamos!”
Percebeu meu entusiasmo.
Bebemos a garrafa inteira. Saímos às dez do Shopping.
“Aonde vocês está me levando?”, brinquei.
“Vou fazer uma surpresa.”
Naquele momento, ele já tinha definitivamente me conquistado. Tentei disfarçar. Não queria dar mole, como dizem os jovens.
Levou-me para um apartamento muito grande. Percebi que havia outras pessoas em casa, mas não incomodaram. Trancamo-nos em seu quarto.
Meu coração estava aos saltos. Mas disse a mim mesma: ‘Maria Lúcia, ou melhor, Karina, você precisa se controlar!’
Tivemos uma noite ótima. Como temia ser desmascarada (já pensou, que vexame!), fiz que abaixasse a luz. Pedi para que colocasse uma música suave. Quis dançar nua para ele, mas achei que desconfiaria. Karina não era afeita a danças. Quando o abracei e permiti que escorregasse para dentro de mim, ligeiro tremor sacudiu meu corpo. No início, tentei-me conter, mas logo me soltei completamente. Sussurrei em seu ouvido coisas impagáveis. Pedi que me amarrasse, que rasgasse minhas roupas, que me arranhasse a pele, e tudo mais que pude imaginar naquele momento. Caso concretizasse minhas palavras, não sei o que seria de mim. Mas o que ele mais fez foi procurar cada vez com maior avidez meus lábios; beijou-me cheio de fogo. Ficamos agarrados durante boa parte da noite. Depois que gozei, morri de vergonha!
“Aprendeste muitas coisas na minha ausência”, disse, introduzindo-me a língua uma última vez. Dormimos.
Acordei sobressaltada e parti antes do amanhecer sem que ele percebesse. Temi ser surpreendida por um dos pais dele. Conheciam Karina e na certa não cometeriam o mesmo engano.
Morri de medo, naquele dia e nos seguintes, que ele aparecesse lá em casa.
“Vou à sua casa qualquer hora dessas”, ouvira sua voz em meio ao arfar do amor e gozo.
Semanas depois, Karina soube através de uma amiga que Jeferson estivera no Rio, permanecera durante três semanas e embarcara para a Alemanha.
Só então pude respirar aliviada.
Jamais o reencontrei. Nunca contei a ninguém sobre aquela noite de amor. Tampouco à Karina.
“Oi, Karina, quanto tempo, acho que faz uns dois anos, não? Voltei para o Brasil. E você sempre surpreendendo, com essa maquiagem parece até mais velha...”
Quis dizer que eu não era a Karina, mas a mãe dela, no entanto não tive tempo. Estávamos na calçada atrapalhando a passagem. Foi ele quem continuou a me segurar pelo braço e me arrastou para o canto, onde pudemos trocar algumas palavras. Quando tentei falar, surpreendeu-me com um beijo na boca; seus lábios estavam úmidos.
“Você continua linda.”
O sol por trás das montanhas da Tijuca mostrava seus últimos raios. Uma vez que estávamos no mês de julho, a noite não demoraria a nos cobrir. Quando resolvi falar, pronunciei apenas seu nome:
“Jeferson!”
Ele tacou-me mais um beijo, abraçou-me e nos pusemos a caminhar entre as tantas pessoas daquele final de tarde. Levou-me para uma cafeteria, na Desembargador Izidro.
“Podíamos ir ao Shopping, mas lá deve estar um inferno”, falou.
“Eu ia exatamente para lá...”
“Por que não falou? Vamos, então.”
“Depois, agora quero um cappuccino.”
“Ah, boa ideia, vou querer também um.”
Continuei sem coragem para dizer que eu não era a Karina. Deixei que ele tomasse a iniciativa da conversa. Em momento algum desconfiou de que contava suas confidências à pessoa errada. Falou sobre sua viagem, a bolsa de estudos, a estada numa universidade no interior dos Estados Unidos. Comentou sobre suas perspectivas dali em diante.
“Não vai voltar para a América?”
Olhou-me curioso e demorou a responder. Pensei que tivesse desconfiado e que descobrira minha verdadeira identidade. A palavra América soara mal. Os jovens geralmente dizem Estados Unidos.
“América?”, repetiu, “legal esse seu jeito de falar. Não sei se volto. Tenho alguns convites, mas acho que vou ficar por aqui. Também estão querendo que eu vá à Europa; aprendi alemão e na minha profissão sempre estão ávidos por alguém competente. Tenho um convite para Frankfurt, mas vou pensar um pouco. Agora estou de férias, quero me divertir."
Mais uma vez, sem que eu esperasse, beijou-me. Naquele momento, um beijo mais demorado; sua língua invadiu-me, disfarcei meu desespero. Mas no final gostei do seu gesto e do modo como beijava.
“Me traiu muito na América?”, perguntei serelepe.
“Trair você? Oh, jamais!”, sorriu e levou a xícara à boca. “O que você vai fazer hoje à noite?”
Minha pergunta sobre a possível traição deixara uma porta aberta.
“Vou ao Shopping, como já disse”, falei.
“Depois? Gostaria de saber.”
“Ah, ainda não sei; espero um telefonema...”
“Quer dizer que tem um namorado...”
“Não é bem um namorado, sabe como é, tanto tempo sem ver você, e nossas comunicações interrompidas; a gente aqui nessa cidade não consegue ficar só”, embarquei na fantasia e arquitetava para torná-lo curioso; também desejava despertar uma dose de ciúme.
A garçonete passou com uma bandeja cheia de xícaras e um bule com chocolate quente. Numa das pontas, quatro senhoras contrastavam com três jovens de cabelos castanhos que tomavam café com creme e gesticulavam animadamente.
“Fica comigo esta noite”, ouvi a voz de Jeferson e me voltei a ele.
“Calma, vamos devagar, quem sabe?”
Sorriu. Dessa vez, fui eu quem lhe beijei a boca. A porta não estava aberta, mas escancarada.
Fomos ao Shopping. Circulamos por dois pavimentos. Havia gente por todo o lado. Entrei numa loja, mas era difícil escolher alguma coisa com alguém ao meu lado. Sempre estou acostumada a fazer compras sozinha. Ele, porém, interveio, mostrou uma peça de roupa muito bonita, que eu mesma não reparara. Experimentei. Ficou ótima. Chamei-o para que visse em meu corpo.
“Ficou maravilhosa, acho que vou pedir para que desfile só para mim.”
“Quem sabe?”, sorri, voltei ao provador e tirei o vestido.
Andamos ainda a esmo; deparamo-nos com um bar, estilo italiano.
“Vamos tomar uma taça de vinho para comemorar. Caso tivéssemos marcado, talvez as coisas não acontecessem desse modo”, falou.
Continuei olhando para ele. Eu estava realmente feliz. Jamais me desnudaria daquela fantasia. Agora que mergulhara nela, iria até o fim. Por trás dele, no fundo do corredor, havia uma livraria. As luzes e a vitrina compondo o cenário arremessaram-me com maior ímpeto na fantasia.
“Vamos tomar o vinho?”, insistiu no convite.
“Vamos!”
Percebeu meu entusiasmo.
Bebemos a garrafa inteira. Saímos às dez do Shopping.
“Aonde vocês está me levando?”, brinquei.
“Vou fazer uma surpresa.”
Naquele momento, ele já tinha definitivamente me conquistado. Tentei disfarçar. Não queria dar mole, como dizem os jovens.
Levou-me para um apartamento muito grande. Percebi que havia outras pessoas em casa, mas não incomodaram. Trancamo-nos em seu quarto.
Meu coração estava aos saltos. Mas disse a mim mesma: ‘Maria Lúcia, ou melhor, Karina, você precisa se controlar!’
Tivemos uma noite ótima. Como temia ser desmascarada (já pensou, que vexame!), fiz que abaixasse a luz. Pedi para que colocasse uma música suave. Quis dançar nua para ele, mas achei que desconfiaria. Karina não era afeita a danças. Quando o abracei e permiti que escorregasse para dentro de mim, ligeiro tremor sacudiu meu corpo. No início, tentei-me conter, mas logo me soltei completamente. Sussurrei em seu ouvido coisas impagáveis. Pedi que me amarrasse, que rasgasse minhas roupas, que me arranhasse a pele, e tudo mais que pude imaginar naquele momento. Caso concretizasse minhas palavras, não sei o que seria de mim. Mas o que ele mais fez foi procurar cada vez com maior avidez meus lábios; beijou-me cheio de fogo. Ficamos agarrados durante boa parte da noite. Depois que gozei, morri de vergonha!
“Aprendeste muitas coisas na minha ausência”, disse, introduzindo-me a língua uma última vez. Dormimos.
Acordei sobressaltada e parti antes do amanhecer sem que ele percebesse. Temi ser surpreendida por um dos pais dele. Conheciam Karina e na certa não cometeriam o mesmo engano.
Morri de medo, naquele dia e nos seguintes, que ele aparecesse lá em casa.
“Vou à sua casa qualquer hora dessas”, ouvira sua voz em meio ao arfar do amor e gozo.
Semanas depois, Karina soube através de uma amiga que Jeferson estivera no Rio, permanecera durante três semanas e embarcara para a Alemanha.
Só então pude respirar aliviada.
Jamais o reencontrei. Nunca contei a ninguém sobre aquela noite de amor. Tampouco à Karina.
quinta-feira, agosto 20, 2009
Eu conto como tudo aconteceu
Eu conto tudo como aconteceu. Já que estamos aqui apenas nós duas e a senhora não está me deixando constrangida, narro todos os pormenores. Posso até falar bem devagar para que a digitação se dê de forma satisfatória. Não há necessidade? A senhora consegue digitar independente de minha maneira de relatar? Melhor. Então, vamos. Começo. Sei que sou a responsável pelo que aconteceu; não transfiro a culpa pra pessoa alguma. Tudo começou da seguinte maneira. Fui ao Rio duas vezes encontrar esse meu namorado. A senhora deve conhecer o Rio, é uma cidade tentadora. Normalmente sente-se um calor terrível e uma sensualidade à flor da pele. Meu namorado é do Rio. Fui encontrá-lo. Passeamos muito. E, lá mesmo, já fizemos essas coisas; na verdade, nunca houve problema algum. Caso alguém repare o que está acontecendo, é até normal que vire o rosto e finja não ver; talvez o Rio seja a melhor cidade do mundo pra se viver, principalmente na Zona Sul, onde as pessoas parecem não se interessar pela vida alheia. Lá, saí com ele nessas mesmas circunstâncias; também cheguei na casa dele do mesmo modo. Foi adorável, nosso relacionamento sempre melhorou com isso. Aconselho as minhas amigas a trilhar esse caminho para melhorar o namoro. Assim, não há relação que caia na rotina. Mas aqui em Belo Horizonte, a situação é outra. As pessoas são... Bem, não quero entrar no mérito de julgar a população de toda uma cidade. Vamos ao que realmente aconteceu. Ele veio me visitar pela segunda vez. Já que estávamos acostumados a esse jeito liberal na cidade dele, resolvemos fazer o mesmo aqui. Lembro-me que antes de sair à noite, me fez um pedido: “você pode sair de vestido apenas, mais nada?” A senhora entende o que quero dizer com isso, não? Concordei com ele. Enfiei-me no quarto e procurei uma roupa bem provocante. Demorei, confesso. Quando surgi na sala, vestia um vestido inteiriço, comprido, fechado por botões de cima abaixo, e de mangas compridas. Um vestido de tecido grosso, apropriado para o frio que pode fazer à noite e, mais, de madrugada. Ele ficou fascinado. Não sei se pelo vestido, pelos botões, ou pela possibilidade de desabotoá-los. Saímos. Demos umas voltas pelo centro. Recordo-me que passamos por uma boate. Ainda era cedo e havia jovens sentados no chão, próximos à entrada. Continuamos; passeamos por algumas ruas escuras, desertas, mas atrativas. Paramos em um bar em que havia apenas um casal. Tomamos uma cerveja. Eu nem gosto muito de cerveja, mas o acompanhei. Estava um pouco frio, e a bebida me fez ficar arrepiada. Depois saímos do bar, de novo sem destino. Andamos mais um pouco. Confesso que senti vontade de encontrar um buraco, quer dizer, um vão. Queria me enfiar num lugar escondido e que ele me desabotoasse o vestido inteiro. Talvez a senhora me pergunte se eu não tenho casa para fazer essas coisas. Claro que tenho; além de tudo, moro sozinha. Mas confesso mais uma coisa, não sei se isso chega a ser considerado uma doença, mas a sensação de perigo me excita. Certa vez contei isso a uma terapeuta. Esperei que ela me desaconselhasse, ou me censurasse, mas acabou por me dizer que eu devia realizar o meu desejo. Então acho que ele captou meu pensamento. Primeiro, começamos a nos agarrar entre um muro e a entrada de um desses prédios antigos, de três andares. Minutos depois, acreditamos ter encontrado a desejada saliência. Era uma discreta e silenciosa avenida, cheia de casas enfileiradas. As moradias estavam escuras, apenas a luz exterior, que era baixa, iluminava o local. Falei a ele: “é aqui”. Daí ele me desabotoou. O vestido se abriu e ele começou a percorrer com as mãos o meu ventre, depois os meus seios, e,enfim, pôs-se a beijá-los. De certo modo, temi pegar um resfriado, mas o calor do seu corpo me bastava naquele momento. Passado um tempo, achei melhor ficar totalmente nua. Deixei que ele me despisse. Mas o desejo foi meu, isso é importante dizer. Preocupei-me apenas onde iríamos pendurar o vestido, para que não se sujasse. Acabei por encontrar uma ponta de portão, que serviu como uma espécie de cabideiro. Estava tão bom: eu nua nos braços dele, na minha cidade, numa noite silenciosa, morrendo de desejo, nunca pensei que isso fosse possível aqui, era um sonho. Até que, com o que aconteceu, descobri que realmente essas coisas não são possíveis numa cidade como a nossa. Quando me voltei ainda de olhos fechados para o meu lado direito, reparei um vulto que se afastou muito rápido. Pensei que fosse uma ilusão minha em meio àquela relação de imenso prazer. Mas quando abri os olhos, reparei que o vestido havia desaparecido; o vulto tinha sido de alguém que furtivamente o apanhara e correra. Nada falei, continuei entregue ao amor. Meu namorado nada reparara. Algum tempo depois, ao perceber o que o ocorrera, perguntou: “o que vamos fazer agora?”, sua voz soou um tanto trêmula. Ele não sabia que iniciativa tomar. “Vamos pegar um táxi, sugeri”, confesso que estava mais segura que ele, como ainda estou agora. Ele foi até a esquina, permaneci agachada, junto ao muro. Logo veio o táxi, e ele dentro. Só que o motorista era um senhor. Em vez de me levar para casa, trouxe-me para cá. Caso isso acontecesse no Rio, creio que o final seria outro. Mas aqui em Minas as pessoas são conservadoras. Agora estou aqui, sentada ante a senhora. Ainda bem que o pessoal neste lugar foi legal comigo, todos foram muito discretos, logo alguém arranjou esse pano para eu me enrolar. Só que meu bumbum está doendo, e a cadeira está tão dura...
O quê? Se tenho alguma amiga que pode me ajudar? A senhora vai me dar uma chance? Que bom! Tenho. Permite-me um telefonema? É pra já, agradeço. Não sabia que encontraria num lugar desse tipo uma pessoa tão generosa. Mas a senhora impõe uma condição: quer que eu escreva essa história de próprio punho e lhe dê autografada? Ok, dez minutos! Posso fazer duas perguntas? Faço a segunda, porque a primeira...: a senhora ficou excitada, não?
O quê? Se tenho alguma amiga que pode me ajudar? A senhora vai me dar uma chance? Que bom! Tenho. Permite-me um telefonema? É pra já, agradeço. Não sabia que encontraria num lugar desse tipo uma pessoa tão generosa. Mas a senhora impõe uma condição: quer que eu escreva essa história de próprio punho e lhe dê autografada? Ok, dez minutos! Posso fazer duas perguntas? Faço a segunda, porque a primeira...: a senhora ficou excitada, não?
sexta-feira, agosto 07, 2009
Ele voltou outras vezes
O homem, que eu mal sabia o nome, movia-se sobre mim. No escuro da sala, sobre um colchão estreito, descobrira-me seminua. Puxara a coberta de algodão e reparara minha blusa curta e a calcinha. Entendera minha linguagem. Eu fingia dormir, mas estava ávida que compreendesse meus sinais. Suas mãos grossas deslizaram sobre meu ventre; a boca roçou meu rosto e procurou meus lábios. O beijo, úmido, temperado pelo ar frio da madrugada, revelou nossos corpos à procura de calor. Virei-me sem abrir os olhos e o abracei. Minhas mãos percorreram suas costas, afagaram-no até encontrar pouso em algum ponto em que os músculos recheavam nosso contato. Deslizou as finas tiras que me atravessavam os ombros. Minha blusa não demorou a desaparecer, envolta por outros panos que nos cercavam. A calcinha, eu mesmo a tirei. Mantivemo-nos abraçados; nossos sexos se encontraram por instinto; não precisamos de mais esforços.
Eram dez horas quando começou a reunião. Um encontro entre amigos. Eu era a única que não conhecia quase ninguém. A dona da casa, minha amiga, apresentou-me ao grupo.
O olhar de um homem alto, de cabelos escuros, não se desprendeu de mim durante boa parte da noite.
Amigos chegavam, saíam, comiam os canapés que minha amiga preparara. Bebiam vinho, cerveja, ou mesmo uísque. A música não demorou a se espalhar pelo ambiente. Houve quem trouxera um violão. Foi uma noite de arte. Não precisávamos de muitas palavras. Apenas sons em harmonia, alguns olhares, breves diálogos, sorrisos provocantes.
Na varanda havia um grupo que fumava; fumava e olhava para o mar. Quando as vozes se calavam, era possível ouvir o ligeiro bramir das ondas.
Alguém lembrou um namoro de outros tempos na faixa de areia lá embaixo; outro, uma história engraçada sobre uma namorada nua dentro de um automóvel estacionado; alguém falou sobre um banho de mar noturno ao mesmo tempo em que havia homens pescando.
De repente, uma poesia; isso, uma voz declamou Bandeira. Já na madrugada, alguns pares haviam se formado. Moços e moças que vieram juntos também trocavam afagos. Meu pretendente não lançou palavras em minha direção. Apenas o sorriso; bebia coquetel de frutas, às vezes comia uma pequena torrada com pasta; acompanhava a música quando havia alguém no violão.
Depois das três a casa foi-se esvaziando. Ficou a anfitriã, o marido, mais um casal, meu admirador e eu.
Mais alguns quartos de hora, ela falou:
“Fiquem à vontade, aqui há mais um quarto, e mesmo a sala, caso queiram pernoitar”, sorriu.
Pouco a pouco fomos aconchegando-nos. A sala escura, os últimos lampejos do que fora uma festa, um resto de alegria, o cumprimento de boa noite. Uma noite que já quase se esvaía.
No meio tom das sombras, fingimos adormecer. Como ele nada falara, tirei a saia e a deixei sobre uma das cadeiras. Enfiei-me seminua, ou semivestida, sob a coberta. Depois soube que a saia vazia sobre a cadeira o excitara; que uma mulher que insinua a pele branca, a nudez inesperada, faz um convite impreterível ao amor.
Naquela noite, não trocamos palavras. Apenas nossos dedos percorreram os abismos que tentamos fazer transponíveis. Construímos pontes sobre as sutilezas do amor e do gozo. E quando exaustos, após arfarmos e gemermos sob prazer inclemente, voltamos ao nosso chão. Cada qual a seu canto.
Quando amanheceu, acordei sozinha. E ainda nua.
Mas ele voltou outras vezes.
Eram dez horas quando começou a reunião. Um encontro entre amigos. Eu era a única que não conhecia quase ninguém. A dona da casa, minha amiga, apresentou-me ao grupo.
O olhar de um homem alto, de cabelos escuros, não se desprendeu de mim durante boa parte da noite.
Amigos chegavam, saíam, comiam os canapés que minha amiga preparara. Bebiam vinho, cerveja, ou mesmo uísque. A música não demorou a se espalhar pelo ambiente. Houve quem trouxera um violão. Foi uma noite de arte. Não precisávamos de muitas palavras. Apenas sons em harmonia, alguns olhares, breves diálogos, sorrisos provocantes.
Na varanda havia um grupo que fumava; fumava e olhava para o mar. Quando as vozes se calavam, era possível ouvir o ligeiro bramir das ondas.
Alguém lembrou um namoro de outros tempos na faixa de areia lá embaixo; outro, uma história engraçada sobre uma namorada nua dentro de um automóvel estacionado; alguém falou sobre um banho de mar noturno ao mesmo tempo em que havia homens pescando.
De repente, uma poesia; isso, uma voz declamou Bandeira. Já na madrugada, alguns pares haviam se formado. Moços e moças que vieram juntos também trocavam afagos. Meu pretendente não lançou palavras em minha direção. Apenas o sorriso; bebia coquetel de frutas, às vezes comia uma pequena torrada com pasta; acompanhava a música quando havia alguém no violão.
Depois das três a casa foi-se esvaziando. Ficou a anfitriã, o marido, mais um casal, meu admirador e eu.
Mais alguns quartos de hora, ela falou:
“Fiquem à vontade, aqui há mais um quarto, e mesmo a sala, caso queiram pernoitar”, sorriu.
Pouco a pouco fomos aconchegando-nos. A sala escura, os últimos lampejos do que fora uma festa, um resto de alegria, o cumprimento de boa noite. Uma noite que já quase se esvaía.
No meio tom das sombras, fingimos adormecer. Como ele nada falara, tirei a saia e a deixei sobre uma das cadeiras. Enfiei-me seminua, ou semivestida, sob a coberta. Depois soube que a saia vazia sobre a cadeira o excitara; que uma mulher que insinua a pele branca, a nudez inesperada, faz um convite impreterível ao amor.
Naquela noite, não trocamos palavras. Apenas nossos dedos percorreram os abismos que tentamos fazer transponíveis. Construímos pontes sobre as sutilezas do amor e do gozo. E quando exaustos, após arfarmos e gemermos sob prazer inclemente, voltamos ao nosso chão. Cada qual a seu canto.
Quando amanheceu, acordei sozinha. E ainda nua.
Mas ele voltou outras vezes.
sábado, agosto 01, 2009
Anos 80
Vi uma matéria num desses cadernos femininos de jornal: uma atriz famosa posava para uma sessão de fotos de moda, com trajes anos 80. Uma maravilha. As roupas eram, na maior parte, de couro. Na foto maior, ela estava recostada numa caixa acústica, daquelas que se usavam nas festas da época, e trajava apenas uma jaqueta, meia-calça Wolford transparente com tonalidade negra e botas Fórum. Em outra pose, apresentava-se de frente, corpo inteiro, com um vestido curtíssimo, atravessado de cima abaixo por um longo zíper; o que havia de comprido eram as mangas, iam até os punhos, o zíper fechava na altura dos seios, deixando entreaberto o tanto de tecido que terminava sob o pescoço. A mulher tinha os braços esticados, as mãos fechadas; essas atingiam comprimento maior do que o vestidinho. Estava com a mesma meia da foto anterior e sandálias Constança. Na terceira foto, ainda de pé, tinha a perna direita voltada para fora, trajava um top Via Flores negro, de couro, calças legging, também de couro, e botas Diesel. Por alto, tudo que ela vestia nas três poses, excluindo o preço dos anéis, beirava cinco mil reais.
Não resisti. Uma vez que há muito tempo não cometo tal extravagância, procurei saber onde ficavam as lojas e comprei todas as roupas.
Escolhi o vestido curtíssimo, com seus complementos; vesti-o e fui a uma boate no Leblon. Dancei durante toda a noite. Os homens não pararam de me assediar. Fiz um terrível sucesso. Não pude sentar, como vocês imaginam; caso o fizesse... Aliás, no escurinho até que dava, cruzando as pernas, bebendo uma dose de uísque, ou uma caipirinha. As amigas me disseram: “Nos anos 80 se saía assim depois das vinte e três e tentava-se chegar em casa antes das cinco, ainda no escurinho da madrugada". Mas – sabem como sou – saí de casa em torno da meia-noite e voltei já o dia estabelecido, depois de tomar o café da manhã num hotel da orla marítima! Aluguei um automóvel com motorista; quis que me conduzisse a meu bel prazer, mesmo após a festa. Mas foram tantos os candidatos que se ofereceram a conduzir-me, amigos e aventureiros, admiradores de mulheres noturnas, amantes de mulheres nuas ou mesmo de roupa exígua (houve até mesmo candidatas), que quase me dei por vencida. Mas resisti. Mantive minha decisão: um automóvel com motorista, inteiramente à minha disposição. E por doze horas consecutivas. Foi uma extravagância feliz. Surpreendi os incautos. Cheguei no banco traseiro, única passageira. O motorista saiu do veículo, abriu a porta e fez uma mesura para que eu descesse. A cor negra do comprido automóvel combinava com toda a minha roupa, também negra. Muitas pessoas me olharam, mostraram-se surpresas. Caminhei de maneira natural, como se tudo aquilo fosse a coisa mais comum do mundo. Dentro da casa de espetáculo, havia um lugar especial, reservado apenas para mim. Não quis a presença de pessoa alguma nas outras cadeiras. A mesa era só minha, com os quatro lugares. Ao sair para a pista, notei o olhar estendido de muitos homens e mulheres. Dancei de início só, com a indiferença das estrelas. Quem quer que se aproximasse para tentar alguns passos diante de mim, eu, aparentemente, correspondia; mas, em seguida, meus olhos frios apontavam a lugar nenhum. Não me exibia para o outro, mas para mim mesma. Qualquer um podia chegar, mas também partir, no mesmo anonimato. Não dei primazia à pessoa alguma. Lá pelas três, até que tive vontade. Quando voltava do bar, olhei com insistência a um homem de meia-idade. Ao perceber meus olhos negros, minha face soturna e minhas sobrancelhas baixas, apertou-me a um canto, deslizou as mãos por sob meu tecido, tocou-me a meia, acima das coxas, já quase na virilha. Permiti-o durante poucos segundos. Larguei-o, de repente, e escorreguei para a pista novamente; agi como se nada houvesse acontecido. Assustou-se; ou sentiu-se desprezado. Perto do final, a pista estava plena, apertada. Levei alguns esbarrões e senti outros tantos toques. Mas minha pele fria e minha indiferença fizeram seus autores escapulirem. Muitos me dirigiram a palavra, mas não obtiveram resposta.
Quando ousei partir, às quatro e trinta, meu motorista encostou. Entrei no automóvel. Senti que, naquela madrugada, fora eu a estrela máxima. As próprias mulheres invejaram-me; os homens tremeram ante meu corpo esguio e minha roupa avançada, embora do passado recente.
No hotel, bem no hotel a história foi outra... Depois, o café da manhã estava uma delícia. É preciso dizer que os escandinavos são homens discretíssimos. Mesmo ante a uma mulher nua. E que encosta à porta de sua suíte ao amanhecer. Depois de tudo terminado, meu motorista não me deixou em apuros. Sob minhas ordens, e sem dirigir-me a vista direta, resgatou-me em torno das sete e trinta. Ainda com as mesmas mesuras da noite recente. Dirigiu o automóvel com a postura de um criado inglês. Devolveu-me, a casa, incólume.
Não resisti. Uma vez que há muito tempo não cometo tal extravagância, procurei saber onde ficavam as lojas e comprei todas as roupas.
Escolhi o vestido curtíssimo, com seus complementos; vesti-o e fui a uma boate no Leblon. Dancei durante toda a noite. Os homens não pararam de me assediar. Fiz um terrível sucesso. Não pude sentar, como vocês imaginam; caso o fizesse... Aliás, no escurinho até que dava, cruzando as pernas, bebendo uma dose de uísque, ou uma caipirinha. As amigas me disseram: “Nos anos 80 se saía assim depois das vinte e três e tentava-se chegar em casa antes das cinco, ainda no escurinho da madrugada". Mas – sabem como sou – saí de casa em torno da meia-noite e voltei já o dia estabelecido, depois de tomar o café da manhã num hotel da orla marítima! Aluguei um automóvel com motorista; quis que me conduzisse a meu bel prazer, mesmo após a festa. Mas foram tantos os candidatos que se ofereceram a conduzir-me, amigos e aventureiros, admiradores de mulheres noturnas, amantes de mulheres nuas ou mesmo de roupa exígua (houve até mesmo candidatas), que quase me dei por vencida. Mas resisti. Mantive minha decisão: um automóvel com motorista, inteiramente à minha disposição. E por doze horas consecutivas. Foi uma extravagância feliz. Surpreendi os incautos. Cheguei no banco traseiro, única passageira. O motorista saiu do veículo, abriu a porta e fez uma mesura para que eu descesse. A cor negra do comprido automóvel combinava com toda a minha roupa, também negra. Muitas pessoas me olharam, mostraram-se surpresas. Caminhei de maneira natural, como se tudo aquilo fosse a coisa mais comum do mundo. Dentro da casa de espetáculo, havia um lugar especial, reservado apenas para mim. Não quis a presença de pessoa alguma nas outras cadeiras. A mesa era só minha, com os quatro lugares. Ao sair para a pista, notei o olhar estendido de muitos homens e mulheres. Dancei de início só, com a indiferença das estrelas. Quem quer que se aproximasse para tentar alguns passos diante de mim, eu, aparentemente, correspondia; mas, em seguida, meus olhos frios apontavam a lugar nenhum. Não me exibia para o outro, mas para mim mesma. Qualquer um podia chegar, mas também partir, no mesmo anonimato. Não dei primazia à pessoa alguma. Lá pelas três, até que tive vontade. Quando voltava do bar, olhei com insistência a um homem de meia-idade. Ao perceber meus olhos negros, minha face soturna e minhas sobrancelhas baixas, apertou-me a um canto, deslizou as mãos por sob meu tecido, tocou-me a meia, acima das coxas, já quase na virilha. Permiti-o durante poucos segundos. Larguei-o, de repente, e escorreguei para a pista novamente; agi como se nada houvesse acontecido. Assustou-se; ou sentiu-se desprezado. Perto do final, a pista estava plena, apertada. Levei alguns esbarrões e senti outros tantos toques. Mas minha pele fria e minha indiferença fizeram seus autores escapulirem. Muitos me dirigiram a palavra, mas não obtiveram resposta.
Quando ousei partir, às quatro e trinta, meu motorista encostou. Entrei no automóvel. Senti que, naquela madrugada, fora eu a estrela máxima. As próprias mulheres invejaram-me; os homens tremeram ante meu corpo esguio e minha roupa avançada, embora do passado recente.
No hotel, bem no hotel a história foi outra... Depois, o café da manhã estava uma delícia. É preciso dizer que os escandinavos são homens discretíssimos. Mesmo ante a uma mulher nua. E que encosta à porta de sua suíte ao amanhecer. Depois de tudo terminado, meu motorista não me deixou em apuros. Sob minhas ordens, e sem dirigir-me a vista direta, resgatou-me em torno das sete e trinta. Ainda com as mesmas mesuras da noite recente. Dirigiu o automóvel com a postura de um criado inglês. Devolveu-me, a casa, incólume.
sexta-feira, julho 24, 2009
Nós, mulheres, gostamos de coisas que os homens sequer imaginam
“Temos de dar um jeito nisso, você vai acabar me causando um problema sério. Sua namorada já não me olha com bons olhos.”
“Mas diga: o que aconteceu naquela noite pra você chegar nua em casa?”
“Ah, já falei, você passou a freqüentar minha casa, faço amor com você, ensino uma porção de coisas interessantes, só não me faça essa pergunta.”
“Você assim me deixa curioso, não aguento, e mesmo trepando com você quase sempre, quando chego em casa ainda me masturbo só em pensar no motivo que fez você chegar nua em casa naquele final de noite.”
Guido estava deitado comigo, passava a mão sobre os meus seios, depois se pôs a beijá-los. Deslizou a ponta da língua sobre meu ventre, parou sobre o umbigo e tentou dar-lhe umas mordidinhas; escorregou de novo a boca até o início dos meus pêlos, umedeceu-os ainda com a língua e continuo em direção às minhas pernas, estacionou por alguns segundos junto ao meu clitóris, procurou-o com os lábios, depois deu nele também uma suave mordida, permanecendo ali durante alguns minutos.
Então falei:
“Suba, venha beijar minha boca.”
Atendeu-me, agarrou meu cabelo, deixou que seu pênis deslizasse por entre minhas pernas, então procurei encaixá-lo entre meus grandes lábios.
Tudo começou quando num final de noite, ou início de madrugada, cheguei nua no prédio onde moro. Acontecera um problema, mas consegui safar-me. Havia deixado o carro na garagem – àquela hora nunca encontrei viva alma –, mas justo aquele dia, Guido estava com a namorada junto à entrada do elevador do meu andar. Mal a porta abriu para que eu saísse, a garota gritou:
“Ah, que horror! O que houve, a senhora foi assaltada?”
Respondi de pronto:
“Claro que não.”
E caminhei altiva para o meu apartamento. Tirei a chave da bolsa, abri a porta e entrei. Tudo sob o olhar surpreso dos dois adolescentes.
Nos dias seguintes me preocupei se aquele flagra não me traria problemas. Temi que eles contassem para o prédio inteiro e eu fosse obrigada a mudar. Meus temores, porém, não se concretizaram. Aconteceu que passei a perceber o rapaz constantemente a me vigiar, principalmente durante a madrugada.
“Você não namora mais até aquela hora tardia, quando vocês dois deram comigo?”, perguntei a ele.
“Não, não costumamos ficar juntos até quase de manhã. Naquele dia fomos a uma festa e estávamos nos despedindo quando você chegou.”
Uma vez que chego duas ou três vezes na semana muito tarde – ou muito cedo, não sei –, ele passou a me espreitar. Até que no escurinho do corredor me pregou um grande susto. Acabei por aceitá-lo em meu apartamento. Passamos a fazer amor. Ele, jovem como era, não demonstrava experiência alguma. Ensinei algumas coisas que passaram a deixá-lo louco. No começo, achei que era maldade de minha parte; em seguida, acabei por lhe dizer que ele era homem e mais cedo ou mais tarde aprenderia tudo aquilo; até serviria para deixar as garotas apaixonadas.
“Você não trepa com sua namorada?”, perguntei de surpresa.
Ele enrubesceu e tentou responder com evasivas:
“Trepo, mas não muito frequentemente. Ela é um pouco chata nesse ponto. Morre de vergonha e acha que a mãe pensa que ainda é virgem.”
“Onde vocês fazem amor?”
“Esse é outro problema. Ainda somos muito jovens para frequentar hotéis. Outro dia roubei a chave do carro de minha mãe e trepamos na garagem. O carro tem vidros escuros, não dá pra ninguém notar quem está lá dentro. Mas só o fato de percebermos as pessoas do lado de fora, fez Clara morrer de medo. Ainda aconteceu de eu arrancar a calcinha dela com fúria; a pequena peça se desfez. Ela ficou aborrecida comigo por vários dias. Cheguei a pensar que não me queria mais.”
“Nada disso. Nós, mulheres, gostamos de coisas que os homens sequer imaginam. Nessa situação, ela sentirá mais prazer caso você faça amor segurando-a com firmeza. Você ainda deve dizer: ‘não te mexas, podes provocar uma explosão’; se ela estiver no período fértil, vai ficar quietinha, mas louca de prazer por estar correndo perigo. Depois tudo vai acabar com um longo beijo na boca; então é a sua vez de manter o controle. Na verdade, nesse momento, a mulher está totalmente vencida.”
“Como você sabe tantas coisas assim?”
“Olhe bem pra mim, calcule quanto anos eu tenho. Mas não precisa dizer.”
Trepei com ele por dois longos meses, várias vezes na semana.
Numa certa noite, eu disse:
“Conto o que aconteceu naquela madrugada em que você e sua namorada me surpreenderam nua, mas com uma condição.”
“Qual?”
“De que você não mais me procure.”
“Mas você não gosta mais de mim?”
“Gosto, gosto muito, mas vou acabar tendo problemas. As pessoas já estão desconfiadas. E você é menor de idade.”
“Não, não faça isso, por favor.”
“Você não gosta da sua namorada?”
“Gosto, mas o que isso tem a ver?”
“Escute: você gosta dela, está ensinando-lhe muitas maneiras de fazer amor. Ela não mais se mostra tão temerosa como antes. Conto a você o que aconteceu e você vai. Não quero dizer que nunca mais vou fazer amor com você. Mas não na frequência em que estamos.”
“Está bem, então conte. Mas vou ficar triste.”
“Tristeza não dura muito; tanto mais quando se é jovem e se têm todas as possibilidades.”
“Todas?”
“Sim. Na sua idade não se reconhece a possibilidade de perdas.”
Contei a o que acontecera naquele final de noite.
Depois disso, ele voltou mais duas vezes, num espaço de três meses.
Hoje não moro mais lá. Tive o cuidado de que não descobrisse meu novo endereço.
E fico atenta para que, sobretudo os jovens, não me surpreendam nua!
“Mas diga: o que aconteceu naquela noite pra você chegar nua em casa?”
“Ah, já falei, você passou a freqüentar minha casa, faço amor com você, ensino uma porção de coisas interessantes, só não me faça essa pergunta.”
“Você assim me deixa curioso, não aguento, e mesmo trepando com você quase sempre, quando chego em casa ainda me masturbo só em pensar no motivo que fez você chegar nua em casa naquele final de noite.”
Guido estava deitado comigo, passava a mão sobre os meus seios, depois se pôs a beijá-los. Deslizou a ponta da língua sobre meu ventre, parou sobre o umbigo e tentou dar-lhe umas mordidinhas; escorregou de novo a boca até o início dos meus pêlos, umedeceu-os ainda com a língua e continuo em direção às minhas pernas, estacionou por alguns segundos junto ao meu clitóris, procurou-o com os lábios, depois deu nele também uma suave mordida, permanecendo ali durante alguns minutos.
Então falei:
“Suba, venha beijar minha boca.”
Atendeu-me, agarrou meu cabelo, deixou que seu pênis deslizasse por entre minhas pernas, então procurei encaixá-lo entre meus grandes lábios.
Tudo começou quando num final de noite, ou início de madrugada, cheguei nua no prédio onde moro. Acontecera um problema, mas consegui safar-me. Havia deixado o carro na garagem – àquela hora nunca encontrei viva alma –, mas justo aquele dia, Guido estava com a namorada junto à entrada do elevador do meu andar. Mal a porta abriu para que eu saísse, a garota gritou:
“Ah, que horror! O que houve, a senhora foi assaltada?”
Respondi de pronto:
“Claro que não.”
E caminhei altiva para o meu apartamento. Tirei a chave da bolsa, abri a porta e entrei. Tudo sob o olhar surpreso dos dois adolescentes.
Nos dias seguintes me preocupei se aquele flagra não me traria problemas. Temi que eles contassem para o prédio inteiro e eu fosse obrigada a mudar. Meus temores, porém, não se concretizaram. Aconteceu que passei a perceber o rapaz constantemente a me vigiar, principalmente durante a madrugada.
“Você não namora mais até aquela hora tardia, quando vocês dois deram comigo?”, perguntei a ele.
“Não, não costumamos ficar juntos até quase de manhã. Naquele dia fomos a uma festa e estávamos nos despedindo quando você chegou.”
Uma vez que chego duas ou três vezes na semana muito tarde – ou muito cedo, não sei –, ele passou a me espreitar. Até que no escurinho do corredor me pregou um grande susto. Acabei por aceitá-lo em meu apartamento. Passamos a fazer amor. Ele, jovem como era, não demonstrava experiência alguma. Ensinei algumas coisas que passaram a deixá-lo louco. No começo, achei que era maldade de minha parte; em seguida, acabei por lhe dizer que ele era homem e mais cedo ou mais tarde aprenderia tudo aquilo; até serviria para deixar as garotas apaixonadas.
“Você não trepa com sua namorada?”, perguntei de surpresa.
Ele enrubesceu e tentou responder com evasivas:
“Trepo, mas não muito frequentemente. Ela é um pouco chata nesse ponto. Morre de vergonha e acha que a mãe pensa que ainda é virgem.”
“Onde vocês fazem amor?”
“Esse é outro problema. Ainda somos muito jovens para frequentar hotéis. Outro dia roubei a chave do carro de minha mãe e trepamos na garagem. O carro tem vidros escuros, não dá pra ninguém notar quem está lá dentro. Mas só o fato de percebermos as pessoas do lado de fora, fez Clara morrer de medo. Ainda aconteceu de eu arrancar a calcinha dela com fúria; a pequena peça se desfez. Ela ficou aborrecida comigo por vários dias. Cheguei a pensar que não me queria mais.”
“Nada disso. Nós, mulheres, gostamos de coisas que os homens sequer imaginam. Nessa situação, ela sentirá mais prazer caso você faça amor segurando-a com firmeza. Você ainda deve dizer: ‘não te mexas, podes provocar uma explosão’; se ela estiver no período fértil, vai ficar quietinha, mas louca de prazer por estar correndo perigo. Depois tudo vai acabar com um longo beijo na boca; então é a sua vez de manter o controle. Na verdade, nesse momento, a mulher está totalmente vencida.”
“Como você sabe tantas coisas assim?”
“Olhe bem pra mim, calcule quanto anos eu tenho. Mas não precisa dizer.”
Trepei com ele por dois longos meses, várias vezes na semana.
Numa certa noite, eu disse:
“Conto o que aconteceu naquela madrugada em que você e sua namorada me surpreenderam nua, mas com uma condição.”
“Qual?”
“De que você não mais me procure.”
“Mas você não gosta mais de mim?”
“Gosto, gosto muito, mas vou acabar tendo problemas. As pessoas já estão desconfiadas. E você é menor de idade.”
“Não, não faça isso, por favor.”
“Você não gosta da sua namorada?”
“Gosto, mas o que isso tem a ver?”
“Escute: você gosta dela, está ensinando-lhe muitas maneiras de fazer amor. Ela não mais se mostra tão temerosa como antes. Conto a você o que aconteceu e você vai. Não quero dizer que nunca mais vou fazer amor com você. Mas não na frequência em que estamos.”
“Está bem, então conte. Mas vou ficar triste.”
“Tristeza não dura muito; tanto mais quando se é jovem e se têm todas as possibilidades.”
“Todas?”
“Sim. Na sua idade não se reconhece a possibilidade de perdas.”
Contei a o que acontecera naquele final de noite.
Depois disso, ele voltou mais duas vezes, num espaço de três meses.
Hoje não moro mais lá. Tive o cuidado de que não descobrisse meu novo endereço.
E fico atenta para que, sobretudo os jovens, não me surpreendam nua!
quinta-feira, julho 16, 2009
Numa noite ardente
“Quando, cerrando os olhos, numa noite ardente,
Respiro a fundo o odor dos teus seio fogosos,
Percebo abrir-se ao longe litorais radiosos
Tingidos por um sol monótono e dolente.”
“Oh, é Baudelaire!”
“Conhece-o?”
“Como, não?”
“Não tinha ideia de que ao sair de uma boate, às 4:30, ainda a bruma nos cobrir, a mulher com quem dancei boa parte da noite conhecesse o poeta francês.”
“Tens idéias desrespeitosas sobre as mulheres daqui.”
“Oh, perdão! Não foi essa minha intenção.”
“Estás perdoado.”
“Acompanha-me?”
“Não, deixo a uma próxima vez?”
“Haverá próxima?”
“Oh, claro. O mundo não é tão extenso e a noite a todos abarca.”
“Queria vê-la nua, em meu quarto de hotel.”
“Permite a mim, em primeiro lugar, sonhar; depois, talvez vá.”
“Oh, o sonho, acho que você tem razão.”
“O sonho deve vir primeiro; não deixemos que a realidade se lance sobre nossos rastros.”
“Mas você está tão bela; o vestido pouco, a seda transparente...”
“Logo vem o sol; não quero que o astro loiro me desnude e me exponha a desconhecidos.”
“Mas tenho como cobri-la, possuo tecidos sóbrios e prateados. Basta escolhê-los.”
“Prefiro o tempo exíguo que me resta e correr a casa. Tal expectativa também me excita.”
“Teme a luz?”
“Não propriamente a luz; também sou ser diurno; às vezes cora-me a súbita nudez.”
“Deixe-me tocá-la, ainda.”
“Com a ponta dos dedos quentes e com a borda dos lábios úmidos... Oh, roubas-me o echarpe, deixas-me seminua!”
“Já percebi que você gosta da própria pele despida e lisa; ama o minuto em que se vê à beira do abismo.”
“Do abismo do amor e de mais um: o da possibilidade de ser surpreendida sem nada a cobrir-me o corpo!”
“Posso levá-lo como sinal de um encontro vindouro?”
“Oui. Mas me deixa só, tomo condução própria.”
“Mas vai nua, sem homem a escoltá-la?”
“Não preciso de batedor. Oferto-te o mimo. Resolvo-me. Os motoristas noturnos olham apenas as ruas e os faróis.”
“Beijo-a mais uma vez?”
“Beijo-te. Parto e suspiro. Assim, amar-te-ei além da conta.”
Respiro a fundo o odor dos teus seio fogosos,
Percebo abrir-se ao longe litorais radiosos
Tingidos por um sol monótono e dolente.”
“Oh, é Baudelaire!”
“Conhece-o?”
“Como, não?”
“Não tinha ideia de que ao sair de uma boate, às 4:30, ainda a bruma nos cobrir, a mulher com quem dancei boa parte da noite conhecesse o poeta francês.”
“Tens idéias desrespeitosas sobre as mulheres daqui.”
“Oh, perdão! Não foi essa minha intenção.”
“Estás perdoado.”
“Acompanha-me?”
“Não, deixo a uma próxima vez?”
“Haverá próxima?”
“Oh, claro. O mundo não é tão extenso e a noite a todos abarca.”
“Queria vê-la nua, em meu quarto de hotel.”
“Permite a mim, em primeiro lugar, sonhar; depois, talvez vá.”
“Oh, o sonho, acho que você tem razão.”
“O sonho deve vir primeiro; não deixemos que a realidade se lance sobre nossos rastros.”
“Mas você está tão bela; o vestido pouco, a seda transparente...”
“Logo vem o sol; não quero que o astro loiro me desnude e me exponha a desconhecidos.”
“Mas tenho como cobri-la, possuo tecidos sóbrios e prateados. Basta escolhê-los.”
“Prefiro o tempo exíguo que me resta e correr a casa. Tal expectativa também me excita.”
“Teme a luz?”
“Não propriamente a luz; também sou ser diurno; às vezes cora-me a súbita nudez.”
“Deixe-me tocá-la, ainda.”
“Com a ponta dos dedos quentes e com a borda dos lábios úmidos... Oh, roubas-me o echarpe, deixas-me seminua!”
“Já percebi que você gosta da própria pele despida e lisa; ama o minuto em que se vê à beira do abismo.”
“Do abismo do amor e de mais um: o da possibilidade de ser surpreendida sem nada a cobrir-me o corpo!”
“Posso levá-lo como sinal de um encontro vindouro?”
“Oui. Mas me deixa só, tomo condução própria.”
“Mas vai nua, sem homem a escoltá-la?”
“Não preciso de batedor. Oferto-te o mimo. Resolvo-me. Os motoristas noturnos olham apenas as ruas e os faróis.”
“Beijo-a mais uma vez?”
“Beijo-te. Parto e suspiro. Assim, amar-te-ei além da conta.”
sexta-feira, julho 10, 2009
Cris e o amor (2)
A história que vai a seguir já apareceu por aqui. Mas a protagonista – Cris – já há algum tempo vem me pedindo para contá-la com mais clareza. Daí, publico-a de novo. Beijos a vocês, leitoras e leitores. Ah, outro dia descobri: as mulheres estão vibrando mais do que os homens, com meus contos.
Não se surpreenda, não me olhe desse jeito, eu conto o que aconteceu. Não sei por que os homens ficam tão excitados quando encontram uma mulher assim... Bem, quando encontram uma mulher mais à vontade. E tanto mais quando ouvem da voz dela uma história do tipo da que vou contar. Não olhe para o meu corpo agora, por favor, olhe apenas para o meu rosto. Permite que eu entre? Ah, obrigada; obrigada também pela poltrona. Escute.
Encontrei um homem lindo, parecia ainda rapaz, mas já entrava pelos quarenta; elegante, jovial. Fui eu quem o abordou.
“Você não é da Filosofia, da UFRJ?”
“Não”, respondeu, “sou da UFRJ, mas da Letras.”
“Você é muito parecido com um antigo amigo meu da Filosofia; pensei que fosse ele.”
Continuamos a conversar. Estávamos no Espaço de Cinema, era uma tarde de domingo. Ele tinha ido assistir a um filme espanhol; eu, apenas para sair um pouco de casa.
Não olhe pro meu corpo, por favor, olhe pro meu rosto. Isso. Assim.
Comentou sobre o que fazia na universidade. Concluíra um mês antes o mestrado. Falou sobre o tema da pesquisa. Acabou me convidando para assistir ao filme. Aceitei. Era uma comédia, nem lembro o nome, mas naquele momento até que nos divertimos.
Quando o filme acabou, ele queria lanchar; acompanhei. Conversamos mais um pouco. Falei sobre mim, sobre o que faço na vida. Ouviu com interesse.
Ao nos despedirmos, ofereceu uma carona. Contra-argumentei:
“Você vai ter que dar muita volta, vou de ônibus, não quero incomodar.”
“Não incomoda, a gente aproveita e conversa mais um pouco.”
Aceitei.
Uma semana depois estávamos namorando. Comecei a freqüentar a casa dele. Um apartamento pequeno, no Centro, muito arrumadinho, cheio de CDs e de livros.
O namoro, porém, não durou. Havia um mulheril terrível atrás dele e aquilo me incomodou.
Ele dizia:
“Não se preocupe, não vou trair você; elas são apenas minhas amigas; não se pode viver sem amigos, não é mesmo?”
Já pedi, por favor, esqueceu? Olhe pro meu rosto. Isso. Obrigada.
Mas não me acostumei com o jeito dele. A maior parte de suas amizades era de mulheres. Fui eu que terminei o namoro.
Um dia, estou sozinha de novo no Espaço de Cinema, quando o vejo. Mas dessa vez com uma mulher muito bonita. Me escondi, não deixei que ele descobrisse que eu estava ali. Ele não deu por mim. Então fui tentada a procurá-lo. Telefonei. Marquei. Saímos mais uma vez e depois de tomarmos algumas taças de vinho fomos para o apartamento dele.
“Vi você com aquela sua namorada”, eu disse.
“Namorada?”
“Sim, aquela de cabelo castanho curto.”
“Ah, sim, é a Rita. Mas não chega a ser uma namorada. Veio de BH, ficou aqui em casa alguns dias, acabou acontecendo alguma coisa entre nós, mas não posso dizer que seja namorada.”
A existência daquela mulher pôs fogo nas minhas entranhas. Acabei por abraçá-lo, beijá-lo e por tirar toda a roupa. Quando já ia nua, falou:
“Vou contar a você uma coisa que aconteceu. A mineira que esteve aqui é um tanto louca. Numa das noites, eu bebi bastante. No momento em que ela acabou de tirar a roupa, pedi: vai até lá fora e toca a campainha, faz de conta que você está chegando nua pra me namorar. Ela ainda perguntou: nuazinha? Sim, respondi, nuazinha. Não é que ela foi?”
Então, perdi a cabeça:
“Vou também. Sou tanto louca quanto ela.”
“Você?”, ainda duvidou.
Saí duas vezes, deixei que ele trancasse a porta. Eu estava pelada no corredor do quinto andar. E o corredor era tão iluminado...
Toquei a campainha. Ele demorou a abrir. Cheguei a pensar, um pouquinho arrepiada: será que ele vai me deixar pelada aqui fora? Mas ele abriu. Entrei, me agarrei a ele e trepamos imediatamente. Eu que sou difícil pra gozar, naquela noite gozei primeiro. Foi isso. Ele acabou despertando em mim algo que eu nunca tinha imaginado. Concluí: agora já sei como fazer para me satisfazer em termos de sexo.
Veja só a maluquice que dá na gente quando se está apaixonada. Sou uma pessoa importante, diretora de uma escola técnica federal. Já pensou se uma pessoa maldosa me flagra nua, se sou presa?, sei lá. Na hora, esses perigos não me vieram à cabeça.
Antes eu era muito envergonhada, pouco a pouco me tornei uma mulher mais desinibida. Quando eu conto essa história a qualquer namorado de ocasião, ele se excita bastante. Também acaba pedindo para eu ir pelada lá fora. De início, reluto, mas depois acabo aceitando. Não sei se é por paixão ou se porque gozo melhor com o risco. Na hora me entusiasmo tanto, que nem me dou conta dos perigos que corro. Mas às vezes ainda tenho umas recaídas: morro de vergonha.
Agora pode olhar pro meu corpo, pode me apreciar nua. Só não me peça para ir lá fora de novo, por favor. Por hoje, minha cota já está esgotada.
Não se surpreenda, não me olhe desse jeito, eu conto o que aconteceu. Não sei por que os homens ficam tão excitados quando encontram uma mulher assim... Bem, quando encontram uma mulher mais à vontade. E tanto mais quando ouvem da voz dela uma história do tipo da que vou contar. Não olhe para o meu corpo agora, por favor, olhe apenas para o meu rosto. Permite que eu entre? Ah, obrigada; obrigada também pela poltrona. Escute.
Encontrei um homem lindo, parecia ainda rapaz, mas já entrava pelos quarenta; elegante, jovial. Fui eu quem o abordou.
“Você não é da Filosofia, da UFRJ?”
“Não”, respondeu, “sou da UFRJ, mas da Letras.”
“Você é muito parecido com um antigo amigo meu da Filosofia; pensei que fosse ele.”
Continuamos a conversar. Estávamos no Espaço de Cinema, era uma tarde de domingo. Ele tinha ido assistir a um filme espanhol; eu, apenas para sair um pouco de casa.
Não olhe pro meu corpo, por favor, olhe pro meu rosto. Isso. Assim.
Comentou sobre o que fazia na universidade. Concluíra um mês antes o mestrado. Falou sobre o tema da pesquisa. Acabou me convidando para assistir ao filme. Aceitei. Era uma comédia, nem lembro o nome, mas naquele momento até que nos divertimos.
Quando o filme acabou, ele queria lanchar; acompanhei. Conversamos mais um pouco. Falei sobre mim, sobre o que faço na vida. Ouviu com interesse.
Ao nos despedirmos, ofereceu uma carona. Contra-argumentei:
“Você vai ter que dar muita volta, vou de ônibus, não quero incomodar.”
“Não incomoda, a gente aproveita e conversa mais um pouco.”
Aceitei.
Uma semana depois estávamos namorando. Comecei a freqüentar a casa dele. Um apartamento pequeno, no Centro, muito arrumadinho, cheio de CDs e de livros.
O namoro, porém, não durou. Havia um mulheril terrível atrás dele e aquilo me incomodou.
Ele dizia:
“Não se preocupe, não vou trair você; elas são apenas minhas amigas; não se pode viver sem amigos, não é mesmo?”
Já pedi, por favor, esqueceu? Olhe pro meu rosto. Isso. Obrigada.
Mas não me acostumei com o jeito dele. A maior parte de suas amizades era de mulheres. Fui eu que terminei o namoro.
Um dia, estou sozinha de novo no Espaço de Cinema, quando o vejo. Mas dessa vez com uma mulher muito bonita. Me escondi, não deixei que ele descobrisse que eu estava ali. Ele não deu por mim. Então fui tentada a procurá-lo. Telefonei. Marquei. Saímos mais uma vez e depois de tomarmos algumas taças de vinho fomos para o apartamento dele.
“Vi você com aquela sua namorada”, eu disse.
“Namorada?”
“Sim, aquela de cabelo castanho curto.”
“Ah, sim, é a Rita. Mas não chega a ser uma namorada. Veio de BH, ficou aqui em casa alguns dias, acabou acontecendo alguma coisa entre nós, mas não posso dizer que seja namorada.”
A existência daquela mulher pôs fogo nas minhas entranhas. Acabei por abraçá-lo, beijá-lo e por tirar toda a roupa. Quando já ia nua, falou:
“Vou contar a você uma coisa que aconteceu. A mineira que esteve aqui é um tanto louca. Numa das noites, eu bebi bastante. No momento em que ela acabou de tirar a roupa, pedi: vai até lá fora e toca a campainha, faz de conta que você está chegando nua pra me namorar. Ela ainda perguntou: nuazinha? Sim, respondi, nuazinha. Não é que ela foi?”
Então, perdi a cabeça:
“Vou também. Sou tanto louca quanto ela.”
“Você?”, ainda duvidou.
Saí duas vezes, deixei que ele trancasse a porta. Eu estava pelada no corredor do quinto andar. E o corredor era tão iluminado...
Toquei a campainha. Ele demorou a abrir. Cheguei a pensar, um pouquinho arrepiada: será que ele vai me deixar pelada aqui fora? Mas ele abriu. Entrei, me agarrei a ele e trepamos imediatamente. Eu que sou difícil pra gozar, naquela noite gozei primeiro. Foi isso. Ele acabou despertando em mim algo que eu nunca tinha imaginado. Concluí: agora já sei como fazer para me satisfazer em termos de sexo.
Veja só a maluquice que dá na gente quando se está apaixonada. Sou uma pessoa importante, diretora de uma escola técnica federal. Já pensou se uma pessoa maldosa me flagra nua, se sou presa?, sei lá. Na hora, esses perigos não me vieram à cabeça.
Antes eu era muito envergonhada, pouco a pouco me tornei uma mulher mais desinibida. Quando eu conto essa história a qualquer namorado de ocasião, ele se excita bastante. Também acaba pedindo para eu ir pelada lá fora. De início, reluto, mas depois acabo aceitando. Não sei se é por paixão ou se porque gozo melhor com o risco. Na hora me entusiasmo tanto, que nem me dou conta dos perigos que corro. Mas às vezes ainda tenho umas recaídas: morro de vergonha.
Agora pode olhar pro meu corpo, pode me apreciar nua. Só não me peça para ir lá fora de novo, por favor. Por hoje, minha cota já está esgotada.
quinta-feira, julho 02, 2009
Que blusa bonita, obrigada!
Que blusa bonita, obrigada! É curtinha, adorei; vou sair com ela hoje. Me lembrei de certa vez que tive uma parecida, me deu até sorte, vou contar a você. Mas primeiro quero vesti-la. Espere um instante. Oh, veja como ficou ótima. Tenho vontade de sair só de blusa, estou achando-a linda. O quê? Não entendeu? Isso, sair apenas de blusa. Você não acredita? Olha que eu vou. Ficou excitado? Então vai ficar ainda mais; espere um pouquinho só! Já saí nua, não me custa entrar no seu carro e passear só de blusa. Será que você consegue dirigir com uma mulher nua no banco do carona? O quê? Você me acha louca? Posso ser meio amalucada, mas você adora namorar comigo, não? Veja, vesti. Está ótima. O que você acha? De blusa nova, calcinha e sandália meio salto? Não acredita? Você está quase tremendo. Quer me agarrar, agora? Não, espere um pouco. Vamos sair primeiro. Na volta eu deixo. Na volta você tira minha blusa curtinha. Está temeroso que alguém me veja assim? Acho que você está muito nervoso. Não seria eu que deveria estar um pouquinho nervosa? Sou eu que estou saindo seminua de casa! Já sei, não quer que eu vá assim. Tem medo de que alguém me surpreenda sem a saia. Não faz mal; coloco uma saia, então. Quer que eu vá com aquela também curtinha? Foi presente seu. Ah, já sei, prefere a comprida, de tecido bem fino, de cintura baixa. Vou com ela. Assim você fica mais tranquilo. No carro posso tirá-la? Que ótimo. Vou pegá-la, aguarde. Pode olhar, agora. Gostou? Assim estou completa, não? Você prefere uma mulher bem vestida. Vamos.
Quer saber a história da outra blusa curtinha que tive e me deu sorte? Ouça. Foi a Marilda e a Ana que inventaram aquela festa. Fui com elas. Havia quatro ou cinco mulheres no salão. Alguns rapazes. Lá pela madrugada apagaram todas as luzes e só se ouvia a música alta. A gente dançava. Vez ou outra um spot piscava. Mas o que contagiava era a música. De repente, vi que Ana dançava só de blusa e de calcinha. Pensei que a saia tinha se perdido sem ela se dar conta. Quando tentei falar com ela, vi a Marilda também nua. Apontou pra mim e disse “tira, tira, os rapazes estão pedindo”. Aí tirei, fiquei só de blusa, como estou agora ao seu lado. A única diferença é que, aqui, minha saia está no banco de trás. Naquela festa, sumiu. Fingi que não reparei; agi com toda naturalidade, dancei a noite inteira sem ela. Vez ou outra, um dos rapazes me abraçava, me apertava. Eu permitia, mas depois me soltava e dançava só. As músicas eram agitadas, a gente se entusiasmava. Quando a festa parou, lá pelas quatro, quase todas as mulheres estavam nuas: algumas de blusa e calcinha, como eu; outras, só de calcinha; duas, que chegaram por último, estavam peladinhas. Sei que acabamos ficando lá até de manhã. Dormimos num dos quartos. Quando acordamos, foi o maior cata-cata. Rodamos toda a casa. Uma encontrava a blusa, mas não a saia; outra tinha a saia, mas estava com os peitos de fora. Minha blusa estava no meu corpo, curtinha, como já disse, mas a saia não apareceu. Sei que acabei entrando no carro da Marilda e falei “vou assim mesmo”. Ela quis saber como eu faria pra entrar em casa. “Dou um jeito, você sabe que adoro andar nua, vamos assim mesmo”. E fomos embora, ela dirigindo, vestida. A Marilda conseguiu dar um jeito, jamais sairia de lá pelada. Apenas eu sou capaz dessas coisas: seminua e morrendo de tesão. Não sei por quê, depois daquela festa eu fiquei com muita vontade de fazer amor com algum dos rapazes. Mas as mulheres eram muitas; eles, nem tanto. Sei que quando cheguei em casa – naquela época eu morava na Riviera – olhei para um lado, para outro, corri e entrei pela garagem. Me escondi no quintal. Pra minha sorte, tinha uma saia minha na corda. Vesti-a. Dei a volta pela frente e entrei em casa como se nada tivesse acontecido. Sabe por que falei que a blusinha me deu sorte? Não, não foi porque consegui chegar em casa seminua sem que ninguém percebesse. Ainda houve mais uma coisa; e boa. À noitinha, meu telefone tocou. Era um dos rapazes que estiveram na festa. Disse que tinha uma coisa pra mim. Marcamos um breve encontro. Ele trouxe, então, minha saia. Aproveitei pra satisfazer meu desejo, que estava à flor da pele. Foi ótimo. Além de ter a saia de volta, ele era muito gostoso; gozei muito. Onde trepamos? No carro dele, ora.
Você está gostando de eu estar nua ao seu lado? Quer que eu tire a calcinha? Eu tiro, mas continue dirigindo. Agora estou só de blusa, blusa lindíssima que você me deu. Quando você parar o carro, acho que vou sair, dou a volta e beijo você através de sua janela. Depois corro de volta e sento de novo ao seu lado. O resto é com você...
Quer saber a história da outra blusa curtinha que tive e me deu sorte? Ouça. Foi a Marilda e a Ana que inventaram aquela festa. Fui com elas. Havia quatro ou cinco mulheres no salão. Alguns rapazes. Lá pela madrugada apagaram todas as luzes e só se ouvia a música alta. A gente dançava. Vez ou outra um spot piscava. Mas o que contagiava era a música. De repente, vi que Ana dançava só de blusa e de calcinha. Pensei que a saia tinha se perdido sem ela se dar conta. Quando tentei falar com ela, vi a Marilda também nua. Apontou pra mim e disse “tira, tira, os rapazes estão pedindo”. Aí tirei, fiquei só de blusa, como estou agora ao seu lado. A única diferença é que, aqui, minha saia está no banco de trás. Naquela festa, sumiu. Fingi que não reparei; agi com toda naturalidade, dancei a noite inteira sem ela. Vez ou outra, um dos rapazes me abraçava, me apertava. Eu permitia, mas depois me soltava e dançava só. As músicas eram agitadas, a gente se entusiasmava. Quando a festa parou, lá pelas quatro, quase todas as mulheres estavam nuas: algumas de blusa e calcinha, como eu; outras, só de calcinha; duas, que chegaram por último, estavam peladinhas. Sei que acabamos ficando lá até de manhã. Dormimos num dos quartos. Quando acordamos, foi o maior cata-cata. Rodamos toda a casa. Uma encontrava a blusa, mas não a saia; outra tinha a saia, mas estava com os peitos de fora. Minha blusa estava no meu corpo, curtinha, como já disse, mas a saia não apareceu. Sei que acabei entrando no carro da Marilda e falei “vou assim mesmo”. Ela quis saber como eu faria pra entrar em casa. “Dou um jeito, você sabe que adoro andar nua, vamos assim mesmo”. E fomos embora, ela dirigindo, vestida. A Marilda conseguiu dar um jeito, jamais sairia de lá pelada. Apenas eu sou capaz dessas coisas: seminua e morrendo de tesão. Não sei por quê, depois daquela festa eu fiquei com muita vontade de fazer amor com algum dos rapazes. Mas as mulheres eram muitas; eles, nem tanto. Sei que quando cheguei em casa – naquela época eu morava na Riviera – olhei para um lado, para outro, corri e entrei pela garagem. Me escondi no quintal. Pra minha sorte, tinha uma saia minha na corda. Vesti-a. Dei a volta pela frente e entrei em casa como se nada tivesse acontecido. Sabe por que falei que a blusinha me deu sorte? Não, não foi porque consegui chegar em casa seminua sem que ninguém percebesse. Ainda houve mais uma coisa; e boa. À noitinha, meu telefone tocou. Era um dos rapazes que estiveram na festa. Disse que tinha uma coisa pra mim. Marcamos um breve encontro. Ele trouxe, então, minha saia. Aproveitei pra satisfazer meu desejo, que estava à flor da pele. Foi ótimo. Além de ter a saia de volta, ele era muito gostoso; gozei muito. Onde trepamos? No carro dele, ora.
Você está gostando de eu estar nua ao seu lado? Quer que eu tire a calcinha? Eu tiro, mas continue dirigindo. Agora estou só de blusa, blusa lindíssima que você me deu. Quando você parar o carro, acho que vou sair, dou a volta e beijo você através de sua janela. Depois corro de volta e sento de novo ao seu lado. O resto é com você...
sábado, junho 20, 2009
Sou estrela nua que treme no ar frio
As estrelas tremem no ar frio. Eu tremo, mas não apenas devido à temperatura baixa da noite de junho: estou nua sob um céu que há pouco dissolveu seus borrões vermelhos.
Tudo começou com uma brincadeira de meu homem. Como gosto dele! Gosto também de suas brincadeiras. Trouxe-me à praia. Uma praia distante e deserta. Ficamos num quiosque. Bebi duas cervejas, das pequenas. Ai!, sou fraca pra bebida. Começamos a nos amar, a nos beijar. Não demorou para que me levasse pra perto do mar e me deitasse sobre um pequeno manto. Minhas roupas pareciam seres vivos, soltaram por si mesmas de meu corpo e espalharam-se no imenso areal. A noite, pouco a pouco, chegou sorrateira, envolveu os dois amantes em seu véu de Via - Láctea. Apesar do vento, dos respingos da maré, queimavam-me as entranhas. Até que não pude mais. Deixei escapar perfumes de gozo e de desejo. Nos espaços brancos do silêncio, contei – nada de muitos verbos – orgasmo em que agachada despejara jorro extático nas mãos de um namorado voraz, borrifara-lhe o corpo, engolira-lhe o pênis. A princípio, ele não quis acreditar, mas logo viu que sou fêmea vibrante, alguém que torna o desejo cor de vinho. Pediu então que eu repetisse o feito; agora, em suas mãos.
“Não sei se ainda posso.”
Apostou. Apostei. Quem perdesse, o que pagaria? Hei de me importar? Já pagamos ou perdemos tantas coisas.
Agachei. Fiz que beijasse meus seios, que deslizasse a língua sob meus cabelos, na altura do pescoço; que descesse – equilibrado na ponta dos dedos dos pés – lambuzando-me pelas costas, que me atravessasse as nádegas e, mergulhando sob minhas pernas, me mordesse o grelo. Talvez assim esguiche mais uma vez, pensei. Quando tocou a língua à beira dos meus abismos, gritei:
“Estou solta, vou levitar, plane a pele alva sob meu sexo.”
Foi a vez de ele ter prazer maior. Na pequena poça que transbordei cintilaram, sobre suas mãos, as estrelas. Lambuzou-nos. Primeiro sua face; depois, a minha. Sussurrei:
“Procure minha malha – eu viera tal qual esportista –, amasse-a bem pequena e a lance ao mar.”
“Estás louca? Como vais voltar nua pra casa?”
“Não, não estou louca; vai, cumpre o que desejo; assim gozo mais rubra.”
“Mas como vais voltar nua?”
“Não sei, arremesse-a; depois, o resto, a gente vê.”
Arremessou.
“E agora?”
“Não sei. Sou toda arrepio. Agache mais uma vez; estenda a palma; rápido. Isso, assim, que bom, que gostoso, ah... ah..., agora me penetre, assim, assim, flexione, isso, mais um pouco, mais, mais, mais, rápido, rápido, assim, estou por um triz, vai, vai, ah... ah... ah... vou gozar... vou gozar... ahhh... ahhh... Que bom, que gostoso. Beije-me, hum... hum... Adoro sua língua, adoro sua boca.”
“Gozou?”
“Precisa perguntar?”
“É sempre bom.”
“Gozei, sim; mas agora vá.”
“Para onde?”
“Embora.”
“Como? Deixá-la só?”
“Isso mesmo, sozinha e nua.”
“Não posso!”
“Vá. Estou pedindo, por favor, deixe-me sozinha.”
“Estás louca? Acaso não me queres mais?”
“Não estou louca e te quero muito; mas, agora, prefiro ficar só.”
“Como vais fazer pra voltar?”
“Não sei, mas vá. Eu me safo. Já saí ilesa outras vezes.”
“Então, vou. Mas estás tremendo.”
“Estou.”
“Como te sentes?”
“Por favor, vá!”
“Depois me contas como te saístes?”
“Conto”.
“Juras?”
“Juro.”
“Um beijo.”
“Outro.”
Sou estrela nua que treme no ar frio, que cintila; sou mar que respinga; sou princesa em pele, sou mendiga
plena.
Tudo começou com uma brincadeira de meu homem. Como gosto dele! Gosto também de suas brincadeiras. Trouxe-me à praia. Uma praia distante e deserta. Ficamos num quiosque. Bebi duas cervejas, das pequenas. Ai!, sou fraca pra bebida. Começamos a nos amar, a nos beijar. Não demorou para que me levasse pra perto do mar e me deitasse sobre um pequeno manto. Minhas roupas pareciam seres vivos, soltaram por si mesmas de meu corpo e espalharam-se no imenso areal. A noite, pouco a pouco, chegou sorrateira, envolveu os dois amantes em seu véu de Via - Láctea. Apesar do vento, dos respingos da maré, queimavam-me as entranhas. Até que não pude mais. Deixei escapar perfumes de gozo e de desejo. Nos espaços brancos do silêncio, contei – nada de muitos verbos – orgasmo em que agachada despejara jorro extático nas mãos de um namorado voraz, borrifara-lhe o corpo, engolira-lhe o pênis. A princípio, ele não quis acreditar, mas logo viu que sou fêmea vibrante, alguém que torna o desejo cor de vinho. Pediu então que eu repetisse o feito; agora, em suas mãos.
“Não sei se ainda posso.”
Apostou. Apostei. Quem perdesse, o que pagaria? Hei de me importar? Já pagamos ou perdemos tantas coisas.
Agachei. Fiz que beijasse meus seios, que deslizasse a língua sob meus cabelos, na altura do pescoço; que descesse – equilibrado na ponta dos dedos dos pés – lambuzando-me pelas costas, que me atravessasse as nádegas e, mergulhando sob minhas pernas, me mordesse o grelo. Talvez assim esguiche mais uma vez, pensei. Quando tocou a língua à beira dos meus abismos, gritei:
“Estou solta, vou levitar, plane a pele alva sob meu sexo.”
Foi a vez de ele ter prazer maior. Na pequena poça que transbordei cintilaram, sobre suas mãos, as estrelas. Lambuzou-nos. Primeiro sua face; depois, a minha. Sussurrei:
“Procure minha malha – eu viera tal qual esportista –, amasse-a bem pequena e a lance ao mar.”
“Estás louca? Como vais voltar nua pra casa?”
“Não, não estou louca; vai, cumpre o que desejo; assim gozo mais rubra.”
“Mas como vais voltar nua?”
“Não sei, arremesse-a; depois, o resto, a gente vê.”
Arremessou.
“E agora?”
“Não sei. Sou toda arrepio. Agache mais uma vez; estenda a palma; rápido. Isso, assim, que bom, que gostoso, ah... ah..., agora me penetre, assim, assim, flexione, isso, mais um pouco, mais, mais, mais, rápido, rápido, assim, estou por um triz, vai, vai, ah... ah... ah... vou gozar... vou gozar... ahhh... ahhh... Que bom, que gostoso. Beije-me, hum... hum... Adoro sua língua, adoro sua boca.”
“Gozou?”
“Precisa perguntar?”
“É sempre bom.”
“Gozei, sim; mas agora vá.”
“Para onde?”
“Embora.”
“Como? Deixá-la só?”
“Isso mesmo, sozinha e nua.”
“Não posso!”
“Vá. Estou pedindo, por favor, deixe-me sozinha.”
“Estás louca? Acaso não me queres mais?”
“Não estou louca e te quero muito; mas, agora, prefiro ficar só.”
“Como vais fazer pra voltar?”
“Não sei, mas vá. Eu me safo. Já saí ilesa outras vezes.”
“Então, vou. Mas estás tremendo.”
“Estou.”
“Como te sentes?”
“Por favor, vá!”
“Depois me contas como te saístes?”
“Conto”.
“Juras?”
“Juro.”
“Um beijo.”
“Outro.”
Sou estrela nua que treme no ar frio, que cintila; sou mar que respinga; sou princesa em pele, sou mendiga
plena.
sábado, junho 13, 2009
Terapia
Doutora, procurei você por um motivo muito simples. Posso chamá-la por você, não? Obrigada. Uma amiga, que indicou a terapia. Disse que resolveu aqui quase todos os seus problemas. Veja, vem acontecendo comigo algo que de início parecia uma coisa à-toa, mas agora me tem atrapalhado. Como deve ocorrer a muitas mulheres que aparecem aqui, meu problema é sobre relacionamento. Entende? Isso, sobre a dificuldade de me relacionar com os homens. Por isso, fico sozinha a maior parte do tempo. Não é que eu não goste de ficar só; às vezes, fico feliz por não ter ninguém que me aborreça, por poder andar nua dentro de casa, sem vergonha alguma. De repente, aparece algum homem; me paquera, me deseja; passa a me fazer convites. No começo recuso, mas em algum momento acabo aceitando. Sabe quando se sai com alguém pela primeira vez? Bate aquela curiosidade. Tudo é novo, repara-se nos menores detalhes. Todos, eu inclusive, tentam de toda a forma não decepcionar o outro. Acho que apenas nessas poucas vezes é que se pensa realmente no “outro”. Um dia desses me aconteceu tal caso. Conheci um homem que se separou havia pouco, uma pessoa muito bacana, gentil, bem-sucedida por sinal. A apresentação se deu através de uma amiga. Ela mantém um relacionamento estável com um homem também muito legal, e esse que me apresentou é amigo do companheiro dela. Foram amigos de faculdade e trabalharam juntos. Encontram-se até hoje. Na primeira vez que saí com ele, perguntou aonde eu queria ir. “Ao cinema”, falei. Não tem nada de mais ir a um cinema quando se sai com alguém pela primeira vez. É até bom, porque há o que se conversar depois. Assistimos ao filme. Gostamos muito. Depois fomos lanchar. Nenhum de nós pediu bebida alcoólica. Ficamos conversando na praça de alimentação do shopping durante muito tempo; depois, ele perguntou se eu queria ir a mais algum lugar. Lógico que eu disse não; falei que, na verdade, estava cansada e queria ir para casa. Levou-me em seu carro, com muita gentileza. Ficamos de telefonar alguns dias depois. Marcamos então outro encontro. Nesse encontro, ele me convidou para jantar. Num restaurante lindo, no Leblon; acho que na Dias Ferreira. Ali há cada restaurante maravilhoso. Jantamos, bebemos vinho, conversamos mais. Quando acabamos, percebi que ele queria me levar para outro lugar. Talvez à casa dele, ou mesmo a um hotel. Não fez o convite abertamente, mas era o que ele queria. O que podem querer duas pessoas adultas, que começam um relacionamento? Querem se tocar, se beijar, trepar, não é mesmo? Mas relutei, disse que naquela semana não tinha me sentido bem, talvez uma virose. Tudo mentira, é claro. Não insistiu, conduziu-me em seu automóvel, com muita amabilidade. Agradeci e me despedi. No dia seguinte, telefonou para perguntar como eu estava. Fiquei radiante por ele ter se preocupado comigo. No final de semana seguinte, saímos de novo. Dessa vem, um espetáculo teatral. Ótimo, no Shopping da Gávea. Lá é tão bonito, não é mesmo? Depois jantamos num restaurante que eu não conhecia, em Ipanema. Lindo. Comi pouquinho, mas estava ótimo. Bebemos uns coquetéis, uma delícia. Quando acabamos e partimos, perguntou se não desejava conhecer o apartamento dele. Ali mesmo, em Ipanema. Disse que tinha vista para o mar, que poderíamos ouvir umas músicas, conversar mais, que o ambiente lá era muito agradável e coisa e tal. Relutei, mas acabei aceitando, Chegando lá, mostrou-me todo o apartamento. Um sonho e tanto para quem mora sozinho. Depois ficamos numa ampla sala, conversando. Em certo momento, ligou o aparelho de DVD e a TV; assistimos ao show de uma cantora famosa. Conversamos mais um pouco. Achei que ele não tinha intenção de fazer amor comigo naquela noite. Mostrou-se muito gentil, como era seu costume. Qualquer mulher que tivesse aquele homem não o largaria mais. Mas eu relutava. Não sabia o que fazer. Logo pensei: “para ele é fácil, basta ir lá embaixo que arranja alguém para trazer para cá”. Naquela noite ficamos durante duas horas e meia sentados num dos estofados da sala, ouvindo música. Ele não se aproximou de mim para me abraçar, como eu temia. Também não tomei iniciativa alguma. Quando passava da meia-noite, pedi que me levasse em casa. Levantou-se sem fazer objeção. Saímos. Comentei o caso com a minha amiga, a que me apresentou o homem. Ela disse que estou perdendo tempo, que não temesse, que ele é boa pessoa. “Nem chegamos a nos agarrar”, falei a ela. “Demos apenas um ou dois beijos”. Duas semanas depois, encontramo-nos de novo. Levou-me a uma festa. Muito agradável a festa; freqüentada por pessoas bonitas e simpáticas. Acabou tarde. Quando se preparava para me levar em casa, eu disse que queria ir para o apartamento dele. Pensei: “hoje me entrego, vou agir como disse minha amiga”. Já tinha tomado dois coquetéis de frutas com vodca, estava até um pouco excitada. Seu rosto abriu-se num sorriso largo quando ouviu meu desejo. Ligou o carro e dirigiu até aquela rua bonita de Ipanema, onde mora. Entramos no apartamento. Larguei-me primeiro sobre o estofado, enquanto ele foi fazer alguma coisa. Depois, ligou o aparelho de som, colocou um CD instrumental e veio para sala. Mas não me encontrou ali. Procurou-me. Eu estava no quarto, sobre a cama dele. Falei: “deita aqui ao meu lado”. Ainda vestido, deitou-se. Então o abracei e lhe dei um longo beijo na boca. Trouxe o homem para cima de mim. Agarramo-nos. Nossas roupas se roçavam umas nas outras. Quando me soltou, tirei o vestido e deixei que escorregasse para o chão, num dos lados da cama. Ele também despiu-se. Gostou, doutora? Despiu-se. Ficamos ali, juntinhos. Então aconteceu. Mas você deve estar se perguntando o que me trouxe aqui. Porque até agora parece que tudo está dentro da mais perfeita normalidade. Mas ouça o que aconteceu depois. De um extremo, fui ao outro. Foi algo que já havia ocorrido outras vezes, com outros homens que tive. No momento em que me percebi próxima daquela satisfação que toda mulher gosta de sentir numa boa trepada, não me contive. Comecei a gritar assustadoramente. O homem ficou desesperado. Acho que não estava acostumado com isso. Gritei e gritei com toda minha energia. Falei cada coisa... O quê? Ah, dizer agora é difícil. Mas disse coisas que nem a mais reles prostituta diria. E tudo num volume altíssimo. No final, ainda esbravejei que me mandasse embora nua, porque eu era a maior puta da cidade. Pensei que ele fosse levar tudo na esportiva, fantasias de uma mulher de quarenta anos. Mas, depois que tudo acabou e que me levou pra casa, notei que já não era o mesmo. Dali pra cá, não mais me ligou. Fiquei sem o namorado. Então, doutora, o problema que quero resolver é esse. Quando conheço alguém, estou num extremo, sou super tímida; ao entrarmos pelo relacionamento, no momento em que acontece a primeira transa, vou ao outro extremo. A maioria dos homens se assusta e não mais me procura. Devem pensar que sou louca. O que você me aconselha, doutora? Como a sua terapia pode me ajudar?
Assinar:
Postagens (Atom)