segunda-feira, dezembro 19, 2022

Lábios molhadinhos

Tenho um admirador com quem saio vez ou outra. Ele adora me beijar os lábios, diz que eles são molhadinhos, o maior frisson. Mas tenho um segredo, vou contar, não espalhem. Sou casada. Meu bairro é Copacabana, meu marido fica em casa, e eu domingo pela manhã dando beijos na boca de meu admirador. Ele é esperto, sempre convida para o café da manhã. Caminho até a orla ou até o local combinado, encontro com ele e vamos para uma das cafeterias do bairro. Caso meu marido me telefone, estou com a Milena, uma amiga parecidíssima comigo que muita gente pensa que é minha irmã gêmea -, ela adora tomar café. Meu amigo me diz escolhe o que você quiser. Outro dia me disse vamos tomar café da manhã no restaurante do Hotel Tal e Tal. Entrei e saí do hotel com o rabinho entre as pernas, morta de medo de que algum conhecido me reconhecesse, e ao lado de um homem que não é o meu marido! Na despedida, me segurou a cabeça com as duas mãos e beijou meus lábios, úmidos e deliciosos, como sempre diz.

Quando era solteira, tive um namorado que adorava a mesma coisa. Era um sarro. Eu não queria outra vida. Penso por que não ficamos juntos. Não sei. À época, eu saía com tanta gente, muitas festas, muitos homens. A fila anda, eu dizia. Até que parou. Parou no casamento. Será? Você, querido leitor, há de achar que não parou, que continua, e como.

Ah, minhas divagações. Agora, caminho pela Santa Clara, meu amigo ou admirador-amigo-namorado me aguarda. Enquanto desço a Rua, penso na Clara. Ela adora passear sem o marido. Clara, por que você casou, se sai com tanta gente? Márcia, fala sério, você acredita em monogamia? Mono o quê?, tenho vontade de perguntar, só de brincadeira. Não sei, Clara, monogamia é um problema... Então, o que tem a gente passear com amigos, admiradores, colegas etc. e tal? Diz adorar o marido, mas adora mais a vida que leva, portanto as duas ações lhe caem bem. Você apenas, passeia, não é, Clara? O que você acha, Márcia? Sorriu, extasiada. Não sei o que significou o sorriso. Eu não quis insistir no assunto. Certa vez a encontrei vestindo uma saída de praia de rendinha, o biquíni mínimo. Vou encontrar um amigo, disse, ele fica ali no 4, um amigão mesmo, me deu as costas e partiu, de bundinha de fora. Acho que me lembro de Clara, porque faço a mesma coisa que ela!

Ah, é aqui, o local combinado com meu admirador, uma nova cafeteria. Onde, ele? Acho que está atrasado? Envio mensagem. Outro dia foi a Alessandra, disse que ficou uma hora esperando pelo homem. Eu, esperar?, nem pensar, sumo no ato. Alessandra esperou, desculpou-o pelo atraso e depois disse que teve uma tarde maravilhosa. Meu admirador-amigo-namorado já chegou, olhe ele lá, numa mesa, bem no final da varanda. Será verdade o que vejo, está acompanhado? Quem é a mulher? Não é possível, não acredito, é a Milena! E tem os lábios todo molhadinho...

domingo, dezembro 11, 2022

Convite para terça-feira

Eu já imaginava que aquele convite me deixaria numa situação delicada. Era uma terça de janeiro, o telefone tocou; antes de atender, o nome dele já aparecia na tela.

Oi, como vai, tudo bem?, você está aí na Serra?, a voz dele, incisiva, parecia dizer que me desejava encontrar.

Estou, sim, respondi, sei que meu tom de voz revelou algum interesse, como se eu dissesse você vem encontrar comigo?

Vou a M. hoje, gostaria de ver você.

Suspirei. Minha vida estava parada, eu enfurnada em casa em pleno verão...

Você vem a M. mesmo?, quis me certificar.

Vou. E quero encontrar você.

Tudo bem, respondi, vou descer, que hora você chega?

Lá pelas onze.

Depois que desligou, abri o armário e escolhi uma roupa que combinava com o verão. Não sou muito de short, nem de bermuda, preferi uma blusa de malha e uma minissaia. Mas nada extravagante. É preciso dizer que ele, o homem do telefonema, já fora meu namorado, ou mesmo bem mais do que isso. Mas depois de sua partida da cidade, o relacionamento esfriou. Foi quando arranjei o meu atual companheiro. O homem mora comigo, mas deu para ser locutor de uma rádio comunitária, onde permanece bem mais do que em casa. E o pior é que nada ganha, tudo nas minhas costas, salário de professora.

Desci para M. no ônibus de dez e vinte. Fui apreciando a paisagem. O lugar não era feio, mas as pessoas não sabem dar o devido valor ao que possuem. O ar estava fresco. Quando o ônibus acabou de descer a serra e atravessou a rodovia, era possível sentir a brisa que vinha do mar. Sobreveio-me um arrepio. Quem sabe meu antigo namorado vai querer ir à praia, e eu nem trouxe o biquíni.

Às onze e dez cheguei ao local combinado. Não era na rua principal da cidade, mas na rótula, próxima ao Cajueiro. Ele já me esperava.

Beijei-o e sorri ao entrar no carro. Correspondeu ao beijo e ao sorriso. Deu a partida e seguiu na direção de Cavaleiros.

Não vamos a Cavaleiros, por favor, conheço muita gente, vai dar o que falar, sugeri.

Era o preço de viver em lugar pequeno. Sempre uma fofoca. Sempre a saberem quem está traindo quem. E meu objetivo nem era trair. Estava gostando daquele convite inesperado.

Ele tomou a estrada e seguimos na direção de Rio das Ostras.

No meio do caminho, falou:

Sei que você tem parentes em Rio das Ostras, por isso estou pensando em outro lugar, vamos ficar bem protegidos.

Acho que não há problema se alguém nos vir juntos, somos amigos, sorri no final.

No meio do caminho, aconteceu o que eu não esperava. Fez o retorno e entrou num hotel. Desses à beira da estrada.

Poxa, não sabia que você iria me levar para um lugar assim, cheguei a me queixar.

Não vou fazer nada contra a sua vontade, ok? Quero apenas ficar com você, e um pouco de tranquilidade.

O hotel era daqueles antigos, onde se dirige até à varanda do apartamento. Saímos do carro e entramos. Algo me surpreendeu. Bem ao lado do quarto havia uma piscina, e para o tamanho do local era enorme.

Está calor, não?, sorriu.

Sentamos e conversamos amenidades. Pediu um serviço de quarto. Para ele uma cerveja, para mim um suco com espumante. Lembrou a tal bebida que sempre apreciei. Num determinado momento, tirou a camisa, viera de bermuda.

Você não repara, vou entrar na piscina, está calor, só que não trouxe roupa de banho, sorriu ao terminar a frase.

Foi a banheiro, tirou a roupa e voltou enrolado na toalha. Depois, à beira da piscina, ficou de costas para mim, soltou a toalha e entrou n’água. O gesto dele me provocou um arrepio.

Você não quer entrar?, sugeriu.

Não sei, estou pensando.

Ele ficou dentro d’água, o copo à beira da piscina, ele com a cabeça de fora.

Acho que vou entrar, falei a mim mesma, em pensamento.

Pedi licença, fui ao banheiro e voltei enrolada na outra toalha. Fiz a mesma encenação dele, virei de costas, deixei a toalha ao lado e entrei n’água, não sem fazer alguma agitação na superfície que estava tão plácida. Continuamos a conversar como se tudo aquilo fosse a coisa mais normal do mundo.

Aproximou-se de mim.

Por favor, não me toque, não quero praticar um adultério.

Adultério?, repetiu. Achou a palavra muito engraçada.

Estou com você como amigo, não quero trair meu atual companheiro, eu disse. Mas estava ardendo de desejo. O pior é que queria negar que tinha tesão pelo homem bem ali à minha frente.

Tudo bem, não vou tocar você. Como já falei, não vou fazer nada que você não queira.

Mas lá pelas tantas fui eu que toquei nas costas dele. Virou para mim cheio de entusiasmo, mas adverti:

Não, não, foi apenas uma brincadeira, nada disso.

Vou apenas segurar na tua cintura, falou em tom de pedido.

Acabei deixando, ficamos os dois ali, um olhando para o outro, como caras de bobo.

Você veio a M. apenas para me ver?, perguntei interessada.

Digamos que sim.

Então, ainda gosta de mim.

Sim.

E você tem interesse em transar comigo, mesmo eu já não sendo aquelas coisas. Estou ficando velha.

Lembro você, corajosa, a circular nua ao meu lado, pela cidade, nua na estrada, na praia. Sinto tesão nisso.

Então você gosta do passado, afirmei.

Também do presente, você está nua à minha frente e tem muito charme. Acho que vou deixar você em casa, peladinha, como da outra vez.

Sorri.

Nada disso, onde moro há uma porção de gente.

Naquele tempo também havia.

Continuou com as mãos na minha cintura, aproximou-se, quase roçando minha pele.

Acho legal você ter vindo, venha outras vezes, venho ver você, disse dissimulada.

Então desfile pra mim, vai, sai da piscina e desfile.

Ah, tenho vergonha, ri.

Vergonha de quê? Só há nós dois aqui.

Espere, tenho de me preparar.

Afastei-me dele, apoiei na escadinha e saí da água, de costas. Peguei a toalha e fiz um curto tomara que caia. Virei para ele e sorri. Tocava uma música romântica na rádio. Comecei o desfile a passos curtos. No ponto mais distante dele, deixei cair a toalha.

Quando acabei o desfile, corri para junto dele.

À tarde, deixou-me no ponto, o mesmo onde eu saltara pela manhã. O dia ainda estava claro, fazia calor, mas fora eu que pedira para ir embora. Voltava satisfeita com tudo que vivera, mas sempre quando está próxima a noite a gente sente a consciência um pouco pesada. Realizar um desejo não é pecado, mas muitas vezes nos deixa com a pulga atrás da orelha. Afinal, traem-se uns aos outros não apenas com homens e mulheres, mas também com coisas, com trabalho, com algum jogo, ou mesmo com um amigo em uma mesa de bar. O resultado daquilo tudo era simples: as pessoas sempre estão se enganando, cada uma na verdade é a primeira a colocar chifres em si próprio.

Abri a porta e entrei. Do quarto ouvia-se o correr do riacho, bem aos fundos da casa. Tive vontade de ir até lá, de tirar de novo a roupa e namorar as águas do rio, faria de conta que estava com aquele homem que agora ia longe, em algum trecho da estrada. Lembrei-me, então de Gerson, homem que aparecera em Glicério nos tempos em que eu ainda não conhecera meu atual companheiro. Gerson, na verdade, queria trepar comigo.  Entardecia e eu tomava banho de rio, junto às pedras, onde se forma uma pequena queda d’água. Como uma mulher surpreendida nua por um homem pode fugir dele, tanto mais quando a nudez é motivada pelo puro tesão?

O mesmo aconteceu àquela tarde. Como uma mulher nua dentro da piscina de um quarto de motel ia escapar do ex-namorado? Tanto mais depois que ele passou um creme sobre o meu corpo.

domingo, dezembro 04, 2022

Paixão, desejo e consciência

Certa vez conheci um homem na antessala de um teatro. Como ele estava sozinho e eu também, não foi difícil iniciarmos um diálogo. Falamos, de início, da peça que estávamos prestes a assistir; depois, sobre teatro em geral. Quando entramos na sala, fomos procurar nossos acentos.

Após o término do espetáculo, reencontramo-nos. Eu estava doidinha para que isso acontecesse. Ele também tinha o mesmo sentimento. A peça fora tão interessante, que não nos faltaria assunto. Dali, ainda ficamos um pouco pelos arredores. Fomos a um bar, onde tomou uma taça de vinho e eu um suco. Como era dia de semana, não demoramos a nos despedir, deixando um com o outro o número dos nossos telefones.

Passaram-se alguns dias e marcamos um encontro. Encontramo-nos em torno de 19 horas. Assistimos a uma sessão de cinema. O filme era interessante, uma produção polonesa onde um homem visitava pessoas ricas para lhes tratar a alma e o corpo. Não era médico nem religioso, mas alguém que trabalhava com as mãos e com as ideias. A questão do clima também era abordada, já que, no local, nevava bem menos do que outrora. Após a sessão, pegamos um táxi e fomos a um restaurante, no Leme, local conhecido por reunir, já tarde da noite, muitos artistas.

Ainda nada disse sobre ele, chamava-se Léo e, desde o início, demonstrou ser pessoa extremamente delicada, sempre dando muita importância a tudo que eu falava. Passei mesmo a tomar cuidado com minhas opiniões, já que o homem as escutava com atenção.

Sempre quando conheço alguém, fico na defensiva. Não posso me revelar de primeira, pode ser algo perigoso, principalmente porque o conheci num lugar público. Quando alguém me apresenta um amigo ou colega de trabalho, é outra coisa, mas em relação a alguém que surge quase ao acaso, sinto certa preocupação. Fiquei mais tranquila quando me disse que trabalhava na Petrobras, chegou mesmo a mostrar sua identificação.

Jantamos na tal cantina. Comi um prato de massa e tomei também uma taça de vinho, o que me deixou bem mais à vontade. Ele queria que pedíssemos uma garrafa. Não, por favor, só aguento uma taça, afirmei.

Depois que terminamos, perguntou se eu queria fazer mais alguma coisa. Quando alguém recém-conhecido faz tal pergunta, é porque quer me levar ao seu apartamento. Não sei se acontece o mesmo com minhas amigas, porque pouco converso sobre isso quando estamos juntas, mas meu coração acelera mais do que o normal quando vou pela primeira vez ao apartamento do namorado. Não sei se é fruto de algum temor, ou se se trata da perspectiva dos possíveis momentos de prazer que vem pela frente.

O apartamento de Léo era muito bonito. Numa rua de Botafogo, de frente. Da janela da sala, dava para apreciar a copa das árvores; ao longe, outros prédios e algum comércio. Do lado de dentro, não havia muita coisa: um pequeno sofá, uma mesa com duas cadeiras, estante com poucos livros e um abajur num dos cantos da sala, próximo à janela. Lembrei-me de uma amiga que tinha a chave do apartamento do namorado. Adorava ir para lá na parte da tarde. Dizia que descansava em silêncio, adorava a luz do dia que vinha de fora; para completar, tirava toda a roupa.

Ele foi à cozinha e voltou com uma garrafa de vinho, abriu-a e derramou um pouquinho nas taças. Por favor, alertei, para mim apenas um dedinho, quero sentir o sabor. Obedeceu, brindamos e bebemos. A seguir, ligou o som, que tipo de música você gosta?, quis ele saber. Perguntei se tinha música instrumental, como jazz. Sim, é o que mais tenho, sorriu. O ambiente, então, se tornou mais relaxado, bebemos o vinho, ouvimos a música e namoramos.

Quando começo a sair com alguém, sinto vergonha de trepar na primeira vez. Quis dizer isso a ele, e esperei pelo momento certo. Depois de uma hora ou hora e meia, quando fomos para o quarto, sussurrei no seu ouvido você fica aborrecido se a gente não transar hoje? Tudo  bem, mas por que esta preocupação?, quis saber. É porque a primeira vez é difícil pra mim, ri depois destas últimas palavras. Ele pareceu compreender. Fiquei deitada na cama, ao lado dele, depois agarrada a ele, de calcinha e sutiã. Em determinado momento, dormi. Não sei se por causa da bebida ou pelo cansaço, mas isso não era importante naquele momento. Ele mantinha os olhos fechado, mas acariciava o meu ventre.

Quando acordei pela manhã, ele não estava no quarto, senti cheiro de café, que vinha da cozinha. Só então reparei que estava nua! Teria ele tirado minha roupa enquanto eu dormia? Não sei, jamais saberia. Posso dizer que, a partir daquele momento, eu pude trepar com ele com desejo, paixão e consciência.

domingo, novembro 27, 2022

Fiquei um pouco mais do que arrepiada

Tenho um paciente que é uma gracinha. Vem ao meu consultório e fica o tempo todo me paquerando. Mesmo quando acaba o tratamento dentário, volta para me cumprimentar. Abro a porta e lá vem ele, intrujão, a me beijar. Esta semana voltou ele. Mas para fazer um reparo num bloco partido. Bastou acabar de atendê-lo para ele perguntar se eu ainda tinha algum outro paciente à hora seguinte. Caí na asneira (será?) de dizer que não, ele era o último daquela tarde ainda ensolarada. Convidou-me então para um café, numa cafeteria bonita que fica na sobreloja. Sem pensar, aceitei. Disse que antes teria de pegar o formulário de um convênio num escritório das proximidades. Ele me acompanhou.

Quando voltávamos ao prédio para tomar o café, vi um vestido lindo numa vitrine. Entrei na loja. Ele entrou junto comigo. Falei com a vendedora e ela foi buscar o tal vestido. Examinei-o e disse a ela: “não vou comprar hoje, amanhã volto para experimentar.” Ela assentiu e agradeceu.

Saímos de novo para a rua e caminhamos até a cafeteria. Muitas pessoas circulavam pelo centro. Suas fisionomias não espelhavam cansaço, mas o ar alegre que o mês de janeiro incute em cada um de nós.

Chegamos à cafeteria. Fica num corredor, rodeada de livrarias. A garçonete veio nos atender. Não demorou a trazer tudo o que pedíramos.

Meu amigo, de repente, perguntou:

“Você gostou daquele vestido?”

“Gostei.”

“Vai comprar mesmo?”

“Vou”, arregalei os olhos em sinal de interesse, “amanhã venho à cidade e passo na loja.”

Ele, então, me surpreendeu:

“Telefona pra mim quando você sair de casa. Venho encontrar com você. Quero lhe dar o vestido de presente.”

“O que é isso, Paulo?”, fiz ar de surpresa.

“O que tem de mais eu lhe dar um presente?”, insistiu.

“Não tem nada a ver. Eu mesma vou comprar o vestido.”

Sorriu. Não parecia aborrecido. Tomamos nossos cafés e conversamos sobre amenidades.

Quando acabamos, me beijou e disse:

“Volto semana que vem, no horário marcado.”

“Ok, combinado.”

“Espero que eu seja o último paciente. Assim poderemos passear de novo.”

Ri e falei.

“Paulo, você é fogo, viu, sempre querendo passear comigo.”

“Você é bonita. Qualquer homem gostaria de passear pelo centro tendo você como companhia.” Silenciou durante alguns segundos, depois completou: “não esqueça, caso queira o presente, basta me ligar.”

Ri mais uma vez. Ele se foi. Voltei ao consultório para arrumar algumas coisas e esterilizar o equipamento.

Não escondo o que me aconteceu após ele me oferecer o vestido. Fiquei um pouco mais do que arrepiada...

terça-feira, novembro 15, 2022

Dois dias e duas noites

Tranco-me no quarto, deixo a toalha sobre a poltrona lateral e deito-me. O que penso? Saí do banho há pouco, está na hora de dormir; a casa, em silêncio. Minha filha, no seu quarto, distrai-se com o celular. É hora do meu prazer maior do mundo. Procuro algum namorado do passado, alguém que me tenha dado intenso prazer; vou também à procura do namorado do futuro, mas este virá devagar, com o correr da noite, depois do gozo com o primeiro. Este é alguém que me deu um biquíni de presente, desses muito curtos, usados pelas garotas adolescentes. Elas vão à praia vestidas no paninho estreito e não pensam muito em sexo. Para pessoas como elas, a nudez é normal. Para mim, ou para a minha geração, já não é assim que sentimos. Num primeiro momento, achamos que a praia toda está a nos olhar, a nos explorar a pele, os centímetros de corpo ainda cobertos. Depois, porém, chegamos à conclusão de que não somos a estrela do local; é certo que há quem nos olhe, mas, de modo geral, as pessoas têm mais o que fazer. Vou à praia dentro do tal biquíni, uma praia onde ninguém me conhece. Sobre a areia, sentada na cadeira ou deitada sobre a toalha, sou a mulher mais desinibida do mundo. O namorado, a tarde já avançada, gosta de me levar a um motel. Cada um mais bonito do que o outro. Amor, não posso chegar à noite em casa, nua, não vai ficar bem. Você não está nua, mas de biquíni, ele rebate. Estou nua, você não sabe olhar. Houve um dia em que esquecemos, fiz ele ir ao shopping comprar um vestido, enquanto eu esperava no estacionamento, nua dentro do carro. Por que o namoro não durou? Não lembro, acho que ele foi trabalhar em outra cidade, lá conheceu alguém e casou.

E quanto ao namorado do futuro? Esse é alguém que conheço. Mas estamos apenas na fase dos cumprimentos e sorrisos, conversarmos respeitosamente. Engraçada a expressão, conversas respeitosas. Um acaso, encontramo-nos no centro da cidade, numa rua onde há hotéis turísticos. Por falar nesse tipo de hotel, certa vez um amigo me falou sobre hotéis turísticos do centro velho. Eu pensava que todos eram hotéis de viração, amantes de hora do almoço ou trepadas ocasionais quando não se sabe nem se quer saber o nome do parceiro ou da parceira. Meu namorado do futuro, o tal homem dos cumprimentos, encontra-me na Senador Dantas, ou na Presidente Vargas, quem sabe na Alcindo Guanabara. Estou sozinha à porta do hotel, o guarda-chuva aberto protege-me de chuviscos. Estava passando, um consultório por perto onde frequento, digo sem graça. Ele levanta os olhos e repara o letreiro: Hotel. Pego-o pelo braço, puxo para o saguão. É pequeno o local. Você jura que não fala pra ninguém?, sopro-lhe no ouvido. O homem da recepção encara-nos. Pergunta o tipo de apartamento que desejamos, o tempo que vamos ficar. Onde as malas? Já vão chegar, retruco. Dois dias, digo, dois dias de estadia. Meu namorado recente me olha sem demonstrar surpresa. Gosto dos hotéis dessa região, declara. Sétimo andar. Subimos. Dentro do apartamento, o mundo tornou-se mágico. O namorado do futuro (ainda estou na minha cama, gozando com a história) pede para sair um instante, precisa resolver um problema, volte logo, não vá embora, por favor, peço. Já vi vários filmes semelhantes. Não vai voltar. Deito-me nua na cama do hotel, minha roupa dentro do armário, arrumada. Esqueci de trazer peças íntimas! Telefono-lhe, envio-lhe mensagens, compre-me um par de calcinha, por favor.

O final é diferente dos filmes americanos que eu costumava a ver. O namorado do futuro me come dois dias e duas noites seguidas. Tanto o prazer. Nenhum problema. O par de calcinhas, onde você guardou? Arrepio.

domingo, novembro 13, 2022

O marido de Milena

O marido de Milena adora me paquerar, onde quer que me encontre, está a me dizer elogios, a me olhar de um jeito apaixonado. Antes dela, ele me namorou, inventava uma porção de artifícios para a nossa relação se tornar cada vez mais ardorosa. Subia a ladeira onde moro, eu aparecia à porta, saía para a calçada, ele me abraçava, me beijava e dizia vamos apreciar essa paisagem maravilhosa, tão atraente como você. Depois, entrávamos. Nosso ardor caminhava pela sala, cozinha e terminava no quarto. Minhas poucas roupas espalhadas pela casa. Às vezes, me convidava para passear, alugava um desses carros grandes, com motorista, me levava então pela orla marítima: Leme, Copacabana, Ipanema, Leblon etc. Um dia, porém, fez a pergunta crucial: Márcia, quer casar comigo? Não, por favor, casamento, não. Ele não entendeu a minha negativa. Não era pelo casamento ser com ele, mas com qualquer um. Por mais que eu falasse, faltavam-me argumentos para fazê-lo acreditar. Pouco a pouco, diminuiu suas vindas à minha casa, até que um dia, aproximou-se, me beijou e disse tenho uma coisa para te dizer. Esperou minha reação. Continuei olhando-o, como se quisesse que falasse logo. Disse vou me casar com a Milena.

Não posso afirmar que não fiquei triste com a notícia. Pouco a pouco, no entanto, passei a lhe estimular. A Milena é minha amiga, deve estar muito feliz. Veio ela à minha casa, com o convite de casamento, me informou que eu seria a madrinha. Aceitei. Preparamos nossos vestidos para a cerimônia. O dela, de noiva, é lógico; o meu, muito parecido, mais discreto no entanto.

Aconteceu o casamento. A festa foi ótima. Muita bebida e comida, uma delícia. Adoro champanhe. No final, ela veio falar comigo, disse você continue amiga do meu marido, viu, ele vai ficar muito feliz, vamos aproveitar porque a vida é breve, completou.

Depois que a vida de marido e mulher se estabeleceu entre os dois, ele quase sempre passava lá em casa antes de ir para junto da Milena. A gente conversava e conversava, ele me abraçava, me apertava e me beijava na boca. Sempre nos beijamos na boca, não iríamos interromper por causa do casamento. Ele tinha um jeito todo especial de me excitar, nada mudou em seu comportamento, e eu não iria dizer que um homem casado não podia praticar tal e tal ação com uma mulher que não fosse a esposa.

Numa sexta-feira, ele e Milena vieram me buscar, me levaram com eles para passear. Milena disse temos os mesmos direitos, eu e minha madrinha! Ficamos as duas agarradas ao homem; ela, muito contente. Jantamos, dançamos e namoramos os três. Já passava da meia-noite quando me deixaram em casa.

Ele, sempre quando vinha ao meu encontro, ficava mais de meia hora; depois, ia embora todo excitado. Gostava de fazer as preliminares comigo antes de ir à Milena. Não me importava, porque me dava muito prazer. Eu dizia toma cuidado, não vai gozar comigo e deixar a Milena na mão, aqui é apenas o esquenta. Ele ria, e me beijava, todo fagueiro. Algumas vezes, quando nos agarrávamos dentro da minha casa, estava vestida com um minivestido, ou minissaia, ele introduzia sua mão por entre as minhas pernas e passava um gel na altura da minha vagina. Que delícia a sensação, o tal produto começava geladinho, depois ia esquentando, esquentando, até que eu não podia mais. Então introduzia seu pênis, me deixando doidinha. Eu não demorava a gozar. Ele mantinha o controle, me dava prazer sem perder o seu, ia embora porque sabia que Milena queria a parte dela.

Mas num dia desses a gente namorava a toda prova, o gel fazendo maior efeito, esquentando, eu a mil por hora. De repente, eu disse hoje fica mais um pouco, não vai agora, não. Deitamos na minha cama, mais conforto do que namorar na sala, ele sempre sobre mim. No final, uma explosão. Quando me senti toda meladinha, perguntei Oswaldo, quer que eu ligue pra Milena? Aposto que ela vai compreender.

quinta-feira, novembro 03, 2022

Pedi uma Coca-Cola

Uma amiga  faz alguns dias  contou-me uma história vivida por ela há dez anos.

“Como eu sempre gostei de praia, não hesitava em pensar duas vezes nos dias de sol”, começou ela a historieta, “certa vez um homem me convidou para acompanhá-lo, iria a um ponto distante na longa orla, onde poderíamos desfrutar de tranquilidade e privacidade. Achei engraçadas as duas palavras: tranquilidade e privacidade. Como sempre gosto de novidades, aceitei. Esperei por ele à porta de casa. Ao chegarmos à tal praia, observei que ele tinha razão, não havia sequer uma pessoa no local, o mar e a natureza estavam ali apenas para nós. O explodir das ondas ecoava, às vezes intimidava, devido à sua força selvagem; próximo à areia, formara-se uma banheira, consequência das ondas noturnas que explodiram continuamente sobre o local. Após me aquecer sob o sol, entrei naquele trecho de mar, uma espécie de pequena lagoa que podia fazer o papel de divertimento para crianças. Meu enamorado perguntou se eu tinha coragem de tomar banho de mar nua. Por que não?, respondi. Desfiz-me das duas peças e entrei. Adorei.”

Na véspera o namorado visitou-me, tivemos uma ótima noite de amor. Como é muito carinhoso, desmanchei-me nos seus braços. Mas pela manhã, ele partiu, precisava trabalhar. Eu, apesar de todas aquelas horas passadas ao seu lado, ainda sentia uma ponta de excitação.

Saí de casa às 7h30 e desci à praia. Foi então que lembrei a voz da amiga e da história acima. Só que na minha cidade, o mar bate contínuo, violento, selvagem. Quem deseja enfrentá-lo precisa aprender a disciplina das artes marciais, sobretudo as orientais. Andei pela linha d’água, vez ou outra respingos das ondas bravias molhavam-me o rosto e a canga violeta que eu enrolara no corpo. Após caminhar cerca de quinhentos metros na direção norte, descobri um pedaço de praia onde as ondas não estavam tão intensas. Despi-me do tecido e mergulhei. A temperatura da água estava ótima, talvez um pouco fria, mas eu gostava assim. Pensei de novo na amiga, a tomar banho de mar nua numa praia distante. Tive a mesma vontade, mas permaneci vestida pelas minhas duas peças. Depois de uns quinze ou vinte minutos, saí da água. O vento envolveu-me másculo, quase a me convidar, como jovem amante. Naquele momento descobri algo que me agradaria. Nada de andar nua à beira-mar. Enrolei a canga no meu corpo, um modo de me aquecer e de escapar do chicotinho de areia levantado de surpresa pelo mesmo vento. Mas resolvi tirar a calcinha do biquíni. Isso mesmo, permaneci de top e com o pano a me cobrir. Continuei a caminhar só, sobre as areias da praia ancestral. As mulheres são insaciáveis, vocês hão de dizer. Apesar do namorado e da noite anterior, eu procurava aventura. Algum leitor deve estar imaginando que surgiu um homem fenomenal, indescritível na beleza, atleta invencível. Nada disso. Surgiu sim, mas um pescador local, que por sinal eu conhecia. O homem cumprimentou-me respeitoso e continuou em frente. Satisfazer uma mulher é sempre muito difícil, pensei ao me ver sozinha de novo. Voltei, vagarosa, olhava toda aquela paisagem sempre envolvente. Ainda na praia, quando me aproximava do ponto próximo ao acesso à rua onde moro, comecei a sentir certa quentura entre as pernas. Já passara por aquela sensação, na maioria das vezes acontecia de modo involuntário. Caso eu tentasse provocar a tal sensação, não conseguia. Ela foi crescendo, crescendo, meu coração agitando-se, até que fui tomada de uma alegria indescritível. Parei de caminhar, pousei os braços sobre as coxas e esperei o que viria a seguir. Um orgasmo e tanto. Que me deixou trêmula. Respirei fundo para me refazer, voltei-me ao mar e apreciei o horizonte. Não segui para casa naquele momento. Permaneci na faixa de areia e caminhei na direção sul. Sentia-me molhadinha entre as pernas. E não era por causa das águas do mar. Ao chegar ao Remanso, dei-me com algumas pessoas. Pelas suas fisionomias, adivinhava-se que desejavam aproveitar o sol e o mar. Senti sede. Subi ao calçadão e encontrei um dos quiosques aberto. Pedi, então, uma Coca-Cola.

quarta-feira, outubro 26, 2022

Adivinhe por onde

Ele me queria de pernas juntas. Muito engraçado, eu nua, sentada na poltrona, e de pernas juntas. Por que não posso cruzá-las, a direita sobre a esquerda? Sentia um friozinho no estômago, o calor de uma perna sobre a outra me ajudaria, ficaria mais tranquila. Que bobagem, você dirá, apenas vocês dois, na sala do apartamento, ele te servindo um copo de cerveja, foi você quem escolheu, havia vinho, uísque, caipirinha ou caipivodca, você com a bebida dourada numa das mãos, fazendo de conta que não sentia nenhuma vergonha. Eu sei, Roberta, mas prefiro um quarto escuro, nua debaixo das cobertas, ele vindo por cima. Nua na sala, em meio aos quadros, mesa, cadeiras e o sofá, não é pra qualquer uma. Você é diferente, lembro a história que você certa vez me contou, saiu pra passear nua, de madrugada, sentadinha no banco do carona, o namorado ao lado, dirigindo, falando com você como se conversasse com a pessoa mais vestida do mundo, muita naturalidade. E você, tranquila, nem uma tremura. O namorado devia mesmo gostar de você, pelo menos não precisava dar roupas de presente. Você pedia perfumes, viu como não esqueci? E dos mais caros. Engraçado, apenas o perfume sobre o corpo. Acho que sem as roupas o bom odor se perde, mas você diz que não. Eu não teria coragem de sair pelada. A gente às vezes compra uma roupa mais ousada, para ir a uma boate, ou para uma ocasião especial, mas nua por inteiro, do lado de fora da casa, acho que vou ficar tão nervosa que me mijo toda. Por outro lado, gosto tanto das minhas roupas, não sairia sem elas. E se acontece alguma coisa, um enguiço do carro, um pneu furado, uma barreira policial? Imagine, uma barreira policial, e eu nua no banco do carona. Os caras iam querer me comer. Nem pensar. Você é louca, Roberta, ainda diz que o perigo te deixa mais excitada. Mas volto ao sofá, eu bebendo a cerveja e comendo pequenos pedaços de queijo, o namorado ao meu lado, vestido, roupas elegantes, uma camisa linda, de uma loja de grife. Queria mesmo que me levasse para o quarto, que metesse bem gostoso. Esse negócio de ficar no fetiche não é muito comigo, mas cada um tem seu gosto, e a gente, pelo menos uma vez ou outra, precisa respeitar. Ele foi à cozinha, foi buscar um salgadinho pra me servir. Uma coxinha. Adoro. A cena, eu nua comendo coxinha! Não precisa, não quero engordar. Não engorda, não, você é magrinha, gostosinha. Quando voltou, eu estava de pernas cruzadas, um dos braços com o copo cobria um dos seios. Pelo menos, me faço de gostosa. Outro dia, ele inventou algo novo, ainda não te contei, Roberta. Adora me dar bombons. Bombons é chocolate, é doce, falei. Ele trouxe bombons sem açúcar, gostoso, uma caixa linda. Acredite, ele pediu pra eu sentar no mesmo sofá, lógico que nua, e em cima de um dos bombons. Vou fazer uma lambança, cheguei a dizer. Não faz mal, respondeu, vale a façanha. Aproveitou pra me fazer cosquinha com o celofane da embalagem. Não aguentei, a sensação foi tão gostosa No início, como que no automático, cruzei as pernas, depois, porém, voltei a ficar com elas juntas, mas para que a tal operação desse certo, tive de abri-las, e o tanto que pude. Engole o bombom, por favor, ele pediu, excitadíssimo, engole que depois deixo você ficar de pernas cruzadas. Engoli, inteirinho. Adivinhe por onde? Ficou arrepiada, Roberta?, pede ao namorado, você, que é tão desinibida.

quinta-feira, outubro 20, 2022

Milena, por favor

Estava num café em Copacabana com um amigo numa manhã de domingo. Ainda era cedo, talvez nove horas. Meu telefone tocou. Olhei a tela e apareceu o nome: Carlos. Não é possível, esse homem não me larga, cismou que sou sua namorada, onde quer que eu vá ele está a me telefonar. Pedi licença e, sentada diante do meu amigo, atendi. Onde você está?, quis saber. Tomando café com uma amiga, respondi com uma ponta de constrangimento, a Milena. Depois de dizer o nome da mulher, mantive os olhos baixos durante muitos segundos. Continuei escutando o que tinha a dizer. A Milena?, opôs, desconfiado, acabei de passar por ela agora, me deu mesmo bom dia, ele disse. Não pode ser, pensei comigo, ainda os olhos na mesa. Como saio dessa?

Histórias minhas e da Milena se misturam. Uma está sempre pronta a ajudar a outra. Ela diz que vai lá para casa e sai com alguém. Envio uma mensagem para ela e digo o que vou fazer, ela já sabe sua missão, me proteger. Missão muitas vezes espinhosa que só. Moramos numa ladeira, vista para o mar, muitas casas, alguns amigos e muitos homens dando em cima, paquerando, querendo trepar comigo, com ela. Certa vez, saí de madrugada para ajudá-la. Naquele tempo, como namorava um homem meio bravo, precisou muito de mim. Estava de cacho com ele e, ao mesmo tempo, com um rapazinho que dizia ser muito gostoso, não largava o garoto, contava que o peru dele ia lá no fundo, onde o dos outros não chegava. Uma noite, porém, o tal namorado bravo ficou na porta da casa do rapaz – não sei como chegara àquela conclusão – esperando a Milena sair. Que problema. Mas nada aconteceu. Porque ajudei minha amiga. Sabendo da história, fui para lá e convidei o tal para tomar uma cerveja comigo no Adão. Estou tão sozinha, choraminguei no ombro dele. No início, não aceitou, mas depois acabou cedendo. Eu vestia uma saia super curta e me insinuava. Resultado: muitos beliscões nas coxas até às quatro da manhã. No final, ele me pediu: bico fechado, nada de comentar com a Milena. Quando a encontrei, nada falei. Disse que tomamos apenas uma cerveja e pronto. Apesar de intempestivo, ela gostava dele. E foi ele quem terminou. Arranjou-se com uma ainda adolescente, dezoito aninhos, só porque ela concorreu e venceu o concurso de Miss aqui do bairro.

Não pode ser, disse eu, a Milena está aqui comigo, como pode ter passado por você, te dado bom dia?, afirmei veemente. Ao acabar a frase, pensei ele vai querer falar com ela. Foi o que aconteceu. Por que eu tinha de dar tanta satisfação se ele não era meu namorado? Será que por que trepei com o homem duas vezes? Carlos, por favor, estamos tomando café, não tenho o dever de fazer isso. Depois te telefono. Beijos. Desliguei sem que meu amigo, que parecia absorto, percebesse. Mas eu sabia que tinha notado, percebera toda a trama. Só faltava ele me perguntar se eu o chamaria de Milena. Não aconteceu. Ele, que sempre me convida para o café da manhã aos domingos, é um homem discreto, refinado, leitor de muitos livros. Quem sabe, ele se antecipa e escreve essa história: Uma mulher, um carretel.

Milena, por favor, preciso da tua ajuda, depois do almoço vai até o Carlos e lhe diga que não era você a pessoa que falou com ele hoje cedo!

quarta-feira, outubro 12, 2022

Repasto

Eu estava louca para transar com alguém, já fazia meses sem namorado. Lembrei-me de um amigo com quem saí algumas vezes. Ele era gostoso. Telefonei. Alô, Sérgio, como vai, posso ir a tua casa? Não pareceu surpreso com minha súbita aparição. Apenas quis saber a que horas e se era no mesmo dia. Sim, de preferência, afirmei, posso estar aí daqui a uma ou uma hora e meia. Consentiu. Percebi, pela voz que gostara da minha intromissão. Arrumei-me. Coloquei uma bermudinha de jeans e uma camiseta, já que estava calor. Uma pequena sacola no ombro e, nos pés, um tênis branco. Peguei um livro que jazia sobre a mesa. Não vou chegar lá em trinta minutos. Já me oferecia, e me entregar em poucos minutos seria vulgar. Resolvi controlar o meu fogo. Pousei a bolsa no pequeno sofá e resolvi ler algumas páginas do livro que carregava naqueles dias. Assim, passaria a tal uma hora ou uma e meia, como havia combinado.

O tal romance tinha uma mulher que arranjara um homem quarenta anos mais velho. Nada a ver comigo, porque o tal com quem marquei era mais ou menos da minha idade. Isabela conhecera o senhor e ganhava dele alguns benefícios. Só que era casada, e estava com dor de consciência em relação ao marido. Tão bom, tão fiel, tão responsável com as obrigações de casa. Ela trabalhava num mercado, e o recente enamorado vinha todos os dias vê-la, presenteá-la e convidá-la para sair. No capítulo em que eu estava, ela saía com ele pela primeira vez. Dissera em casa que faria horas extras. Na verdade, não estava mentindo, porque não revelara onde. Do trabalho, ele a presenteou com um maravilhoso almoço num  restaurante da moda. Isabela não estava acostumada com tanto requinte. Ainda bem que estamos longe do meu local de trabalho, ela pensava, aqui ninguém me conhece. Ela tremia dentro da roupa. Será que depois ele vai querer me levar para cama? Não, por favor, hoje não estou preparada. Comeram, beberam uma garrafa de vinho. Ela, altinha. Pôde pedir o que bem desejasse, o cardápio era vasto e pleno de comidas muito gostosas. A mulher achou que não seria honesto pedir pratos muito caros. Foi comedida. O autor descreveu a decoração do local, os detalhes de cada prato, o sorriso do senhor enamorado e a face estupefata de Isabela. Levei algumas páginas; a comida, tão bem descrita, me coçava a boca. Quando acabaram, ela pediu para ir ao toalete, e lá ficou por bons quinze minutos. Não estava se sentindo mal, nem necessidade alguma, apenas mais tremores, já que se aproximava a hora de partirem. Quando voltou à mesa, ele tomava um café. Para não me alongar, conclusão do episódio: após o almoço, ele perguntou se ela desejava ir a algum lugar especial. Respondeu não, nada tinha em mente. Ele dirigiu um pouco pela orla marítima, mostrou algumas vistas interessantes e depois perguntou onde poderia deixá-la, ou mesmo se queria que ele a deixasse à porta de casa. Após saltar, junto a uma estação de metrô, Isabela sentiu falta dos tremores de momentos atrás.

O relógio já anunciava que eu devia partir. Não queria ficar na saudade, como Isabela. Minha vontade era trepar, o máximo que pudesse. Então, vou ao homem. Coloquei o livro dentro da sacola, saí ao corredor e desci para a rua. Duas esquinas e o ponto do ônibus. Quando desci, já nas proximidades da rua onde morava, reparei que passava uma hora e vinte desde o meu telefonema.

Subi a pequena ladeira, que era a rua onde ele morava. Uma ladeira, digamos assim, amena. Meu amigo me esperava à porta do prédio, o último da rua, depois uma escada, acho que dá em Santa Teresa. Beijou-me as faces e me convidou a entrar.

Logo que ultrapassei a porta de entrada do apartamento, senti uma vontade louca de ir ao banheiro. Posso ir ao toalete, por favor? Apontou a porta. Lá dentro, tive de me apressar. Abaixei a calça, a calcinha e comecei a despejar quase tudo que tinha dentro de mim. Ai, que vergonha, telefono para o homem, quero trepar com ele e, ao chegar a sua casa, o que me acontece? Uma dor de barriga atroz. A personagem do livro que eu lia comera tanto e nada sentira. E eu me sentindo mal por ela! Depois dizem que a literatura não tem poder. Quando terminei, dei a descarga e ainda permaneci uns minutos trancada no banheiro. Temia que o cheiro extrapolasse a porta do pequeno recinto. Enquanto aguardava, tive a ideia. Tirei toda a roupa, toda mesmo, ainda a calcinha e sutiã. Pendurei-as no espeto da toalha. No local, estava apenas a toalha de rosto, insuficiente para o meu corpo. Deixei o toalete. Apenas a sacola a tiracolo e nos pés, o tênis. Caminhei à pequena sala e me sentei no canapé. Era a mulher mais vestida do mundo. Ele me olhou com entusiasmo. Não esperava tal atitude de minha parte. O que a personagem do livro temia, ou tremia dentro da roupa, eu desejava. Em pelo.

domingo, outubro 09, 2022

Restrooms

Sempre quando vou a um hotel, olho se há câmeras no saguão. Você quer saber por quê? Conto já.

Fui com um namorado, ou um quase namorado. Andávamos lá pelas tantas, agarrando-nos um ao outro, beijando-nos na rua e, principalmente, na praia. Um dia, ainda cedo, por volta das nove da manhã, resolvemos tomar café da manhã num hotel.

Caminhamos pela orla de Copacabana, olhamos hotel por hotel, até que escolhemos um. Para a nossa situação, era aceitável. Entramos, e fomos ao restaurante. O funcionário nos disse que era preciso pagar adiantado. O hotel tinha serviço de buffet, podia-se comer à vontade. Meu quase namorado pegou a carteira e pagou o café da manhã para duas pessoas. O mesmo funcionário nos introduziu num salão luxuoso, onde várias pessoas já faziam o desjejum. Escolhemos a mesa. Fui eu a primeira a desfilar por entre o buffet.

Parecia mais comida de almoço. Havia linguiça, ovos mexidos, uma espécie de petit-pois, omelete, batata cozida. Depois vinham os diversos tipos de pães, queijos, manteigas, bolos, doces, frutas etc. Não posso esquecer o café com leite, o café puro, o café expresso, sucos e refrescos. Nossa, não posso engordar, quanto tempo não como tanto. Aos poucos, fui colocando num pratinho o que desejava. Meu namorado (depois de tanta comida, ele já era meu namorado) foi buscar o que desejava. Pouco a pouco, alternávamos no buffet, voltávamos à mesa com os pratinhos cheios. Que beleza, cheguei a dizer, pena não aguentarmos comer tanto. Observamos os turistas, os casais, as famílias. Em um momento, vi uma moça de roupa que se usa para ir e voltar da praia. Ela já estava preparada para ir. Uma rendinha transparente cobria-lhe o biquíni; seu namorado ou marido, um bonitão, jeito de gente rica.

Depois de uma hora, tomamos cada um mais um café. Sentíamos pena de ir embora. Que tal ficarmos no hotel?, cheguei a pensar, mas nada falei. Quando saíamos, eu disse vamos sentar um pouco nos estofados da recepção. Meu namorado concordou. Sentamos, eu encostada nele, as pessoas passando de um lado a outro, aquela alegria que só existe em viagens. Que bom que estão felizes. Vamos viajar assim também nas férias!, exclamei. Meu namorado sorriu, você gosta das coisas boas da vida.

Antes de sairmos, sentimos vontade de ir ao banheiro. Vimos a sinalização e seguimos, dobramos à direita, encontramos os toaletes. Fui eu que tive a ideia. Nada disse. Antes de entrarmos, ele no de homens e eu no de senhoras, pedi que me esperasse ali, que não fosse para a porta do hotel. Demoramos cada um mais ou menos cinco minutos. Quando saí, reparei que havia um terceiro toalete, não sinalizado, depois do de senhora. Calculei que fosse para uso interno do hotel. Quando o namorado saiu, eu disse venha cá. Puxei-o pelo braço e entramos juntos no local.

Você é louca, ele falou. Abraçou-me e me deu um longo beijo na boca. Ficamos entrelaçados, ele percorreu minhas costas com a ponta dos dedos, uma espécie de carinho, uma espécie de cosquinha. Sente ali, pedi a ele, pois havia uma cadeira depois do espelho. Reparei se havíamos trancado a porta. O que pode nos acontecer?, ele perguntou; se nos descobrem, seremos expulsos do hotel, nada mais, não somos hóspedes, isso facilita as coisas. Ele sentou, eu agachei, puxei o fecho de sua bermuda e peguei o peru dele. O que aconteceu depois? Imaginem. A gente de barriga cheíssima, quase sem poder se mexer e eu num boquete delicioso!

Por isso, quando entro num hotel, procuro descobrir onde as câmeras estão focalizando e, como dizem os americanos, onde ficam os Restrooms.

quarta-feira, setembro 28, 2022

Foi bom entornar o caldo

Um amigo disse que meu namorado me está cozinhando em banho-maria. O motivo foi porque pedi vamos morar juntos, no Miramar; mas o namorado hesitou, acha melhor esperarmos um pouco. Precisa resolver uns problemas. Enquanto isso, vem à minha casa duas ou três vezes na semana e permanece umas duas horas. Meu amigo achou engraçado, “logo você que sempre vive fervendo, agora em banho-maria”.

Ele tem razão, tenho um fogo difícil de apagar. Mas o namorado é tão carinhoso, educado, adora estar ao meu lado, diz coisas que ninguém jamais me disse, por isso acredito, vamos morar juntos. No começo, eu mesma achava melhor cada um na sua casa, mas depois desse tempo com ele, sinto falta quando não pode vir, ou não está ao meu lado.

Um dia desses a Laura telefonou. Um senhor está interessado em você, cochichou. Laura, deixe de conversa fiada, você quer jogar verde, fale a verdade. Nada disso, ela contrapôs, ele pediu mesmo para te dar o número do celular, e olha que o homem está sozinho e é bem de vida. Ufa, não falei nada mais. Um homem sozinho e bem de vida. Me deixa pensar em outra coisa. Gosto do meu namorado, não quero outro homem.

Namoradeira do jeito que sempre fui, mesmo disfarçando, porque nesta cidade onde moro é uma fofocada só, acabou que não consegui deixar de perguntar quem era o sujeito. Ela me pronunciou o nome e o número dele, e eu fingi que não copiei. Não se passaram dois dias, liguei. Não disse quem era, apenas que sabia das intenções dele. Há, você é Eduarda, disse meu nome em um segundo. E contou uma história enorme envolvendo uma viagem, automóvel, dois jantares num restaurante da orla, um banho de mar numa manhã de domingo. Tudo pra dizer no final que tinha me visto e que caía de amores por mim. Telefonei por consideração, falei, estou com compromisso. Não tem problema, rebateu, a vida é cheia de compromissos, a gente vai se falando. E foi o que aconteceu. A gente foi se falando, se falando, até que... até que não aguentei e acabei indo encontrar com ele.

Merece um novo parágrafo. Um senhor de cabelos grisalhos, muito bem cortados, mais para grande, com um vocabulário bonito. É importante saber falar bem. E como ele sabe. Disse-lhe que não poderíamos ir a nenhum restaurante da orla de Cavaleiros, porque logo alguém ia me ver e meu namorado seria informado pelas fofoqueiras de plantão. Ele dirigiu até Rio das Ostras, parou perto da praça da Baleia, onde há vários bares e restaurantes. Entramos num deles, ficamos numa mesa discreta, comemos e bebemos vagarosos, como se todo o tempo do mundo nos pertencesse. Enquanto jantávamos, ele falava sobre vários assuntos, perguntou até se eu gostava de artes plásticas. Veja se em M, a gente aprendeu a gostar de artes plásticas. Enquanto ele narrava as histórias, lembrei um namoradinho de outros tempos, eu vinha com ele pra este mesmo restaurante e depois passávamos a noite numa pousada barata que existe na saída da Costa Azul; fizemos isso duas ou três vezes. Numa delas, saí nua do quarto e fui para a varanda. Ainda bem que não tinha ninguém no pátio da pousada, onde ficavam os automóveis. Nós transávamos horas a fio.

Voltei pra M e quis me apegar ao meu namorado. Não posso dizer que não senti remorsos, o tal passeio, etc. Mas, ontem, alguém veio me contar que viram meu namorado não sei onde com uma loura. Era eu, afirmei, é porque você nunca me viu de peruca! Depois que a fofoqueira partiu, procurei no celular o nome do apreciador das artes plásticas e apertei o botão. Nada de remorsos.

Saímos na mesma noite, deixei o banho-maria, já que vivo sempre fervendo. E com o minivestidinho que usei, como foi bom entornar o caldo.

sábado, setembro 24, 2022

Namorada do vizinho

É sempre bom criar um clima de curiosidade. Por isso, ao conhecer alguém, me escondo, ou escondo meu corpo. Há quem goste de sair nua, sobretudo à noite. Não tenho nada contra. O mais interessante, porém, é esconder. Nada de roupas como as duquesas de séculos atrás, mas um vestido discreto, um pouquinho transparente, o tipo de branco que se olha durante alguns segundos para ver se o tecido deixa passar alguma possibilidade.

Arranjei um namorado. Andam raros atualmente. Sempre achei que os homens são fãs das mulheres jovens, o que não é o meu caso. Aliás, sou jovem, mas não tanto. Uma namoradinha do meu vizinho sai ao corredor do prédio só de calcinha, não sei o que deseja com tal estrepolia. Certa vez a encontrei, ela sorriu, cumprimentou-me, e se fez a pessoa mais vestida do mundo. De onde vinha?, do compartimento onde se coloca o lixo?, foi em busca do sapato esquecido ao lado de fora ou chegou nua para excitar o homem? Não procurei saber. Tenho certeza, no entanto, de que, na próxima semana, o rapaz estará nos braços de outra, talvez ainda mais ousada. O círculo jamais se fecha, ao contrário, a tendência é alargar-se.

Entrei na casa do namorado. Ele queria sair, ir a um restaurante. Como mora sozinho, sugeri levar algumas coisas à casa dele. Passei no supermercado, comprei uma garrafa de champanhe, algumas pastas, um camembert, diversos tipos de pães. Por desencargo de consciência, levei também as taças especiais para a bebida. Um parêntese: certa vez tive um namorado que não tinha em sua casa um saca-rolha, eu segurando a garrafa de vinho e ele... que pobreza. Fecho o parêntese.

Cheguei com a pequena bolsa de compras, um sorriso nos lábios e a vontade de beijá-lo. Recebeu-me bem, mas não estava acostumado a ter relação com mulheres do meu tipo. Arrumei as compras sobre a mesa, fui em busca de pratos e talheres, preparei tudo com esmero e requinte. O homem, brusco, agarrou-me junto à porta da cozinha, queria trepar ali mesmo, tentou arrancar-me a saia. Procure se acalmar, por favor, tudo tem seu tempo, há um momento para cada prazer, soprei-lhe carinhosa. A frase soou sentenciosa, e ele parecia não gostar de sentenças. Seria eu juíza de direito?, quem sabe, ainda não dissera do que vivia.

Eu me vestia bem naquela noite, ou melhor, como sempre me visto. Roupas de grife, combinação de cores, acessórios, artigos caros, desejados por grande parte das mulheres. Mas ele nada observava, me queria nua de imediato. Vamos beber e comer inteiramente nus!, sugeriu um tanto desesperado. Ok, concordei. Não deixaria passar a oportunidade. Caso negasse, seria melhor partir deixando champanhe e comidinhas para ele e alguma futura companhia. Ok, concordo, voltei a falar, mas você se despe primeiro. Você jura que fica nuinha depois que eu tirar a roupa toda?, perguntou. Preciso jurar?, tenho palavra.

O homem pôs-se a caminho. A camisa, o cinto, a alpargata, a calça e por último a cueca. Tudo ficou amontoado sobre uma das poltronas. O homem nu à minha frente apontava já o seu desejo, a meio pau, não de luto, mas um começo de furor.

Tirei a echarpe, a botinha, a meia curta, a jaquetinha, a blusa de mangas compridas, deixei descer a saia. Soltei o sutiã e, de calcinha, pousei todas as roupas sobre o estofado próximo à janela. Virei-me a ele e disse tire-a, mas com cuidado, não a estrague, por favor. Agora, posso acabar de arrumar a mesa. Ele veio me abraçar, roçar seu sexo sobre meu ventre. O namorado era bem mais alto do que eu. Não gosto assim, quero tomar champanhe primeiro. Sentou-se sobre uma das cadeiras, que estava em volta da mesa, cruzou as pernas e aguardou eu acabar de preparar o jantarzinho. Passei-lhe então a garrafa de champanhe. Quando a abriu, com todas a explosão possível a uma comemoração de conquista, serviu-me o primeiro gole. Imaginem, eu nua, segurando uma taça de champanhe, e não tenho o mesmo corpinho das garotas de academia.

Lembrei o dia em que um namorado, que morava na praia de Cavaleiros, me levou pra passear nua, de madrugada. Nada posso falar da namorada do meu vizinho!

quarta-feira, setembro 14, 2022

Esquenta

Existem vários modos de se manter um namorado. Um deles é, antes do encontro, esquentar. Os homens adoram a manobra. Querem – mesmo que não o digam – a mulher nos braços de outro. Este deve deixá-la no ponto. Nada para mais nem para menos. Dali em diante, a continuação é com eles. Ela pode e deve vir em plena rotação, lubrificada, mas não pode ter gozado antes, isto é, ter vazado o óleo.

Não demorei a perceber o jogo do namorado. Como há sempre alguém me desejando, foi fácil arranjar um namoradinho como entrada, digamos assim. Mas não podia eu comer o prato principal! Que maravilha mas, ao mesmo tempo, que tortura. A entrada, uma delícia, porém nada de transformá-la no prato principal, que seria o namorado titular.

A gente ia a um motel, eu e o namoradinho, o do esquenta-esquenta. No apartamento, havia uma piscina de água quente, aliás, água quase fervendo. Em temperaturas elevadas, a água relaxa, baixa a pressão, tira as forças e provoca um pouco de sono. O namoradinho não era diferente. Assim que começava a me acariciar, sentia uma enorme vontade de descansar. As coisas se encaixaram, ele só ia até certo ponto. Eu não precisava ficar alertando. Antes da piscina, seu pênis estava eretíssimo, mas depois, já não aparentava o mesmo vigor. Caso ele não quisesse mergulhar, eu dizia olha o que combinamos.

Tive uma amiga que saía com o reserva e ficava com ele durante a tarde inteira. Não dá confusão, Marcia, como você aguenta? É questão de treino, ela me dizia.

Minha estratégia funcionou durante alguns meses. Um dia, no entanto, quando já ia nua, ao lado dele, à beira da piscina, percebemos que a água estava fria. Telefonei à recepção. A resposta foi há um defeito no aquecimento geral, vamos dar desconto no pagamento. Não me interessava o desconto, mas o tal que me bolinava sem chegar ao principal. Ele prometeu que não atravessaria a fronteira interditada. Sim, verdade, prometeu mesmo, mas quem atravessou o limite entre a entrada e o prato principal?

O namoradinho começou a me tocar, a me acariciar. Como eu vinha da praia, estava de biquíni. Não passou muito tempo para eu ficar nua. Ele, a me olhar; seu pênis, durinho. Que delícia, pensei, que beleza, toquei-o. Entramos na água fria da piscina. A temperatura geladinha nos excitou. Ele me pôs sobre a borda. Como é mais alto do que eu, achamos uma posição em que, de pé, de dentro d’água, conseguia me penetrar. Eu, apoiada, nas duas mãos, controlava o movimento de subir e descer.

O esquenta-esquenta se tornou incontrolável. Eu sempre prolongando a transa, até que... Não resisti. Ou melhor, nem eu nem ele. Comemos a entrada e o prato principal!

Como vou ter vontade para outra refeição quando encontrar mais tarde o namorado titular? Qual será minha desculpa? Melhor desmarcar, pensei naquele dia.

Minha amiga Márcia sempre diz tudo é uma questão de treino. Por isso, você está um pouco gordinha, tenho vontade de replicar.

quarta-feira, setembro 07, 2022

Fantasias avançadas

Namorados inquietos há por toda parte, sobretudo aqueles que nos provocam com fantasias avançadas. O namoradinho que me assediava queria-me, porém, só de vestidinho. Tantas vezes passeei coberta apenas por tecido fino no verão, tecido mais consistente no inverno. Calcinha e sutiã, poupados, guardadinhos no meu armário. Depois de algumas saídas, percebi, não me era apenas o vestido que ele desejava, mas trepar comigo onde lhe desse vontade. Dentro de um automóvel, nas areias da praia, à margem da lagoa, numa rua escura ao lado de um quiosque onde, durante o dia, se vendem jornais, salão de festas de um prédio sem vigia. Ações também que não tinham tanta criatividade, devido às muitas experiências de quem adora aventuras. Descobri, a seguir, que ele queria um passo além, queria avançar no seu desejo. Hoje, trepa-se muito, por toda parte, mas se usa camisinha. Uma amiga repete e repete: trepar de camisinha não suja, é ótimo, a gente pode, depois, continuar o dia de modo normal, como se nada tivesse acontecido. Verdade, há homens que depois da transa, concluímos que nada aconteceu, e não foi por causa da camisinha! Meu namoradinho, no entanto, não queria o preservativo. Ou melhor, pedia que começássemos sem ele e que o colocássemos depois de algum tempo. Quero sentir melhor você, dizia. Eu também gosto de sentir o namoradinho, quero dizer, seu pênis a me penetrar. Nada melhor do que isso. O problema é que quando se sente, não se quer mais deixar de sentir. Nós, mulheres, acabamos num intenso ardor, quando menos esperamos sentimos o jato quente de porra a nos invadir. Depois, as consequências. O risco principal são as doenças transmissíveis pela relação sexual, um pleonasmo. Ele, satisfeito, trouxe seu exame recente. Nenhum vírus, nenhuma possibilidade de me contaminar. Gravidez, o segundo problema? Não, não corro o risco. Mas como vou trepar com você limpinho da silva, despejando esse sêmen todo, eu só de vestidinho? Vou ter de ficar agachada em algum canto depois do seu gozo, mesmo assim não terei certeza se há um restinho que vai gostar das minhas coxas, percorrê-las sorrateiro e sem dó. Após insistir, de apresentar suas razões, acabei aceitando tal prova. A verdade é que eu estava doidinha para trepar. Saímos no seu carro, fomos a um quiosque na Barra da Tijuca. Vejam se ainda há essa moda, quiosques, as pessoas não se arriscam tanto. Eu, de pé, encostada numa trave de vôlei de praia, a barra do vestidinho levantada e o namoradinho cumprindo seu papel. Você vai sentir, pele a pele, ele dizia, vai gozar com o risco, noventa por cento de sentir minha explosão de porra dentro de você. Percebi quando se avizinhou ao gozo, vesti-lhe a camisinha. Esteja à vontade, eu replicava.

Preciso de um parágrafo. Faz dez anos tive um namorado lindo. Era o máximo na trepada. Quando chegava à minha casa, abraçava-me, encostava-me numa das paredes. Eu não demorava a perder bermuda e calcinha. Ele me colocava de tal modo que eu ficava equilibrada apenas pelo seu pênis, meus pés longe do chão. Como eu gozava! Era sincero o homem, dizia que só conseguia ejacular deitado sobre mim, posição papai mamãe; naquele momento, a camisinha. Certa vez, próximo da tal parede, a me equilibrar, ele me fez girar, uma hélice em eixo oleoso. Quem gozou em quem?

Voltemos. O namoradinho me levou para Rio das Ostras. De início, não gostei do lugar, achei que faltava requinte. Houve, porém, um dia, numa praia comprida chamada de Costa Azul. Ele me deixou totalmente nua. Nosso corpo a corpo sem camisinha, um exercício e tanto, que beleza. Ah, vou gozar, amor, ele dizia, vou despejar tudo dentro de você, vai ficar cheinha, transbordando. Eu fingia acreditar. Caso eu goze, continuou, arranjo um paninho para limpar sua bocetinha. E continuava. Ele, no final, respeitou. Não gozou dentro, não. Ventava e ventava na noite sem lua, ele lutava com a camisinha. Quando gozou, eu já ia pelo terceiro orgasmo. Na tal madrugada, porém, quem gozou mesmo não foi o namoradinho, mas o vento, sapeca que só, levou meu vestidinho!

quarta-feira, agosto 24, 2022

Presença de espírito

Naquela noite eu estava de namorado novo, saindo de um restaurante onde comemos e bebemos bem. Já na rua, ele me perguntou onde eu ainda desejava passear. Meu telefone vibrou, o homem percebeu. Nesses momentos, não é bom deixar o telefone à vista, mas eu estava num tamanho enlevo, que acabei não prestando atenção. Pode atender, ele disse. Não, claro que não vou atender; além disso, estamos na era das mensagens, não se telefona diretamente a ninguém nos tempos atuais, contrapus. Mas deve ser um admirador especial, para ligar a esta hora. Não, nada disso, eu argumentava tentando fazê-lo esquecer meu celular, você ligaria para alguém às onze da noite?, perguntei. Quem sabe, quando se está apaixonado, as horas são meras abstrações, sentenciou. Não atendi. Ao chegar ao apartamento do namorado, nos poucos segundos em que fiquei sozinha, vi que havia o nome de quem fizera a ligação, um ex-namorado. Quero dizer, não era tão ex assim, porque só saíramos duas vezes. Como eu não atendera, deixara a seguinte mensagem: vamos tomar café da manhã? Dizia a hora e local do encontro, para o dia seguinte. Ainda bem que o novo namorado nada sabia sobre isso. Eu iria já apagar a mensagem, quando ele apareceu. Fiz de conta que olhava um vídeo de uma amiga, quis mesmo lhe mostrar. Veja que engraçado, falei. Os homens são expertos, ele sabia que não era nada disso.

O homem que me convidava para o café da manhã era casado. Eu não me aborrecia por isso. Nas duas vezes em que saí com ele, passeáramos pela manhã. Na segunda vez, me levou para cama na hora do café da manhã, um hotel em Botafogo. Eu vestia biquíni de praia, uma camiseta e bermudinha de lycra. Tomamos café no hotel. Comemos tudo que veio na bandeja, depois nos entregamos ao amor.

Mas na tal noite, com o novo namorado, não queria estragar o prazer da primeira vez. O que fazer? Ou melhor, como desfazer a tal situação? De que você mais gosta?, perguntei. De uma namorada de olhos castanhos, de pele bronzeada e... Posso completar?, ele, tímido. Sim, complete, eu disse solícita. De peitos de fora. Ah, deixei escapar a interjeição e sorri, mas assim tão de repente. É como gosto, você perguntou, estou sendo sincero. Dei as costas, tirei a blusa, soltei o sutiã, larguei-os sobre o sofá lateral e me voltei ao namorado. Pensei que a história do telefonema estava esquecida, porém, na quentura do sexo, ele solta já sei, você é casada!, e ele está procurando onde a mulher pode estar numa hora dessas. Eu, casada?, repliquei, esqueça isso, vamos namorar. Tive uma namorada como você, adorava andar nua ao meu lado pra lá e pra cá, depois descobri que era casada, uma confusão e tanto. Venha, por favor, fiz seu pênis escorregar mais uma vez para dentro de mim, nada de histórias de outras namoradas nem de maridos. Se sou casada, prometo que você pode me deixar pelada na porta de casa. A seguir, beijei-o na boca e não mais permiti que falasse.

Esses namorados têm muita presença de espírito.

quarta-feira, agosto 17, 2022

Dois probleminhas

Bati à porta dele. A princípio, parecia não haver ninguém no apartamento. Eu entrara às escondidas, a portaria estava destravada e não havia funcionário do prédio na guarita de segurança. O elevador estava no andar térreo, o que me facilitou as coisas. Que desconcerto, se me descobrem, vão achar que sou louca.

Alguém pareceu chegar à porta, quem está aí? O que eu iria responder? Marilene, lembra de mim? O homem do outro lado silenciou, devia estar organizando as ideias. Havia-se passado dois meses. Marilene?, que Marilene? A do Pecado, você deve lembrar, do Ilhote Sul e da vinda para cá às quatro da manhã, e tem mais uma coisa, não consegui terminar. Como conseguiu entrar, insistiu? Pela portaria, fui lógica. Ele deve ter movido o rosto, num pequeno sorriso, mas eu não pude ver. O prédio tinha câmeras, dois empregados de serviço, e eu me apresentava ali sem ter deixado rastros, sem  ter chamado a atenção, era natural a desconfiança. Recue dois passos, pediu. Recuei. Após alguns segundos, ouvi a chave girando. Ele apareceu na fresta da porta. Antes que falasse alguma coisa, pedi você deixa eu ir ao banheiro, é urgente. Afastou a porta, corri sala adentro descobrindo por mim mesma o caminho do toalete.

Depois de alguns minutos, ao voltar à sala e me sentar suave e já tranquila no estofado junto à janela, reparei seus olhos pregados no meu corpo. Foi a minha vez de sorrir. Está surpreso? Levou alguns segundos para retomar o diálogo, ele gostava de dominar a conversa, tentava disfarçar a surpresa por causa da minha sorte e esperteza. Podia ter sido presa, exclamou com discrição. Presa?, repeti, por quê?, tentava ser natural, lembra do dia em que saímos do restaurante?, você foi bem mais ousado. Ele sorriu pela primeira vez, tínhamos bebido demais, foi normal a minha atitude, rebateu. Dei de ombros, o importante era o momento presente, esperei por ele, queria que continuasse. Até onde ele iria, o que desejaria?, já que não me esperava no momento nem naquela situação. Você estava com problemas intestinais e veio me procurar, voltou ao assunto inicial. Não apenas intestinais, cheguei a dizer. Acho que os intestinais você já resolveu, agora quanto ao outro... Eram sete da manhã, dia claro, talvez ele tivesse algum compromisso, talvez um trabalho. Quando decidi pelo seu prédio, achei que poderia ainda estar dormindo. Pensando em tudo isso, continuava a olhá-lo como se esperasse uma decisão. Você deu sorte, completou, estou de boa maré, abri a porta pra você, deixei que se aliviasse, mas não quero você a me procurar, aquela noite já foi suficiente, não sou homem de compromisso nem de apenas uma mulher, meu erro foi revelar a você o meu endereço; agora, vou até o quarto, você sabe o que tem a fazer. Desapareceu no corredor que levava a um dos quartos. Olhei o encosto de uma cadeira e vi uma camisa de homem, de mangas compridas.

No térreo, depois que cumprimentei o funcionário da portaria, continuei a dobrar as mangas da camisa masculina, que caía larga no meu corpo. O porteiro deve ter pensado que eu, certamente, ia à praia.

quarta-feira, agosto 10, 2022

Temos companhia

Minha avó saía com todos os homens que conhecia, tinha 57 anos, era magra, bem cuidada, tinha facilidade de arranjar namorados. Soube de tudo quando vi o celular dela se iluminar. Tomava banho e deixou o telefone sobre a mesa da sala. Você vai mandar ou não a foto de teu bumbum?, a mensagem que li. Peguei o telefone e procurei outras mensagens do mesmo homem. Que safada, ela provocava, dizia que iria pensar, que ele não era fiel a ela. Isso foi em outros tempos, ele rebatia, tua bunda sempre fui muito bonita, continuava a mensagem. Coloquei o celular no mesmo local e fingi que fazia outra coisa quando minha avó saiu do banheiro.

Nos dias que se seguiram, consegui olhar de novo seu celular, li outras mensagens, de outros homens, pelo menos uns cinco diferentes. Todos queriam fotos, diziam que ela era gostosa. Um lembrou uma vez que transou com ela numa praia em M, depois da meia-noite, que sensação, jámais senti algo igual. Ele parecia vidrado. Ela respondeu quem sabe a gente vai lá de novo.

Passaram-se alguns dias e achei que aquilo tudo era apenas conversa de zap, apenas para passar o tempo. Um dia, porém, encontrei minha avó no Ilhote Sul. Eu estava com duas amigas da minha idade, dezenove, vinte anos, todas da faculdade. Como o restaurante estava cheio, ela não me reparou. Minha avó estava acompanhada de um homem jovem, que podia ser meu namorado! Fiz de conta que não a conhecia. Pensei segui-la, mas não daria certo. O que fazer?

No dia seguinte, descobri no celular dela quem era o tal homem. Ela o chamava de meu amor, ele a apelidara de gostosinha. Havia um dia e endereço onde iriam se encontrar de novo. Mas, naquele mesmo dia, encontrei outra mensagem, de outro homem. Ela respondia que sim, que sairia com ele dois dias depois.

Eu não sentia necessidade de sexo, chegava a conversar sobre isso com algumas amigas. Elas diziam que era assim mesmo, toda garota que se inicia na vida sexual, no começo não sente prazer. Comecei a achar que minha avó era o exemplo disso, cada vez que ficava com mais idade o prazer era maior. Será que com o passar dos anos a vontade de trepar aumenta, ou será que minha avó é uma safada de primeira linha? Cheguei a perguntar a algumas pessoas sobre sexo. Elas diziam você está tão interessada nisso agora, o que está acontecendo? Eu tinha que desconversar. Eu tivera apenas dois namorados, naquele momento estava sozinha, transara mesmo apenas com um, e não tinha sentido muito prazer.

Algumas semanas depois, deixei de lado o telefone dela. Eu arranjara um namoradinho. Ele começou a me levar para passear nos mais diversos lugares. Como era mais velho do que eu quase dez anos, já tinha a vida estabilizada.

Uma noite comemos muito e paramos o automóvel diante de um hotel na praia do pecado. Entramos e alugamos um apartamento por boa parte da noite. Quando saímos, já quase pela manhã, resolvemos descer até a praia. Era um local que não dava para chegar pela orla, foi preciso caminhar por uma rua interna, cercada de vegetação alta de ambos os lados. O carro não conseguia atravessar. Nossa intenção era sentar na areia e apreciar o amanhecer.

Quando nos aproximamos do final da praia, meu namoradinho disse silêncio, acho que ouvi alguma coisa. Nos agachamos e ficamos observando. Uma mulher inteiramente nua estava deitada sobre um uma canga e um homem acariciava suas costas.

Temos companhia, vamos mais adiante.

Não, eu disse, quero ver se conheço a pessoa. 

Para que fui falar tal besteira. A mulher se levantou e caminhou para a beira d’água, nua como viera ao mundo. Pela estatura e pelo corte de cabelo, pude reparar que era a minha avó. Ela estava tão bonita, combinava com o lusco-fusco do amanhecer que se anunciava, era capaz de irradiar uma bondade que apenas eu podia perceber. Naquele momento, quis ser igual a ela. Cheguei a prometer que faria tudo para seguir seus passos na vida, descobrir o prazer que ela sentia em cada gesto, o êxtase que a natureza irradiava do corpo dela. Todo o preconceito que eu tinha contra ela desaparecera como num toque de mágica.

Nada falei ao namorado, ele conhecia a minha avó, sabia que a mulher ali à beira d'água era ela. Teve a elegância de nada comentar.

Como estava nua, ficou. O homem a seu lado a acariciava.

Afastamo-nos sem sermos percebidos. Eu também ficaria nua, mas em outro lugar.

Dali em diante, minha vida seria outra.

quarta-feira, agosto 03, 2022

Você nem imagina

Aqui no prédio onde moro, um homem lindo veio morar no quinto andar. E sozinho! Ao passar por mim, cumprimenta-me, muito sorridente. Não sou uma mulher de dar conversa a vizinhos; no máximo, digo bom dia. Quando encontro alguém do prédio na rua, finjo que não vejo. Ele, porém, encontrei outro dia cruzando uma esquina, nas proximidades. Senti uma vontade louca de parar para falar com ele. Passou rápido, mas sem deixar de me olhar. Moveu a cabeça e disse alguma coisa. Eu estava passeando com o cachorro. Ele ainda se voltou para o animal e sorriu, como se desejasse alguma interação. Continuei a caminhada e continuei a pensar no admirador.

Às vezes, o fato de a gente não ser simpática, provoca muitos obstáculos. Como me fecho no meu mutismo e em geral não olho quem está passando ou cruzando comigo na rua, torna-se difícil passar a falar com todo mundo de uma hora para outra. Por exemplo, não consigo chamar esse homem e inventar uma história, ficar conversando, convidar para um cafezinho. Tais ações são contrárias à minha natureza. Além disso, na zona sul do Rio, a maior parte das pessoas é calada. Tenho uma conhecida que diz preferir o modo de vida da zona norte da cidade. Lá, as pessoas se aproximam uma das outras com mais facilidade. Mas, mesmo aqui, há exceções. Tenho amigas que criariam oportunidades para a aproximação. Diriam, Miriam, você é muito idiota, como pode deixar passar um homem desse tipo, e logo você que é rica. A qualidade "rica" fica por conta delas. Insinuar-se-iam até conseguir um pretexto para tê-lo ao seu lado. Muitas vezes, inventam uma recepção, com taças de vinho ou de champanhe, para convidar o homem.  

Outro dia, estava eu conversando com o porteiro sobre um problema do nosso condomínio, quando o tal novo morador passou por nós. Cumprimentou-nos efusivamente, um bom dia que, na minha opinião, ecoou pelo resto da manhã. Em frações de segundo, imaginei-me ao lado dele na praia, num bar da orla bebendo um coquetel, ou na minha casa em Itaipava, eu e ele, sozinhos, a passar um final de semana! Mas como vou chegar a isso? Fico apenas na vontade. O homem passou, acho que foi para o trabalho. O porteiro respondeu ao que eu perguntava. Depois, fui para casa e fiquei olhando para o meu cão, que gosta de sentar aos meus pés e sentir o calor do meu corpo. Histórias de calor do corpo deveria acontecer com meu recente enamorado. Aliás, como lhe dizer que estou enamorada?

Conversei sobre ele com a minha analista. Ela disse que é um bom sinal. Por que você não toca na campainha do apartamento do homem e não conversa com ele? Pergunte se ele gosta de cinema. Não há nada de mal nisso.

Suas palavras ficaram na minha cabeça. Às vezes estou lendo um livro, a história começa a passar em branco porque o homem me invade o pensamento.

Fernanda, pedi à pessoa mais próxima a mim no prédio, alguém que conheço há muitos anos, você me ajuda organizar uma festa? Festa?, Miriam, que bom!, jamais ouvi você falar uma coisa assim. Qual o motivo da comemoração? Ah, você nem imagina...

quarta-feira, julho 27, 2022

Marcinha, meu amor

Outro dia ele veio com uma daquelas brincadeiras, foi logo dizendo: “você dá pra todo mundo”.  “Dou sim”, respondi “quando gosto do homem, vou com ele e ninguém tem nada com isso. Vivo cheia de tesão, me sinto bem assim. Não sei por que você fala desse jeito comigo, já sabe como sou. Se quer minha companhia, tem de ser assim. Caso contrário, é melhor procurar outra mulher. Você diz que fiz quarenta anos e continuo gostosa como sempre, então aproveite, mas não me queira exclusiva, não posso viver assim.”

Ele partiu, mas não demorou a telefonar de volta. Aceitei a conversa, falamos de amenidades. Não lhe conto minhas aventuras, mas ele acaba descobrindo, gosta de me investigar. Não ligo, não posso ter domínio sobre isso.

Num domingo de outono, saí com ele para o café da manhã. O desjejum numa cafeteria ótima, em Copacabana. Depois, andamos pela praia. Eu havia ido de bermuda de lycra, com o biquíni por baixo. Caminhamos e caminhamos. Ao chegarmos ao Leme, tive vontade de molhar os pés na água do mar. Fui então até a beira, ele ficou me esperando. Tenho certeza de que desejava me ver de biquíni, mas não me despi. O homem já me viu nua mais de uma vez, já trepou comigo, mas adora me ver de biquininho, tem vontade de desfazer os meus lacinhos. Não foi naquele dia que eu lhe proporcionei tal prazer. Houve uma vez, eu estava com um namorado de ocasião, então meu telefone tocou. Fui atender, era esse que gosta de me convidar para o café da manhã. Não disse que estava com outro, não lhe queria tirar a ilusão. Apenas acrescentei que estava ocupada, uns problemas de família, telefonaria depois. Telefonei? Esqueci. 

Mas no domingo do desjejum e da molhada de pé à beira d’água, ainda andamos mais um pouco. Ele quis me fazer uma foto. Não lhe tirei o prazer, apareci com um sorrisinho de deboche e com o bumbum de lateral. Você esquece a calcinha depois que acaba de trepar?, sei que ele me gostaria de perguntar. Já esqueci o vestido, responderia. Como você fez? Não vou contar, ele vai morrer de curiosidade. Foi um caso muito particular, digo apenas. Deixo o homem apenas na vontade.

Andamos mais um pouquinho, a praia tão praia, o sol morninho. Deu onze da manhã. Daqui a pouco alguém te telefona convidando a uma feijoada. Se for mais tarde, aceito. Depois de vinte minutos, nos despedimos, ele foi embora. Eu disse que tinha de voltar para casa, mas não era verdade. Tirei a tal bermuda de lycra e a camiseta, fui de biquininho para dentro d’água. Você toma conta pra mim?, pedi a alguém. Sempre o risco de acabar pelada!

À tarde, não é que aconteceu? A feijoada. Apareceu um homem bonito, um negão. Posso dizer assim, porque também sou negra. “Minha joia, vamos a um almoço”, convidou. Eram duas da tarde, um conhecido de vista, de perto da casa de minha mãe.

Aceitei. Que delícia. Tanta caipirinha, tanto feijão. Me lembro que depois de comer bastante, bastante mesmo, de tanto beber, de ver tanta gente, o negão ainda me levou pra casa. Entrou e ficou um pouquinho.

No dia seguinte, segunda-feira, acordei atrasada. Ainda bem que a patroa é compreensiva. Mas onde meu biquininho de ontem? O tal negão, a sobremesa. Márcia, a sobremesa. Não o biquíni, é claro. “Marcinha, meu amor”.

quarta-feira, julho 20, 2022

Concurso

Meu amigo tem umas fantasias muito engraçadas. Ou seriam extravagantes? Me contou que gosta de três mulheres muito bonitas, que sempre estão a lhe sorrir. Sai com cada uma delas, mas ainda não chegou ao principal. Quando convida uma, vai a uma cafeteria, comem bolos ou pedaços de torta. Diz ele que as mulheres adoram tortas, quanto mais cremosas, tanto mais mergulham de cabeça. Não é mesmo, me perguntou, esperou que eu respondesse. Não dei o braço, o assunto não era meu. Uma de suas namoradas é negra, come tudo que vê. Cuidado para não te comer, cheguei a dizer. Até que não seria mal, respondeu a meio sorriso, tanto que não me tire um pedaço. Ah, as fantasias, já ia me esquecendo. Ele deseja convidá-las à sua casa, as três juntas, e quer que fiquem nuas, uma ao lado da outra, de mãos dadas. Quero lhes apreciar a beleza, chegou a dizer. Gostei do dito: lhes apreciar a beleza. Você acha que elas vão se prestar a isso, as três? Elas nem sabem uma da outra, vão aceitar as concorrentes e ainda vão posar nuas? Olhe que posam, respondeu. Contou uma história comprida, de uma namorada, numa tal cidade do norte do estado. A mulher aceitava sair nua por aí, à noite, ao lado dele. Certa vez aceitou mesmo descer pelada do carro numa rodovia, enquanto ele partia para dar uma voltinha, tanto que voltasse quinze minutos depois para buscá-la. A história me arrepiou. Que perigo a mulher correu!, afirmei. Ela encarava como um desafio. E por isso você acha que as três namoradas vão aceitar tirar a roupa na tua frente e entrelaçarem as mãos, amigavelmente. Depende de como eu encaminhe a situação. Meu amigo foi embora, fiquei um tempo grande sem encontrá-lo. Quando aconteceu, ele contou o final da história. Conseguiu até mesmo fazer uma foto das três, mas não nuas, vestidas com a melhor roupa que cada uma tinha. Me contou que, ao ver que elas não aceitariam, inventou que haveria um concurso, dinheiro alto, chegou mesmo a fazer o arquivo digital com um logotipo e com o valor do prêmio. Contou a elas, tinham que ser três, juntas, de mãos dadas. E fez a foto. Trouxe para me mostrar. Assim é fácil, acho que até eu, que te conheço, caía nessa história. Sério mesmo?, quis saber, claro que sim, um prêmio, duas mulheres bonitas, você poderia ter dado uma festa, convidado muita gente e feito uma foto com elas. Só não contei o concurso da Vogue, porque achei que nenhuma delas tem o corpo para isso, afirmou com ar de resignação. Concurso da Vogue?, eu quis saber. Sim, de uma revista francesa, eles fazem todo ano, em cada país, mas tem de ser de biquíni, duas poses, não achei as tais mulheres com talento para a Vogue. Quando eles pagam? perguntei. Não sei bem, é um valor alto, depois envio por e-mail para você. Neste dia, estávamos numa cafeteria recém-inaugurada, no Leblon. Ele tirou da bolsa um livro, disse que era um presente, achara a história muito interessante, eu iria gostar. Levei o livro depois de nos despedirmos, li-o em dois ou três dias. A história era realmente interessante. Na semana seguinte, ele me enviou o arquivo com a publicidade do concurso. O prêmio era uma viagem à França. O concurso era muito sedutor, fiquei com uma vontade enorme de participar. Hum, mas seria verdade o tal concurso?, vai ver invenção dele. Procurei na internet a tal Vogue, com a publicidade. Encontrei. Verdade. Dias depois, liguei a ele, disse que soubera do concurso por outras vias, era interessante. Mas não é para uma mulher sofisticada como você, ele disse. Sofisticada?, como assim? Você é uma escritora, cheia de ideias, intelectual, não vai posar de biquíni por aí. Não é por aí, é para a Vogue, e o prêmio é uma viagem à França. Ele acabou vindo aqui em casa, trouxe a câmera, vesti três biquínis diferentes, fiz as poses. E agora? Até hoje não sei o resultado. Escrevi para a Vogue. Me responderam, com toda a educação. Concurso?, que concurso?

quarta-feira, julho 13, 2022

Calcinha debaixo da mesa

Posso tirar a blusa?, perguntei depois de me sentar num estofado de dois lugares, no apartamento do novo namorado. Chegáramos havia pouco. Apesar da noite recente, fazia muito calor, acho que era dezembro.

Fique à vontade, ele respondeu.

Não tirei apenas a blusa, mas também o top. Os peitos de fora, nada de acanhamento, o que se espelhava na minha face era muita naturalidade. Veio-me à mente uma amiga que dizia ficar nua, mas tinha que ter pelo menos um top: ao contrário, sentia-se constrangida. Como você pode estar nua se está de top?, perguntei certa vez. Ah, é o modo de dizer, ela retrucou. Eu não agia por malícia, sentia mesmo muito calor, calor de verão. Estávamos ali porque passeáramos durante toda a tarde, quando andamos em busca de árvores e flores. A caminhada fora longa, nosso objetivo alcançado. Podia dormir nua por inteiro, mas caso ele quisesse namorar, teria de esperar pela minha revitalização. Repouso e água gelada faziam parte do meu cardápio.

Eu ainda não trepara com ele, nem me vira nua.

Como você pode ser tão dada?, alguém perguntaria. Não sou dada, aliás, não gosto da expressão. Ser alguém dada, pode ter significado duvidoso, quem sabe uma mulher que dá para todos os homens que conhece. Sou espontânea.

Meu amigo me trouxe um copo com suco de abacaxi. Que delícia, duas pedrinhas de gelo dentro, eu tomando a pequenos goles. Acho que foi o suco que me excitou, jamais ouvi dizer que abacaxi deixa as mulheres mordidas. Enquanto eu bebia, ele me olhava sem mirar meus seios.

Gosto de andar nua, é verdade, o motivo não é apenas o calor, adoro ver um homem admirar meu corpo, principalmente meus seios, fartos e rijos. Mas ele fazia de conta que eu era a mulher mais vestida do mundo. Agora estou na dúvida, não sei se foi a minha atitude ou o suco de abacaxi. Algo começou a me picar.

Sente aqui, pertinho de mim, pedi e levei aos lábios o suco, mais uma vez. Depois, pousei-o sobre a mesa, voltei-me ao namorado e colei meus lábios aos seus. Um longo beijo. Tomei uma das suas mãos e trouxe-a para sobre um dos meus seios. Ele o apertou. Suspirei, abri os olhos sorrateira e o vi de olhos fechados, perdido no longo beijo.

Me dê licença, pedi quando voltamos à posição inicial. Levantei-me, desabotoei a bermuda e a deixei escorregar. Pronto, de calcinha, peitos à mostra. O restante, naquele momento, era com ele.

Lembrei Gisele, que andava de biquíni pela rua principal de uma das cidades litorâneas, a parte de baixo era uma tirinha a toa bem enfiada no cu. Queria conquistar o gerente de uma loja de presentes para o lar.

Voltando ao namorado. Naquele início de noite, não tive tempo de pensar o que o homem achava de mim, o namoro de uma semana, uma jovem em seus braços, mulher fácil, peladinha, despreocupada da calcinha largada debaixo da mesa.

Ah, o cansaço? Nem sei. Acho que o deixei pro outro dia.

terça-feira, julho 05, 2022

Papel laminado

As idas à casa do namorado são plenas de fantasias. Hoje, é difícil mantê-los, tantas são as pretendentes, por isso, tenho de me empenhar, preciso ser criativa. Há amigas que dizem Sônia, você é louca, deixe esse homem de lado, nada melhor do que uma mulher sozinha. Retruco, rápida, como?, o homem me faz gozar como jamais, não posso abandoná-lo.

Vou à casa dele, com minha bolsa e meus truques.

Numa das noites anteriores, no momento em que estava nua em seus braços, pedi que me falasse algo excitante.

"Algo excitante?, como assim?"

"Uma história apimentada."

Estávamos trepando, eu sobre ele, num movimento de sobe e desce, seu pênis deslizando sem obstáculos; eu, doidinha pra gozar. Olhou-me com os olhos semicerrados e disse:

"Você veio pelada encontrar comigo, onde deixou as roupas?"

"Ah, sim, vim pelada" repeti, os olhos fechados, comprimindo-me, sentindo seu enorme sexo dentro de mim. "Não sei, vim de táxi, acho que já saí nua de casa, vim apenas de sandália e de bolsa, trouxe o celular caso houvesse algum problema."

"E o motorista, ele aceitou te trazer nua?"

"Sim, como aceitou! Na verdade, já me conhece, tem um tesão intenso por mim, mas eu disse você pode me olhar, mas não me tocar, um dia desses te recompenso."

Continuava saltando sobre o namorado, cada vez em movimentos mais rápidos.

"O motorista vai querer te comer", disse o namorado.

"O que é isso?, muito vulgar, me comer?"

"Vamos dizer de outro modo, ele vai querer trepar com você", assegurou o namorado.

"O que há de mal nisso, eu deixar o motorista trepar comigo pelo menos uma vez?, eu estava de olhos fechados.

Passaram-se alguns segundos.

"Você pode deixar o tal te ver nua, te esquentar, mas a trepada precisa ser comigo, compreendeu?

Achei engraçada a opinião do namorado. Já tinha escutado sobre isso, casais que tem amigos e amigas para esquentar antes de se encontrarem. E ele falava como um macho.

"Mas se o homem me agarrar?", perguntei e gemi, quase num começo de gozo.

"Ele não pode te agarrar, se isso acontecer você dê parte dele."

"Como vou dar parte?, estava nua, num táxi, os policiais não vão considerar minhas palavras, não é permitido a uma mulher tomar um táxi nua."

Comecei a revirar os olhos.

"Ai, vou gozar, mais rápido, por favor, mais rápido."

A história do táxi, eu nua, o motorista prestes a me agarrar, querendo me comer, eu a me defender, pode me olhar, mas não trepar; os policiais, eu nua, não era apenas o motorista, eram todos querendo me comer.

"Ai, ai, vou gozar, essa história está muito forte, fale mais, fale mais sobre isso", gritei, "ai, ai, quero gritar."

"Cruze as pernas, coloque a bolsa sobre o colo, assim você vai ficar protegida dos olhares", disse o namorado,

"Protegida? Gozei, gozei, que bom, gozei antes de você."

Daquele dia em diante, concluí que tinha de contar histórias.

"Fale  você agora", ele pediu.

"Sabe o que houve, ainda no táxi?", incentivei.

"O quê?"

"Deixei o banco molhadinho, não aguentei, nunca fiquei tão úmida, acho que era a sensação de estar nua pela primeira vez num táxi, vindo a teu encontro."

"Você molhou o banco? Ele não brigou com você?"

"Não viu, o homem não soube."

"Se fosse eu o motorista, iria verificar; se estivesse molhado, ia pedir pra você enxugar. Você não precisaria abrir as pernas para mim, mas enxugar o banco seria muito importante. E não seria com a minha flanela, teria de fazer aparecer uma. Caso você não conseguisse...  Ah, vou gozar, só de imaginar você nua, agachada, procurando um meio de limpar o banco do táxi... Morro de tesão. Estou gozando, pele com pele, vai ficar toda meladinha..."

quarta-feira, junho 29, 2022

Puteiro

Eu ainda estava na escola, sozinha na sala de aula, corrigia algumas provas quando meu amigo, o professor de filosofia, entrou. Você sabe onde é a rua das Marrecas?, perguntei. Ele explicou. Preciso ir ao tal endereço para acertar um contrato de plano de saúde. Havia tempo procurava atendimento, o plano anterior não dava conta da minha situação e a da minha mãe, pessoa idosa. Ele me ouviu, logo depois se ofereceu para me acompanhar. Fica no centro, completou. Essa rua é um puteiro, eu disse e ri. Isso foi no passado, ele de certa forma confirmou, agora os puteiros acabaram, já não se veem mulheres fazendo ponto na calçada, a característica do local mudou. Senti-me atrasada no tempo, acho que já passara vinte anos desde que os puteiros encerraram suas atividades na rua das Marrecas. Será que eu tinha alguma afinidade com puteiros?, cheguei a me perguntar. Sou pessoa sóbria, dedicada às aulas de inglês. Enquanto caminhávamos até a sala dos professores, reparei que a maioria dos alunos e dos outros funcionários já havia deixado a escola, passava do meio-dia. Guardamos os diários de classe e descemos a escada que dava para o salão de entrada. Pedi licença, que esperasse um ou dois minutos. Não disse aonde iria, mas estava na cara que era ao toalete.

Já na rua, optamos pelo ônibus, na calçada à direita, distante a uma caminhada de cerca de cem metros. Não demoramos a embarcar, sentei-me num banco de corredor, o outro lugar estava ocupado por um homem de seus sessenta anos. Meu amigo ficou em pé, ao meu lado. Ora trocávamos duas palavras sobre o tempo, sobre a paisagem, sobre uma construção local, ora nada dizíamos.

Saltamos no Passeio, atravessamos a rua e caminhamos à rua das Marrecas. Encontramos o prédio, entramos. Subimos três andares, uma recepcionista indicou onde eu deveria entrar. Ele ficou esperando numa espécie de antessala. Não demorei a voltar. Tudo correra bem, me deram um formulário e um contrato, o que mais precisava eu já enviara com antecedência. A partir daquele momento, eu e minha mãe já tínhamos um seguro saúde.

Descemos, voltamos à rua. Eu me perguntava o que faríamos a partir daquele momento. Na verdade, tinha de voltar para casa, mas temia ter de anunciar tal propósito. As oportunidades de sairmos juntos eram poucas e meu amigo demonstrava muito prazer por eu estar ao seu lado. Andamos na direção da Rio Branco, pela Evaristo da Veiga. O ambiente aqui na cidade está agradável,  vamos até a Confeitaria Colombo, sugeriu. Hum, apenas deixei escapar minha admiração. Ele me olhou na esperança de que eu aceitasse o convite. Nada falei, apenas segurei sua mão direita, e passamos a caminhar, como dois recentes namorados.

Ao atravessarmos o largo da Carioca, olhei ao Mosteiro. Sabe que já fiz promessa a Santo Antônio, cheguei a dizer. Apertei sua mão. E olha que o dia dele está próximo, ele falou. A rua Senador Dantas tinha um hotel, um dia um namorado de ocasião me conduziu para lá sem que eu desse conta para onde íamos. Não sei dizer por que me veio à mente esse acontecimento. Logo adiante, porém, avistamos a confeitaria. Um salão todo espelhado estava repleto de gente alegre; uma mesa lateral nos aguardava; um garçom um pouco gordinho veio nos apresentar os cardápios. A Colombo era um bom lugar para um começo de namoro.